Nossas Entrevistas

Neurocirurgia

Tema: Cirurgia de Escoliose

Por Dr. Edson Alvarenga

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Viva Mais Viva Melhor – De acordo com os dados da organização mundial de saúde a escoliose afeta de dois a quatro por cento da população mundial. A patologia se refere ao desvio anormal no eixo da coluna vertebral que a deixa em forma de “S”. O seu tratamento baseia-se na idade, na flexibilidade, na gravidade da curva e no grau da angulação. Hoje, nós vamos conversar sobre cirurgia na escoliose, quem conversa conosco é o Dr. Edson Alvarenga, médico especialista em neurocirurgia.
Doutor, primeiramente explique, por favor, aos nossos ouvintes o que é a escoliose e quais são os fatores causadores da doença?
Dr Edson Alvarenga – Pois bem, em primeiro lugar eu quero agradecer esse tempo dedicado a ouvir essa nossa entrevista porque é reconfortante, é um entusiasmo a mais. A escoliose é uma deformidade vertebral que leva a uma curvatura maior do que 10 graus, quando se olha a coluna por trás. Se comparamos a coluna a um bambu em vez de ser reto estará lembrando a letra “S”, torna-se preocupante a partir de 20 graus e isto exige observação de um médico especializado em coluna vertebral. Podemos considerar a causa traumática e de uma vértebra, por exemplo, que implique em uma fratura mal corrigida, mas não é uma causa comum, outra seria devida a defeitos do sistema neuromuscular, como nas distrofias musculares, paralisias cerebrais, tumores medulares ou processos outros de lesão neural, que conduzem ao entortamento da coluna. Sua apresentação costuma ser nos primeiros momentos da vida e com a doença de base pode prejudicar bastante a evolução da criança, tudo repousa na assimetria de forças que a musculatura aplica na coluna. De longe, a causa mais comum é desconhecida em sua origem, mais evidências significantes sugerem influência genética para esta deformidade que acomete os adolescentes e tem o risco de progressão durante o crescimento da coluna. Existem pontos de deficiência no desenvolvimento vertebral que levam a rotações das vértebras e a deformidade. Ainda temos a causa degenerativa que acomete os idosos pelo sofrimento dos discos intervertebrais, dos ligamentos e articulações da coluna, provocando rotações e escorregamentos das vértebras que levam a escoliose, este processo é mais comum na coluna lombar.

Viva Mais Viva Melhor – Doutor e quais são os sintomas provocados pela escoliose?
Dr Edson Alvarenga – Em adultos, geralmente, a dor é o carro-chefe do sintoma, junto com a deformidade, desequilíbrio da coluna, sinais de sintomas neurológicos. algumas vezes. soma-se os desconfortos dos pulmões. Em crianças e adolescentes são mais frequentes os aspectos estéticos e o crescimento da deformidade, muito mais do que dor ou o comprometimento neurológico. Em crianças, a observação dos pais com relação a deformidade torna-se fundamental.

Viva Mais Viva Melhor – E como é feito o diagnóstico da escoliose? Existem exames específicos para se detectar o problema e quais são eles? 
Dr Edson Alvarenga – O diagnóstico é fundamentalmente clínico, com a observação da postura, presença de um lado das costas mais alto, elevação de um ombro, entortamento do dorso, estas observações começam a ser feitas pelos familiares e são refinadas pelo médico assistente. A confirmação técnica se faz com as radiografias chamadas panorâmicas onde o filme mostra da base do crânio até o encaixe do quadril com a coxa, portanto, toda coluna. Com este exame, nós conseguimos medir o ângulo dá ou das curvaturas, determinar o tipo de curva segundo os padrões de classificação, programar um acompanhamento e determinar um tratamento. Na dependência da avaliação médica, também pode ser solicitada uma tomografia computadorizada ou uma ressonância magnética para se pesquisar detalhe ósseo ou avaliar o sistema nervoso e os componentes moles da região. Exames para a saúde óssea como a densitometria ou para avaliar a taxa de crescimento do indivíduo também são úteis. 

Viva Mais Viva Melhor – Quais são as opções do tratamento para escoliose? Quando é recomendado, por exemplo, doutor uma cirurgia?
Dr Edson Alvarenga – As coisas da escoliose assustam pela cirurgia, não é quando a pessoa não está vivendo o problema, mas as opções de tratamento são várias, dependendo da idade do paciente, do tipo da curva, da gravidade da curva, dos sintomas  acompanhantes. Por exemplo, ainda tem a realidade os pequenos podem ser tratados com o gesso moldado, que é trocado com frequência, conseguindo-se muitas vezes resultados importantes. Para estes pequenos, também temos hastes metálicas que esticam a coluna, são presas nas extremidades da cura passando por baixo da pele sem prender as vértebras uma na outra, na tentativa de evitar uma cirurgia que alteraria o crescimento vertebral, mas ainda acredito mais no efeito do gesso. A fisioterapia, ela tem seu papel de relevância no acompanhamento e melhora dos pacientes, naqueles com a idade óssea que permita, os coletes especiais não curam, mas eles podem estacionar a taxa de crescimento da curva até que se alcance uma maturidade esquelética um pouco mais aceitável para uma cirurgia. Sempre que seja possível o tratamento cirúrgico promove o endireitamento da coluna mantendo-a ereta e permitindo desenvolvimento do indivíduo com melhor qualidade de vida. Quando é recomendado operar esta é a grande pergunta. Algumas situações em que temos grandes ângulos de curva da ordem de 80 a 100%, a cirurgia é imperiosa, porque a taxa de mortalidade é muito grande, chegando a 60% ou mais. Pensamos em cirurgia também para crescimentos rápidos em curvas menores, na disfunção dos pulmões, nas dores e na qualidade de vida reduzida. Nos adultos temos a balança do querer fazer e do poder fazer, isso definirá a indicação cirúrgica, principalmente nos mais idosos com problemas degenerativos pois a idade trás vários outros problemas, como a hipertensão arterial, o diabetes, a osteoporose, os problemas hepáticos e renais. O acompanhamento e o esclarecimento de tais pacientes e suas famílias é a base de todo o tratamento. 

Viva Mais Viva Melhor – Qual o objetivo do tratamento cirúrgico da escoliose, doutor?
Dr Edson Alvarenga – Se o indivíduo jovem tem uma escoliose avançada, ele é um candidato certo a disfunção de crescimento com piora das funções pulmonar e cardíaca. Então, as crianças, a cirurgia pode até significar a diferença em viver ou morrer, ou ainda viver com mais qualidade, é uma tentativa muito válida a cirurgia. Toda cirurgia termina em artrodese, que é uma fixação entre as vértebras, o que leva a perda do crescimento de cerca de 1mm para cada vértebra fixada por ano. Imaginemos uma criança com 10 vértebras fixadas, ela perderá 10mm de altura por ano mais a escoliose não tratada produzirá uma curvatura importante e a perda do crescimento, então isso é uma das justificativas importantes da cirurgia. Ao operar, esperamos alinhar a coluna pelas costas e manter as curvas normais quando visto de lado, preservando quanto mais possível de segmentos móveis, deixando os ombros horizontais e permitindo condições e um bom desenvolvimento orgânico para o paciente.

Viva Mais Viva Melhor – É preciso fazer alguma preparação antes da cirurgia da escoliose doutor?
Dr Edson Alvarenga – Como em toda a cirurgia, o planejamento é fundamental, a gente precisa gastar um tempo que é muito útil para se planejar uma cirurgia, então nós temos que ter o planejamento da evolução da curva, da classificação destas curvas e o estudo do posicionamento do material de síntese que, basicamente, são os parafusos, a preocupação com a possível perda de sangue, desenvolvendo um preparo do paciente para que ele tenha mais sangue para possíveis perdas, além de utilizar reparadores, que são recuperadores de sangue da própria incisão, que vão sugando o sangue filtrando para serem reinfundidos. A avaliação geral clínica da capacidade pulmonar cardíaca, renal e para que as mínimas alterações durante a cirurgia sejam detectadas em tempo e cirurgia possa até mesmo ser suspensa para se cuidar melhor do paciente. Torna-se muito importante a integridade da medula e das raízes nervosas pois ao movimentar a coluna para endireitá-la, o sistema nervoso pode ser machucado, assim sendo, a avaliação contínua de um neurofisiologista presente na sala é parte integrante da cirurgia, tanto o paciente como a família devem está cientes dos passos cirúrgicos como e onde serão os cortes, qual a extensão, as localizações pois até podem ser mais do que um corte, o tempo de duração da cirurgia a partir do momento que o paciente sai do quarto, o verdadeiro início da cirurgia o pós-operatório na terapia intensiva é necessário o preparo físico e psicológico tanto do paciente como da família. 

Viva Mais Viva Melhor – Como é feita e qual é a duração de uma cirurgia dessa natureza, da cirurgia da escoliose, doutor, ou isso vai depender de caso a caso?
Dr Edson Alvarenga – Veja só Olga! È uma cirurgia complexa, então a gente não tem a pretensão de poder explicar lá toda nesse nosso tempo de conversa, mas o paciente vai chegar na sala ele está sobre efeito de uma medicação calmante, ele vai conversar com todo mundo, o anestesista o recebe, um ambiente cordial e começa a anestesia geral. O paciente recebe uma incisão no meio das costas, é o padrão, mas ela pode ser feita nas costelas, em baixo do braço, ou até mesmo aí e nas costas. A coluna fica exposta e é colocada no lugar com ajuda de parafusos e hastes, sob a proteção de do neurofisiologista, que acompanha, no computador, as variações no sistema nervoso. Existem algumas situações em que se pode fazer com múltiplos pequenos cortes, uma minimamente invasiva, mas isto aumenta muito o tempo operatório e já é muito grande, imagine que, com dois cirurgiões experientes, o tempo varia de 6 a 8 horas num caso sem maiores dificuldades. 

Viva Mais Viva Melhor – Doutor, os ganchos e hastes que são utilizadas na cirurgia, ficam ali na coluna do paciente? 
Dr Edson Alvarenga – Olhe! Atualmente usamos menos ganchos e mais parafusos, mas isso ai a gente chama de material de síntese, se ele fica ou não para sempre na coluna dependerá da idade do paciente, da técnica utilizada, mas, de uma maneira geral, o material de síntese fica, sim, no corpo não atrapalha o paciente, é retirado, apenas, se houver um escape das peças. 

Viva Mais Viva Melhor – Doutor, assim como qualquer cirurgia podem haver complicações também na cirurgia de escoliose. Pode haver rejeição ao material utilizado para correção da coluna. 
Dr Edson Alvarenga – Isso trás muita preocupação aos pacientes e seus familiares, sem dúvida, como em toda cirurgia, existem complicações, são cirurgias extensas na incisão e descolamento muscular, o que permite os problemas com a perda de sangue ou a sua reposição, também a musculatura descolada ela pode liberar muita proteína e sobrecarregar os rins. Atuar na caixa torácica pode trazer desconforto pulmonar e as possibilidades de derrames pleurais ou pneumotórax, parafusos podem ficar juntos as raízes nervosas, causando desconforto, apoios ósseos podem fraturar e prejudicar a cirurgia, também podemos ter a infelicidade de uma infecção. A infecção, segundo a organização mundial de saúde, aceita-se até 5% nos hospitais, mais do que isso as condições do hospital tem que ser revistas. Em nosso meio, a imensa maioria dos hospitais está de acordo com a ONU. Lembrando, também, que o mais importante é que a medula pode ser machucada quando a coluna for rodada para o lugar, pois ela sai da cabeça e se continua por dentro da coluna, como se fosse a salsicha de uma cachorro quente onde o pão são as vértebras, imagine que torcer o pão poderá raspar na salsicha, então para todas estas complicações existem prevenções, a gente não precisa ficar assustado, e há cuidados que tornam a cirurgia bastante controlada e segura, mas é bom conhecermos os possíveis problemas para estarmos atentos nós médicos e os pacientes que são parte ativa do tratamento. Quanto a essa ideia de rejeição de um material de síntese, podemos dizer com segurança que é algo muito raro, o que pode acontecer e o movimento de um parafuso devido a pressão exercida num conjunto ósseo, como acontece por exemplo com os dentes durante o uso de um aparelho ortodôntico, eles se movimentam, o parafuso também pode se movimentar e, desta maneira, ele pode encostar em um nervo e causar dor.

Viva Mais Viva Melhor – Doutor é muito grande o grau de desconforto ou de dor de um paciente após um procedimento cirúrgico dessa natureza? Como é a recuperação?
Dr Edson Alvarenga – O grande problema do desconforto numa atividade cirúrgica depende do interesse que a pessoa tem primeiro naquela atitude cirúrgica, então, de uma maneira geral a recuperação é boa, dizer que não dói é subestimar o intelecto das pessoas, mas existem medicamentos muito bem tolerados que controlam a dor e trazem grande conforto, se não houver sofrimento de algum nervinho pelo caminho esperasse que o período de dor maior seja apenas nos primeiros dias, mas perfeitamente suportável com o uso de medicamentos que podem até mesmo ser iniciados alguns dias antes da cirurgia. Acredito que o maior desconforto revida em muito feliz se acostumar com a postura nova. A recuperação ela sempre ficará apoiada nos curativos, mantendo o corte limpo para evitar infecção a fisioterapia é importante para ajudar na postura e fortalecimento de músculos menos utilizados, novas radiografias para controle, às vezes tomografias e ressonâncias magnéticas, o acompanhamento que o cirurgião faz minuciosamente, lembrando que uma cicatriz vai estar pronta de 15 a 20 dias, e a agressão cirúrgica então começa a melhorar e a adaptação começará a acontecer. 

Viva Mais Viva Melhor – Para finalizar doutor após a cirurgia o paciente poderá voltar a realizar as suas atividades habituais ou terá alguma limitação?
Dr Edson Alvarenga – Está pergunta é interessante porque muita gente acredita que a cirurgia tornará a pessoa robotizada, na maior parte da cirurgia o segmento torácico é o mais trabalhado nesse segmento a movimentação é pouco, portanto a cirurgia não afeta em quase nada, quando é necessário avançar pela coluna lombar existe assim algum tipo de diminuição de movimento que será maior quanto mais níveis lombares forem adicionados na artrodese. Geralmente conseguimos poupar algum movimento, enquanto as atividades habituais o paciente poderá até fazê-las melhor seguramente.

Viva Mais Viva Melhor – Bom conversamos com o médico Dr Edson Alvarenga especialista em neurocirurgia. Doutor muito obrigada e até a próxima.