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Pediatria PUBLICADO EM 22/03/2017

Infância Digital: Nova era requer cuidado redobrado com as crianças

É preciso definir limites para poder aproveitar os benefícios da internet

Participação da Dra. Luciana Nunes Silva, médica pediatra

Infância Digital: Nova era requer cuidado redobrado com as crianças

Quantidades cada dia maiores de crianças e adolescentes sofrem discriminação através da internet, com uma repercussão enorme para a vida toda. Um estudo do Centro Regional de Estudos para desenvolvimento da Sociedade de informação (Cetic.br), a TIC Kids Online-Brasil 2015, trouxe dados relevantes sobre a infância digital, avaliando crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos. Do universo de 29,7 milhões nesta faixa etária, 3.068 famílias foram selecionadas por amostragem, destas, 80% são usuárias da Internet: 97% nas classes sociais A e B, 85% na classe C e 51% nas classes D e E. O uso diário é intenso e 66% acessam a Internet mais de uma vez ao dia. Vários estudos científicos também já comprovaram que o uso excessivo e precoce de jogos, redes sociais e aplicativos pode prejudicar a socialização, aumentar a ansiedade, violência, danos mentais, suicídio, transtornos do sono e alimentação, sedentarismo e gerar dificuldades escolares, problemas auditivos, visuais e posturais. 

Algumas “brincadeiras de desafios” online podem também ocasionar graves danos à saúde, como no caso do menino de 13 anos que sofreu uma lesão neurológica e morreu devido ao desafio que consistia em ficar sem respirar por um período de tempo, em outubro de 2016, em São Vicente, no litoral de São Paulo. Em 2014, um sequestro de uma criança de 9 anos foi planejado no Vale do Itajaí, com base em informações disponibilizadas em uma rede social. O sequestrador planejou tudo em 10 dias, disse à criança que aquilo era um jogo e que seu pai estava sabendo. “Em vez da gente jogar videogame, a gente joga a vida real”, explicou o criminoso para a criança. Durante os cinco dias de cativeiro, a criança ficou tranquila e, quando perguntava sobre a família, o sequestrador alegava que estava tudo bem.

Para a Dra. Luciana Nunes, médica especialista em pediatria, “muitos são os riscos que a rede impõe. E o fato é: tudo é muito novo. Estamos em plena revolução digital. Não sabemos ainda quais são os limites necessários para que possamos adquirir o que ela tem de melhor, sem nos prejudicar. Assim também é para os pais, pediatras e professores que lidam com as crianças e precisam orientá-las. Muitos deles não tiveram infância digital e, hoje, precisam educar crianças desta nova era. Não percebemos os problemas que estão surgindo por conta disso, afinal de contas, não há tempo para elaboração da mudança. Apesar da velocidade com que tudo ocorre, precisamos estar atentos”.

São inúmeros os riscos envolvendo a internet, mas também muitos os benefícios que ela nos tem proporcionado. Além disso, é um caminho sem volta. A Dra. Luciana ainda acrescenta que “a internet já domina todos os campos, já faz parte do nosso dia-a-dia, o que é preciso é reflexão. Para os nossos filhos, é essencial definir limites, esse é o papel dos pais: educar. É a forma que temos de ensinar nossos pequenos a lidar com frustrações. Hoje precisamos extrapolar também essa forma de educar, é fundamental que se provoque discussões, verdadeiros fóruns e mesas redondas em escolas, comunidades e também dentro de casa para maior conscientização do uso da internet, para que possamos extrair o melhor dela, mas que não nos expomos aos seus malefícios. Hoje não conseguimos mais nos imaginar sem essa facilidade. Por isso, precisamos aprender a viver com ela”.

Geração digital usa dispositivos cada vez mais precocemente
Será que isto é saudável? Com base nesta pergunta, a Sociedade Brasileira de Pediatria elaborou, recentemente, um manual de orientação em defesa da ‘Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital’. É um conjunto de orientações sobre os principais problemas ligados ao uso excessivo da tecnologia por crianças e adolescentes, são elas:

1. O tempo de uso diário ou a duração total/dia do uso de tecnologia digital seja limitado e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento cerebral-mental-cognitivo-psicossocial das crianças e adolescentes.
2. Desencorajar, evitar e até proibir a exposição passiva em frente às telas digitais, com exposição aos conteúdos inapropriados de filmes e vídeos, para crianças com menos de 2 anos, principalmente, durante as horas das refeições ou 1-2 h antes de dormir.
3. Limitar o tempo de exposição às mídias ao máximo de 1 hora por dia, para crianças entre 2 a 5 anos de idade. Crianças entre 0 a 10 anos não devem fazer uso de televisão ou computador nos seus próprios quartos. Adolescentes não devem ficar isolados nos seus quartos ou ultrapassar suas horas saudáveis de sono às noites (8-9 horas/noite/fases de crescimento e desenvolvimento cerebral e mental). Estimular atividade física diária por uma hora.
4. Crianças menores de 6 anos precisam ser mais protegidas da violência virtual, pois não conseguem separar a fantasia da realidade. Jogos online com cenas de tiroteios com mortes ou desastres que ganhem pontos de recompensa como tema principal, não são apropriados em qualquer idade, pois banalizam a violência como sendo aceita para a resolução de conflitos, sem expor a dor ou sofrimento causado às vítimas, contribuem para o aumento da cultura de ódio e intolerância e devem ser proibidos.
5. Estabelecer limites de horários e mediar o uso com a presença dos pais para ajudar na compreensão das imagens. Equilibrar as horas de jogos online com atividades esportivas, brincadeiras, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza.
6. Conversar sobre as regras de uso da Internet, configurações para segurança e privacidade e sobre nunca compartilhar senhas, fotos ou informações pessoais ou se expor através da utilização da webcam com pessoas desconhecidas, nem postar fotos íntimas ou nudes, mesmo com ou para pessoas conhecidas em redes sociais.
7. Monitorar os sites/programas/aplicativos/ filmes/vídeos que crianças e adolescentes estão acessando/visitando/trocando mensagens, sobretudo em redes sociais. Manter os computadores e os dispositivos móveis em locais seguros, e ao alcance das responsabilidades dos pais (na sala) ou das escolas (durante o período de aulas).
8. Usar antivírus, antispam, antimalware e softwares atualizados ou programas que servem de filtros de segurança e monitoramento para palavras ou categorias ou sites. Alguns restringem o tempo de uso de jogos online e o uso de aplicativos e redes sociais por faixa etária. Ainda assim, é importante explicar com calma e sem amedrontar as crianças e adolescentes sobre quais são os motivos e perigos que existem na Internet, espaço vazio e virtual e onde nem tudo é o que parece ser!
9. Aprender / Ensinar a bloquear mensagens ofensivas ou inapropriadas, redes de ódio, violência ou intolerância ou vídeos com conteúdos sexuais e como denunciar cyber- bullying em helplines ou através da SAFERNET ou disque-denúncia tel. 100.
10. Conversar sobre valores familiares e regras de proteção social para o uso saudável, crítico, construtivo e pró-social das tecnologias usando a ética de não postar qualquer mensagem de desrespeito, discriminação, intolerância ou ódio
11. Desconectar. Dialogar. Aproveitar oportunidades aos finais de semana e durante as férias para conviver com a família, com amigos e dividir momentos de prazer sem o uso da tecnologia, mas com afeto e alegria.

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