Nossas Entrevistas

Urologia

Tema: Incontinência Urinária Feminina

Por Dr. Roberto Rossi Neto

Olga Goulart – A incontinência afeta cerca de 10 milhões de mulheres no Brasil e ocorre em cerca de 25% das mulheres brasileiras no período pós-menopausa. Bom, dentre os fatores de risco, nós podemos citar o enfraquecimento da musculatura pélvica, mas tem muito mais o que aprender e a boa notícia é que tem controle, é que tem cura. Dr. Roberto Rossi Neto, ele é urologista e o nosso convidado de hoje. Tudo bom doutor Roberto?

Dr. Roberto Rossi – Tudo bem Olga.

Olga Goulart – Doutor Roberto, como é que nós vamos identificar este problema a tempo de fazer um tratamento eficiente e nos livrarmos dele? Porque certamente compromete muito nosso relacionamento social.

Dr. Roberto Rossi – Na verdade é uma das principais causas de restrição social feminina é a incontinência urinária. Você não pode fazer absolutamente nada sem estar com absorvente, e além disso tem uma questão muito importante que associada a esta incontinência urinária vem sempre um quadro de urgência urinária que é aquela vontade de verter água, popularmente dizendo, as vezes não podemos nem ir a um shopping center ou a uma peça de teatro porque nós temos que saber exatamente onde que é o banheiro para poder estarmos ligados na hora exata de esvaziarmos a nossa bexiga. Então socialmente realmente a incontinência urinária limita bastante a mulher.

Olga Goulart – Agora doutor, nós percebemos aqui que as mulheres mais afetadas percebem este tipo de evento exatamente no período pós-menopausa. Por que disso?

Dr. Roberto Rossi – Exatamente. O que acontece é que há um enfraquecimento de toda a força muscular da parte pélvica da mulher por conta da deficiência de estrógeno, o estrógeno é um dos principais hormônios responsáveis por manter a estabilidade de todos os órgãos femininos de maneira anatômica. Quando há uma falha de produção do estrógeno, ocorre exatamente uma diminuição da consistência ou diminuição da força muscular, gerando uma queda de todos os órgãos no assoalho pélvico e uma das consequências disso pode ser a incontinência urinária.

Olga Goulart – Verdade. Doutor, normalmente nós somos orientadas por nossos ginecologistas ou mesmo o urologista da condição de que a atividade física é muito importante para trabalhar bem também essa musculatura pélvica e não seria, portanto, essa baixa de estrógeno ou mesmo essa faixa etária que vai fazer com que nossa qualidade de vida esteja comprometida. Quais são os cuidados, portanto, que o senhor recomenda?

Dr. Roberto Rossi – O primeiro é esse aí que você falou. A pessoa que é saudável ela se preocupa com a sua saúde, se preocupa com seu físico, se preocupa em estar em atividade, então o exercício físico é a principal prevenção ou medida preventiva para nós evitarmos essa perda de sustentação dos órgãos da pelve. Essa é a primeira coisa.

A segunda coisa é evitar o sobrepeso, isso é muito importante. Quando você tem um peso acima da média você também gera uma pressão abdominal muito grande, e isso influencia indiretamente nos órgãos da pelve.

A outra coisa é controlar todas as doenças metabólicas. Quem tem diabetes, quem tem insuficiência vascular, tudo isso vai ter uma influência indireta em todas essas estruturas da parte pélvica feminina.

Olga Goulart – Bom, infecção urinária é uma coisa que a gente já conhece muito bem, não é? Todas as mulheres sofrem com uma certa recorrência desse problema e eu queria saber suas orientações para que a gente possa evitar isso de uma forma mais segura.

Dr. Roberto Rossi – Em primeiro lugar ingerir bastante líquido. Então pelo menos 2 litros de líquido, quando que eu falo de líquido não significa só de água, pode ser de suco, pode ser até do próprio café, eu aconselho evitar os refrigerantes porque eles são muito concentrados e eles não ajudam muito na circulação. Mas líquido em geral, chá em abundância, do que for, do que o gosto permitir.

A segunda coisa é deixar de fazer uma coisa que é comum em toda a mulher, prender a urina. A maioria das mulheres tem essa característica de não conseguir urinar em todos os lugares e até não querer fazer isso. Isso leva com o passar do tempo a um esforço maior de toda a musculatura, tanto que faz parte da bexiga, quanto do músculo que segura a urina e como é uma musculatura igual a toda outra ela vai cansando e um dia ela perde sua força e perde sua função frequentemente. Então essas duas medidas são muito importantes.

A outra coisa é quando perceber que aconteceu ou aconteceram mais de duas infecções urinárias no ano procura o médico, procura o urologista para conversar com ele para poder descobrir o que é que está causando essa infecção urinária. Geralmente a gente trata a infecção urinária com um antibiótico, mas as vezes a gente se esquece de perguntar o que é que está causando essa infecção urinária e isso sim é que tem que ser tratado, não a bactéria que não tem culpa nenhuma de estar ali dentro.

Olga Goulart – Verdade. Bom, dentre os cuidados da própria higiene pessoal mesmo, a forma da mulher fazer a sua higiene, bem como um controle maior do biquíni ou o maiô utilizado, não ficar por muito tempo com o biquíni molhado. Isso tudo são considerações importantes que a gente escuta sempre.

Dr. Roberto Rossi – Sempre, é muito importante a coisa da própria higiene na hora de você ter dejeções ou urinar, é importantíssima a forma que você se limpa com o papel, de preferência não usar o papel, usar sempre a duchazinha é muito importante e não se esquecer que fungo, que é uma das coisas mais comuns das mulheres, gosta de umidade. Então quanto mais tempo a mulher utilizar algum tipo de roupa molhada ou úmida, mais propensa ela vai estar para um afloramento de fungos na região genital dela.

Olga Goulart – Verdade. A gente está conversando aqui com um urologista, uma questão que habitualmente a mulher tende a atribuir somente ao seu ginecologista o que é um erro, não é doutor?

Dr. Roberto Rossi – Eu não diria que é um erro, eu diria o seguinte, todo o ginecologista que cuida dessa parte de incontinência ele é chamado de uroginecologista, por aí você tira quem é realmente o especialista que deve cuidar disso. É claro que existem vários quadros que se misturam algumas patologias tanto urológicas quanto ginecológicas, mas basicamente a questão da incontinência urinária deve ser tratada por um urologista.

Olga Goulart – Doutor, quais são as formas de tratamento, já que a boa notícia é que um problema desse a gente não deve demorar muito para procurar a ajuda médica porque é um problema de fácil controle. Como é que o senhor prescreve esse tratamento?

Dr. Roberto Rossi – Olha, são dois tipos de tratamentos basicamente. O primeiro é o tratamento medicamentoso e o segundo é o tratamento cirúrgico. O tratamento medicamentoso tem um inconveniente, tem alguns efeitos colaterais e tem um pequeno probleminha misturado nisso, é que geralmente a paciente fica presa a essa medicação. Então quando ela parar de usar a medicação todos os sintomas voltam normalmente. No caso cirúrgico tem a questão de ser um procedimento cirúrgico com seus riscos, no entanto com um grau de sucesso atualmente considerável, a depender do tipo de patologia que nós vamos estar tratando e que pode resolver para o resto da vida a questão da incontinência urinária na paciente.

Olga Goulart – É verdade que até a toxina botulínica vem ajudando no processo do tratamento?

Dr. Roberto Rossi – É verdade. Existem alguns quadros de incontinência urinária que cursam com uma variante de ação da bexiga chamada de bexiga hiperativa, ou seja, ela tem movimento próprio, a bexiga se contrai involuntariamente. Existem várias medicações que podem ser usadas para poder controlar isso, mas como eu disse anteriormente essas medicações tem efeitos colaterais as vezes insuportáveis para as pacientes e atualmente, na verdade há algum tempo, mas mais frequentemente aqui no Brasil na atualidade vem sendo usado o Botox para poder substituir essas medicações, ou seja, em vez de tomar a medicação todo dia durante alguns anos você faz uma aplicação de Botox e nós temos resultados de até 1 ano e 1 ano e meio sem a utilização de uma medicação com a estabilização completa da hiperatividade da bexiga.

Olga Goulart – Muito obrigado doutor Roberto Rossi e você continue aqui no Viva Mais Viva Melhor para mais aprendizado. Muito obrigado e até a próxima doutor.

Dr. Roberto Rossi – Até a próxima, eu que agradeço.

Olga Goulart – Um abraço doutor, muito obrigada.