Nossas Entrevistas
Tema: Diabetes
Por Dr. Joaquim Custódio Jr.
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Olga Goulart – Também conhecido como açúcar alto no sangue, o diabetes é uma doença silenciosa, mas que pode ser controlada. O seu tratamento começa com informação e reconhecimento dos principais sintomas. Se não controlada ela pode causar diversas e graves complicações. Quem conversa hoje conosco é o médico especialista em endocrinologia e metabologia, doutor Joaquim Custódio, que vai esclarecer mais sobre este assunto.
Doutor, vamos explicar primeiramente o que é o diabetes e quais as suas causas.
Dr. Joaquim Custódio – Olga, o diabetes é uma doença causada primariamente por um problema, é um distúrbio no metabolismo da glicose. A glicose é um nutriente essencial para o nosso organismo e nós temos todo um sistema hormonal de regulação da glicose que envolve primariamente a insulina, que é o hormônio que abaixa a glicose ou reduz o nível da glicose no nosso organismo, e outros hormônios que aumentam a glicemia. Então o diabetes se desenvolve quando você tem uma desregulação neste sistema hormonal que controla a glicemia, seja por falta de insulina, ou seja, o organismo parou de produzir toda ou praticamente toda insulina, seja por dificuldade da insulina agir no nosso organismo. A insulina age no músculo, no fígado, no tecido adiposo, ou seja, na gordura, para metabolizar a glicose e existem várias situações que fazem com que a insulina não consiga agir adequadamente nestes tecidos e isso leva ao diabetes.
Olga Goulart – E qual que é a função, portanto, da insulina no nosso corpo, doutor?
Dr. Joaquim Custódio – A insulina é um hormônio desenvolvido ao longo da evolução para metabolizar a glicose, falando de forma mais clara é colocar a glicose para dentro da célula e fazer com que a célula use a glicose como combustível para todas as suas funções. Então a insulina no organismo humano ela tem primariamente esta função. Também ela tem uma função de estocar em situações em que você tem uma oferta de glicose e você eventualmente não vai utilizar, então a insulina age no tecido adiposo fazendo com que essa glicose que não vai ser utilizada ela possa ser armazenada para uso futuro também.
Olga Goulart – E o diabetes pode ser hereditário?
Dr. Joaquim Custódio – Sim. Hoje em dia nós temos várias pesquisas, especialmente com o advento da biologia molecular e da genética, que demonstra de forma bem clara que existem tipos de diabetes, especialmente o diabetes tipo II que tem um forte componente genético, ou seja, você tendo uma família com várias pessoas com histórico de diabetes, a chance de você desenvolver diabetes se torna muito maior. Mas, a genética do diabetes é considerada uma genética bastante complexa, diferente de alguns tipos de doença como o câncer, por exemplo, que as vezes uma ou duas alterações genéticas já levam àquela doença, o diabetes é uma doença considerada bastante complexa, mais de 300 genes influenciam sejam protegendo ou sejam agindo contra o desenvolvimento do diabetes ou favorecendo o desenvolvimento do diabetes. Então existe uma cascata genética ainda um pouco complexa que ainda está para ser decifrada da melhor forma.
Existe uma variante do diabetes que é uma variante um pouco mais rara, que a gente chama MODY, que essa é bem direcionada para alterações genéticas e aí o padrão hereditário é bem característico, mas uma variante mais rara só acontece em torno de 1 a 2% dos casos de diabetes.
Olga Goulart – E a diferença, doutor, entre o diabetes do tipo I e tipo II?
Dr. Joaquim Custódio – O diabetes tipo I é caracterizado por uma situação em que o organismo vai produzir pouca ou nenhuma insulina. Isso normalmente se deve por um processo de autoimunidade, ou seja, o nosso organismo desenvolve anticorpos contra as células responsáveis por produzir a insulina, que nós chamamos de ilhotas que ficam no pâncreas que é um órgão que nós temos no abdome. Então as ilhotas são atacadas pelo sistema imunológico do nosso organismo e isso faz com que elas produzam pouca ou nenhuma insulina e isso leva ao diabetes do tipo I. O que leva a ativação autoimune ainda não é muito esclarecido. Existem alguns vírus que parecem ter alguma implicação, o componente genético pode agir em alguns casos, mas não é o mais preponderante. A causa do diabetes tipo I ainda é um pouco inserta, mas o fato é que leva a uma situação de falta de insulina e necessariamente o paciente com diabetes do tipo I tem que receber insulina desde o início do tratamento, ele não consegue ser tratado com medicações na forma de comprimido como no caso do diabetes tipo II.
O diabetes tipo II costuma acontecer mais na idade adulta, mas pode acontecer em pessoas com menor idade também, especialmente agora que nós temos uma incidência muito grande de sobrepeso e obesidade na população infanto-juvenil. Então nos Estados Unidos isso já é um problema sério e aqui no Brasil já está começando a se tornar um problema também, o diabetes do tipo II começando mais precocemente. O diabetes do tipo II ele tem uma íntima relação com a questão do sobrepeso e da obesidade porque o acúmulo da gordura leva a uma situação que nós chamamos de resistência à insulina e essa resistência à insulina vai fazer com que a insulina tenha dificuldade em agir no organismo, ou seja, neste caso você produz a insulina, mas a insulina não é metabolizada adequadamente pelo organismo e isso vai fazer em algum determinado momento com que a glicemia ou a glicose do organismo passe a ficar alta e isso leva ao diabetes do tipo II.
Olga Goulart – Certo. Então quer dizer que crianças podem desenvolver o diabetes do tipo II. E quais são os outros fatores de risco para este tipo de diabetes tipo II.
Dr. Joaquim Custódio – O diabetes tipo II como eu te falei tem uma relação muito íntima com a questão do sobrepeso e da obesidade. Hoje em dia nós sabemos que além dos carboidratos da nossa refeição, ou seja, a sacarose que é o açúcar refinado, a frutose que está muito presente hoje em dia nos alimentos que são adoçados artificialmente, tipo refrigerantes e tudo mais. Nós sabemos que a gordura saturada, ou seja, as frituras, elas também parecem ter um papel de levar a um maior desenvolvimento do diabetes. Então não é apenas deixar de consumir açúcar ou carboidratos, o consumo da gordura saturada ele também predispõe e também a baixa utilização da glicose. Então como eu te falei, se você tem glicose circulando e você não está utilizando aquela glicose, o organismo vai tratar de armazenar aquela glicose em forma de gordura, transforma-se para poder ser armazenada e essa gordura se ficar acumulada a médio ou longo prazo pode gerar uma série de problemas, incluindo o diabetes. Então a pessoa que tem uma prática de atividades físicas adequada, ela vai estar utilizando aquela glicose de forma contínua e diminui bastante o risco de desenvolver o diabetes. Hoje em dia, inclusive, a gente tem até dados científicos que comprovam de forma bastante clara que as pessoas com predisposição ao diabetes, a atividade física de forma regular, e hoje em dia quando a gente fala de forma regular são pelo menos 150 minutos por semana, essas pessoas têm uma redução do risco de desenvolver diabetes de 60% em comparação com pessoas que têm o risco de ter diabetes e permanecem no sedentarismo. Então eu diria que talvez o melhor combate ao fator de risco em relação ao desenvolvimento do diabetes tipo II é eliminar o sedentarismo.
Olga Goulart – Ótima informação! Doutor, quais são os sintomas do diabetes? Quando é que a pessoa deve procurar um médico.
Dr. Joaquim Custódio – Se costuma falar que o diabetes é uma doença um pouco traiçoeira porque nem sempre os sintomas vão ficar claros ou vão aparecer de forma muito evidente para o paciente. Tanto é que hoje em dia temos um contingente de 14 milhões de diabéticos no Brasil segundo os últimos dados da Federação Internacional de Diabetes e desses 14 milhões 50% não sabem que têm a doença, ou seja, metade, 7 milhões, de pessoas que estão andando aqui pelo nosso Brasil não sabem que são diabéticos.
O diabético quando você tem uma glicemia muito alta, quando a gente fala muito alta seria uma glicemia acima de 200 ou 300 mg/dl, ele começa nos gerar uma série de sintomas decorrente da eliminação da glicose pela urina, ou seja, a pessoa começa a urinar muito e ter muita sede e também você tem uma perda relativamente rápida de peso, isso normalmente acontece num espaço de poucos dias. Então essa situação da pessoa ter muita sede, muita fome, perdendo peso e urinando muito de uma forma repentina deve fazer a pessoa pensar na possibilidade de diabetes. Se a pessoa tiver uma glicemia não tão alta, mas que persista de forma progressiva, ela pode ter outros sintomas, como por exemplo, usando o termo popular “formigamento” dos pés, a sensação que a gente chama de parestesia, que pode denotar que a glicemia está ficando alta durante algum tempo e está fazendo alguma lesão do nível de circulação, do nível de tecido nervoso. Mas os sintomas clássicos são estes que eu falei anteriormente, se a pessoa tiver alguma situação deste tipo deve procurar fazer a avaliação da glicemia e naturalmente dentro das possibilidades uma rotina de avaliação periódica, hoje em dia já tem uma recomendação formal que a partir dos 40 anos de idade todo adulto deve fazer um monitoramento da sua glicemia, medir a glicemia para verificar a possibilidade de estar desenvolvendo diabetes ou não.
Olga Goulart – Então essa é a maneira de se diagnosticar com precisão um paciente diabético?
Dr. Joaquim Custódio – Então, Olga. Para diagnosticarmos o diabetes nós utilizamos a glicemia de jejum, então nós fazemos a dosagem da glicemia com um jejum de pelo menos 8 horas e se a glicemia vier acima de 126 mg/dl nós repetimos a dosagem, duas dosagens acima de 126mg/dl confirmam o diagnóstico de diabetes. Se a pessoa tiver apresentando aqueles sintomas que nós citamos anteriormente, ou seja, a pessoa está urinando muito, muita sede, perdendo peso rapidamente e traz uma glicemia acima de 200, uma glicemia só neste caso junto com os sintomas já confirmam o diagnóstico de diabetes.
Existe uma outra situação que a pessoa tem uma glicemia em jejum que não está numa faixa anormal, que a gente considera entre 70 e 100 mg/dl, mas a glicemia dela também não ultrapassou esse limite que a gente falou de 126, então ela está entre uma glicemia 100 e 126, isso é o que nós chamamos de intolerância de jejum a glicose ou pré-diabetes. Nestes casos a gente indica fazer um outro exame que a gente chama de teste de intolerância à glicose, em que a pessoa vai fazer a glicemia em jejum e depois o próprio laboratório vai fornecer uma quantidade de glicose, que é como se fosse um líquido adocicado e 2 horas depois você mede novamente a glicose. Então após você tomar este xarope, digamos assim, este carboidrato, a sua glicemia não pode passar de 200, se passar de 200 aí você confirma que tem um diagnóstico de diabetes também.
Olga Goulart – E quais as opções em termo de tratamento para o diabetes? Existe diferença, por exemplo, no tratamento dos tipos I e II?
Dr. Joaquim Custódio – A diferença principal do tratamento do tipo I e II é que o tipo I vai sempre precisar de insulina, certo? Ele não pode prescindir do uso de insulina. A forma de aplicação da insulina hoje em dia varia, porque nós temos a insulina subcutânea que nós aplicamos algumas vezes ao dia e existe hoje em dia o sistema de infusão contínua de insulina, o popularmente conhecido como bomba de insulina, em que a pessoa vai colocar um cateter no subcutâneo embaixo da pele e aquele cateter vai ficar aplicando pequena dose de insulina o tempo inteiro, mas no caso do tipo I o paciente sempre vai precisar usar insulina.
No caso do tipo II existem hoje em dia uma série de medicações, a maioria delas são comprimidos, existem algumas poucas que são injetáveis também que são utilizadas para poder controlar a glicemia do paciente. Nós sabemos que o paciente com diabetes tipo II apesar dele não precisar de insulina no início do tratamento pode evoluir no futuro para uma perda progressiva da capacidade de produzir insulina e também precisar de insulina. Então pacientes com diabetes do tipo II com mais tempo de diabetes 20 ou 30 anos de doença eles podem vir a precisar da insulina também. O que a gente sempre ressalta para os pacientes é que o uso de insulina não quer dizer que o seu diabetes é mais ou menos grave em relação aquele outro paciente que não usa insulina, o importante em relação ao diabetes é manter a glicemia bem controlada. O bom controle da glicemia independentemente do tratamento que está sendo feito é o que vai garantir que o paciente tenha uma boa qualidade de vida e evite os problemas relacionados ao diabetes, problemas relacionados tanto pela parte microvascular, ou seja, relacionado com pequena circulação, nervos, circulação das pernas, circulação da retina que é um órgão atrás dos olhos ou complicações macrovasculares que são principalmente o infarto do coração e o acidente vascular cerebral que é o popular derrame. Então buscar o controle do diabetes independente do tratamento é essencial para prevenir estes problemas.
Olga Goulart – É e por tudo que você explicou inclusive anteriormente o diabetes pode ser controlado através também de uma boa alimentação, não é? Existem alimentos que são perigosos para um paciente diabético, doutor, que você pudesse enumerar?
Dr. Joaquim Custódio – O diabetes é uma doença que para um bom controle é preciso que o médico oriente um adequado tratamento e que o paciente tenha uma exata compreensão da doença e da necessidade de ele participar do controle. Então como é que o paciente participa do controle? É justamente com a atividade física e ajustando o seu padrão de alimentação. Em relação aos alimentos, o que nós sempre recomendamos aos pacientes é que entendam que por mais que alguns reclamem dizendo “nós vamos mudar nosso estilo de alimentação todo” ou “nosso prazer é se alimentar e tudo mais”, o que o paciente com diabetes precisa entender que ele precisa aprender a selecionar melhor os alimentos, selecionar melhor o alimento no seguinte sentido: eliminar o alimento rico em carboidrato, ou seja, rico em açúcar, evitar o alimento com muito ácido graxo saturado, ou seja, frituras, manteigas, alimentos que tenham uma boa quantidade de gordura saturada muito grande.
Em relação as frutas, que é uma pergunta que sempre as pessoas fazem, as frutas variam um pouco em relação a quantidade de carboidrato. Algumas frutas mesmo tendo carboidratos elas podem ser consumidas só que em menor quantidade, por exemplo a ameixa, melancia, manga, elas não são proibidas para o paciente diabético, agora elas têm que ser incluídas dentro de um contexto, de um cardápio, digamos assim, que leve em conta a quantidade daquele carboidrato que está sendo ingerido e dentro de um contexto global do paciente. O ideal é sempre que o paciente tenha uma orientação tanto médica quanto nutricional que o ajude a ajustar isso de acordo com aqueles seus hábitos anteriores. Eu sempre gosto de brincar com os pacientes falando que ‘a ideia não é colocar o paciente na camisa de força dizendo que só pode comer aquilo, só pode comer isso’, ideia é a gente ajustar de acordo com os seus padrões, suas preferências e fazer com que o cardápio quando a gente analisa globalmente ele fique equilibrado para o paciente e aí naturalmente não existe uma receita única que vá servir para todas as pessoas, cada caso é um caso e tem que ser avaliado.
Olga Goulart – Ok. A hipoglicemia, doutor, que é a queda do nível de açúcar no sangue, estaria relacionada com o diabetes?
Dr. Joaquim Custódio – Sim. A hipoglicemia é uma situação relacionada com o tratamento do diabetes, então assim, algumas das medicações que nós usamos para tratar o diabetes como as insulinas e algumas outras medicações em forma de comprimido, elas têm potencial de em determinadas situações fazer com que o nível da glicemia caia muito, caia abaixo de 70mg/dl e isso gera a hipoglicemia que é uma situação em que o paciente vai ter um mal-estar decorrente da queda da glicose no organismo. Isso principalmente porque o nosso cérebro é muito dependente de glicose para funcionar, se o nosso nível de glicose não está muito adequado o nosso cérebro imediatamente acusa, ele tem vários sinais de proteção para evitar que a glicose caia mais ainda. Então a pessoa fica com suor frio, vista turva, uma sensação de desmaio, aquilo ali para o paciente diabético é um sinal que o seu nível de glicose está caindo. O ideal é que sempre ele tenha em mãos um aparelhinho para medir a glicemia, mas na dúvida ele deve consumir uma pequena quantidade de carboidrato para poder recuperar aquele nível e os pacientes com diabetes são sempre orientados também a fracionar as suas refeições, ou seja se alimentar idealmente a cada 3 horas, ou para aqueles que não tem esse costume fazer pelo menos 4 refeições ao dia para evitar intervalos muito grandes entre uma refeição e outra. Se você deixa um intervalo muito grande entre uma refeição e outra a chance de você desenvolver hipoglicemia acaba sendo maior e eventualmente quando a hipoglicemia está sendo muito repetida, acontecendo várias vezes, é um sinal de que o paciente tem que voltar no médico para poder ajustar o seu tratamento.
Olga Goulart – Doutor, diabetes nós podemos dizer que tem cura ou a palavra de ordem é controle?
Dr. Joaquim Custódio – Diabetes é uma doença que existe muita pesquisa, mas infelizmente ainda não existe uma cura, ou seja, não existe nenhuma abordagem terapêutica que consiga resolver o problema que gera o diabetes, que é o quê? O organismo está produzindo pouca ou nenhuma insulina ou está com uma resistência muito grande a ação da insulina. Nenhuma das terapias que nós temos disponível hoje em dia é capaz de reverter este processo, o que nós buscamos com os tratamentos atuais é controlar este processo, controlar os fatores de risco e fazer com que a glicemia fique num bom controle e aí como eu falei antes você controlando bem a glicemia você evita os problemas que o diabetes pode gerar no organismo, mas cura a gente está aguardando a ciência evoluir um pouco mais para chegar neste aspecto, a palavra deixada com certeza é o controle.
Olga Goulart – O quê que pode acontecer a um paciente já diagnosticado com diabetes que não faz o controle da doença?
Dr. Joaquim Custódio – O que eu sempre digo para os pacientes é que existe aquele ditado clássico de que “prevenir é melhor do que remediar”, nos pacientes com diabetes nós temos que levar isso a enésima potência, a gente tem que levar este ditado da forma mais categórica possível, porque o diabetes é uma doença que muitas vezes estando com uma glicemia não muito alta como eu falei, uma glicemia intermediária já fora de controle, ele vai começar a gerar uma série de processos no seu organismo que vão ter uma deterioração do organismo, mas que vão passar despercebido se o paciente não fizer um acompanhamento regular. Ele precisa fazer uma avaliação periódica com o seu médico, seja com o endocrinologista, seja um clínico, eventualmente alguns cardiologistas também tratam o diabetes, mas o importante é ele manter um acompanhamento periódico da doença, porque se você não controla o nível da glicemia e hoje em dia não basta controlar a glicemia, o paciente com diabetes muitas vezes ele vai ter também pressão arterial elevada, ele vai ter problemas de colesterol, ele vai ter a questão do sobrepeso ou da obesidade.
Então abordar todos estes fatores em conjunto, fazer uma abordagem adequada neste contexto é essencial para prevenir os problemas decorrentes do mau controle do diabetes, que aí seriam os problemas microvasculares, ou seja, doença da retina, problemas da circulação das pernas ou dos nervos e problemas no rim também que é um órgão muito sensível ao diabetes, ou seja, o rim se você está com a glicemia mais alta ele começa a sofrer e começa a perder pouco a pouco a sua função, infelizmente quando o rim perde a função até determinado grau é irreversível, a gente não consegue voltar o rim para a condição que ele estava anteriormente, o máximo que a gente consegue é evitar que ele piore. E prevenir também a doença macrovascular que é a doença cardíaca, especialmente o infarto e o acidente cerebral vascular que é o derrame. Então prevenir estas situações é o que nós consideramos mais importante quando a gente está falando de manter o diabetes bem controlado e evitar chegar a este tipo de situação, porque nesta situação, por exemplo, um paciente que teve um AVC, ou seja, um derrame cerebral, isso quer dizer que uma parte do cérebro dele deixou de funcionar adequadamente, ele pode até ser bem-sucedido no processo de reabilitação, mas aí já vão entrar outras situações que vão dificultar o seu autocuidado, vão dificultar aquele paciente de se cuidar, eventualmente vai precisar da ajuda de outra pessoa e aí a forma como esse paciente vai lidar com o diabetes já vai ficar um pouco mais complexa, um pouco mais complicada. Então trabalhar para ele evitar que isso aconteça é essencial.
Olga Goulart – Bom, durante toda nossa entrevista você disse a importância de manter uma alimentação saudável, uma boa alimentação, driblar o sedentarismo com uma prática regular de atividade física, então acho que é importante neste final de entrevista que o senhor pudesse nos recomendar, recomendar para os nossos ouvintes o que deve ser feito para prevenção do diabetes?
Dr. Joaquim Custódio – O que nós hoje em dia enfatizamos muito é que o diabetes é um problema de saúde pública, é um problema que realmente tem uma abrangência muito grande na população e particularmente aqui no Brasil está crescendo de uma forma bastante importante. Então cada vez mais é importante que o paciente que já tem o diabetes entender que ele precisa controlar bem a doença e a pessoa que não tem diabetes tenha ela pessoas na família com histórico de diabetes, ou mesmo aquelas que não têm, ou que eventualmente nós vemos pessoas que não têm histórico nenhum na família e se consideram, digamos assim, protegidas ou imunes ao diabetes e isso não é verdade. Existem vários fatores dos hábitos de vida atuais que favorecem desenvolvimento de diabetes mesmo em pessoas que não têm histórico familiar. Então para todas as pessoas que não têm diabetes o processo de vida saudável vai trazer inúmeros benefícios para o nosso organismo e um destes benefícios é prevenir o diabetes. Então manter uma certa pratica regular de atividade física, aeróbica e um controle da alimentação no sentido de evitar um consumo exagerado de carboidratos e de gordura saturada, este contexto todo vai trazer uma série de outros benefícios para o nosso organismo também, mas em relação ao diabetes hoje em dia nós temos evidências científicas, temos estudos que foram desenhados ou programados especificamente para avaliar esta situação e mostra claramente que a atividade física associada a uma boa alimentação é a melhor forma de prevenir que uma pessoa fique com diabetes. Essencialmente se a pessoa fez alguma medida de glicemia, como a gente falou antes, que caiu naquela faixa de pré-diabetes, aí então é o momento para intensificar isso para poder evitar que progrida para o diabetes. Para o diabetes prevenir sempre é melhor e se eventualmente desenvolver buscar o acompanhamento adequado.
Olga Goulart – E esse período aí chamado pré-diabético, doutor, você consegue reverter com essas medidas todas que você relacionou?
Dr. Joaquim Custódio – É possível, hoje em dia nós sabemos que o paciente com pré-diabetes ele consegue aderir de forma adequada aos programas de atividade física, controle de alimentação, eventualmente inclusive usa-se algumas medicações neste contexto, ele pode regredir para uma situação que a gente chama de normoglicemia, ou seja, voltar a glicemia dele para valores normais e não evoluir para o diabetes, mas aí ele precisa diagnosticar isso de forma precoce e buscar um acompanhamento adequado desde cedo para evitar esta progressão.
Olga Goulart – Informações preciosas, doutor. Conversamos com o médico Joaquim Custódio, especialista em endocrinologia e metabologia. Doutor, muito obrigada e até a próxima oportunidade aqui no Portal Viva Mais Viva Melhor.