Nossas Entrevistas
Oncologia Clínica
Tema: Câncer de Mama
Por Dra. Gildete Sales Lessa
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Olga Goulart – Mais incidência na população feminina, o câncer de mama é a principal causa de morte por tumores malignos em mulheres no Brasil. Entretanto com os avanços da medicina, quanto mais cedo feito o diagnóstico, mais chances de um tratamento dar certo. Hoje nós vamos conversar sobre esse assunto com a doutora Gildete Lessa que é especialista em oncologia clínica do NOB e ela vai esclarecer a importância da detecção precoce, bem como dar dicas sobre qualidade de vida das pacientes.
Doutora, o que é o câncer de mama?
Dra. Gildete Lessa – É um conjunto de doenças que tem em comum o crescimento desordenado das células da glândula mamária e que tem a capacidade de invadir os tecidos.
Olga Goulart – Certo. O câncer de mama tem até 95% de chance de cura quando diagnosticado precocemente. De que maneiras essa doença é diagnosticada, doutora?
Dra. Gildete Lessa – A primeira ação seria as mulheres fazerem o autoexame, que deverá sempre ser realizado na hora do banho e em seguida se encontrar alguma alteração, fazer a ultrassonografia das mamas, mamografia anualmente e outros exames complementares para diagnosticar e confirmar uma neoplasia maligna da mama.
Olga Goulart – Nessa sua indicação você fala do autoexame, quais são as características de algo anormal, alguma alteração na mama que devesse nos levar logo para uma consulta médica?
Dra. Gildete Lessa – Bem, no autoexame a mulher pode observar algum tipo de alteração na mama, tais como vermelhidão, também chamado de hiperemia, retrações da pele, endurecimento e até mesmo nódulos quando já estão um pouco maiores.
Olga Goulart – Tem um algum tipo de fator, doutora, mais evidente que influenciasse o surgimento dessa doença?
Dra. Gildete Lessa – Olha, tem alguns fatores, principalmente o fator hereditário genético que acontece em 10% dos casos. Além disso pacientes que usam terapêutica hormonal sem nenhum controle e as tendências familiares também são fatores importantes. Temos que considerar também a qualidade de vida, atividade física, uma alimentação saudável, não uso e abuso do tabaco, não uso de álcool e são esses os fatores que podem influenciar na formação ou no desenvolvimento de um tumor na mama.
Olga Goulart – Bom, embora o câncer de mama apareça mais raramente em homens, a doença é muito mais frequente nas mulheres, isso significa que existe uma relação hormonal, portanto, não?
Dra. Gildete Lessa – Sim, um outro fator é que a mulher também tem mais tecido glandular do que o homem, mas por certo o fator hormonal é muito importante para que isso venha acontecer. Porque os homens na verdade usam menos hormônio, usam menos estrógenos do que a mulher que usa não só como anticoncepcional, como também na reposição hormonal. Além disso, homens que tem mulheres com fatores de risco na família também devem estar atentos para algum nódulo, algum endurecimento na mama.
Olga Goulart – Dentre esses exames que obrigatoriamente nós mulheres devemos realizar pelo menos a cada ano, tem um que é a mamografia e tem uma idade mínima, não é doutora? Qual é essa idade?
Dra. Gildete Lessa – A mamografia não existe um consenso, é um assunto muito controverso. A última recomendação da organização mundial de saúde recomenda que se deva fazer mamografia a cada 2 anos para as mulheres da idade de 50 a 70 anos. E naquelas mulheres que tem risco de desenvolver câncer de mama, ou seja, que tenham câncer de mama na família, a idade seria de 40 a 49 anos que deveria fazer anualmente. A Sociedade Brasileira de Mastologia, que o presidente hoje é o doutor Ruffo de Freitas, defende a mamografia anual a partir dos 40 anos. E o INCA (Instituto Nacional do Câncer) recomenda a partir dos 50 anos. Veja aí que existem controvérsias, nenhuma informação segura sobre esse assunto.
Olga Goulart – Daí a importância de perceber alguma história familiar e fazer o autoexame também.
Muitas mulheres, doutora, apresentam microcalcificações ou mesmo cistos mamários, essas alterações representam algum perigo?
Dra. Gildete Lessa – As microcalcificações quando elas são finas, ou seja, bem miudinhas, bem discretinhas e estão agrupadas, estas microcalcificações tem que se dar uma atenção especial, as vezes se recomendam, inclusive, fazer uma core biópsia, uma punção, ou mesmo retirar esta área, porque são bastante suspeitas, bastante sugestivas de neoplasia. E quando elas são grosseiras e separadas a gente não valoriza muito. Quanto aos cistos, os cistos normalmente são cistos simples, é só o acompanhamento. Mas se é um cisto misto, ou seja, que tenha um componente sólido e líquido, este cisto sim deve ter uma atenção especial.
Olga Goulart – No caso de a mulher ser diagnosticada, mulher não, das pessoas que são diagnosticadas com um câncer, supostamente já em estágio de difícil cura, é possível conviver com essa patologia, controlando de forma adequada e tratando, doutora, já que nós temos um avanço muito grande em termos de novos tratamentos?
Dra. Gildete Lessa – Sim, Olga. Quando eu comecei a fazer oncologia, normalmente 80% dos casos eram diagnosticados na fase avançada e nós não tínhamos muitas opções de tratamento, então a sobrevida dessas pacientes era uma sobrevida curta. Mas ultimamente eu acho que a importância da divulgação da informação, tem-se feito cada vez mais o diagnóstico precoce e os pacientes tem possiblidades de cura muito maior. Quando o paciente tem uma doença avançada, hoje em dia nós temos um arsenal muito grande de tratamentos não só com a quimio, como a rádio, como a hormonioterapia e as vezes até a cirurgia também nos casos avançados e que nós conseguimos então transformar uma doença que está agressiva, transformar em uma doença crônica e o paciente sobreviver/ ter uma sobrevida longa. Isso sim já é possível. Claro que existem aqueles tumores que são mais agressivos, que não respondem tão bem ao tratamento, mas em geral hoje o objetivo em doença avançada é cronificar e o paciente ter uma sobrevida longa.
Olga Goulart – Diante de um diagnóstico de câncer de mama, doutora, as mulheres têm muito medo de perder a mama ou mesmo ter que retirar parte dela. A doutora poderia explicar sobre a possibilidade de reconstrução mamária?
Dra. Gildete Lessa – A reconstrução mamária é um procedimento viável, o SUS cobre e deve ser sempre discutido com a paciente essa alternativa. Depende claro das condições locais da mama, do tempo de fazer a reconstrução e também do desejo da paciente. Essas alternativas devem ser sempre colocadas para a paciente e ela decidir junto com o mastologista a melhor conduta e a melhor opção.
Olga Goulart – Existe sempre também, doutora, um tema polêmico em torno da mastectomia profilática. Que técnica é essa e quais as mulheres podem ou não realizar?
Dra. Gildete Lessa – A mastectomia profilática ou também chamada preventiva tem como objetivo reduzir o risco de câncer de mama contralateral, ou mesmo naquelas pacientes de alto risco que tem familiares com câncer de mama e que desejam retirar as duas mamas e substituir, retira cirurgicamente e substitui por prótese e também naquelas pacientes que tem áreas suspeitas. Então temos essas indicações. Para indicar uma mastectomia profilática ou preventiva você tem que ter risco, ter um câncer de mama e ter risco de desenvolver câncer na outra mama. Isso acontece principalmente numa patologia chamada carcinoma lobular in situ, que com frequência também acomete a outra mama, então aí teria a indicação da mastectomia profilática. Outra situação é quando você tem uma mutação genética e aí você também pode ser indicado fazer a mastectomia contralateral, chamada mastectomia profilática. E também quando você tem um histórico familiar muito importante, muito forte de câncer de mama na família e que você resolve não conviver com esse problema, então opta por fazer uma cirurgia profilática bilateral com reconstrução imediata.
Olga Goulart – Então doutora, falemos mais incisivamente sobre esses hábitos saudáveis que você já citou inclusive no início da entrevista e que colaboram para evitar o câncer de mama.
Dra. Gildete Lessa – Bem, uma boa alimentação, uma redução de consumo de álcool e tabaco, atividade física, menos estresse e procurar ir ao mastologista uma vez por ano para que seja acompanhada essa mama de perto.
Olga Goulart – Muito obrigada doutora Gildete Lessa, até a próxima dica aqui no Viva Mais Viva Melhor.