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Oncologia Clínica
Mitos e Verdades – Câncer de Mama
Por Dra. Renata Cangussú
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Mitos e Verdades sobre Câncer de Mama com Dra. Renata Cangussú e Olga Goulart
Olga Goulart – Em nossa série Mitos e Verdades o nosso tema hoje é câncer de mama, quem conversa conosco é a doutora Renata Cangussú, oncologista do Núcleo de Oncologia da Bahia, o NOB, e vai esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto. Doutora, o câncer de mama sempre surge assim como um caroço, isso é mito ou é verdade?
Dra. Renata Cangussú – Não. Essa primeira pergunta é um mito mesmo. Na verdade, a maioria das vezes realmente é diagnosticado como um caroço, mas muitas vezes podem aparecer apenas alterações de pele, as vezes pode acontecer dor, pode acontecer saída de secreção do mamilo, então existem algumas maneiras de apresentação.
Olga Goulart – Ok. É verdade que desodorantes poderiam causar o câncer de mama, isso é mito ou é verdade?
Dra. Renata Cangussú – Isso é mito. Esse questionamento começou a acontecer depois de 2004 quando saiu um estudo onde mostrou relação de um parabeno, que era um possível componente dos antitranspirantes com o câncer de mama, mas mesmo nessa mesma revista que apresentou o estudo, houve muito questionamento com relação à maneira como este estudo foi conduzido, pelo pequeno número de pacientes que foram estudadas e esta foi a única evidência com essa relação. Então na verdade não tem nada comprovado de que desodorante, mesmo aqueles antitranspirantes, tenham relação com o câncer de mama, isso ainda é um mito.
Olga Goulart – E com relação a trauma na mama? Há quem diga que trauma na mama poderia se transformar em um tumor maligno, isso é certo ou é errado?
Dra. Renata Cangussú – Isso é errado. O que acontece na maioria das vezes é que o trauma chama atenção para um nódulo que por ventura já existia naquela mama. Então o que acontece é que devido ao trauma a mulher passa a chamar mais atenção para alguma coisa que já existia, ela passa a se examinar e nota, de repente, algum nódulo que estava lá. Uma outra coisa que pode acontecer também é o trauma formar um hematoma que venha ser uma porção de sangue que pode simular um caroço e poderia simular um tumor, mas não tendo relação nenhuma causal entre um trauma e o câncer de mama.
Olga Goulart – A proposta do autoexame, doutora, as mulheres que realizam esse autoexame de mama com regularidade, elas não precisariam fazer a mamografia, isso é certo ou é errado?
Dra. Renata Cangussú – Não, é muito errado. Na verdade, a ideia do autoexame é apenas que a mulher conheça o seu corpo e identifique entre um autoexame e outro uma alteração que possa a vir acontecer. O autoexame é um apoio, um auxílio para que a mulher identifique uma alteração que por ventura venha acontecer entre uma mamografia e outra, já que a mamografia é feita anualmente. Se nesse período de um ano entre uma mamografia e outra alguma alteração venha a acontecer, ela deve então procurar um especialista para investigar. É apenas essa ideia de a mulher conhecer o seu corpo, e, ao notar uma alteração, procurar um especialista, somente isto, mas não substitui em hipótese alguma a mamografia.
Olga Goulart – É verdade que amamentar garante a mulher uma proteção maior contra o câncer de mama?
Dra. Renata Cangussú – Sim. A amamentação reduz o risco de câncer de mama da ordem de uns 4,3% para cada 12 meses de amamentação e para cada nova gestação a gente soma mais 7,0%. Então tem um benefício, realmente uma proteção maior para aquelas mulheres que amamentaram e quanto maior o tempo de amamentação maior é a proteção.
Olga Goulart – Verdade. Bom, quanto ao uso de prótese mamária, isso tira a mulher da condição de amamentação, uma mulher que se submeteu a uma colocação de prótese mamária?
Dra. Renata Cangussú – Não. A depender da técnica cirúrgica que tenha sido utilizada, pode haver uma maior dificuldade na amamentação ou não, mas de maneira geral, a depender de quanto tenha manipulado os ductos isso pode vir a ter alguma alteração. De maneira geral a maioria das mulheres conseguem amamentar mesmo tendo sido submetida a cirurgia de mama.
Olga Goulart – Doutora, um bebê não pode ser amamentado quando a mãe suspeita de um câncer de mama, essa afirmativa é verdadeira ou é falsa?
Dra. Renata Cangussú – É falsa. Mesmo mulheres que tenham diagnóstico de câncer de mama, ainda assim se elas tiverem clinicamente saudáveis e estiverem fora do tratamento com quimioterapia, ainda assim poderiam amamentar, ainda mais uma paciente que está apenas suspeitando da possibilidade de câncer de mama, não tem contraindicação a amamentação não.
Olga Goulart – É verdade que mulheres com histórico familiar de câncer de mama, mãe, irmã ou parente de primeiro grau, tem cerca de 2 vezes mais risco de ter a doença?
Dra. Renata Cangussú – Olha, as pessoas que tem uma história familiar, tudo vai depender, na verdade, não apenas do grau de parentesco, mas da idade com que esta paciente que teve o câncer de mama, a idade com que apareceu, para saber se o risco que os seus familiares têm de ter câncer de mama é maior ou não do que a população geral. O que acontece é que pode, a depender da idade com que tenha acontecido o câncer de mama, haver uma suspeita de mutação. Uma vez tendo mutação, aí sim teria um risco aumentado para o câncer de mama. Mas só lembrando que a hereditariedade é responsável por apenas 10% dos casos de câncer de mama, os outros 90% não têm relação nenhuma com hereditariedade, com a história familiar.
Olga Goulart – A informação de que a mamografia deve ser realizada pelo menos uma vez por ano é verdadeira ou é falsa?
Dra. Renata Cangussú – É verdade. O ideal é que a mulher faça a mamografia anualmente. Existem algumas recomendações, isso é um tema controverso porque existe algumas instituições que recomendam que seja feita a cada dois anos, isso vai depender um pouquinho da fonte, mas a grande maioria das sociedades recomendam que seja feita anualmente mesmo.
Olga Goulart – Certo. A gente ouve dizer, doutoram que as pessoas obesas elas ficam mais suscetíveis ao câncer de mama, isso é verdadeiro?
Dra. Renata Cangussú – Verdade. Recentemente tem um mastologista do núcleo da mama, chamado César Machado, que publicou os dados dele que foram feitos com as mulheres do Núcleo de Oncologia da Bahia e do Núcleo da Mama, e comprovaram esta relação que a gente já sabia que existia em dados de estudos internacionalmente. Esses dados mostraram que as mulheres obesas, ou de sobrepeso, elas têm 2,57 vezes mais risco de câncer de mama do que aquelas que têm um peso normal, então é um risco muito maior do que aquelas que não tem obesidade.
Olga Goulart – Na verdade, a obesidade está relacionada a vários problemas.
Dra. Renata Cangussú – Vários problemas, exato. Então o ideal é tentar manter sempre o peso adequado para a saúde de uma maneira geral.
Olga Goulart – Quanto a terapia de reposição hormonal, que normalmente divide muito a opinião, de fato ela poderia ser um fator de risco para o câncer de mama, doutora?
Dra. Renata Cangussú – Sim. A terapia hormonal, claro que tudo vai depender do tempo com que você utilize, a dose que você vai utilizar, mas o que a gente tem de dados científicos é que houve uma maior incidência de câncer de mama nas mulheres que fizeram reposição hormonal. É claro que esses estudos que a gente tem, são estudos que foram feitos com uma dose de terapia hormonal que não mais são utilizados atualmente. Então é possível que o risco não seja tão grande quanto foi visto. No entanto, o que a gente tem atualmente de informação é que com a terapia hormonal realmente gera maior risco de câncer de mama. Já que a gente tem essa relação que foi identificada e a gente ainda não tem ainda dados com doses menores, tempo mais curto, então por segurança o ideal é reservar a terapia hormonal para situações onde não tenha um risco maior de câncer de mama, numa pessoa com risco normal e caso os sintomas da menopausa não tenham sido resolvidos com tratamentos outros não-hormonais. Então primeiro tenta-se resolver os sintomas com terapias não-hormonais e caso não tenha sido resolvido aí sim reserva a opção da terapia de reposição hormonal.
Olga Goulart – Quem menstrua muito cedo ou mesmo deixa para ser mãe mais tarde, depois dos 30 anos, tem maior probabilidade de desenvolver o câncer de mama, isso é mito ou é verdade?
Dra. Renata Cangussú – Isso é verdade. O que acontece é que a mulher quando menstrua muito cedo ou tem uma menopausa depois dos 55 anos, a idade do primeiro filho depois dos 30 anos, tudo isso são situações que fazem com que a mulher tenha um maior tempo de exposição ao estrógeno e é justamente esta exposição ao estrógeno que aumenta o risco do câncer de mama, então isso é verdade.
Olga Goulart – Anticoncepcionais que interrompem a menstruação são eficazes mesmo na prevenção do câncer de mama?
Dra. Renata Cangussú – A relação do anticoncepcional com o câncer de mama ainda é bem controversa. Porque os estudos que temos disponíveis atualmente eles são muitos conflitantes, alguns mostram uma relação de proteção, enquanto outros identificam maior risco do câncer de mama com o uso do anticoncepcional. Isso acontece porque os estudos não são uniformes, eles não utilizaram drogas equivalentes, então são drogas diferentes, dosagens hormonais diferentes, então os estudos não são uniformes e por isso a gente não tem um dado ainda muito sólido com relação a isso, então é uma informação que a gente ainda não tem certeza.
Olga Goulart – É verdade, doutora, que praticar atividade física ou ter uma alimentação saudável ajudaria na prevenção do câncer de mama?
Dra. Renata Cangussú – Sem dúvida, isso é verdade. Esta é uma das poucas medidas que nós podemos fazer para evitar o aparecimento do câncer de mama. É manter uma alimentação saudável e a prática regular de atividade física. Estas medidas já mostraram serem capazes de reduzir o risco de câncer de mama em até 30% e hoje nós não temos nenhuma outra medida que possa ter um impacto deste tipo. Tudo que a gente fala de fazer visita médica anual, mamografia anual, são coisas para ter um diagnóstico precoce. O que a gente pode fazer para evitar o aparecimento da doença é manter hábitos de vida saudáveis.
Olga Goulart – Voltando ainda na questão das próteses de silicone, doutora, elas poderiam causar o câncer, isso é verdade ou mito?
Dra. Renata Cangussú – Não, isso é mito. Não existe nenhuma relação do uso da prótese mamária com o aparecimento do câncer de mama. O que pode vir a acontecer é talvez, a depender do local onde tenha sido colocada a prótese, se na frente ou atrás do músculo, se pode talvez ter uma dificuldade para realização técnica da mamografia, apenas isso. Então se tem uma incidência específica que tem que ser feita para aquela pessoa que tem prótese, para tentar separar o que é prótese do que glândula mamária e assim tornar mais fácil o diagnóstico de uma lesão que porventura venha aparecer, mas relação causal entre prótese mamária e câncer de mama não existe.
Olga Goulart – Doutora, uma vez detectado o câncer, é necessário remover a mama por completo, essa informação é verdadeira ou é falsa?
Dra. Renata Cangussú – Bom, com os exames feitos regularmente, como a gente sempre preconiza que faça visita médica anual, mamografia anual, a grande maioria dos casos são diagnosticados realmente precocemente, sendo diagnosticado precocemente, na grande maioria das vezes é possível ser feito uma cirurgia conservadora, ou seja, retira uma parte da mama, deixando uma outra parte. Então atualmente a gente ainda consegue oferecer a cirurgia conservadora para a grande maioria das pacientes que são diagnosticadas precocemente. E existe também aquelas pacientes que nem são diagnosticadas precocemente, mas que ainda assim a gente pode oferecer quimioterapia antes, para poder tentar fazer com que ela que inicialmente faria uma cirurgia radical, ou seja retirada da mama inteira, possa ter o benefício também da cirurgia conservadora. Então nós temos a opção da cirurgia conservadora em vários casos.
Olga Goulart – Ok. Bom, já que estamos desmistificando alguns tipos de informações erradas, doutora, eu queria saber sobre o sutiã, se ele de fato poderia aumentar o risco do câncer de mama.
Dra. Renata Cangussú – Não, não tem nenhum estudo que comprove relação do uso do sutiã com o risco de câncer de mama, isso não está dentre os fatores de risco para a doença.
Olga Goulart – E é verdade que as mulheres com seios menores tem maior chance de desenvolver o câncer de mama?
Dra. Renata Cangussú – Não, nesse caso tamanho não vem a ser documento não. O risco do câncer de mama é multifatorial, depende de muitos outros fatores, mas não exatamente do tamanho da glândula, pode ser que uma glândula pequena venha a ter o câncer, pode ser que uma glândula grande nunca venha a ter, não tem relação do tamanho com o risco não.
Olga Goulart – Baixos níveis de Vitamina D aumentariam os riscos do câncer de mama, isso é mito ou é verdade?
Dra. Renata Cangussú – Isso é uma das informações que ainda são bem conflitantes também, porque existem estudos mostrando que há relação com a Vitamina D baixa com o risco de câncer de mama e existe outros que mostram que não tem relação. Portanto, tem muitos médicos que já estão solicitando e repondo a Vitamina D, no caso de Vitamina D baixa, porque existem alguns estudos mostrando estes benefícios, mas não é um dado cientificamente comprovado e embasado que a gente tenha certeza de que isso pode aumentar o risco de câncer de mama.
Olga Goulart – Bom, a depilação a laser, bem como outros tratamentos estéticos a base de laser podem causar o câncer de mama, isso é verdade ou é mito?
Dra. Renata Cangussú – Isso é mito. Não tem nenhuma comprovação científica da relação de depilação e procedimentos estéticos, com o risco de câncer de mama.
Olga Goulart – E dor nas mamas pode ser indício de um câncer de mama?
Dra. Renata Cangussú – A dor não é um sintoma muito comum não. Pode acontecer? Pode, mas como eu te disse é uma coisa rara, normalmente o que acontece é a mulher se examinando notar algum nódulo, a diferença de cor, de textura da mama, o mamilo que mudou de aparência, saída de secreção, é basicamente isso, dor é apenas 5% dos casos.
Olga Goulart – Ok. Doutora Renata Cangussú, muito obrigada pelas informações e até a próxima dica aqui no Viva Mais Viva Melhor.