Nossas Entrevistas

Endoscopia Digestiva

Tema: Endoscopia Digestiva Alta

Por Dr. Ramiro Mascarenhas

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Olga Goulart – Exame indicado para avaliar os órgãos do sistema digestivo, a endoscopia digestiva alta é realizada através de um tubo que contém uma microcâmera em sua ponta, inserido na boca do paciente, a fim de capturar imagens no trajeto que percorre o esôfago, o estômago e o duodeno. Apesar de parecer desconfortável, o exame é simples, é rápido e é feito com o paciente sedado, portanto, relaxado e dormindo. E para conversar conosco sobre este exame que é temido por muitos, nós convidamos o médico, doutor Ramiro Mascarenhas, especialista em endoscopia digestiva.

Doutor, explica para os nossos internautas o quê que é a endoscopia digestiva alta?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Olga, como você acabou de frisar é um procedimento utilizado para avaliar os órgãos do sistema digestivo. No caso da endoscopia alta vai avaliar o esôfago, o estômago e o duodeno.  Então você colocou que é um tubo inserido com uma microcâmera, na verdade é um filme que a gente faz com o paciente, este exame é transmitido para um monitor de TV, nós podemos gravar estas imagens. Então ele inicialmente é utilizado para fazer o diagnóstico dessas doenças que acometem o esôfago, o estômago e o duodeno, por exemplo, varizes de esôfago, uma úlcera, um tumor de estômago, uma lesão na papila de Vater, que é o local de onde sai a bile. E o exame diagnóstico ele pode no mesmo ato se transformar num exame terapêutico, então nós podemos fazer procedimentos. Por exemplo, o paciente que tem varizes de esôfago, se estiver sangrando a gente pode na mesma hora passar um cateter através do orifício do aparelho e parar uma hemorragia de uma úlcera péptica. Então são várias indicações que a gente pode explicitar melhor.

Olga Goulart – Ok. Doutor, por que que é necessário realizar esse exame de endoscopia, em quais situações mais específicas o médico procura solicitar este exame para fechar bem um diagnóstico ou mesmo um tratamento?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Pois é. Então como eu te disse, ele tem uma gama de indicações, na prática no dia-a-dia ele é mais utilizado naqueles pacientes que têm dificuldades de digestão. Nós nos alimentamos pelo menos 3 vezes por dia e tem que ser o mais saudável possível. Então quando você faz uma alimentação e aquela alimentação não caiu bem no estômago, você está com aquele empachamento, a digestão mais difícil, tem uma azia, tem uma regurgitação, náusea... então se isso é um sintoma que está persistente, não assim um sintoma relacionado a alimentação que você foi numa festa, mas isso está acontecendo sempre e principalmente se você tem acima de 40 anos, este exame é muito indicado porque você pode fazer o diagnóstico de um tumor de estômago em uma fase inicial e vai permitir que você faça o diagnóstico e se ele for muito inicial, na primeira camada da mucosa do estômago a própria endoscopia pode tratar esse paciente.

Olga Goulart – Maravilha. Doutor, qualquer pessoa pode realizar esta endoscopia digestiva alta? Com que frequência esse exame deve ser refeito, caso necessário?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Esse exame, apesar de ser um exame sofisticado, ele é um exame de ampla utilização na classe médica. Nós realizamos esse exame em pacientes recém-nascidos, eu já fiz exame em um paciente com um dia de vida, tem aparelhos que permitem fazer em paciente que nasceu e teve hemorragia digestiva pós-parto e simplesmente deixaram de usar a vitamina K, este paciente teve um sangramento com uma lesão aguda no estômago. Você pode usar esse exame em qualquer idade. Contraindicação absoluta, ou seja, aquele indivíduo que está como a gente chama de abdome agudo, que o intestino parou de funcionar. Isso é contraindicado porque o exame para a gente fazer, o tubo digestivo é um órgão oco, que a gente tem que insuflar um pouco de ar e esse paciente quando já está com o intestino paralisado esse ar pode aumentar mais essa obstrução e o paciente vomitar durante o exame, é uma contraindicação absoluta.

E tem contraindicações relativas, por exemplo, um paciente que teve infarto agudo do miocárdio recente, então esse paciente ele precisa de pelo menos uns 6 meses para fazer o exame. A não ser que ele tenha uma situação, por exemplo, ele teve um infarto, mas ele teve uma hemorragia digestiva, ele está vomitando sangue, a gente chama de custo-benefício. Nesse caso fazemos o exame com todo cuidado, feito num hospital, numa U.T.I., com acompanhamento do anestesista, porque a endoscopia tem o objetivo de parar esse sangramento e aí pode ser feito. Então, no geral, pode ser feito em qualquer idade desde que o paciente não tenha uma contraindicação absoluta, o médico que pede o exame vai avaliar isso. No geral é isso, se o indivíduo tiver uma insuficiência respiratória, aquele indivíduo que respira mal, que está com uma fase avançada de uma doença pulmonar obstrutiva crônica, esse é um paciente de contraindicação relativa, só pode ser feito exame neste paciente se o benefício do exame for melhor ou maior do que o risco.

Olga Goulart – Quanto tempo dura em média o procedimento, doutor?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Esse procedimento dura em torno de 10 a 20 minutos, no máximo 30 minutos se for fazer alguma atitude terapêutica. Se for só o exame para diagnóstico em um paciente bem sedado é em torno de 20 minutos para você fazer um exame bem feito, com toda qualidade.

Olga Goulart – O paciente pode acordar durante este procedimento, ele pode sentir algum desconforto na hora do exame?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Não. Hoje em dia a endoscopia é feita com uma boa sedação, nós temos drogas hoje muito seguras e na maioria dos grandes serviços de Salvador e em todo o mundo a sedação feita por um colega anestesista, o endoscopista faz o procedimento e o colega anestesista é quem faz a sedação, usa drogas hoje que têm muita segurança e quase 100% das vezes o paciente dorme durante o exame e acorda inclusive hoje com essas drogas novas com a sensação de bem-estar. Então é muito difícil o paciente sentir desconforto após a endoscopia.

Olga Goulart – O exame de endoscopia digestiva alta é seguro, portanto, não é doutor?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Muito seguro. É preciso saber escolher o local onde você vai realizar o exame. Eu digo que a endoscopia é um procedimento hoje realizado em larga escala, mas o cliente deve procurar saber se esse médico que faz o exame dele, procurar informações, se ele é um especialista, é um procedimento que deve ser realizado por um médico especialista. Têm duas maneiras de você ser especialista em endoscopia, ou você faz uma residência médica depois do curso de medicina no mínimo de 2 anos e você sai com o título de especialista, ou então você faz uma residência de cirurgia ou de gastroenterologia e depois você faz mais 2 anos de endoscopia, então você faz uma prova da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva e lhe confere o título de especialista. 

É bom também ressaltar que deve ser feito o exame em um local adequado, ou num hospital ou em uma clínica. Você tem que saber se essa clínica tem todos os recursos, se tem desfibrilador, se tem material para ressuscitação e principalmente se essa clínica hoje tem um anestesista de plantão que vai permitir uma maior segurança ao procedimento.

Olga Goulart – É possível, então, no momento do exame retirar amostras de tecidos suspeitos de algum tumor ou úlcera que sejam encontrados pelo trajeto, não é doutor?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Sim. Esse é o nosso dia-a-dia. A endoscopia digestiva alta, como outros procedimentos na área de endoscopia, como a colonoscopia que é o exame que faz do intestino, nos grandes objetivos é identificar lesões ainda precoces que permitem você retirar fragmentos, encaminhar para um médico patologista e confirmando o tumor a gente vai ver o grau de agressividade deste tumor. Se for um tumor restrito a primeira camada mucosa a própria endoscopia pode tratar esse paciente, fazer uma ressecção. Se ele for avançado vai ser encaminhado para o tratamento cirúrgico.

A endoscopia tem uma larga escala. No dia-a-dia, por exemplo, você está numa emergência, eu já fiz muito isso, já trabalhei muito em emergência, muitas crianças engolem uma moeda e fica impactada no esôfago e você com o procedimento de endoscopia consegue tirar essa moeda e a criança volta a se alimentar. Ou então espinha e peixe, várias vezes pacientes comendo peixe apressadamente se engasga com a espinha e ela encrava no esôfago, o endoscopista passa o aparelho e através de uma pinça apropriada ele tira essa espinha e é o maior conforto para o paciente porque o corpo estranho lhe dá uma sensação muito desagradável.

Olga Goulart – Ótimo saber disso. A endoscopia digestiva alta então pode ser utilizada para o tratamento de doenças, você já citou aí alguns procedimentos aonde a endoscopia digestiva alta intervêm. Em quais outras situações nós poderíamos chamar de opção de tratamento durante o procedimento?

Dr. Ramiro Mascarenhas – A melhor indicação em termos de tratamento é na hemorragia digestiva, foi inclusive nesta área que a endoscopia ganhou um grande prestígio. Porque antigamente o indivíduo que tinha uma úlcera e vomitava sangue, ou eliminava fezes enegrecidas, pretas tipo piche de petróleo, isso indica um sangramento do esôfago, do estômago ou do duodeno. Então antigamente tinha que ir para um procedimento cirúrgico, hoje em dia não, você faz a endoscopia, identifica a lesão e você pode tratar esta lesão, por exemplo se for varizes no esôfago, que é uma consequência principalmente de uma doença hepática, o paciente tem cirrose, esquistosomose e desenvolve essas varizes no esôfago. Ela rompe, você consegue identificar, injeta uma substância ou então coloca lá um anel elástico e consegue estancar essa hemorragia. Se é uma úlcera também você consegue e mais, quase 100% dos casos você consegue eliminar o paciente de um tratamento cirúrgico. Então essa é uma grande vantagem da endoscopia e também nas lesões malignas precoces. Como eu já ressaltei algumas vezes, aquela lesão que está restrita à mucosa, principalmente em pacientes acima dos 40 anos que tiver uma alteração da sua digestão, alteração persistente, tiver história familiar, você tem que procurar o especialista, o gastroenterologista para ele solicitar a endoscopia, porque você pode fazer o diagnóstico de um tumor inicial e você tratar, você ficar curado.

Olga Goulart – É preciso algum preparo, doutor Ramiro, antes de realizar o exame?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Essa pergunta é muito boa porque é necessário um preparo de 8 horas de jejum. Mas é bom esclarecer que, por exemplo, na véspera o exame da endoscopia o ideal é que ele seja feito de manhã. Então o paciente na véspera ele não deve se alimentar, por exemplo, comer feijoada à noite, pizza, coisas com gorduras, porque a gente fala 8 horas de jejum, mas essas alimentações ricas em gordura demoram mais tempo na digestão. Na véspera do exame a noite você pode tomar uma sopa, fruta, uma salada, mas não deve comer comidas como principalmente pizza, feijoada ou moqueca na véspera do exame.

Olga Goulart – O paciente pode ficar rouco ou sentir algum desconforto na garganta após a realização do procedimento, doutor?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Olha, isso é raríssimo, hoje em dia os aparelhos são ultrafinos, o paciente é sedado, não reage durante o exame, então posso te dizer que é praticamente inexistente a possibilidade hoje do paciente sair rouco ou sentir algum desconforto.

Olga Goulart – Qual que é o tempo necessário para recuperação do paciente após o exame? Ele pode comer normalmente, por exemplo, daí a quanto tempo?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Nos próprios serviços da endoscopia ele já recebe um lanche, pode tomar um suco, comer uma bolacha ou uma fruta, em torno de 30 minutos ele já pode se alimentar normalmente.

Olga Goulart – Vocês recomendam, doutor, que o paciente vá acompanhado no dia do exame, não é? Em função de que?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Porque na maioria das vezes o exame é feito sob sedação e na nossa legislação, mesmo essas drogas mais seguras, a droga hoje mais utilizada para fazer a sedação é o Propofol, que é uma droga altamente segura, é a droga que se realiza nos procedimentos endoscópicos em todo o mundo hoje é o Propofol. Apesar de ser uma droga muito segura, a nossa legislação diz que todo paciente que é sedado ele não pode sair dirigindo ou operar maquinas pesadas. Então, nesse sentido a gente orienta porque o paciente quando sai da sedação, mesmo a maioria se sentindo em condições de dirigir, já se recomenda que eles não dirijam ou então não saiam sozinho para pegar ônibus ou ir para sua casa por precaução. Mas a droga hoje é segura, esses pacientes saem e vão trabalhar.

Olga Goulart – Para finalizar, os planos de saúde oferecem cobertura ao exame de endoscopia digestiva alta?

Dr. Ramiro Mascarenhas – Sim. Oferecem cobertura. Às vezes limitam, às vezes faz um exame e eles limitam para que você faça um após 6 meses, mas a maioria dos planos hoje cobrem a endoscopia digestiva alta com biópsia ou os procedimentos endoscópicos que advém da endoscopia digestiva.

Olga Goulart – Doutor Ramiro, foi muito instrutiva todas as suas orientações, muito obrigada e até a próxima oportunidade.