Nossas Entrevistas

Oncologia Clínica

Tema: Câncer Hereditário

Por Dra. Ivana Nascimento

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Olga Goulart – Estima-se que 5 a 10% dos tumores malignos tenham origem hereditária. Mas como saber se a pessoa pode herdar ou passar os genes que predispõem ao câncer? A especialidade médica que trata dessa importante aliada na prevenção é a oncogenética. E para saber mais sobre o assunto, nós conversamos com a médica especialista do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB) doutora Ivana Nascimento. Doutora, o que é oncogenética?

Dra. Ivana Nascimento – É a parte da genética que estuda particularmente o câncer hereditário.

Olga Goulart – Certo. Então nós podemos dizer que a oncogenética é uma das armas que podem ser utilizadas para prevenção do câncer?

Dra. Ivana Nascimento – Sim, porque quando você detecta algum tipo de predisposição hereditário ao câncer, em alguns casos você pode intervir para evitar o desenvolvimento da doença, então pode ser uma arma de prevenção sim.

Olga Goulart – E o risco de herdar ou mesmo de passar os genes que predispõem ao câncer para os descendentes, eu sei que ele pode variar, como é que os fatores genéticos influenciam no desenvolvimento da doença?

Dra. Ivana Nascimento – Veja bem, nós temos na população variações genéticas, inclusive variações na predisposição ao câncer. Embora rara, essa predisposição hereditária para o câncer ela existe e depende do tipo de mutação ou alteração genética para você ter uma ideia se vai ser uma predisposição muito intensa que vai atingir vários níveis da família ou se vai ser uma coisa rara que só vai acontecer em situações específicas. O tipo de mutação num determinado tipo de gene é que vai dizer se essa doença vai ser muito frequente numa família ou se vai ser rara na família.

Olga Goulart – Qualquer pessoa então pode buscar um médico especializado em oncogenética?

Dra. Ivana Nascimento – Na verdade deve ser encaminhado pelo seu médico assistente. Porque o médico assistente é que vai chamar atenção, fazer a história familiar de uma possível predisposição ao câncer.

Olga Goulart – E o diagnóstico do câncer hereditário nesse caso é feito de que maneira?

Dra. Ivana Nascimento – Primeiro você tem que fazer uma consulta com o geneticista, avaliar o risco de a pessoa ter nascido com predisposição hereditária e uma vez sendo avaliado esse risco o que se pode fazer é em algumas situações um teste genético para detectar ou diagnosticar a mutação.

Olga Goulart – Seria um teste de DNA?

Dra. Ivana Nascimento – É um teste de DNA que você vai analisar aquele segmento do DNA que compõe o gene para uma determinada doença hereditária e vai ver se tem alteração ou não e que tipo de alteração e se essa alteração tem uma importância grande na história familiar.

Olga Goulart – Esse teste, doutora, ele é coberto por convênios de saúde?

Dra. Ivana Nascimento – Atualmente sim. A Agência Nacional de Saúde definiu critérios, porque não é em qualquer situação que se faz o teste médico, mas definiu critérios para a realização de testes genéticos e a depender desses critérios, se a paciente estiver dentro desses critérios o plano de saúde tem que pagar.

Olga Goulart – É importante que a pessoa antes mesmo de buscar uma primeira consulta que ela tenha conhecimento, que faça um levantamento do histórico da saúde da família tanto do lado materno quanto do paterno, não doutora?

Dra. Ivana Nascimento – Isso é importantíssimo. O que nós vamos fazer é colocar no papel, digamos assim, no computador a história familiar. Quem teve a doença, o nível de parentesco que teve a doença, com que idade teve a doença, qual foi o tipo de câncer, para poder fazer esse estudo amplo da história familiar.

Olga Goulart – Para a gente entender melhor, doutora, eu queria que você explicasse o que é o aconselhamento genético, quando é que ele é indicado.

Dra. Ivana Nascimento – Quando você tem uma suspeita de uma história de predisposição genética a alguma doença, você deve ser encaminhado para o geneticista, o geneticista vai colher a sua história, vai fazer o heredograma, que praticamente todo mundo já conhece e vai fazer um cálculo de risco e à partir do cálculo de risco, vai solicitar ou não o teste genético, se houver teste genético, nem sempre tem, adequado para aquela doença em particular, então a partir daí vai aconselhar que tipo de teste você vai fazer e como o diagnóstico do resultado do teste vai aconselhar também medidas a serem tomadas, tanto de tratamento quanto de prevenção.

Olga Goulart – Certo. Todos os tipos de câncer são hereditários, ou seja, melhor dizendo, se não forem todos quais são aqueles que mais se enquadram nesse acompanhamento genético, doutora?

Dra. Ivana Nascimento – Na verdade raramente o câncer é hereditário. O câncer hereditário é em torno de 5 a 10% dos cânceres. Atualmente você tem várias síndromes de predisposição a câncer e a vários tipos de câncer, entretanto em termos de medidas de prevenção que valorizam o diagnóstico da síndrome de predisposição hereditária, que você pode fazer alguma coisa interferindo de alguma maneira nessa história são principalmente os cânceres de mama e ovário hereditários, os cânceres de intestino hereditário e alguns cânceres de criança, que são hereditários que parecem em crianças precocemente.

Olga Goulart – Recentemente a gente acompanhou amplamente na mídia a situação da atriz norte-americana Angelina Jolie que retirou as duas mamas como uma forma de prevenção do câncer de mama. Segundo a atriz, os médicos a partir de uma análise genética estimaram em 87%, uma taxa alta, o risco dela desenvolver a doença. Portanto, Angelina Jolie encarou essa mastectomia dupla de uma forma absolutamente natural e com indicação médica. Eu queria saber a sua opinião doutora, quais são os fatores que levam uma situação dessa natureza e se o procedimento é esse mesmo.

Dra. Ivana Nascimento – No caso da atriz ela tem uma história típica de síndrome de predisposição hereditária ao câncer, no caso o que a gente chama de síndrome de câncer de mama e ovário hereditário. Ela tinha várias gerações na família com câncer de mama precoce, um caso, inclusive, de câncer de ovário também, ela tinha a avó, a mãe, uma tia, várias pessoas todas com a doença diagnosticada antes dos 50 anos, ou seja, em uma idade precoce, fora da faixa de aparecimento dessa doença, mais comumente encontrada a partir dos 50 anos, isso caracterizava um risco aumentado de ter um câncer hereditário. Então foi feito um teste genético na mãe que foi positivo para mutação do gene específico, na tia também e aí ela quando faz parte do aconselhamento hereditário essa progressão, se você encontra numa pessoa você vai para os seus descendentes diretos para avaliar se esses descendentes diretos também tem a mutação e se enquadram no risco de doença hereditária. Depois fizeram o teste genético de Angelina Jolie, embora ela não tivesse câncer e foi constatado que ela também havia herdado a mutação que ocorria na família materna e por isso ela fez esse protocolo de prevenção. A gente chama de medida de redução de risco, então foi muito bem indicada no caso dela, tanto a retirada das mamas, como depois a retirada dos ovários.

Olga Goulart – Ok, doutora. Bom, a gente sempre reforça aqui no Viva Mais Viva Melhor essa condição da importância da prevenção e dentre o que nós conversamos, a senhora explica que a questão da hereditariedade tem um percentual até bastante pequeno diante de outros fatores. Então nada melhor do que as dicas e orientações da doutora para que nós possamos fazer os cuidados devidos, a prevenção correta a partir do nosso estilo de vida como uma forma de prevenção. O que a senhora me diz?

Dra. Ivana Nascimento – Exato. Porque a parte genética, hereditária pelo menos, influencia muito pouco na quantidade e no número de pacientes com câncer, o hereditário é em torno de 5 a 10%, mas o mais importante de tudo é o estilo de vida, a prevenção diária, que eu diria, na sua própria maneira de viver, essa é a prevenção importante, tão importante quanto a redução de risco no câncer hereditário.

Olga Goulart – Verdade. Doutora muito obrigada. Nós conversamos com a doutora Ivana Nascimento a respeito de oncogenética, muito obrigada e até a próxima oportunidade aqui no Viva Mais Viva Melhor.