Nossas Entrevistas
Ginecologia e Obstetrícia
Tema: Pré-Natal
Por Dr. Marcelo Seixas
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Olga Goulart – Hoje vamos conversar com o ginecologista e obstetra doutor Marcelo Falcão de Almeida Seixas, ele é ginecologista e obstetra.
Doutor, partindo desse pressuposto de que o pré-natal é tão importante e sabendo também que é o período que antecede o parto, eu queria saber de você qual é a melhor época para iniciar um pré-natal?
Dr. Marcelo Seixas – O ideal é iniciar um pré-natal mesmo antes de engravidar, planejando uma gravidez mais saudável possível e caso não seja possível assim, o quanto antes que se descobrir a gestação.
Olga Goulart – Muitas mulheres incorrem no erro de achar que por serem saudáveis e estarem gozando de boa saúde podem retardar esse início do pré-natal, o que o senhor diria para a gente a esse respeito?
Dr. Marcelo Seixas – Isso é um engano já que a gente tem que avaliar não só a saúde aparente como a saúde em termos de uma avaliação laboratorial, física e médica e que a gente possa iniciar logo qualquer ajuste que tenha em questão de peso, atividade física e alimentação que a paciente venha a ter.
Olga Goulart – Ok. Os pacientes seguem normalmente a mesma rotina no pré-natal ou isso varia de paciente para paciente?
Dr. Marcelo Seixas – Sim, é variável. Depende da individualidade da paciente. A paciente que tem alguma patologia e ela vai precisar da particularidade do caso dela, mas existe uma linha que a gente tende a seguir, mas cada paciente tem sua particularidade, visto que o corpo humano é único.
Olga Goulart – Verdade. Durante a sua resposta aí a pouco, o senhor citou a condição da atividade física, da boa alimentação, o que isso interfere numa boa ou numa má gravidez?
Dr. Marcelo Seixas – Interfere no ponto de que estando a paciente num período onde há alteração metabólica e hormonal, pode acontecer algumas alterações patológicas como um diabetes gestacional, uma hipertensão gestacional, onde uma falta dum preparo físico ou um ganho de peso excessivo possa ocasionar algum quadro patológico.
Olga Goulart – Bom, o senhor citou duas coisas importantes que foram a hipertensão e diabetes, problemas esses que devem ser monitorados de forma bastante cuidadosa, sobretudo dentro do período da gravidez. Quais são os cuidados que uma paciente hipertensa ou diabética deve ter durante o período de gestação?
Dr. Marcelo Seixas – Bem, o cuidado é amplo, vai desde a alimentação, atividade física, acompanhamento laboratorial para avaliação do quadro dela metabólico, no caso então a diabetes tanto quanto a hipertensão e o controle geral da hipertensão e da diabetes, da glicemia. Isso pode ser dado a partir de medicação que é uma das vertentes que a gente pode usar ou até por atividade física, porque a gente sabe que atividade física vai melhorar o gasto calórico da paciente, vai melhorar o perfil glicêmico dela e com relação também a hipertensão, onde você tem a liberação de catecolaminas que fazem a redução natural da pressão. Então é uma gama de vertentes que podem ser usadas neste tratamento, nesse acompanhamento.
Olga Goulart – Ok. Tem como mensurar, por exemplo, o peso considerado ideal para a gestante?
Dr. Marcelo Seixas – Sim, a gente tem o perfil médico que é o índice de massa corporal, que isso é válido para a maioria da população, que é a variação que a gente tem do saudável do peso e a gente a partir daí vê o ganho que ela possa ter nesse período. Por exemplo, uma paciente que esteja com o índice de massa corporal dentro do considerado saudável ela vai ganhar cerca de 10 kg durante a gestação inteira. Isso que a gente vai ver, que aí já está incluso o bebê, a alteração do útero, da placenta, o líquido amniótico até questões como edema e tudo que está incluso nesta conta.
Olga Goulart – Bom doutor, nós sabemos da ansiedade da maioria das mães, sobretudo as mães de primeira viagem ou talvez aquelas que já tem uma idade um pouco mais avançada ou fora dos padrões considerados absolutamente normal para se ter uma gravidez, eu te pergunto: existem exames que possam especificar qualquer tipo de problema, ou melhor, detectar algum tipo de problema e intervir antes que isso comprometa uma gravidez saudável?
Dr. Marcelo Seixas – Sim, existem vários exames que a gente pode fazer. Hoje com a medicina fetal que a gente tem uma possibilidade da avaliação do bem estar fetal o quanto antes a gente tem a possibilidade de identificação de qualquer patologia do feto. Essa patologia pode advir de uma questão metabólica até uma questão física, por exemplo uma malformação cardíaca, alguma taquicardia fetal ou alguma alteração dessa que possa ser tratada. Isso, claro, vai depender da individualização do caso, identificação de qual é a patologia que esteja ocorrendo com o bebê e aí a gente inicia qual a melhor forma de tratar. Por exemplo, tem bebês que tem alguma alteração, arritmia cardíaca, que a gente pode até usar antiarrítmicos para conseguir compensar esse quadro fetal e seguir uma gestação saudável.
Olga Goulart – Ok. Bom isso não deveria acontecer, mas quase todos nós temos uma farmacinha em casa para aquelas situações mais comuns como dor de cabeça ou uma gripe, ou até mesmo ir ao salão de beleza retocar o cabelo e coisas do tipo. Eu sei que existem restrições não só do ponto de vista de medicamento, como também de produtos estéticos a serem utilizados, ou seja, existe indicação de suspensão de alguns desses medicamentos e alguns desses produtos. O senhor gostaria de chamar atenção para algum deles?
Dr. Marcelo Seixas – Olha, a maioria das medicações a gente tem que ter esse cuidado. Tem um livro que a gente chama assim, que ele tem essa gama de implicações e a segurança para o bebê. Digamos que as medicações que são mais acessíveis, que a gente tem mais acesso e uso mais indiscriminado que poderia ser bastante nocivo são os anti-inflamatórios. Eles tem uma ação sobre a placenta do bebê, impregnação na placenta, alteração no rim do bebê que podem causar situações trágicas como a ausência de líquido amniótico, lesão no rim do bebê que podem ser irreversíveis.
Essas medicações a gente tem bastante acesso a elas, esses anti-inflamatórios não-hormonais, mas qualquer medicação acho que tem que passar pelo crivo e avaliação do obstetra. Desde tintura de cabelo, tratamento estético, alisamento de cabelo, são coisas que a gente tem que avaliar. Isso daí você tem que ter um acesso mais pronto ao seu obstetra, uma comunicação que ele possa tirar essa sua dúvida. Claro que possa ser que a gente não saiba de tudo de imediato, mas a gente tem pelo menos uma possibilidade de pesquisa rápida e indicar a paciente o que ela pode ou não fazer na gestação.
Olga Goulart – Ok. Bom, dentro dessas advertências eu acredito que esteja também a condição do fumo e do álcool.
Dr. Marcelo Seixas – Sim, claro. São drogas lícitas que a gente tem que são bastante nocivas à gestação. O álcool está relacionado com lesão neurológica fetal importante e o fumo também está relacionado com impregnação da placenta, baixo peso do bebê, partos prematuros e estímulo a hipertensão durante a gestação que são quadros que podem ser bastante graves.
Olga Goulart – Verdade, bom, eu acredito também que a alegria de uma gravidez pode superar situações menos confortáveis, eu diria que náuseas e vômitos para algumas mulheres. Agora para outras a situação é um pouco mais complicada, tem como mediar essa situação doutor, para garantir a grávida uma gravidez mais tranquila, uma situação mais confortável?
Dr. Marcelo Seixas – Sim, perfeito. A gente tem uma gama grande de medicações que a gente pode usar para aliviar os sintomas que são os vômitos, as náuseas que a gente chama como hêmese ou hiperêmese gravídica, quando esta situação já está numa gravidade maior, claro que a gente tem opções várias de tratamento, tanto num regime de internamento hospitalar quanto numa situação domiciliar, um tratamento ou acompanhamento ambulatorial, mas a maioria das pacientes não chegam necessitar de internamento num quadro de hiperêmese gravídica, de náuseas e vômitos durante a gestação. Mas claro que tem que ter um perfil, além dum acompanhamento medicamentoso, um acompanhamento também comportamental e nutricional, a paciente ela passa por uma possibilidade de escolher alimentos que causam menos náuseas, menos enjoos, alimentação mais restrita por várias vezes durante o dia, isso vai fazer com que ela tenha uma maior aceitação à dieta, melhor possibilidade de alimentar-se sem ter desidratação, sem ter vômitos incoercíveis.
Olga Goulart – Bom doutor, dentro daquela condição de mitos e verdades para a gente finalizar a nossa entrevista eu queria só te fazer uma perguntinha, o bebê quando é muito cabeludinho de fato aumenta a condição de vômito? Ou a barriga mais pontuda ou redonda garante o sexo do bebê se é masculino ou feminino?
Dr. Marcelo Seixas – Olha, eu já tenho 13 anos de experiência com obstetrícia, em maternidade de alto risco, onde a gente chega a um quantitativo de 900 partos por mês, eu nunca identifiquei uma situação dessa como extremamente verídica. Minha mãe por exemplo, para te contar, ela tinha náuseas, refluxo e queimação durante a gestação toda e nós três, eu e meus irmãos nós nascemos carecas. Entendeu? Então é uma situação onde a gente não pode ter uma limitação explícita, não tem nenhum relato em literatura médica e científica. Entra aquela situação da crença popular mesmo. A barriga pontuda ou mais redonda, pela minha experiência, está mais relacionada a uma avaliação de preparo físico da mulher, onde ela tem uma musculatura reto abdominal que permita um posicionamento mais diferenciado do feto e do útero na gestação do que ser menino ou menina.
Olga Goulart – Ok. Doutor Marcelo Seixas, ginecologista e obstetra muito obrigada e para quem não teve dentro desse nosso bate-papo a sua pergunta respondida, podem mandar as suas questões que nós entraremos em contato e logo traremos a resposta. Muito obrigada, um grande abraço doutor Marcelo.
Dr. Marcelo Seixas – Obrigado pela oportunidade, um grande abraço.