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Neurologia PUBLICADO EM 05/01/2017

Neurocirurgia com o paciente acordado parece ficção, mas já é realidade

Principal vantagem é remover o máximo de tumor com o mínimo de sequela neurológica permanente

Participação do médico Igor Maldonado, especialista em neurocirurgia

Neurocirurgia com o paciente acordado parece ficção, mas já é realidade

Apesar de parecer cena de filme de ficção científica, já é possível realizar cirurgias cerebrais com o paciente acordado. Essa é uma técnica moderna capaz de reduzir o tempo de internação e de recuperação do paciente. O método, ainda pouco explorado no Brasil, permite ganhos tanto para o paciente quanto para a equipe médica, pois regiões do cérebro muito delicadas podem ser afetadas quando a operação é realizada com o paciente dormindo. Com o paciente acordado é possível operá-lo sem prejudicar a sua memória e funções motoras, minimizando sequelas posteriores. 

Porém, não é qualquer pessoa que pode realizar este tipo de cirurgia, existem critérios para se indicar uma cirurgia de retirada de tumor cerebral com mapeamento em estado acordado. Um primeiro critério é em relação à necessidade. Usa-se o mapeamento cerebral com o paciente acordado para tumores localizados em áreas altamente funcionais, quando se quer retirar o máximo de tumor preservando o máximo da função cerebral eloquente. Ou seja, se o tumor é numa área cerebral que não é tão nobre, pode ser mais seguro operar a pessoa sob anestesia geral, mas, se o tumor está localizado numa área extremamente nobre e eloquente, reduz o risco de sequela permanente, fazendo com anestesia local e o paciente acordado. Segundo o médico Igor Maldonado, especialista em neurocirurgia, “deve-se levar em consideração a elegibilidade anestésica neste tipo de procedimento. É uma anestesia diferente, uma anestesia especial e não é qualquer tipo de paciente que pode ser submetido a ela. Por exemplo, pacientes que são extremamente obesos não conseguem fazer esta cirurgia acordados para mapeamento cerebral”.

Na verdade, essa é uma cirurgia realizada em três fases, não é a cirurgia toda com o paciente acordado. Os americanos chamam de 3A (‘asleep-awake-asleep’,dormindo, acordado e dormindo novamente). O paciente acorda durante a cirurgia apenas no momento em que ele é necessário e diminui muito o risco de sequela se ele for portador de um tumor intracerebral próximo de uma área funcional, por exemplo. Essa técnica dá ao próprio paciente uma segurança maior. Porque, após o tumor ter sido retirado, ele se vê falando, mexendo dos dois lados do corpo, plenamente consciente. Ele tem a tranquilidade de que está bem.

É importante destacar que não existe procedimento cirúrgico sem complicação, em nenhum porte e em nenhuma especialidade. No mapeamento cerebral, o mais comum que se observa é uma deficiência neurológica transitória que se segue alguns dias após o procedimento. Isso é natural pela manipulação da área funcional cerebral. Igor Maldonado ainda acrescenta que “esta pequena deficiência transitória geralmente se deve a um inchaço local, é um edema cerebral transitório devido ao fato de que aquela área cerebral funcional foi manipulada e isso é um sinal de que o cirurgião foi até a área altamente funcional, quer dizer, ele tirou o máximo de tumor possível”.

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