Nossas Entrevistas

Ginecologia e Obstetrícia

Tema: Infertilidade

Por Dr. Joaquim Roberto Costa Lopes

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Viva Mais Viva Melhor – Você sabia que a infertilidade não é um problema raro e que atinge cerca de 15% dos casais em idade reprodutiva? Além disso, nos dias atuais, muitos casais estão retardando a chegada dos herdeiros, e no momento em que decidem gerar um bebê, também podem encontrar dificuldades na realização deste sonho. Para esclarecer as dúvidas mais frequentes sobre esse assunto quem conversa conosco hoje é o Doutor Joaquim Lopes, ele é médico ginecologista, obstetra e é especialista em reprodução humana.
Doutor explica para os nossos ouvintes o que é a infertilidade? 
Dr. Joaquim Lopes – A infertilidade ela está instalada quando o casal tenta engravidar durante um ano sem utilizar medidas anticoncepcionais e tendo vida sexual ativa e esta gravidez não chega, aí nós dizemos que existe infertilidade conjugal.

Viva Mais Viva Melhor – E de quem é o problema mais comumente, do homem ou da mulher?
Dr. Joaquim Lopes – Na realidade 40% destas situações o problema está no homem e 40% dos casos o problema está na mulher e em 20% dos casos nós temos o compartilhamento de ambos como fator de infertilidade, ou seja, os dois têm problemas, cada um do seu lado.   

Viva Mais Viva Melhor – Como descobrir se uma pessoa é infértil, existe uma idade pra se preocupar?
Dr. Joaquim Lopes – Olha, a infertilidade, como eu lhe disse, é 1 ano tentando engravidar e não consegue, agora, esse tentar engravidar e não conseguir vai ser cada vez mais importante na medida em que avança a idade do casal, especialmente a idade da mulher. A mulher, após os 35 anos, ela começa a declinar a sua capacidade fértil e obviamente se 1 ano não é tão importante para um casal em que ambos os parceiros, por exemplo, tem 25 anos, passa a ser muito importante 1 ano realmente aguardando para uma mulher que tem 40 anos, por isso que esse termo o conceito de infertilidade ele é muito relativo mulheres que têm menos do que 35 anos podem esperar perfeitamente 1 ano para obter a gravidez espontaneamente, dos 35 aos 40 anos não deve esperar mais do que 6 meses e após os 40 anos se ela quer engravidar deve procurar o auxílio do ginecologista para pesquisar se existe algum fator de infertilidade que possa vir a dificultar a obtenção da gravidez e ela tomar as providências sem perda de tempo.    

Viva Mais Viva Melhor – É possível preservar a fertilidade tanto em homens quanto em mulheres, doutor? 
Dr. Joaquim Lopes – Sim, com certeza, tanto no homem, quanto na mulher. Um homem que vai fazer uma vasectomia ele pode preservar a sua fertilidade congelando os seus espermatozoides, também o homem que é identificado com um câncer de testículo, por exemplo, ele pode e deve preservar sua fertilidade congelando os espermatozoides, antes de se submeter ao tratamento, porque a quimio ou a radioterapia prejudica e destroem as células que produzem os espermatozoides. Não é diferente na mulher, a mulher tem uma razão para preservar a fertilidade se ela passa dos 35 anos e não tem uma visão imediata de uma gravidez, ou porque ela não tem um parceiro ou porque o projeto pessoal dela não é para engravidar neste momento, ela deve buscar saber como está a sua condição de fertilidade, seu potencial fértil e ela pode preservar a sua fertilidade congelando óvulos, a mesma coisa acontece se é surpreendida com diagnóstico de câncer, então, ela antes de fazer uma quimioterapia, quer seja um câncer de mama, uma leucemia, um linfoma, ela pode crio-preservar óvulos e consequentemente fazer o seu tratamento e logo que esteja curada ela recorre aos seus óvulos que estavam congelados pra poder vir a engravidar. Isso acontece também com algumas patologias benignas quando a mulher vai fazer uma cirurgia ovariana, antes ela pode congelar óvulos para evitar que essa cirurgia danifique os seus ovários e sua fertilidade seja comprometida.          

Viva Mais Viva Melhor – Doutor o uso da pílula anticoncepcional de fato pode causar infertilidade quando usada por muitos anos?
Dr. Joaquim Lopes – As pílulas nos dias de hoje são pílulas modernas, são pílulas que têm um baixo teor de hormônios e uma qualidade realmente dos hormônios sofreu um avanço muito grande, de modo que a pílula ela não prejudica a fertilidade, a mulher pode usar a sua pílula e quando ela suspende a pílula ela normalmente volta a menstruar já com 30 ou 40 dias depois da última pílula ingerida.   

Viva Mais Viva Melhor – E no caso deste uso continuado por um longo período da pílula anticoncepcional ajuda a preservar os óvulos? 
Dr. Joaquim Lopes – Não, absolutamente, todo mês a mulher disponibiliza centenas de óvulos guardados nos seus folículos e destes que são disponibilizados mensalmente um folículo vai amadurecer e quando maduro chega o momento em que ele vai soltar esse óvulo na trompa pra que a trompa possa tendo um contato de óvulo e espermatozoide oferecer um ambiente para a gravidez. Pois bem, a mulher que está tomando pílula ela continua disponibilizando esses óvulos para amadurecerem, só que ele não vai amadurecer porque ela está tomando pílula e esses óvulos sofre um processo chamado de atrofia, eles se tornam então indisponíveis para serem utilizados no futuro.          

Viva Mais Viva Melhor – E quais são atualmente as opções de tratamento para a infertilidade, doutor Joaquim?  
Dr. Joaquim Lopes – Olha, nós sabemos que muitos casos de infertilidade decorrem de falta de informação, muitos casais não estão atentos pra o seu momento fértil que a mulher dispõe que num ciclo de 28 dias gira em torno do 14º dia. Por outro lado tem medidas comportamentais que podem fazer com que a fertilidade seja comprometida. O uso de medicações pelo homem, a finasterida, por exemplo, pra evitar queda de cabelo compromete a fertilidade do homem, o cigarro pode comprometer a fertilidade do homem e da mulher e determinadas profissões como homens que trabalham com produtos tóxicos ou homens que trabalham na lavoura, aplicam pesticida podem ter os seus espermatozóides danificados por esses produtos, então isso são coisas que acontecem no dia-a-dia, mas nós sabemos que existem muitas condições em que o tratamento pode ser apenas uma medicação, são os distúrbios hormonais que trata medicamentosamente, agora nós temos 30% dos casais, 1/3 dos casais, que exatamente precisa de técnicas de reprodução assistida, que vão precisar de técnicas que envolvem uma sofisticação maior no tratamento, mas é preciso deixar claro que a maioria dos casos de infertilidade se resolve no consultório, com orientação médica ou com medicações.         

Viva Mais Viva Melhor – Bom, doutor, esclarecendo um pouco cada uma delas. O quê que é, e como é feita a inseminação intrauterina?  
Dr. Joaquim Lopes – A inseminação intrauterina é uma técnica chamada também de baixa complexidade e que consiste na mulher tomar algumas medicações para amadurecer um, dois ou no máximo três folículos e quando estes folículos estão maduros se programa a ovulação,com uma medicação pra acontecer em torno de 36 horas depois e duas a três horas antes o homem colhe os seus espermatozoides, eles são preparados no laboratório e são colocados os espermatozoides dentro do útero, de modo que esses espermatozoides colocados dentro do útero eles acessam, eles vão para as trompas pra aguardar o óvulo que sai do ovário, então é uma técnica em que a fertilização acontece no interior do organismo da mulher, por isso é uma técnica de baixa complexidade.        

Viva Mais Viva Melhor – Doutor, no caso da fertilização In vitro, que algumas pessoas chamam de bebê de proveta, como é que a gente pode entender melhor esse procedimento. 
Dr. Joaquim Lopes – Esta já é uma técnica mais sofisticada, chamada técnica de alta complexidade, porque aí a mulher toma medicações em uma maior quantidade, amadurece o maior número de folículos e se colhe uma boa quantidade de óvulos 8, 10, 12 óvulos, estes óvulos no dia em que são colhidos o homem colhe os espermatozóides e são ou disponibilizados pra que o espermatozóide penetre espontaneamente ou se injeta um espermatozoide em cada óvulo e no dia seguinte se sabe se esse óvulo foi fertilizado pelo espermatozoide, e 3 a 5 dias depois em que se colheram os óvulos e que o homem colheu os seus espermatozóides formam-se os embriões que 3 a 5 dias depois da coleta esses embriões estão prontos para serem depositados no interior do útero, o que é chamado de transferência embrionária.     

Viva Mais Viva Melhor – E qual a taxa de sucesso deste tratamento? É garantido a mulher engravidar?
Dr. Joaquim Lopes – A taxa de sucesso varia de acordo com a idade da mulher, com a idade do homem, com a qualidade dos óvulos que ela tenha a reserva ovariana e com a qualidade dos espermatozóides. De um modo geral e analisando os resultados do Cenafert do ano de 2017, nós podemos dizer que de cada 100 casais que se submeteram ao tratamento de fertilização In vitro 52 deles conseguiu obter a gravidez, ou seja, o índice de sucesso gira em torno de 52%.

Viva Mais Viva Melhor – Doutor, muitas mulheres estão optando em fazer o congelamento dos óvulos, até pensando numa gravidez mais tardiamente. Qual a sua opinião sobre essa técnica?
Dr. Joaquim Lopes – Olha essa é uma alternativa realmente bastante utilizada hoje na medida em que as mulheres decidem cada dia mais adiar o seu projeto maternal, quer seja questão de trabalho, porque não tem um parceiro, porque quer fazer um curso, mestrado ou doutorado e com isso ela passa a entrar na faixa em que ocorre o declínio da fertilidade o escasseamento dos óvulos que é após os 35 anos. E uma medida saudável realmente e isso está acontecendo cada dia mais frequente e a mulher está atenta para congelar os seus óvulos no momento oportuno, eu digo momento oportuno porque na medida em que avança o tempo após os 40 anos o congelamento ele muito menos exitoso do que se essa mulher congela por volta dos 35/36 anos. De modo que é um procedimento que está sendo cada dia mais utilizado.      

Viva Mais Viva Melhor – A remoção dos ovários significa infertilidade?
Dr. Joaquim Lopes – Sem dúvida, porque os ovários representam a sede dos gametas da mulher, a contribuição que ela der a transformação de um novo ser. Se a mulher tem os ovários removidos ela pode engravidar, pode, mas ela vai poder engravidar utilizando os óvulos de uma doadora que vão ser juntados aos espermatozoides do seu parceiro e é depositado então no útero dessa mulher os embriões já formados, entretanto a carga genética será da doadora dos óvulos  e do esposo ou do parceiro que doou os espermatozoides.  

Viva Mais Viva Melhor – Doutor Joaquim no Brasil a barriga de aluguel ou barriga solidária já é legal? Em que situações este procedimento pode ser utilizado? 
Dr. Joaquim Lopes – A barriga de aluguel vulrgamente chamada e que tecnicamente nós chamamos de gestação de substituição é um procedimento autorizado pelo Conselho Federal de Medicina e que é especialmente usado para situações em que a mulher não tem o útero capaz de receber e suportar uma gravidez. Quer seja um útero repleto de miomas, quer seja porque ela retirou o útero por alguma razão por um câncer ou qualquer outra situação e consequentemente nestas condições ela pode utilizar a gestação de substituição.   

Viva Mais Viva Melhor – Casais homoafetivos podem se beneficiar das técnicas de reprodução assistida também Doutor? 
Dr. Joaquim Lopes – Com certeza uma mulher ou um homem podem se beneficiar destas técnicas, a mulher pode engravidar tendo uma parceira, ela pode utilizar os óvulos desta parceira e juntar com espermatozóides que podem ser obtidos por uma doação e receber estes embriões de modo que ela está engravidando utilizando o seu útero e utilizando os óvulos da parceira, então isso hoje está sendo cada dia mais frequente essa utilização. O homem nesta condição ele pode utilizar os seus espermatozoides pra engravidar uma mulher e criar por um processo de inseminação intrauterina esse filho ser criado por esses dois homens que formam um casal homoafetivo.

Viva Mais Viva Melhor – Como é que funciona esse procedimento de doação de óvulos, ou mesmo de espermatozóides? 
Dr. Joaquim Lopes – A doação de óvulos aqui no Brasil ela é uma doação regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina e que tem que ser anônima e tem que ser isenta de pagamento, então não pode haver contribuição financeira para pagar a doadora e nem é possível por exemplo haver uma doação entre familiares. Então de modo que ela é feita de modo anônimo e de modo gratuito. O espermatozoide também tem que ser feito de modo anônimo e também não pode haver pagamento financeiro. Evidentemente que as empresas e os bancos de sêmen e de óvulo têm um custo para obter e armazenar esses óvulos, e esse custo é repassado para quem solicita óvulos ou espermatozóides doados. 

Viva Mais Viva Melhor – Doutor o tratamento para infertilidade tem cobertura por planos de saúde ou mesmo dentro do SUS?
Dr. Joaquim Lopes – Tá sendo cada vez mais frequente os casais buscarem os planos de saúde para custearem seus tratamentos e tem sido também frequente hoje que a justiça tenha atendido a esses pleitos e tenha concedido liminares para os casais fazendo o tratamento custeado pelos planos de saúde. De modo que isso hoje, principalmente aqui na Bahia, é muito frequente que casais busquem esse apoio junto ao seu plano de saúde e com frequência eles são atendidos no seu pleito.  

Viva Mais Viva Melhor – Ok. Conversamos com o Dr. Joaquim Lopes, médico ginecologista e obstetra da clínica Cenafert, e especialista em reprodução humana. Doutor muito obrigada até a próxima.