Nossas Entrevistas
Radiologia Intervencionista
Tema: Radiologia Intervencionista
Por Dr. André Goyanna
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Olga Goulart – Especialidade médica pouco conhecida, a radiologia intervencionista garante tratamentos mais rápidos e eficazes para diversos tipos de doenças. É um procedimento minimamente invasivo, ou seja, com incisões menores, riscos reduzidos, menos dor e menos tempo de recuperação. É uma alternativa às cirurgias mais complexas que exigem grandes cortes e anestesia mais profunda. E para falar melhor sobre esta técnica inovadora, quem conversa conosco é o médico André Goyanna, especialista em radiologia intervencionista.
Doutor, vamos começar então dizendo o que é radiologia intervencionista e ela é uma especialidade relativamente nova, não?
Dr. André Goyanna – Radiologia intervencionista é uma especialidade médica que, como já está implícito no nome, são realizadas intervenções cirúrgicas minimamente invasivas, às quais são guiadas por métodos de imagem, sendo os raios-X a nossa principal ferramenta para nos guiar. É sim uma das especialidades médicas mais novas e que mais avançam em diversos tipos de tratamentos minimamente invasivos.
Olga Goulart – Como é que a radiologia intervencionista se desenvolveu, doutor?
Dr. André Goyanna – Existiram diversos pioneiros nesta especialidade, sendo que o primeiro registro médico de um tratamento feito através desta técnica foi em 1964 pelo doutor Charles Dotter nos Estados Unidos. Na época ele conseguiu salvar a perna de uma paciente desfazendo a obstrução de uma artéria por dentro da mesma, sem a necessidade de uma cirurgia aberta. Desde então, a criatividade junto com a necessidade de se alcançar métodos de tratamento menos invasivos tão eficazes ou melhores quanto cirúrgicos, impulsionou o desenvolvimento da especialidade. Por exemplo, em 1990 após ter perdido o pai vítima de um aneurisma cerebral, o doutor Guido Guglielmi, nos Estados Unidos, desenvolveu um método capaz de tratar aneurismas cerebrais por dentro das artérias, sem a necessidade de cirurgia, o que hoje em dia, para muitos casos, já é considerado como primeira linha de tratamento.
Olga Goulart – Como é que são realizados os procedimentos através da radiologia intervencionista? Quais são os recursos de imagem que podem ser utilizados?
Dr. André Goyanna – Em geral, os procedimentos são realizados utilizando-se as vias naturais do corpo humano. Através de uma pequena punção na pele temos acesso às veias e artérias do organismo e é por onde navegamos e assim podemos chegar a região ou órgão a ser tratado. Nosso principal método de realização dos procedimentos é através dos raios-X, utilizamos um aparelho denominado de angiógrafo, também chamado de hemodinâmica, o qual nos permite visualizar ao vivo o que está acontecendo por dentro do paciente e assim nos guiar até o local onde deve ser feito o tratamento. O ultrassom e a tomografia computadorizada também podem nos ajudar em outros tipos de tratamento, porém são mais restritos.
Olga Goulart – Doutor André, quais são as principais áreas de desenvolvimento da técnica? Ela pode ser usada como ferramenta diagnóstica e também terapêutica?
Dr. André Goyanna – A radiologia intervencionista é utilizada para diagnóstico e tratamento, literalmente da cabeça aos pés. Por exemplo, podemos tratar aneurismas cerebrais, tumores malignos no fígado, miomas uterinos, varicoceles, sangramento profundo, estreitamento e dilatação em vasos sanguíneos em diversas regiões do corpo humano, apenas com uma pequena punção na região da virilha e sem a necessidade de pontos. É uma especialidade em constante evolução e nosso país faz parte deste universo. Um trabalho científico pioneiro realizado na USP de São Paulo vem demonstrando o benefício da embolização no tratamento de alguns pacientes com aumento benigno da próstata. Outro realizado nos Estados Unidos evidenciou, em pacientes obesos, que a embolização de parte do estômago pode funcionar da mesma maneira que uma cirurgia bariátrica.
Olga Goulart – Quais as indicações mais comuns para realização de procedimento via radiologia intervencionista?
Dr. André Goyanna – São inúmeras e variam sobretudo com o tipo de doença. Por exemplo, uma paciente em idade fértil que nunca engravidou, possui vários miomas e a alternativa cirúrgica que fosse imposta a ela houvesse um risco muito elevado para retirada do útero, ela pode ser uma grande candidata a se beneficiar do procedimento de embolização de miomas. Pacientes que são portadores de varicoceles do lado esquerdo e venham cursando com alteração do espermograma ou evoluindo com atrofia testicular, podem ser submetidos com sucesso a embolização desta varicocele. Aqueles pacientes portadores de aneurismas cerebrais, aneurisma de aorta ou de outras localizações, podem se beneficiar de tratamentos endovasculares, que em geral apresentam bons resultados, menores índices de complicações e um retorno mais rápido do paciente às suas atividades habituais.
Olga Goulart – Quais as vantagens, doutor, e benefícios para um paciente dos procedimentos realizados através da radiologia intervencionista?
Dr. André Goyanna – Em geral, os procedimentos realizados por radiologia intervencionista possuem um menor tempo de internação, em média de 24 a 48 horas. A ausência de cicatriz ou no máximo pequenas incisões na pele, menor trauma, uma vez que muitas vezes utilizamos as vias naturais do organismo, por vezes menores complicações e eficácia igual ou melhor quando comparados com alternativas cirúrgicas abertas para o tratamento da mesma doença.
Olga Goulart – Podem haver complicações durante o procedimento, doutor?
Dr. André Goyanna – Sim, qualquer procedimento médico tem seus riscos, porém em sua grande maioria os realizados por radiologia intervencionista possuem riscos muito baixos, que são previstos na literatura mundial, não devendo o profissional médico que efetua ou o serviço onde o mesmo trabalhe ultrapassar os mesmos.
Olga Goulart – Para finalizar, doutor, vamos falar da importância da radiologia intervencionista nos dias de hoje.
Dr. André Goyanna – Hoje em dia somos uma peça fundamental em qualquer hospital que atenda pacientes de média e alta complexidade. Nos integramos em uma equipe multidisciplinar, servindo assim como apoio para diversas especialidades médicas, tais como a neurocirurgia, a cirurgia geral, a gastro-hepatologia, a oncologia, a urologia, dentre outras. Em resumo, o papel do radiologista intervencionista é se dispor a atender e tratar a doença do seu paciente sempre da melhor maneira e sobretudo menos invasiva.
Olga Goulart – Conversamos com o médico André Goyanna, especialista em radiologia intervencionista. Doutor, muito obrigada e até a próxima.