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Dermatologia

Tema: Psoríase

Por Dra. Patricia Gutierrez

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Viva Mais Viva Melhor – A psoríase acomete cerca de 2 a 3% da população mundial e atingem igualmente homens e mulheres. Embora possa ocorrer em crianças, é mais comum que ela apareça na segunda e quinta décadas de vida. Acomete a pele e frequentemente traz desconforto e constrangimento aos pacientes muitas vezes pelo medo mesmo da rejeição. Elas acabam se isolando do seu convívio social o que gera um estresse emocional e agrava a doença. Vale lembrar que os tratamentos da psoríase são muitos e que devem ser personalizados para cada paciente em cada momento da sua vida. O que funcional na crise com uma pessoa pode não funcionar com outra, ou o que funcionou uma vez em uma próxima a doença se manifesta de outra maneira e precisa ser avaliada. E hoje nós conversamos com a doutora Patrícia Gutierrez, dermatologista, para esclarecer um pouco melhor sobre o tema.

Doutora, o que é psoríase?
Dra. Patrícia Gutierrez – A psoríase é uma doença inflamatória crônica da pele que pode acometer também as articulações de base genética mediada pelo sistema imunológico e que tem manifestações clínicas variáveis. Como dito antes ela pode ocorrer em qualquer idade e com dois picos de incidências na segunda e quinta décadas de vida e acomete igualmente ambos os sexos.

Viva Mais Viva Melhor – Bom, como a gente falou aqui na introdução, doutora, a própria doença já gera um desconforto muito grande do paciente e este paciente uma vez abalado emocionalmente pode desencadear uma crise ainda pior, não é isso?
Dra. Patrícia Gutierrez – Pode. O fator emocional, o estresse emocional, a ansiedade que vem por de trás do quadro, o paciente olha e se vê com a manifestação clínica de placas no corpo inteiro, a depender do tipo se for psoríase em placas, não é? Então ele começa a ter um estresse emocional maior, fica mais ansioso e isso exacerba ainda mais o quadro clínico, piora.

Viva Mais Viva Melhor – A psoríase é contagiosa?
Dra. Patrícia Gutierrez – Não, ela não é contagiosa. Ela não pega e nem passa através do contato.

Viva Mais Viva Melhor – Quais os sintomas mais evidentes, doutora?
Dra. Patrícia Gutierrez – Ela é caracterizada pelo surgimento de placas eritematodescamativas, aquelas placas de coloração rosa ou avermelhada, que possuem escamas na superfície, conhecida como psoríase em placas. São lesões bem delimitadas, que são localizadas mais em áreas de trauma da pele como os joelhos, cotovelos, região pré-tibial, nos membros inferiores, na região sacral, couro cabeludo. A quantidade de lesões assim como a sua dimensão ela pode variar e até acometer toda a pele. Podem ser vistas também alterações na pele em 50 a 80% dos casos com características próprias. Também podem se apresentar com outros padrões clínicos específicos, ela se divide em outros tipos como a psoríase em gotas, a psoríase eritrodérmica, pustulosa, a invertida e a artropática, cada uma com sua característica peculiar.

Viva Mais Viva Melhor – E como é que é feito o diagnóstico já que ela se apresenta de várias maneiras diferentes?
Dra. Patrícia Gutierrez – O diagnóstico é basicamente através da história clínica e do exame físico do paciente. Naqueles quadros mais duvidosos em que você quer fazer um diagnóstico diferencial com outras doenças você pode realizar uma biópsia e o seu posterior estudo anatomopatológico.

Viva Mais Viva Melhor – E como é que trata a psoríase, doutora?
Dra. Patrícia Gutierrez – Bom, o tratamento você vai escolher a depender da gravidade do quadro, de formas mais moderadas e graves. Inicialmente, nas formas mais leves o tratamento é feito através de aplicações de medicações tópicas que são cremes, hidratantes com corticoide, substâncias imunomoduladoras, o uso de Coaltar, Calcipotriol e ceratolíticos, nos quadros mais moderados a graves você pode associar a estas medicações tópicas um tratamento que é a fototerapia em que o paciente permanece por determinado período de tempo dentro de uma câmara de radiação ultravioleta que pode ser UVA ou UVB. Você pode associar também tratamentos sistêmicos, que incluem medicações como a Acitretina, além de drogas imunossupressoras, como Metotrexato, Ciclosporina e os imunobiológicos. Estas últimas medicações são medicações em que o paciente tem que fazer um controle laboratorial frequentemente, ser acompanhado pelo dermatologista porque são medicações que não são isentas de efeitos colaterais, mas uma vez vistas você pode controlar.

Viva Mais Viva Melhor – Existe cura, doutora?
Dra. Patrícia Gutierrez – Não, não tem cura da psoríase, mas existe um controle, existe um tratamento. Quando você trata o paciente ele pode ficar sem nenhuma manifestação clínica, mas não quer dizer que ele está curado ou que ele não vai ter uma reincidência, a doença pode voltar. Então ele tem que sempre estar indo ao dermatologista para fazer este acompanhamento.

Viva Mais Viva Melhor – É possível se prevenir desta doença?
Dra. Patrícia Gutierrez – Como é uma doença em base genética, então o indivíduo nasce com aquele gene que o predispõe a desenvolver a psoríase, desta forma não tem como prevenir a doença, mas existem fatores que pioram, que exacerbam ou que possam vir a acelerar, antecipar a sua manifestação que se você controlar estes fatores você pode sempre, “prevenir” de alguma forma ou a doença uma vez instalada, junto com o tratamento e você controlando estes fatores você pode evitar que ela entre em reincidência com maior frequência. Estes fatores é a síndrome metabólica, que inclui hipertensão, diabetes, obesidade, dislipidemia, eventos cardiovasculares, você previne isso controlando estes fatores através de atividade física, uma dieta mais balanceada, uma vez que o estresse emocional ou ansiedade pode vir a piorar a psoríase e se você adotar um estilo de vida mais tranquilo, seja através de técnicas com meditação, ioga ou psicoterapia você consegue de alguma forma controlar a manifestação clínica desta doença. Mas prevenir um aparecimento é difícil, é difícil prevenir, mas se você controlar estes fatores você pode evitar que a sua manifestação apareça com tanta frequência, faz um tratamento clínico e adota este estilo de vida então você consegue controlar mais a doença.

Viva Mais Viva Melhor – Nas fases de melhora, doutora, o paciente pode suspender os medicamentos ou ele deve continuar usando e deve continuar sendo acompanhado?
Dra. Patrícia Gutierrez – Não, ele deve continuar sendo acompanhado e a depender do tratamento em que ele está ele deve permanecer com o tratamento. A depender do tratamento. Mas sempre sendo acompanhado com o dermatologista, pois como eu falei o seu acompanhamento é importante porque não engloba só o tratamento em si, mas essa mudança de estilo de vida, controlando esses fatores associados.

Viva Mais Viva Melhor – A mulher que tem psoríase tem alguma restrição quanto a engravidar?
Dra. Patrícia Gutierrez – Na verdade ela pode engravidar, mas pode se observar uma melhora ou piora da psoríase durante a gravidez e uma piora no período pós-parto. O que tem que ficar atento é que como a gravidez favorece o desencadeamento de algumas comorbidades como a hipertensão, obesidade, diabetes e essas doenças como nós vimos elas podem vir associadas a psoríase piorando a psoríase. Então estas pacientes, por conta destas comorbidades, as gestantes podem ter um maior risco não por conta da psoríase, mas por conta destas comorbidades que vêm associadas a psoríase. O paciente pode ter um risco maior de ter um feto com macrossomia, recém-nascidos pré-termos, de baixo peso, abortos espontâneos. Entenda, não é a psoríase em si que vai levar a isso, mas essas comorbidades que vêm associadas a uma paciente grávida e que podem piorar a psoríase ou vir juntas já que todas essas doenças são doenças inflamatórias crônicas.

Viva Mais Viva Melhor – Então seria interessante que a mulher estivesse com a doença absolutamente sob controle para planejar a gravidez e sendo, obviamente, acompanhada pelo dermatologista?
Dra. Patrícia Gutierrez – Exatamente. Controlando bem a psoríase você consegue controlar essas comorbidades e vice-versa, controlando essas comorbidades você controla a psoríase e diminui o risco para o bebê,

Viva Mais Viva Melhor – Tem uma preocupação muito grande entre os portadores do problema, doutora, o temor de que a psoríase pudesse se tornar ou evoluir para um quadro de câncer. Isso procede?
Dra. Patrícia Gutierrez – A psoríase em si, a lesão em si não evolui para um câncer não. Entretanto, como existem diferentes possibilidades extrapatogênicas que podem estar associadas a psoríase, no caso tendo um processo inflamatório crônico, estando associado a um estímulo autoimune frequente, uso de terapêuticas que tem ação imunossupressora, que acaba comprometendo essa vigilância imunológica e o uso de outro tratamento como a fototerapia que tem um risco de câncer pele não-melanoma. Então como existem estes fatores e todos estão presentes na psoríase junto com o seu tratamento, você pode se observar um aumento de malignidades cutâneas ou sistêmicas por conta destes fatores.

Viva Mais Viva Melhor – Bom, eu agradeço. Muitíssimo obrigada e até a próxima.