Nossas Entrevistas
Neurocirurgia
Tema: Neurocirurgia para o tratamento das dores de coluna
Por Dr. Edson Alvarenga
(071) 33... Ver mais >
- (071) 3351-0694
- Clínica Neurocoluna - Av. Antônio Carlos Magalhães, 1034, 3°andar, ala C, 308 - Edifício Pituba Parque Center, Itaigara
- Outros contatos e endereços
Olga Goulart – A dor nas costas é uma das queixas mais comuns da população. Até 80% das pessoas já tiveram ou terão dores nas costas em alguma fase da vida, mas você sabe qual médico procurar nesses casos. O especialista em coluna estuda e se dedica especialmente às condições, lesões e doenças da coluna cervical. E para esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto, quem conversa conosco hoje é o Doutor Edson Alvarenga, especialista em neurocirurgia. Doutor, primeiramente, explica para os nossos ouvintes qual é a melhor especialidade para tratar as dores na coluna?
Dr. Edson Alvarenga – Quem cuida de coluna é o especialista em coluna vertebral, é estranho falar assim, mas este nome não é reconhecido oficialmente porque deriva de duas outras especialidades, a ortopedia e a neurocirurgia. Muitas pessoas acreditam que é o ortopedista especializado por ser o mais comum, mas o neurocirurgião especializado também cuida da coluna. Mas, para qualquer das duas escolhas, tudo começa com um bom médico, com boa formação técnica, que passe a confiança de um profissional bem formado e competente. Ele tem que ser um especialista reconhecido e permitir ao cliente a segurança necessária, seja ele ortopedista ou neurocirurgião como eu.
Olga Goulart – E qual a diferença entre o ortopedista e o neurocirurgião no que diz respeito às dores nas costas? Quem atua de fato na coluna vertebral?
Dr. Edson Alvarenga – Olga, a diferença não deveria existir. Desde que os dois tipos de médico tenham o mesmo preparo de especialistas em coluna vertebral, tanto faz qual você procure, ortopedista ou neurocirurgião, mas tem que ser alguém que saiba o que está fazendo, que trabalhe em coluna, embora os profissionais teoricamente tenham a mesma condição existe aquele que é melhor preparado, que o paciente deve considerar o médico pelo seu ponto de vista, mas que envolva a competência. A medicina é uma profissão estritamente técnica, com suas responsabilidades profissionais até os limites do imponderável, não é uma profissão artística.
Olga Goulart – No geral, doutor, quando se deve consultar o neurocirurgião? Quais são os sintomas neurológicos mais comuns que levam os pacientes a procurarem esse tipo de especialidade?
Dr. Edson Alvarenga – As pessoas tem medo de procurar um neurocirurgião, o nome assusta, não fazendo a associação de coluna com neurologia, mas sintomas como fraqueza nos braços, nas pernas, dormência, sensações de membros incompetentes, dores são causados por deficiência dos nervos, nestas circunstâncias a avaliação neurológica é fundamental. Embora a coluna seja uma pilha de ossos articulados com uma almofada entre cada um deles, o sistema nervoso passa em canal dentro destes ossos, neste canal fica uma medula e os nervos protegidos, os sintomas dependerão de alteração dos ossos, ligamentos, músculos e a almofada intervertebral, conforme a repercussão sobre o sistema nervoso no canal ósseo. Os sintomas mais comuns que trazem os pacientes a mim referem-se a coluna cervical, como dores nos ombros, irradiação para um ou os dois braços e dormência nas mãos, como também dores referidas na região lombar e nas duas pernas ao mesmo tempo. Na coluna lombar as dores costumam ser unilaterais, numa nádega, numa perna, o que vale também para dormências e fraquezas.
Olga Goulart – Doutor, muitas pessoas costumam tomar analgésicos quando sentem algum desconforto nas costas. Quais são os perigos da alta medicação nesses casos?
Dr. Edson Alvarenga – Bem, os medicamentos são fantásticos, pois conseguem nos proporcionar um patamar melhor de qualidade de vida, mas existem efeitos colaterais que chegam a ser fatais. Analgésicos ingeridos após a data de validade podem causar reações de pele ou intestinais ou ainda alergias. Alguns remédios quando partidos ao meio permitem a digestão fora do lugar, perdendo o efeito, a sonolência é um dos efeitos ruins ao tirar a atenção, expondo o paciente a riscos, náuseas e vômitos fazem perder coisas como sódio, hidrogênio, potássio, o que poderá levar a disfunção cardíaca ou cerebral, remédios causam o tal do afinamento do sangue, como se diz, predispondo a hemorragias ou ainda podem se associar irritações gástricas e até mesmo úlceras, doenças descamativas da pele, deixando o paciente em carne viva, tremores, alterações visuais, descontroles intestinais, espasmos musculares, respiração lenta, são outros muitos efeitos importantes, mas, se temos mais de sessenta anos, o uso de anti-inflamatórios pode levar a insuficiência renal aguda e dependência de diálise e, por esse motivo, não se deve tomar anti-inflamatórios a partir desta idade. Está sob a orientação médica é uma garantia de cuidado.
Olga Goulart – Há alguma relação, doutor, entre o estresse e dores nas costas?
Dr. Edson Alvarenga – Sem dúvida há uma importante relação. O estresse levará o indivíduo normal a uma contração muscular exagerada e esse trabalho muscular será sem oxigênio, liberando substâncias causadoras de dor e inflamação. Naqueles pacientes com processo inflamatório degenerativo, as contrações de estresse causam a mesma coisa, além de comprimirem uma vértebra contra outra, provocando dores nas articulações e ligamentos e aquele indivíduo com o disco doente a contração prejudica a musculatura, comprime as articulações e amassa mais a almofada discal, apertando ainda mais o nervo, além disso, a neurofarmacologia do estresse mostra a liberação de hormônios da glândula suprarrenal, que potencializam a dor e aumentam a nossa sensibilidade a ela, levando a modificações cerebrais de reação a dor. Em suma, estresse não é coisa boa.
Olga Goulart – Existe algum tratamento conservador que possa tratar a coluna sem que precise operá-la, doutor?
Dr. Edson Alvarenga – Embora não seja definitivo, Olga, existe sim, mas convém lembrar que o tratamento conservador e paliativo, não cura, e a história da doença segue uma evolução que não pode ser interrompida por esse tratamento. Explicações cuidadosas de todos os tratamentos, com os porquês, possíveis caminhos e perigos, vantagens e desvantagens de cada alternativa, permitirão a escolha do cliente, pois, um indivíduo esclarecido é responsável por suas escolhas. O tratamento conservador que significa cauteloso, preocupado, ele consiste na utilização de remédios variados por longa data, associados a terapias psicológicas, tratamentos mecânicos e neurofisiológicos como os variados tipos de fisioterapia, acupuntura e similares, além de bloqueios medicamentosos musculares e dos nervos. São tratamentos que devem ter a supervisão de um médico especializado.
Olga Goulart – E quando é necessário operar, de fato, a coluna?
Dr. Edson Alvarenga – Esta é a dúvida da hora. Posso lhe dar a resposta do médico e a resposta do cliente. A do médico, operar segundo a necessidade do paciente e parâmetros técnicos. A do cliente é uma resposta emocional, que é a dominante: “nunca operar, Deus me livre”. Entretanto chega um momento em que fatores inadiáveis se desenvolvem, pois o tratamento conservador não cura, é quando alcançamos o nosso ponto de coerência, queremos continuar com limitações funcionais, diminuição da qualidade de vida, dependência de medicamentos, correndo os riscos de utilização contínua sobre a dosagem, dependência de fisioterapia? Então, o momento cirúrgico nascerá do equilíbrio das duas respostas, mostrando a boa interação do cliente com o seu médico, mas é claro que existem situações indiscutíveis a indicação operatória, como uma lesão neurológica evolutiva agudamente instalada, um traumatismo que provoque uma coluna instável ou comprime os nervos, tumores, algumas infecções, de qualquer forma, boa orientação e confiança são as palavras-chave.
Olga Goulart – Doutor, muita gente pensa que a cirurgia da coluna vai deixar sequelas ou incapacitá-lo pro resto da vida. Isso é verdade?
Dr. Edson Alvarenga – Brinquemos um pouco com estatística. Nós temos em Salvador pelo menos vinte médicos que só trabalham com coluna, além de outros trinta que entre outras coisas, também trabalham com coluna. Imaginemos um imenso número de sequelados, isso não é verdade, porque então esta ideia de que a cirurgia na coluna deixa paralíticos ainda predomina até hoje? Tudo tem a ver com a cultura de um povo e muito com a responsabilidade dos médicos que não orientaram a população. A cerca de cinquenta a sessenta anos, o tratamento da coluna engatinhava, muitas cirurgias se faziam com pouca tecnologia e resultados duvidosos, outras eram feitas por causas traumáticas ou tumorais e por si próprias lesavam os nervos ou a medula, mas tudo ficou embrulhado no mesmo pacote e passados nas gerações como uma verdade absoluta. Nos últimos vinte anos, a tecnologia avançou muito, exames muito detalhados, instrumentos cada vez mais delicados e técnicas cirúrgicas refinadíssimas, permitindo trabalhos sutis, opero com incisões mínimas, perda de sangue mínima, mapeamento contínuo alertando-me da presença de nervos, evitando os conflitos com os materiais, portanto a segurança em primeiro lugar.
Olga Goulart – Bom, doutor, nós recebemos dúvidas a partir dos nossos ouvintes, das redes sociais e eu escolhi essa pergunta para repassar: “o uso, doutor, prolongado de smartphone pode ser prejudicial a coluna de uma criança ou de um adolescente?”.
Dr. Edson Alvarenga – Muito interessante e muito atual isso aí. Ainda não temos trabalhos científicos que comprovem, mas a associação com outros eventos já estudados e a inferência de um estudo biomecânico da coluna nos permite conversar sobre isso. A cabeça pesa em média cinco quilos, para ser sustentada numa ponta de uma haste móvel que é a coluna, necessitamos de muitos e poderosos músculos para o menor gasto energético, que é a posição neutra com o olhar no horizonte, conforme dobramos o pescoço para frente a cabeça pesará mais, podendo chegar a uma carga de 130 quilograma-força, muita carga, isto gastará mais força, levando a maior desgaste de contrações mantidas, com a liberação excessiva de drogas, causando dor e inflamação. A compressão das articulações e ligamentos que se inflamam, favorecendo a calcificação de estruturas e dores, as almofadas intervertebrais chamadas discos, sofrem compressões causando ressecamento e ruptura, culminando com apertos dos nervos. Pense o quanto incomoda ficar muito tempo em uma fila, pense então em cerca de quatro horas diárias com a cabeça baixa, além disso, a coluna é um órgão que se adapta as posições do corpo, se dobrarmos muito uma de suas porções, as outras compensarão, levando a dores gerais. Hoje em dia parece que as crianças já nascem com celular nas mãos, anos e anos de sobrecarga, certamente levarão a problemas.
Olga Goulart – Para finalizar doutor, qual é a melhor maneira de prevenir dores na coluna?
Dr. Edson Alvarenga – Bom, existe uma propensão genética para que tenhamos comprometimentos, mas mesmo com a propensão genética o movimento ordenado com pausas posturais é a melhor prevenção. Se orientarmos nossos filhos desde cedo a exercícios conduzidos por um educador físico, esportes sem contato, consultas médicas para detecção precoce de problemas da coluna, evitar as posições mantidas, cultivar as situações ergonômicas nas escolas, em casa, estaremos criando adultos mais saudáveis, que tendem a manter os hábitos da infância. Para aqueles que não viveram esta experiência gratificante sempre é tempo de recomeçar e vamos nos movimentar, procurar um médico para orientações e mexer o esqueleto, dizer não ao sedentarismo é a melhor coisa.
Olga Goulart – Ok, conversamos com o Doutor Edson Alvarenga, especialista em neurocirurgia. Doutor, muito obrigada e até a próxima!