Notícias Viva Mais
Gastroenterologia PUBLICADO EM 20/06/2016Veneno de aranha pode tratar síndrome do intestino irritável
Heteroscodra maculate, tarântula é encontrada na África Ocidental
De acordo com a Fundação Internacional para distúrbios funcionais gastrointestinais (IFFGD), em torno de 10-15% das pessoas experimentam a Síndrome do Intestino Irritável (SII) em todo o mundo. Por isso, uma nova pesquisa, publicada na revista internacional da ciência, a Nature, afirma que o veneno de aranha pode formar a base de um novo tratamento para a dor associada com a SII.
Nem todo mundo que tem SII consulta um especialista, mas é uma das doenças mais comuns vistas pelos médicos, que não sabem o que provoca a síndrome, mas, fatores emocionais, medicamentos, dieta e hormônios podem desencadear ou piorar os sintomas, que incluem dor recorrente abdominal, diarreia e constipação. Para receber um diagnóstico da SII, a pessoa deve experimentar, pelo menos, dois dos seguintes sintomas:
– Alívio com a defecação;
– Uma mudança na frequência de fezes;
– Uma mudança na consistência das fezes.
Para o estudo, uma equipe internacional de pesquisadores, dos EUA e da Austrália, usou veneno de aranha para identificar uma proteína que está envolvida na transmissão do tipo de dor sentida por pessoas com SII. A equipe investigou 109 venenos de aranha, escorpião, e centopeia. O resultado mais forte foi a partir do veneno de um tipo de tarântula encontrada na África Ocidental, conhecida como Heteroscodra maculate.
O veneno foi encontrado por ativar um canal iônico, ou uma proteína de nervos e músculos, conhecidos como NaV1.1, que também desempenha um papel na epilepsia. A primeira constatação do estudo foi que NaV1.1 poderia ser importante na detecção e transmissão de dor. A equipe então descobriu que NaV1.1 estava presente em nervos da dor de detecção nos intestinos, o que sugere que os níveis patológicos de dor abdominal vividos por pessoas com SII poderia decorrer de NaV1.1. Os autores acreditam que identificar o papel da NaV1.1 na sinalização da dor crônica é o primeiro passo para a criação de novos tratamentos.
Prof. Glenn King, da Universidade de Queensland, Austráilia, observa que o veneno da aranha é útil para investigar os processos de sinalização da dor em humanos:
“Aranhas fazem toxinas para matar a presa e se defendem contra predadores, e a maneira mais eficaz para se defender contra um predador é fazê-los sentir dor excruciante”.
Os cientistas podem usar esta informação para encontrar novas vias de dor, observando que os nervos são ativados quando eles entram em contato com os venenos. A equipe está agora está desenvolvendo moléculas que bloquearão NaV1.1 a fim de aliviar a dor causada pela síndrome do intestino irritável.
Prof. Stuart Brierley, da Universidade de Adelaide, Austrália, acrescenta:
“A síndrome do intestino irritável coloca uma grande carga sobre os indivíduos e sobre o sistema de saúde, mas não há atualmente nenhum tratamento eficaz. Em vez disso, os pacientes são aconselhados a evitar comportamentos que farão com que seus sintomas apareçam”.