Nossas Entrevistas

Oncologia Clínica

Tema: Câncer de Pulmão

Por Dra. Clarissa Maria Cerqueira Mathias

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Olga Goulart – Segundo informações do INCA o câncer de pulmão é um dos mais severos e é o que mais mata, apresentando um aumento de 2% por ano na sua incidência mundial. A estimativa é de aproximadamente 27 mil novos casos no Brasil em 2015 e para conhecer um pouco mais sobre esse assunto nós vamos conversar com a doutora Clarissa Mathias, médica e oncologista do Núcleo de Oncologia da Bahia.

Doutora Clarissa, o que é o câncer de pulmão?

Dra. Clarissa Mathias – O câncer de pulmão é um conjunto de doenças que nasce dentro do pulmão. Então você pode ter alguns tipos de câncer que nascem na parte mais proximal do pulmão, perto da traqueia, dos brônquios e você pode ter doenças que nascem na parte glandular do órgão. Então de acordo com a localização do tumor, de acordo com o tipo de célula que existe dentro do tumor a gente classifica em diferentes subtipos e o tratamento é desenhado a partir desse diagnóstico.

Olga Goulart – O que que você enumeraria como fatores de risco?

Dra. Clarissa Mathias – O principal e em 90% dos casos é o cigarro, o tabagismo. E é interessante até em relação ao tipo de câncer de pulmão ele mudou de acordo com a alteração do cigarro. Então quando nós tínhamos cigarros com menos filtros, nós tínhamos tumores mais proximais, que ficavam mais na parte do pulmão perto da traqueia, dos brônquios. Agora como nós temos cigarros mais sofisticados que conseguem levar todas as toxinas, as porcarias do cigarro lá longe, nós temos tumores que são mais periféricos e, portanto, inclusive até mais agressivos.

Olga Goulart – E quem não fuma também pode vir a ter um câncer de pulmão?

Dra. Clarissa Mathias – Olga, infelizmente sim. Existem alguns fatores de risco que ainda não estão bem determinados. Provavelmente relacionados à poluição, à exposição a altas temperaturas, à exposição à alguns fatores irradiantes, algumas histórias familiares também que levam ao aparecimento de câncer de pulmão em indivíduos não-fumantes. Nós também não podemos nos esquecer de que os fumantes passivos, aqueles que convivem diariamente com o fumante ele também é exposto às toxinas e pode também desenvolver o câncer de pulmão.

Olga Goulart – Certo. Nós sabemos que os sintomas eles podem se confundir com o sintoma, por exemplo, de uma gripe forte ou uma pneumonia. O que que evidencia que faz com que o diagnóstico seja preciso no caso do câncer de pulmão?

Dra. Clarissa Mathias – Infelizmente o câncer de pulmão é extremamente silencioso, porque o indivíduo fumante já tem na maioria das vezes tosse, catarro, rouquidão e muitas vezes a piora dos sintomas passa despercebida tanto para ele como para os familiares, então é importante que o indivíduo com uma carga tabágica muito grande eles sejam acompanhados rotineiramente por um pneumologista, por um médico de pulmão e que sejam feitos testes de rastreamento para ver se aquele indivíduo já não é portador de um câncer de pulmão que pode ser curado se for diagnosticado precocemente.

Olga Goulart – Nos nossos exames preventivos que normalmente são solicitados a cada ano, doutora, o raio X de tórax está sempre presente, isso já seria um dos exames que normalmente se pede?

Dra. Clarissa Mathias – Não, o raio X de tórax não é um bom exame de rastreamento para câncer de pulmão. Está provado de que a tomografia com baixa taxa de dose é o exame ideal para ser realizado nessa situação.

Olga Goulart – Em termos de tratamento, já que é uma área onde você é bastante atuante, doutora, o que nós temos de avanço em termos de tratamento?

Dra. Clarissa Mathias – Então, eu discuti inclusive isso hoje durante uma consulta com um paciente. Mudou muito o cenário do câncer de pulmão. Antigamente o paciente tinha o diagnóstico e uma perspectiva de sobrevida muito curta. Hoje não, hoje nós temos várias linhas de tratamento. Nós temos tratamentos que são chamados de alvo específicos, então nós somos capazes de procurar determinadas mutações, determinadas alterações que se estiverem presentes nós podemos às vezes até usar medicamentos orais para esses pacientes e o que vem assim de forma mais pesada para o câncer de pulmão, inclusive já foi aprovado fora do Brasil, é a imunoterapia. O que é a imunoterapia? É você tirar a venda do sistema imunológico, tirar a venda dos olhos do sistema imunológico e fazer com que o próprio organismo do indivíduo lute contra o tumor. Então com isso os resultados têm sido muito bons, nós estamos, inclusive, indo agora para o Congresso da Sociedade Americana de Oncologia em Chicago e os resultados parecem bem promissores, a gente vai poder falar disso melhor em cerca de 1 semana.

Olga Goulart – Maravilha! Em termos de mudanças no nosso estilo de vida isso certamente pode ajudar muito na prevenção do câncer de pulmão, o que que você me diria?

Dra. Clarissa Mathias – Com certeza! Então parar de fumar, o cigarro é uma arma muito letal, não só para câncer de pulmão, mas para outros tipos de câncer também como pâncreas, bexiga, cabeça e pescoço. Perder peso nós sabemos que hoje o sobrepeso é o cigarro do século XXI, então o indivíduo obeso ele é um indivíduo inflamado que cria uma série de alterações celulares importantes. Fazer exercício, ter uma dieta saudável, não beber de forma excessiva, então todos esses são hábitos que devem ser incorporados não só na vida adulta, isso deve ser cultivado e criado desde a infância.

Olga Goulart – Maravilha! Então até as próximas informações a partir do Congresso de Chicago.