Nossas Entrevistas
Ortopedia e Traumatologia
Tema: Patologias no Quadril do Atleta
Por Dr. Lauro Magalhães
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Viva Mais Viva Melhor - A articulação do quadril, representada pela região próxima ao fêmur e os ossos da bacia, é alvo frequente de lesões no âmbito esportivo. Responsável por suportar o peso e equilibrar o corpo, é parte fundamental do movimento da marcha de um indivíduo, portanto, está presente na maioria dos gestos esportivos. Essas lesões, geralmente, estão relacionadas com treinamentos inadequados, com o uso de calçados não apropriados ao tipo de esporte e, também, acidentes. E para conversar conosco sobre as diversas patologias que atingem o quadril do atleta, nós convidamos o Doutor Lauro Magalhães, que é especialista em ortopedia e traumatologia. Doutor, explica para nossos ouvintes, porque que as lesões no quadril são tão frequentes no âmbito esportivo?
Dr. Lauro Magalhães - Bom, as lesões no quadril acontecem na prática esportiva porque, primeiramente, é uma articulação de carga, ou seja, suporta o nosso peso corporal. Sabe-se que no apoio em apenas uma perna, o quadril suporta até três vezes o peso corporal, na corrida ele pode suportar até cinco vezes o peso corporal e, além disso, o formato da articulação permite amplos arcos de movimento, né? Que possibilita impacto entre o fêmur e a cartilagem ou o labrum acetabular. Tem pessoas que tem alguma alteração na sua anatomia, né? Outro fator importante, Olga, que pode propiciar essas lesões é que muitos praticantes de atividade física não mantém a musculatura do quadril com fortalecimento e alongamento adequados, sobrecarregando a articulação com os esportes e/ou com o próprio sobrepeso que essa pessoa possa ter.
Viva Mais Viva Melhor - Quantas são as doenças, as mais comuns, que atingem o quadril de um atleta?
Dr. Lauro Magalhães - As lesões mais comuns no esporte, como um todo, são as contusões e distensões musculares. Em relação ao quadril, especificamente, as lesões que mais atingem o quadril são impacto femuroacetabular, pubalgia, síndrome dolorosa trocantérica, que é a bursite trocantérica e a tendinopatia dos glúteos, além de ressaltos do quadril, dor glútea profunda, que é a antiga síndrome do piriforme, síndrome da banda iliotibial proximal, "hip pointer", fraturas por estresse, entre outras diversas patologias.
Viva Mais Viva Melhor - Você citou pubalgia. É correto afirmar que esse problema pode interferir na performance sexual, Doutor?
Dr. Lauro Magalhães - Sim, com certeza. A depender do grau dessa lesão e intensidade da dor, ela pode ocorrer desde apenas durante ou após a atividade física como até em repouso também. Então nos casos mais sintomáticos, a pessoa pode ter dor durante a atividade sexual, podendo interferir sim na performance.
Viva Mais Viva Melhor - E como é que se identifica e trata a pubalgia?
Dr. Lauro Magalhães - Bom, a pubalgia é uma patologia onde há um desequilíbrio entre a musculatura abdominal e a musculatura adutora. Então o esportista vai queixar-se de dor na região do púbis, no abdome inferior e/ou na origem dos músculos adutores, né? Na virilha. O diagnóstico da pubalgia é clínico, com uma boa anamnese e exame físico a gente consegue identificar. Então a gente pode também lançar mão de alguns exames de imagem que nos auxiliam a confirmar o diagnóstico e a excluir outras patologias. Por exemplo, o raio-x pode mostrar sinais de degeneração da sínfise púbica, a ressonância magnética pode mostrar edema ósseo na sínfise, além de tendinopatia ou até lesões dos tendões adutores, entre outros achados e o tratamento é iminentemente conservador, ou seja, fisioterapia, medicações analgésicas e anti-inflamatórias e suspender temporariamente o esporte. Em poucos casos, quando há falha nesse tratamento, aí sim indica-se a cirurgia.
Viva Mais Viva Melhor - E o que que é o impacto femuroacetabular? É verdade que algumas pessoas podem conviver com a morfologia alterada do quadril e nunca ter problema?
Dr. Lauro Magalhães - O impacto femuroacetabular é uma alteração mecânica, quando a articulação do quadril apresenta alguma deformidade do acetábulo, que é o encaixe do quadril ou da cabeça do fêmur, favorecendo um contato ou deslizamento anormal desta articulação, principalmente de amplitude de movimento, especialmente quando está em flexão, adução, que é cruzar a perna, e a rotação interna. Então essa incongruência pode gerar lesões na cartilagem articular ou do labrum e leva a dor na região anterior do quadril, que pode irradiar-se também para a região intermedial da coxa e de fato Olga, algumas pessoas que não praticam atividades que exijam amplo arco de movimento podem não apresentar sintomas do impacto, apesar de possuírem certas alterações anatômicas.
Viva Mais Viva Melhor - Pacientes com essa alteração no formato do quadril podem praticar esportes normalmente?
Dr. Lauro Magalhães - As pessoas que têm essas alterações devem evitar apenas esportes que exijam amplos arcos de movimento. Demais esportes elas podem praticar sem problemas, obviamente com um acompanhamento de um profissional adequado, né?
Viva Mais Viva Melhor - A dor glútea é um sintoma muito frequente também em atletas. Como tratar esse quadro para que o paciente retorne às suas atividades esportivas?
Dr. Lauro Magalhães - O mais importante é a prevenção, então tomar cuidado com a postura adequada na realização da atividade física e no dia a dia, além de manter um alongamento específico para o quadril, principalmente das musculaturas extensoras e rotadoras externas no caso da dor glútea profunda. Se o problema já aconteceu, o diagnóstico e o tratamento precoce são de extrema importância para o rápido retorno ao esporte. Nestes casos a fisioterapia e a correção do gesto esportivo são os segredos de uma boa reabilitação.
Viva Mais Viva Melhor - Além de prejudicar o desempenho no esporte, problemas no quadril também podem dificultar as atividades diárias de um atleta?
Dr. Lauro Magalhães - Com certeza. Caso essas patologias tenham um diagnóstico e o tratamento postergados ou negligenciados os sintomas se tornam mais intensos, até em atividades habituais, não é? Como entrar e sair de carro, sentar em locais baixos, calçar sapato, cruzar perna ou também ter dor até em repouso.
Viva Mais Viva Melhor - Um atleta que sofreu uma lesão no quadril, ele pode voltar ao esporte sem limitações depois de ser tratado?
Dr. Lauro Magalhães - Isso depende da patologia, do grau de acometimento da lesão e do esporte de origem, mas na maioria dos casos o atleta submetido a um tratamento precoce, seja ele não cirúrgico ou cirúrgico, terá condições, sim, de retornar ao esporte de origem, sem limitações.
Viva Mais Viva Melhor - Doutor Lauro, quem lesiona mais o quadril, o homem ou a mulher?
Dr. Lauro Magalhães - Ainda hoje os homens praticam mais atividades físicas que a mulher, né? E também com maior intensidade, por isso são mais propícios a lesões. Mas com o aumento das praticantes femininas nos esportes, principalmente os de impacto, em pouco tempo não haverá diferença nesses números.
Viva Mais Viva Melhor - E pra gente finalizar, doutor, o que o atleta deve fazer para prevenir dores no quadril?
Dr. Lauro Magalhães - Manter peso corporal adequado, alimentação balanceada, hidratação antes, durante e após a atividade, usar roupas e calçados adequados para cada esporte, respeitar o repouso, manter um alongamento e um fortalecimento muscular adequados, evitar sobrecarga nos treinamentos, são essenciais para evitar lesões no esporte como um todo. É de extrema importância fazer uma avaliação pré-atividade, assim como manter reavaliações periódicas com um profissional especialista em quadril da sua preferência.
Viva Mais Viva Melhor - Ok, conversamos com doutor Lauro Magalhães, especialista em ortopedia e traumatologia. Doutor, muito obrigada e até a próxima!