Nossas Entrevistas
Acupuntura e Clínica da Dor
Tema: Estresse
Por Dr. Walter Viterbo
Olga Goulart – O Brasil é o segundo país com o maior nível de estresse do mundo, de acordo com a associação internacional do controle de estresse. Além de prejudicar a memória e diminuir a imunidade do organismo, o estresse pode refletir no lado emocional também, mas afinal o que é que causa o estresse? Como evitar situação de estresse extremo? Como buscar tratamentos? Bom, sobre esse assunto nós vamos conversar com o especialista Walter Viterbo, especialista em acupuntura e clínica da dor.
Doutor, o quê que é o estresse, qual é uma definição mais correta dele?
Dr. Walter Viterbo – Na verdade o estresse é uma resposta aos estímulos que sofremos diariamente. A nossa fisiologia está preparada para que nós possamos reagir aos estímulos, por exemplo se a gente toma um susto, se a gente vai atravessar a rua e um carro dá um freio isso é um fator estressor, isso é um fator que o nosso corpo entende que deve reagir como forma de proteção e defesa. Então aquilo que nós chamamos de estresse na verdade são os fatores estressores que podem causar no nosso corpo estímulos que o nosso corpo vai responder nos colocando mais aptos a nos defender. Então por exemplo no exemplo que eu citei do carro que vai te dar um susto no meio da rua, naquele momento que o seu corpo toma aquele estímulo, ele vai bater o coração mais rápido, a respiração vai ficar com a frequência mais rápida, você vai ter mais glicose nos seus músculos para que você possa correr e se livrar daquele perigo.
O estresse na verdade é a nossa resposta a estes estímulos a esses fatores estressores e que ele pode ser positivo quando ele nos impulsiona. Outro exemplo que o estresse pode ser positivo é quando nós temos uma meta, por exemplo uma prova, um concurso, alguma coisa profissional que você precisa fazer, uma defesa de doutorado, tudo isso o nosso corpo vai nos colocar numa condição de mais força, de mais estímulo e vai nos fazer ficar mais aptos a conseguir aquele objetivo, esse é o estresse positivo.
Qual o grande problema do estresse? É quando ele se torna muito constante, e aí o corpo não aguenta e ele começa a ficar negativo. É por isso que a gente chama a atenção porque todas as metas, todos objetivos, todos fatores estressores, eles podem ser positivos quando são rápidos, quando são curtos e podem tornar-se altamente negativos e deletérios a nossa saúde quando eles se tornam constantes, porque o nosso corpo não aguenta ficar produzindo adrenalina e ficar produzindo todas essas mudanças para que nós possamos estar impulsionados a atingir todos os nossos objetivos. Então uma grande diferença do estresse bom para o estresse tornar-se ruim é a exposição de tempo do mesmo estímulo. Infelizmente hoje a gente percebe que está todo mundo estressado todos os dias pelos mesmos motivos, é o trânsito, é a má alimentação, são os riscos, o medo, as metas, então isso quando se torna constante ele torna-se deletério.
Olga Goulart – Agora como é que nós vamos perceber, doutor, e apontar os mecanismos que estão desencadeando um estresse negativo? Como saber o ponto de um estresse algo estimulante para determinadas ações ou para outras ser preocupante em termos de comprometimento da nossa saúde?
Dr. Walter Viterbo – Na verdade o nosso corpo é muito sábio e ele nos diz a todo o tempo, ele nos mostra a todo tempo que nós estamos ultrapassando os nossos limites. No momento em que você começa a ter sinais clínicos de dificuldade de dormir, intolerância, maior impaciência, a sensação de taquicardia, a sensação de sudorese, a sensação de que você não consegue se concentrar, aí vem a depressão, vem a tristeza, vem a própria improdutividade que é o que a gente chama de presenteísmo, ela está presente no trabalho, mas ela não produz, ela não rende aquilo que ela rendia antes, que é o processo da estafa, do cansaço. Então o corpo mostra para as pessoas, a gente tem que perceber o momento de modificar, o momento de parar, o momento de trocar os fatores que estão estressando para que a gente não possa ter um preço muito mais alto, que é o preço da nossa saúde.
Olga Goulart – Então claro que um estresse negativo, se não controlado, ele pode evoluir para problemas mais sérios não só psicológicos, mas físicos também?
Dr. Walter Viterbo – Como eu citei, você pode ter uma piora do seu quadro de pressão, de diabetes, você pode ter AVC, você se tem a depressão que é muito clara, dificuldade de dormir, seus relacionamentos começam a ficar ruins, você começa a ficar intolerante, impaciente. Então todos esses sinais demonstram, como a gente fala na nossa medicina tradicional chinesa que o exterior está dizendo que o interior está em desarmonia. A própria pele, as vezes a pessoa tem doença de pele, a pessoa tem acne, a pessoa tem herpes, tem alguma doença que o corpo está escolhendo como se fosse um vulcão entrando em erupção. Então na base existe alguma coisa de errado a ponto de chegar nesses perfis.
Olga Goulart – Doutor, como identificar, por exemplo, esse estresse negativo de uma forma mais clara e buscar mecanismo para que a gente saia dele antes que aconteça um problema mais sério conosco?
Dr. Walter Viterbo – Então como eu já citei o seu corpo é sábio. O seu corpo vai te mostrar isso através das atitudes que você vai percebendo, você não consegue mais produzir como antes, o seu sono não é mais o mesmo, o seu humor fica diferente, a sua pele vai demonstrar isso, quando você começa a ter acne, ter doenças oportunistas como herpes, começa a ter alterações importantes e o corpo vai te mostrar que é hora de mudar. E para você mudar eu digo sempre "você está no volante, você dirige o carro da sua vida, você pode guiar para o lado que você desejar". Então se você está com compromissos inatingíveis, com metas inalcançáveis, você ter mais do que você consegue, é hora de você rever as suas metas. Se você hoje tem atitudes que não estão sendo úteis para você, você deve repensar se o seu sono está sendo respeitado. A sua alimentação, hoje é muito simples, em toda a cidade existe um restaurante com a opção de comida a quilo que você vai ter a opção de comer bem, de comer salada, de comer verduras, de não comer frituras, de não comer carne vermelha, tudo isso vai te ajudando a prevenir o estresse. Uma boa alimentação, metas que você modifique e que você troque e coloque no possível para você atingir. Um sono bem definido e uma noite respeitada, obviamente evitar drogas, evitar bebida alcóolica exagerada, então isso chama a atenção porque todos esses fatores aliados a uma boa alimentação, um bom repouso, o equilíbrio entre o trabalho, o descanso e o lazer, e isso está na sua capacidade de decidir, principalmente trocar as metas inatingíveis. Não pode a gente querer carro, avião, lancha, helicóptero e morrer para conseguir isso. É muito bom a gente ter uma qualidade de vida respeitando o nosso horário de trabalho, nosso lazer, nosso horário com a família, nossos horários com os amigos e ter uma vida saudável do que ter metas muito complicadas, metas inatingíveis e que nos custam muito, o mais caro de tudo que é a nossa saúde.
Olga Goulart – Quando falamos em estresse, doutor, dentre todas essas suas explicações, crianças pequenininhas, bebês ou crianças podem também ser atingidas por esse grau de estresse?
Dr. Walter Viterbo – Eu costumo dizer que infelizmente na gestação a criança já está sofrendo, porque a sua mamãe já está sofrendo. A gente vê mamãe usando drogas, mamãe que bebe, mamãe que fuma, mamãe que não dá o repouso adequado para aquela fase da vida dela tão importante que é a sua gestação, quer trabalhar até o último dia, quer manter o mesmo nível de empenho que tinha quando não estava na gestação, então a criança já começa a sofrer dentro da barriga os efeitos do estresse. Ao nascer nós percebemos as crianças muito jovens já com acesso a tablets, telefone, canais de televisão, filmes, as vezes os pais terceirizam suas responsabilidades, entregam jogos, entregam situações para entreter essas crianças, isso vai gerando o nível de conhecimento que é positivo, porém se ele não tem limite, ele começa também a criar essa criança desde cedo muito competitiva, já muito estressada.
E o próprio mundo moderno, muito rápido, muito globalizado, você vê crianças com 4, 5 e 6 anos que tem muito mais conhecimento, outro dia eu vi uma matéria, do que um faraó de 2 mil anos atrás. Um faraó do Egito de 2 mil anos atrás tinha menos conhecimento na sua fase adulta do que uma criança de hoje com 5 e 6 anos de idade. A quantidade de informações, a quantidade de informações corretas que existem hoje equivocadas são enormes e isso gera um quadro nas crianças que é o famoso bullying e tem outras situações como o relacionamento dos pais, o relacionamento familiar, as próprias escolas muito competitivas desde cedo, o método vestibular, o ENEM, desde cedo a criança já vem sendo preparadas com um nível, com uma demanda muito maior do que no passado e obviamente elas são mais estressadas e vão levar isso para a sua vida adulta. Hoje você entra num consultório são adolescentes, pré-vestibulandos que já chegam com uma carga parecendo aqueles que estão estudando para um concurso, para juízes, um curso para alguma coisa maior, para uma pessoa que está lá na frente, em um nível de estresse muito parecido com os adolescentes pré-vestibulandos.
Olga Goulart – Verdade. Doutor, outra questão importante também que é uma queixa frequente, são as questões de disfunções sexuais, isso poderia certamente estar relacionado ao estresse?
Dr. Walter Viterbo – Completamente. Um ciclo que precisa ser quebrado. As pessoas para estarem no seu melhor momento da sua atividade sexual elas também tem que estar no seu melhor momento físico e psicológico e infelizmente hoje quando as pessoas voltam para as suas casas, que deitam nas suas camas, elas não conseguem deixar para trás o seu dia, elas levam no seu sangue uma quantidade de adrenalina muito maior do que deviam e por isso demoram para dormir, quando dormem não tem um sono adequado e obviamente isso vai interferir diretamente no seu desempenho das suas vidas sexuais.
Olga Goulart – Então fica fácil perceber de todas as suas explicações que uma mudança no nosso estilo de vida é uma forma importante de se prevenir um estresse negativo, não é? Recomendações?
Dr. Walter Viterbo – Na verdade eu diria que as mudanças no estilo de vida talvez seja o mais importante dos fatores para que você consiga prevenir, controlar e até tratar alguns níveis de estresse. Como eu falei no início da entrevista o estresse é fisiológico, o estresse faz parte do nosso ser, da nossa fisiologia, ele está aí para nos proteger, o grande problema é quando colocamos muito estímulos e o corpo responde o tempo inteiro e aí ele não aguenta e começa a fazer mal essa produção exagerada da adrenalina e das respostas. Então se você puder evitar se estressar, se você conseguir recusar os convites para o atrito, você vai melhora bastante.
Eu gostaria de concluir com um fato, uma historinha que é muito contada, que é daquele pai que acorda e vai tomar café e aí o filho derrama o café na blusa dele. Ele grita, ele se estressa e ele sai de carro, ele vai para a garagem, ele tropeça na escada, ele pega o carro, ele bate na garagem, ele chega no trabalho, ele trabalha mal e aí ele reconstrói essa história dizendo assim ‘meu filho derramou o café em mim, tudo bem filho, acontece’, troca a camisa, sai bem, vai para a vida dele, não bate o carro e não briga no trabalho.
Olga Goulart – É você que define o fim da história, não é?
Dr. Walter Viterbo – Se você puder recusar aos estresses que lhe são possíveis recusar, não deixe que o seu corpo absorva mais adrenalina desnecessariamente e aí você vai ter a consciência e a nitidez para fazer as mudanças que você deve fazer e com isso evitar os fatores estressores.
Olga Goulart – Maravilha. Muito obrigada, doutor Walter Viterbo e até a próxima dica aqui no Viva Mais Viva Melhor.