Nossas Entrevistas

Urologia

Tema: Hiperplasia Prostática Benigna

Por Dr. Juarez Andrade

Olga Goulart – Doença exclusiva do sexo masculino, a hiperplasia prostática benigna (HPB), é uma condição bastante comum que afeta muitos homens a partir dos 50 anos. A disfunção é caracterizada pelo aumento benigno da próstata, a glândula que produz o espermatozoide. É importante ressaltar que a HPB não é e nem aumenta o risco de se desenvolver um câncer. Quem conversa conosco melhor sobre o assunto é o doutor Juarez Andrade, médico especialista em urologia.

Doutor, como explicar melhor pra que serve a próstata no decorrer da vida do homem?

Dr. Juarez Andrade – Bem Olga, a próstata não é uma glândula que participa da ereção como muitos julgam, ela não é um órgão relacionado com a atividade sexual, ela é um órgão que participa da fertilidade. Portanto, os problemas de próstata e as eventuais necessidades de cirurgia pode afetar a fertilidade masculina e não necessariamente a qualidade da ereção. Muita gente tem preconceito em relação a próstata imaginando que qualquer coisa que possa ser realizada, qualquer procedimento cirúrgico que possa ser realizado na próstata, vai necessariamente provocar uma dificuldade de ereção e isso não é verdade.

A próstata é uma glândula pequena de um tamanho de uma castanha que é localizada na base da bexiga. Na verdade, ela abraça a uretra. A uretra que é o canal que leva a urina da bexiga para fora e passa pelo pênis, a uretra transfixa a próstata e essa é a razão que faz com que o crescimento da próstata eventualmente possa causar dificuldade para urinar, como ela abraça a uretra como se fosse um anel que envolve a uretra, à medida que ela cresce ela pode contrair em cima desta uretra e provocar uma dificuldade de esvaziamento da bexiga, uma dificuldade da passagem da urina e esse é o único problema que pode causar uma hiperplasia prostática benigna.

Olga Goulart – E o que é a hiperplasia prostática benigna?

Dr. Juarez Andrade – É um crescimento em que cada célula da próstata fica maior e o número de células também aumenta, isso é provocado geralmente a partir da quarta década de idade por um desequilíbrio hormonal que boa parte dos homens começa a ter e não existe uma maneira de prevenir. Entretanto, é muito importante afirmar que o crescimento da próstata pura e simples não necessariamente implica na necessidade de qualquer espécie de tratamento, só quando a próstata aperta a uretra que eu me referi e a dificuldade para esvaziar existe é que a necessidade do tratamento passa também a existir. Então o paciente começa a se queixar de dificuldade para esvaziar a bexiga, ele tem uma necessidade de acordar a noite várias vezes para urinar exatamente porque ele não urina bem, ele precisa urinar várias vezes. O paciente tem dificuldade para iniciar a micção, ele começa a urinar, ele se prepara para urinar e leva alguns segundos, vários segundos, as vezes até minutos para que a micção propriamente dita se inicie. Ele pode ter também um gotejamento terminal excessivo, quando ele termina de urinar muita urina pinga, chegando a molhar expressivamente a cueca ou a roupa.

Isso tudo, esses sintomas podem evoluir gradativamente e piorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes e levar até a retenção urinária que é a absoluta incapacidade de urinar, que é uma condição de urgência em que o cateterismo ou uma sonda é necessária para auxiliar este esvaziamento.

Olga Goulart – É verdade, doutor, que a HPB é uma doença que incomoda somente os idosos? Qual que é a idade média de maior prevalência?

Dr. Juarez Andrade – A grande maioria dos pacientes que sofrem com este problema tem acima dos 60 anos. A próstata começa a crescer a partir de 40 anos e cresce paulatinamente. É curioso que alguns pacientes têm próstatas muito grandes, como eu disse, o normal é do tamanho de uma castanha e ela pesa até 30g, mas tem pacientes que tem próstata de 200g e não tem nenhuma dificuldade. É pela disposição anatômica e pela contração que ela exerce em relação a uretra. Alguns pacientes, portanto, tem um crescimento prostático que é benigno e não necessitam de tratamento, outros que tem o processo obstrutivo estabelecido, necessitam efetivamente serem tratados. Então nós temos que perguntar ao paciente até que ponto aqueles sintomas prejudicam a qualidade de vida dele para então entender o momento em que é necessário iniciar o tratamento.

Olga Goulart – E as causas doutor? Quais são as causas e quem tem o maior risco de desenvolver a hiperplasia de próstata?

Dr. Juarez Andrade – A hiperplasia de próstata é extremamente prevalente, nós sabemos que é um pouco mais acentuado nos indivíduos de raça negra e em quem tem uma história familiar significativa, é o exemplo do que ocorre com o câncer de próstata também, mas como eu disse, é algo que eu gostaria de discutir para evitar tratamentos desnecessários, o tratamento só será indicado ou necessário em quem efetivamente cursar com obstrução. Essa obstrução quando significativa, a necessidade de tratamento torna-se indispensável.

Olga Goulart – Certo. O senhor já citou anteriormente quando explicou sobre a hiperplasia de alguns dos sintomas, quais são esses sintomas da doença? Algo que a pessoa precisasse se preocupar e procurar o especialista? O especialista naturalmente é o urologista?

Dr. Juarez Andrade – Sem dúvida é um urologista. Então os pacientes começam a perceber que eles acordam muito a noite para urinar, então isso começa a perturbar o sono e, portanto, perturba bastante a qualidade de vida. No outro dia ele está cansado, menos disposto, mais impaciente, exatamente porque a qualidade do sono está prejudicada. Depois eles têm uma sensação de esvaziamento incompleto. O paciente percebe que ficou urina na bexiga ainda, vez por outra ele retorna pouco tempo depois para urinar, pouco tempo depois que ele terminou a micção ele retorna para urinar novamente. Então ele pode ter uma dificuldade clara para esvaziamento, para iniciar a micção, ele demora muito para iniciar a micção, ele apresenta gotejamento terminal e se isso não for tratado pode evoluir para retenção urinária, infecção urinária, insuficiência renal e outras complicações ainda mais sérias.

Olga Goulart – O diagnóstico é basicamente clínico ou existem exames específicos, doutor?

Dr. Juarez Andrade – A conversa com o paciente é muito importante para estabelecer este diagnóstico, porque nós podemos claramente examinar este paciente e perceber no toque retal que ele tem uma próstata aumentada de volume, mas isso é um dado apenas que não conclui a necessidade de tratamento. Então aquele paciente que sofre com o quadro miccional, que ele urina mal e isso piora sua qualidade de vida, esse necessita de tratamento. Portanto, a primeira parte para o estabelecimento de um bom diagnóstico é uma conversa com o paciente, depois nós temos os exames suplementares que são a ultrassonografia da próstata e do aparelho urinário para saber do seu esvaziamento, nós dispomos também da urofluxometria que é um aparelho muito simples que o paciente urina nele e com isso nós vamos saber a velocidade com que a urina sai, o calibre do jato e a capacidade, portanto, dele esvaziar. Quando existem dúvidas se a micção ruim se dá por conta do aumento do volume da próstata ou por outros processos, a exemplo dos processos neurológicos, nós podemos ainda usar a avaliação urodinâmica, que é realizada uma introdução de uma sonda para medir as pressões dentro da bexiga e da uretra na região da próstata para entender o porquê que aquele paciente urina mal, se ele tem um problema de obstrução da próstata ou se ele tem um problema de dificuldade de contração da bexiga.

Olga Goulart – Ok. Já que o senhor citou aí a questão do tratamento, ele seria medicamentoso ou cirúrgico?

Dr. Juarez Andrade – Na grande maioria das vezes é medicamentoso. O tratamento de eleição hoje é um tratamento medicamentoso que basicamente relaxa a musculatura prostática, permitindo, embora não diminua propriamente o tamanho, o simples relaxamento da próstata faz com que a urina flua melhor e ele consiga um bom esvaziamento. 

Algumas vezes nós usamos paralelamente medicações que a prazo muito longo podem promover um pouco a diminuição do volume da próstata, nós podemos associar as medicações. Quando essas medicações funcionam e o paciente passa a ter uma micção confortável, passa a urinar bem, ele não necessitará de um próximo passo que aí sim são as medidas de intervenção cirúrgica. Sempre nós buscamos os procedimentos menos invasivos, quando existe a necessidade da indicação cirúrgica, os tratamentos a laser são indicados e em seguida as ressecções transuretrais da próstata, na grande maioria das vezes com processos endoscópicos, sem necessidade de corte, sem necessidade de cicatrizes ou pontos.

Aquelas próstatas, entretanto, que são muito obstrutivas e cresceram demasiadamente, que não respondem a tratamento clínico e por serem grandes demais (acima de 150g de próstata) e elas não respondem ao tratamento, nós não podemos mais realizar os procedimentos endoscópicos, necessitando de realizar cirurgias abertas, na qual precisamos abrir, fazer uma incisão na base do abdome como se fosse uma incisão de cesárea pequena e essa próstata o núcleo central dela obstrutivo é removido e o paciente passa a urinar de maneira tranquila, sem nenhum processo obstrutivo.

Olga Goulart – Existe alguma forma de prevenir este aumento da próstata?

Dr. Juarez Andrade – Infelizmente não existe. As doenças da próstata são hoje muito bem conhecidas e respondem muito bem ao tratamento, mas a medicina não aprendeu ainda a preveni-las, infelizmente não, Olga.

Olga Goulart – Para finalizar então, existe alguma relação, doutor, entre a hiperplasia prostática benigna e câncer? As pessoas têm muito medo e eu acho que é bom a gente finalizar com este esclarecimento.

Dr. Juarez Andrade – Você escolheu uma pergunta perfeita para terminar, Olga. É bom que fique muito bem claro que não existe nenhuma relação, não. Às vezes os pacientes simplesmente descobrem numa ultrassonografia que sua próstata está aumentada, mesmo quando elas são obstrutivas, eles pedem para tratar a próstata porque tem medo que aquilo evolua para o câncer. Não existe nenhuma relação de causa ou efeito da hipertrofia prostática benigna com o câncer de próstata. Um problema não predispõe ao outro, eles não têm ligação. Nós só necessitamos tratar quando a próstata estiver efetivamente obstrutiva. Quando nós tratamos a próstata, mesmo cirurgicamente por hipertrofia prostática benigna, nós trabalhamos somente no centro da próstata, 80% dos cânceres são na periferia, onde nós não mexemos, portanto não pode se prevenir o câncer de próstata realizando procedimentos na próstata para tratamento da hipertrofia prostática benigna.

Olga Goulart – Conversamos com o médico doutor Juarez Andrade, especialista em urologia. Muito obrigada e até a próxima oportunidade.