Nossas Entrevistas

Neurocirurgia

Mitos e Verdades – Aneurisma cerebral

Por Dr. Igor Maldonado

(071) 33... Ver mais >

Olga Goulart – Hoje nós vamos falar de um assunto que deixa muita gente amedrontada, o aneurisma cerebral. Uma lesão na artéria que leva o sangue para o cérebro, assintomática e que geralmente só se descobre quando há o primeiro sangramento. Mas o que muitos não sabem é que o aneurisma pode ser descoberto antes de romper e tem tratamento. Para falar um pouco melhor com a gente sobre essa doença grave na nossa série Mitos e Verdades, quem conversa conosco é o especialista em neurocirurgia, doutor Igor Maldonado.

Doutor, é correto afirmar que na maioria das vezes o aneurisma é assintomático?

Dr. Igor Maldonado – É correto, isso é uma verdade. A grande maioria dos aneurismas são os aneurismas não rotos. Eles dão sintomas apenas quando são muito grandes, comprime alguma estrutura ou sangram. Então isso quer dizer que a maioria das pessoas que têm aneurisma levam o aneurisma consigo e não sabem que o têm.

Olga Goulart – Um aneurisma cerebral pode nascer em uma pessoa saudável, isso é mito ou é verdade?

Dr. Igor Maldonado – Verdade. Um aneurisma sobretudo nas suas etapas iniciais quando é pequeno ele não dá sintomas, ele não costuma dar sintomas a não ser que rompa, então a pessoa não sente e ele se desenvolve, A gente sabe que há alguns fatores de risco que fazem com que a gente imagine que aquela pessoa tem uma chance maior de desenvolver, por exemplo o hábito de fumar, a hipertensão, mas não é uma coisa tão determinista. Então uma pessoa que se sente bem, que não tem nada, que não tem nenhum problema de doença, que não usa remédio ela pode ser portadora de um aneurisma também, isso existe.

Olga Goulart – Dores de cabeça crônicas e recorrente são geralmente indicativas de aneurisma, isso é mito ou é verdade?

Dr. Igor Maldonado – Isso é mito. A maior parte das dores de cabeça, digamos, habituais, são o que nós chamamos na neurologia de cefaleias primárias. A gente procura uma causa para uma dor que existe e que é real, que incomoda a pessoa e compromete a sua qualidade de vida, mas a gente não encontra esta causa. Então a gente diz que existe a dor, mas não tem uma doença orgânica cerebral, a gente não encontra tumor, não encontra inflamação, não encontra aneurisma. A gente precisa ter atenção aos chamados sinais de alerta: se é uma dor de cabeça que muda de padrão, não é aquele habitual, que tem um caráter súbito, que se acompanha de um déficit neurológico que não existia antes aí é outra coisa, aí é uma dor que merece investigação e sim pode ser relacionada a uma causa neurológica, mas aquela dorzinha de cabeça comum que a pessoa tem há muito tempo, pode até ser que tenha uma doença neurológica, mas não é o padrão, a grande maioria dessas causas são cefaleias primárias.

Olga Goulart – Doutor, em geral o aneurisma só é descoberto quando há ruptura de um vaso e hemorragia dentro do crânio, essa afirmativa é mito ou é verdade?

Dr. Igor Maldonado – Dizer que só é descoberto quando há rotura é um exagero, portanto um mito. Hoje há técnicas para se detectar um aneurisma mesmo antes de romper. A gente usa essas técnicas para investigar quando há sintomas inabituais, quando a gente quer triar familiares de pessoas que tiveram aneurismas. Então neste grupo nós temos, por exemplo, a angiotomografia, a angiorressonância, angiografia cerebral diversas possibilidades hoje para se detectar um aneurisma antes que ele rompa.

Olga Goulart – É verdade ou é mito de que o aneurisma pode acontecer em qualquer idade?

Dr. Igor Maldonado – Teoricamente é verdade. Mas entretanto, ele é bem mais comum em idade adulta e em idosos e é muito menos frequente na infância e na adolescência.

Olga Goulart – É correto afirmar que não tem como diagnosticar um aneurisma sem que ele tenha rompido, doutor?

Dr. Igor Maldonado – Não, isso não é verdade. Tem sim, como eu comentei existem hoje exames no nosso arsenal propedêutico que permitem isso, entre eles a angiotomografia, angiorressonância e a angiografia cerebral.

Olga Goulart – É possível manter uma vida normal após um tratamento de aneurisma, isso é mito ou é verdade?

Dr. Igor Maldonado – Verdade, é possível sim! Em casos de aneurismas não rotos que foram tratados isso é muito frequente. É frequente que o indivíduo retome a uma vida normal, atividade de trabalho, muitas vezes até atividade esportiva. Tratar um aneurisma não roto é uma coisa feita com muito mais segurança, programada, do que um aneurisma roto. No caso do aneurisma roto que sangrou e a pessoa descobriu que tinha porque ele sangrou, isso vai depender da gravidade da hemorragia intracraniana.

Olga Goulart – Um aneurisma pode surgir em decorrência de um trauma, acidente ou mesmo estresse, isso é mito ou é verdade?

Dr. Igor Maldonado – Em relação a trauma ou acidente é verdade, são os chamados aneurismas dissecantes e os pseudoaneurismas. São aneurismas um pouco diferentes que se formam devido ao traumatismo da artéria, são relativamente perigosos. O estresse psicológico por si só não causa um aneurisma diretamente, mas ele está associado a um estilo de vida que predispõe. Esses indivíduos geralmente têm estresse psicológico crônico, às vezes são obesos, hipertensos, fumam, etc., esse conjunto de fatores pode aumentar o risco.

Olga Goulart – O aneurisma pode causar morte súbita, isso é mito ou é verdade?

Dr. Igor Maldonado – Infelizmente isso é verdade. Existem alguns casos de morte súbita com rotura de aneurisma cerebral quando a hemorragia é muito grande.

Olga Goulart – Algumas doenças podem aumentar o risco de formação de aneurisma, isso é mito ou é verdade?

Dr. Igor Maldonado – É verdade. Existem doenças que aumentam o risco de formação de aneurismas, dentre elas a doença dos rins policísticos, coarctação da aorta, doenças do colágeno, a pessoa tem problemas no colágeno do seu corpo e aumenta a fragilidade das artérias, como a doença de Ehlers-Danlos, Síndrome de Marfan e ainda algumas outras que não levam tanto a formação de aneurisma, mas em conjunto aumentam o risco e são muito mais comuns, como a hipertensão, a própria aterosclerose e como eu comentei o hábito de fumar. Algumas drogas também têm sido relacionadas ao aumento do risco de hemorragia aneurismática, como por exemplo a cocaína e o crack e existem algumas pesquisas atualmente a respeito de mutações genéticas e risco de desenvolvimento de aneurisma cerebral.

Olga Goulart – Bom, aproveitando que você falou de hipertensão, pessoas com histórico familiar de doenças vasculares ou pressão alta têm maior risco de desenvolver aneurismas, isso é mito ou é verdade?

Dr. Igor Maldonado – Isso é verdade. A gente sabe que em famílias de hipertensos, em famílias de obesos, ateroscleróticos, diabéticos, existe um risco que é superior ao risco da população geral, sobretudo se há mais de um familiar do primeiro grau com aneurisma cerebral. Então se há mais de um familiar do primeiro grau portador de aneurisma cerebral passa a ser bastante válido a triagem nesses familiares.

Olga Goulart – Doutor, é mito ou é verdade que todo paciente que tem um aneurisma precisa de uma cirurgia cerebral?

Dr. Igor Maldonado – Isso é mito. Na verdade, o tratamento hoje em dia tem que ser individualizado, tem que ser estudado caso a caso. Aqueles muito pequenininhos, estáveis ao longo do tempo e que são presentes em indivíduos que não têm nenhum fator de risco pode-se discutir até mesmo acompanhamento e tratar esse aneurisma se ele vier a ser modificado do ponto de vista morfológico ou de volume e etc.. Mas isso são casos específicos e que precisam ser discutidos com o neurocirurgião ou com o neurorradiologista intervencionista. 

Outra situação são aqueles aneurismas que são acessíveis às chamadas técnicas endovasculares, hoje em dia a gente não precisa abrir o crânio para tratar todos aneurismas, existem aneurismas que podem ser tratados por uma técnica de cateterismo na qual a gente oclui a luz do aneurisma, quer dizer entope ele por dentro, impede o sangue de penetrar na bolsa do aneurisma e assim protege o paciente contra a hemorragia.

Olga Goulart – Conversamos com o médico Igor Maldonado, especialista em neurocirurgia. Doutor, muito obrigada e até a próxima.