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Reumatologia

Tema: Artrite reumatoide

Por Dra. Claudia Costa

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Olga Goulart – O simples gesto de pentear os cabelos ou cortar as unhas pode ser doloroso para quem tem artrite reumatoide, uma doença autoimune que afeta as pequenas articulações do corpo causando dor, inchaço e vermelhidão. E quem pensa que essa é uma doença de velho está enganado. Ela pode afetar as pessoas ainda quando jovens, não tem cura, mas existe tratamento para amenizar os sintomas. Para conversar conosco hoje sobre este assunto nós convidamos a médica doutora Claudia Costa, especialista em reumatologia.

Doutora, explica para os nossos ouvintes, inicialmente, o que é a artrite reumatoide e o que é uma doença autoimune?

Dra. Claudia Costa – A artrite reumatoide é uma doença sistêmica crônica, sistêmica significa que ela pode afetar diversas partes do organismo, neste caso principalmente as articulações. Ela é crônica, ou seja, você não consegue a cura, você consegue o controle dela. A causa desta doença é desconhecida, mas nós sabemos que ela é autoimune, ou seja, os tecidos são atacados pelo próprio sistema imunológico do corpo.

Olga Goulart – Doutora, é muito comum as pessoas confundirem a artrite com a artrose. A senhora pode explicar para a gente a diferença entre estas duas doenças?

Dra. Claudia Costa – Em geral, a artrose é bem confundida com a artrite mesmo. Hoje em dia nós chamamos a artrose de osteoartrite, uma nomenclatura mais nova. Elas são confundidas, mas a artrite tem um processo inflamatório bem mais acentuado, causando muitas vezes uma dor mais intensa, mais limitante, com um aumento de temperatura e vermelhidão. A artrose ou osteoartrite, apesar de ter um processo inflamatório associado, ela tem um desgaste da cartilagem e pode acontecer com o tempo, essa é um pouco das variações que têm essas duas palavras.

Olga Goulart – Certo. Para a gente definir melhor, termos um melhor entendimento, quais são os sintomas da artrite reumatóide?

Dra. Claudia Costa – A artrite reumatóide é uma inflamação, então ela resulta em dor, inchaço, vermelhidões principalmente das articulações. Em especial essa doença acomete mais as mãos e pés, mas é importante saber que ela é sistêmica, então ela pode acontecer em outras articulações como joelhos, tornozelos, ombros, cotovelos, além de atacar outras partes do organismo, não necessariamente acontece em todos os pacientes, mas ela pode acontecer como pulmão, olhos, coluna cervical e outras características que vai depender de paciente para paciente.

Olga Goulart – Existem fatores de risco, doutora, para o desenvolvimento da artrite reumatóide? É uma doença hereditária?

Dra. Claudia Costa – É uma doença que pode ter uma predisposição familiar, ou seja, as pessoas têm algumas particularidades em comum numa mesma família que podem aumentar o risco de quem tem uma pessoa com artrite reumatóide na família ter a artrite reumatóide. É uma doença muito comum dentro da reumatologia, ela afeta 0,5 a 1% da população adulta mundial, acontece mais nas mulheres e pode acontecer dentro da família numa frequência um pouco maior.

Olga Goulart – Bom, como nós dissemos inicialmente, é uma doença que pode acometer pessoas de qualquer idade, não é? Qualquer pessoa pode adquirir a artrite reumatóide?

Dra. Claudia Costa – Qualquer pessoa e ela pode acontecer em qualquer idade. Entretanto, a artrite reumatoide acontece mais comumente nas mulheres, 3 vezes mais que nos homens e em adultos jovens por volta de 40 anos, ou um pouco menos ou um pouco mais, mas ela pode acontecer em qualquer idade, inclusive em crianças.

Olga Goulart – Doutora Claudia, como é que é feito o diagnóstico da artrite reumatóide? 

Dra. Claudia Costa – O diagnóstico ele depende de uma série de características e sintomas que são analisados clinicamente, além dos exames laboratoriais e alguns exames de imagem que nos ajudam a confirmar a doença. Além disso, eles também servem para monitoramento, ou seja, acompanhamento ao longo do tempo para observar evolução, sinais de melhora, índices de atividade de doença, então os exames servem para isso, mas ela é uma doença de origem principalmente clínica.

Olga Goulart – E qual que é a importância de um diagnóstico precoce nesta situação da artrite reumatóide?

Dra. Claudia Costa – Essencialmente prevenir o dano articular e a incapacidade funcional das articulações, prevenir a evolução e a lesão desses órgãos.

Olga Goulart – Doutora, se esse problema não for tratado, a artrite reumatóide pode ser incapacitante?

Dra. Claudia Costa – Pode, pode ser incapacitante e essa incapacidade varia de acordo com o local acometido. Então ela não é a mesma incapacidade para todos os pacientes. Elas têm evoluções diferentes, gravidades diferentes e dependendo do local acometido vai gerar uma incapacidade no paciente.

Olga Goulart – Quais são as opções de tratamento para artrite reumatóide? O que fazer para aliviar os sintomas?

Dra. Claudia Costa – Atualmente nós temos inúmeros tratamentos para a artrite reumatóide, tem os tratamentos que não são medicamentosos e tem as medicações que podem ser orais, subcutâneas, venosas, dessas medicações de última geração tem as drogas sintéticas e biológicas. Estas biológicas foram um grande avanço na terapia dos pacientes com artrite reumatóide, mas precisamos lembrar também da questão dos não-medicamentosos que são os exercícios, fisioterapia, terapia ocupacional, enfim, um tratamento que deve ser programado e multifatorial.

Olga Goulart – Quem tem artrite reumatóide pode fazer atividade física, os exercícios físicos podem retardar ou evitar o aparecimento da doença?

Dra. Claudia Costa – Sim. O paciente com artrite reumatóide ele pode e deve fazer exercício físico. A atividade física deve ser individualizada tanto em que época esse paciente está em termos de atividade da doença e o que ele é capaz de fazer. Então você individualiza um trabalho de atividade física, de exercícios, para que melhore a força motora, a resistência muscular e o condicionamento cardiovascular, sempre respeitando a individualidade.

Olga Goulart – E a artrite reumatóide então não tem cura, doutora?

Dra. Claudia Costa – Não, não tem cura, mas tem controle. Pode haver períodos de remissão, remissão é o que nós chamamos quando tem ausência de atividade da doença, essa remissão pode ser atingida com ou sem medicação, vai depender também de cada paciente, nem todo paciente é igual.

Olga Goulart – Mas é possível conviver bem com a doença mantendo qualidade de vida?

Dra. Claudia Costa – É possível, em especial em pacientes que tem oportunidade para ser avaliado precocemente por reumatologista e programado um tratamento.

Olga Goulart – Doutora, só para a gente finalizar, existe uma maneira de prevenção quanto ao início de uma artrite reumatóide?

Dra. Claudia Costa – Não, não existe uma prevenção. Existe algumas coisas que você pode fazer para se eventualmente você adquirir uma artrite reumatóide você ter uma qualidade de vida melhor. Por exemplo, o tabagismo nós sabemos que ele pode ser um fator desencadeante para quem tem predisposição e muito importante é que ele aumenta a gravidade da doença e reduz a eficácia do tratamento. Então não fumar dentre todos os outros benefícios, para a artrite reumatóide também tem essa influência. Os exercícios, quem tiver uma massa muscular melhor, uma capacidade cardiovascular melhor, pode evoluir melhor também no tratamento.

Olga Goulart – Ok doutora. Conversamos com a médica doutora Claudia Costa, especialista em reumatologia. Muito obrigada doutora e até a próxima oportunidade aqui no portal Viva Mais Viva Melhor.