Nossas Entrevistas
Neurocirurgia
Tema: Neurocirurgia
Por Dr. Igor Maldonado
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Viva Mais Viva Melhor – Especialidade responsável pelo tratamento de lesões ou patologias ligadas ao cérebro, coluna, medula e nervos periféricos, a neurocirurgia inclui não somente a intervenção cirúrgica, como também tratamento, prevenção, diagnóstico, avaliação e reabilitação do paciente. Dentre os problemas tratados estão os traumatismos cranianos, traumas na coluna vertebral, as doenças vasculares cerebrais, dor crônica da coluna, tumores cerebrais, da coluna e da medula, epilepsia, entre outros. Para esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto, quem conversa conosco é o doutor Igor Maldonado, especialista em neurocirurgia.
Doutor, o que é a neurocirurgia e onde é que ela atua mais especificamente?
Dr. Igor Maldonado – Olga, a neurocirurgia é a especialidade que trata cirurgicamente, quer dizer através de operações, afecções do sistema nervoso central e seus envoltórios e também diversas afecções do sistema nervoso periférico. Então se o indivíduo precisa de uma cirurgia do sistema nervoso, seja ele central ou periférico, muitas vezes essa cirurgia é feita com o neurocirurgião. Isso inclui diversos grupos de patologias, você comentou alguns como traumas, tumores, doenças vasculares, como pressões. Existem, entretanto, algumas novas áreas dentro da neurocirurgia, subespecialidades, vamos dizer assim, um pouco mais modernas, um pouco mais vinculadas à tecnologia que vale a pena serem mencionadas, a radiocirurgia por exemplo, tipo de radioterapia na qual os raios da radioterapia são guiados de forma estereotáxica, quer dizer, guiados matematicamente com o auxílio de um computador e muitas vezes neste tratamento que é um tratamento radioterapêutico o neurocirurgião também atua. E no tratamento de algumas doenças através de técnicas minimamente invasivas, quer dizer, sem cortes, através de punções.
Viva Mais Viva Melhor – Doutor, e quando é que nós devemos consultar o neurocirurgião? Quais são os sintomas neurológicos mais comuns que levam o paciente a procurar esse tipo de especialidade?
Dr. Igor Maldonado – Essa é uma pergunta bem interessante. Eu acho que vale a pena a gente chamar a atenção ao fato de que grande parte das consultas em neurocirurgia acontecem por encaminhamentos. Não é muito comum o indivíduo sentir alguma coisa e dizer “vou procurar um neurocirurgião”. Geralmente ele passa por etapas antes de chegar ao neurocirurgião, ele consulta o clínico geral, o seu cardiologista, o seu neurologista, até que se descubra ou se suspeite de alguma afecção que pode requerer um cuidado neurocirúrgico e então ele chega ao neurocirurgião. Dito isso, algumas pessoas de fato vão diretamente ao consultório do neurocirurgião mesmo que isso não seja o mais comum e frequentemente o que a gente vê são déficits neurológicos, isso é relativamente comum, epilepsias, crises convulsivas, dores de cabeça e frequentemente nenhum. Apesar de ser um quadro extremamente variado porque vai depender evidentemente da patologia que a gente está tratando, porque é uma pergunta muito ampla, mas muitas vezes a gente é chamado a dar um parecer sobre um achado de exame que inquietou um paciente determinado por conta de uma patologia que não tenha desenvolvido muitos ou que não tenha desenvolvido sintoma ainda. Essa é uma coisa na atualidade relativamente comum. A gente aumentou a nossa capacidade de detectar as afecções, a gente usa com muito mais tranquilidade, o acesso é muito maior para exames de imagem como tomografia do crânio, ressonância magnética e outros e a gente começa a descobrir afecções que talvez, há 20 ou 30 anos, passassem despercebidas em diagnóstico.
Viva Mais Viva Melhor – Doutor, quando falamos em coluna vertebral nos remete sempre ao ortopedista, quando na verdade, também o neurocirurgião pode intervir aí.
Dr. Igor Maldonado – É verdade. A cirurgia da coluna vertebral ela deve ser encarada como uma subespecialidade e a subespecialidade pode ser da ortopedia, da neurocirurgia, o que vai pesar mais nesse momento não é a formação de base do indivíduo, como na especialidade geral (neurocirurgia ou ortopedia), mas a formação que ele tem como subespecialidade, se ele é ortopedista cirurgião da coluna vertebral, se ele é um neurocirurgião que tem experiência em cirurgia da coluna vertebral ou que tem uma formação em coluna vertebral.
Viva Mais Viva Melhor – Doutor, no que diz respeito a cirurgias neurológicas, tem como mensurar aquelas que são mais complicadas?
Dr. Igor Maldonado – Em neurocirurgia a gente fala em porte, então existem cirurgias de pequeno porte, médio porte e grande porte. As cirurgias de grande porte costumam ser cirurgias maiores, com acessos/aberturas maiores, manipulações maiores, às vezes na base do crânio, de nervos, de estruturas nobres e delicadas do sistema nervoso central e são, por natureza, cirurgias mais longas também e frequentemente requerem internação em unidade terapia intensiva. Mesmo quando a cirurgia acontece bem, frequentemente levam a um despertar do paciente que pode ser um pouco mais demorado. Então dentre os inúmeros tipos e as inúmeras variações de cirurgias que existem, depende basicamente da patologia e da localização. Onde que nós estamos mexendo? É algum nervo craniano importante? É alguma estrutura cerebral eloquente, o tronco cerebral está próximo? Essas são cirurgias que a gente costuma dizer que são as mais delicadas.
Viva Mais Viva Melhor – Quais são os exames utilizados para se fechar bem diagnósticos de problemas neurológicos?
Dr. Igor Maldonado – Isso depende evidentemente da patologia em questão. Mas hoje em dia a gente tem lançado mão com mais facilidade e utilizado bastante os exames de análises morfológicas, como a tomografia computadorizada e a ressonância nuclear magnética. São exames bastante interessantes, não invasivos. A tomografia computadorizada é um exame através de uma técnica de reconstrução da imagem a partir de feixes de raios-X permite que o médico observe imagens, fotos do que seriam cortes do encéfalo do indivíduo ou de sua coluna vertebral, por exemplo. E como o profissional já está relativamente acostumado porque ele tem formação para isso de reconhecer a anatomia normal, ele pode reconhecer uma patologia ali naquele exame. A ressonância magnética também fornece imagens de cortes, mas imagens diferentes, imagens que podem dar muito mais detalhes sobre o parênquima do sistema nervoso. O quê que é isso? Sobre o tecido. Se a gente quer focar, ver bem uma lesão bem pequenininha dentro do tecido cerebral, muitas vezes a gente lança mão da ressonância magnética. Mas se a lesão que nós queremos estudar é, por exemplo, uma lesão óssea, a gente lança mão da tomografia computadorizada. Estes exames ultimamente eles têm evoluído bastante, mas nem tanto na forma como eles são adquiridos, mas no pós-tratamento que a gente faz das imagens. Hoje a gente consegue fazer reconstrução das imagens que são adquiridas no exame, então se a gente consegue fazer uma reconstrução de um corte em um outro sentido diferente daquele no qual o exame foi realizado, a gente consegue fazer reconstruções tridimensionais, o que ajuda bastante a cirurgia. Não são os únicos exames, mas de longe são os mais utilizados em nossa prática clínica.
Viva Mais Viva Melhor – É correto afirmar que a neurologia tem interface com a psiquiatria e também pode tratar casos como a depressão, ansiedade, irritabilidade, pânico e etc.?
Dr. Igor Maldonado – É fato que existe uma interface, mas isso deve ser visto com bastante cuidado porque muitos desses pacientes requerem realmente um acompanhamento com psiquiatra. Existem profissionais dentro da neurologia que se dedicam e que especializaram no estudo da cognição, do comportamento, que fazem a interface com a psiquiatria e com a neuropsicologia, mas isso não quer dizer de forma nenhuma que um paciente com transtorno psiquiátrico possa prescindir, quer dizer, dispensar um psiquiatra.
Viva Mais Viva Melhor – O que é neuromodulação?
Dr. Igor Maldonado – A neuromodulação é um conjunto de técnicas no qual nós interferimos com o funcionamento normal do sistema nervoso central. Isso é feito muitas vezes através do estímulo, com dispensação de estímulos elétricos ao sistema nervoso e isso pode ser feito de diversas formas, de forma superficial, de forma profunda e muitas vezes exigem que o paciente tenha em seu organismo, seja implantado um aparelho que vai fazer o tratamento da terapia de estimulação elétrica e por fim atingir a neuromodulação. Então, hoje em dia, a gente fala em neuromodulação de diversas formas, com diversas indicações e existe neuromodulação para tratamentos da dor, por exemplo, que pode ser conduzido tanto na medula espinhal como no encéfalo. Existe neuromodulação para tratamento de movimentos involuntários, dentre outras, todas elas requerendo estimulação elétrica do sistema nervoso central. Vamos dizer assim, uma interação da máquina, do dispositivo que a gente usa para fazer o tratamento com o funcionamento do sistema nervoso central, porque o sistema nervoso central é um órgão elétrico.
Viva Mais Viva Melhor – E quanto a epilepsia? Quais são as maneiras de tratamento e qual a melhor maneira de auxiliar uma pessoa diante de um ataque epiléptico?
Dr. Igor Maldonado – Epilepsia é uma condição na qual existem descargas elétricas anormais no sistema nervoso central. Essas descargas elétricas se originam sobretudo no córtex cerebral e quando elas atingem determinadas regiões cerebrais funcionais elas levam a manifestações de sinais e sintomas completamente anormais e que não aconteceriam de outra forma. Como por exemplo, contrações vigorosas de determinadas regiões do corpo, perda de consciência, perda de urina, perda de fezes, existem diferentes tipos de crises epilépticas com diferentes gravidades.
Na vigência de uma crise convulsiva com perda de consciência, a pessoa se desfalece e depois, como dizem, fica se contraindo, se debatendo. Tem alguns cuidados que merecem ser reforçados. Um deles é o cuidado para que a pessoa não se machuque, porque se ela perde a consciência, se ela começa a crise já incapaz de se manter de pé frequentemente ela se machuca. Outra coisa que as pessoas geralmente têm bastante curiosidade é em relação à proteção da língua e da cavidade oral, porque no momento das contrações é comum que elas se machuquem na boca mesmo, que mordam a língua, que mordam os lábios. Algumas pessoas perguntam ‘eu devo tentar evitar isso? Eu devo tentar empurrar a língua, puxar a língua ou colocar o meu dedo? ’. Geralmente a gente a gente diz para não fazer isso porque a mordida do indivíduo em convulsão é uma mordida muito vigorosa e esse indivíduo se traumatiza e traumatiza aquele também que está inadvertidamente sem saber o que está fazendo colocando o dedo ali dentro da boca. Um cuidado sim que a gente tem que em relação a isso, até para manter a via aérea, manter a respiração, para evitar que a pessoa se engasgue, é coloca-la em decúbito lateral, de ladinho, contida ali confortavelmente, sem segurar com força os membros porque vai passar por todas as etapas até que elas se acalmem. Buscar esse socorro, claro, e por informações acerca daquele indivíduo. Porque muitas vezes é um indivíduo que é sabidamente epiléptico, isso não é uma coisa rara, não é uma coisa incomum. Pode ser alguém que esqueceu de tomar o remédio, que já tem epilepsia de longa data, que a família já tem um pouco mais de costume, um pouco mais de traquejo com a coisa. Cuidado com a via aérea, isso é fundamental, para que se a pessoa se machucou, se tem sangue, que não se asfixie, que a língua não caia, colocar ela de ladinho, buscar por socorro, cuidar para que ela não se machuque e evitar aquela coisa muito comum de amontoados ao redor dela com multidão de curiosos ou esse tipo de coisa.
Uma coisa que é muito importante também é que aquele indivíduo que faz uma crise depois da outra e que não retoma a consciência, esse merece ainda mais uma atenção. O indivíduo que faz uma convulsão e daqui a pouco ele recupera, ainda que esteja um pouquinho molinho, as vezes pode acontecer até de uma paralisia numa região do corpo depois de uma crise convulsiva, mas ele está recuperando, ele está emergindo. A gente vai fazer a mesma coisa, a gente vai chamar por ajuda, mas é uma tranquilidade muito maior. Mas aquele indivíduo que faz uma crise atrás da outra e que não retoma consciência, não fica novamente contactável, esse indivíduo merece uma atenção imediata.
Viva Mais Viva Melhor – Ok. Uma curiosidade dos nossos internautas, doutor. É correto afirmar que o uso excessivo de celular pode provocar tumores cerebrais?
Dr. Igor Maldonado – Vira e mexe a gente ouve essa pergunta? Isso é uma coisa em estudo, mas que tem fundamento. Existem alguns estudos que foram levados à diante, algumas poucas metanálises (estudos que aglomeram estudos menores) e mostram que para determinados tipos de tumores, por exemplo existe uma metanálise relativamente recente sobre oligodendrogliomas, que é um tipo de tumor primário do cérebro, o risco parece aumentar ligeiramente em relação à população geral, mas ainda é uma coisa que não dá para fechar, precisa de mais pesquisa no assunto.
Viva Mais Viva Melhor – Ok. Conversamos com o doutor Igor Maldonado, especialista em neurocirurgia. Doutor, muito obrigada e até a próxima.