Nossas Entrevistas

Cirurgia Oncológica

Tema: Câncer de Endométrio

Por Dr. Adson Neves

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Olga Goulart – O câncer de endométrio é um dos tumores ginecológicos mais frequentes e as mulheres acima dos 60 anos, as pós-menopausadas, são as mais acometidas. O endométrio, para vocês lembrarem, é aquela membrana mucosa que reveste a parede interna do útero e como qualquer outra parte do corpo humano também está sujeita a doenças e entre ela o câncer.

Hoje nós vamos conversar com o doutor Adson Neves para saber de que maneiras a gente pode detectar o problema em fase inicial, tratar e quais são os sintomas, dentre outras coisas.

Dr. Adson Neves – O câncer de endométrio tem uma peculiaridade, ele é extremamente indolente. Ele acomete pacientes, mulheres de mais de 50 anos, habitualmente 60, 63 anos e o sintoma mais frequente do câncer de endométrio é o sangramento vaginal. Então é uma paciente que está muito bem clinicamente e em algum momento ela começa a ter um sangramento após a menopausa e isso é um dado muito importante, um dado que deve ser investigado pelo ginecologista, pelo oncologista, Olga.

Olga Goulart – Doutor, além desse sangramento após já um período de menopausa. Quais são os outros sinais que o senhor poderia relacionar para a gente como sendo muito importante e os sintomas também do câncer de endométrio?

Dr. Adson Neves – Olga, quando está instalado o câncer de endométrio o sangramento é o dado mais importante clínico, mas além do sangramento a paciente pode cursar com dor pélvica, dor em baixo do ventre, a paciente pode ter dor durante a relação sexual, mas o sangramento é o dado mais importante e o mais precoce e é nesse momento Olga, que deve ser feito a investigação, porque enquanto tem só o sangramento, a princípio, como a doença é extremamente indolente, ela progride de uma forma bem lenta, é nesse estágio que deve ser investigado, porque provavelmente é a paciente que está com a doença inicial. O momento do diagnóstico do câncer de endométrio 80%, 85% das pacientes estão no início da doença e é o momento de abordá-las.

Olga Goulart – Bom doutor, nós sabemos que um dos fatores de risco é essa condição, é essa idade, mulheres que já passaram do período da menopausa. Portanto, eu não posso deixar de fazer essa pergunta e sobre a reposição hormonal, que ainda divide muito a opinião. A reposição hormonal aumenta o risco de desenvolvimento de um câncer de endométrio?

Dr. Adson Neves – Pode aumentar sim, temos vários fatores de risco como foi dito, a menstruação precoce, a menopausa tardia, a paciente nulípara que nunca engravidou, a idade avançada, diabetes, sedentarismo, isso Olga, estar fazendo ou ter feito terapia hormonal pode aumentar sim o risco para câncer de endométrio.

Olga Goulart – Bom, então uma boa indicação da reposição hormonal avaliando todas as condições dessa paciente é extremamente importante, a gente precisa ressaltar isso daqui. Existem casos que há indicação e outros não.

Dr. Adson Neves – Por exemplo Olga, tem alguns pacientes que são infelizmente portadoras do câncer de mama, algumas delas tem a indicação de usar uma medicação muito conhecida nos pacientes que tem o câncer de mama na oncologia que é o tamoxifeno, que é um modulador hormonal para estrogênio e esse tamoxifeno está associado em 6% de câncer de endométrio, por exemplo aquela paciente que foi fazer um tratamento durante 5 anos com tamoxifeno, a paciente deve ser seguida à risca, de perto, porque ela pode também ter um segundo tumor primário de endométrio secundário ao efeito desse tamoxifeno.

Olga Goulart – Certo. Bom, você falou aí desse acompanhamento que é muito importante, agora uma vez diagnosticada doutor, como que se trata o câncer de endométrio e qual é o papel de um cirurgião oncológico na condução desse paciente?

Dr. Adson Neves – Olga, quando a paciente tem um sangramento vaginal, um paciente principalmente pós-menopausa, porque raramente a gente tem câncer de endométrio para mulheres abaixo de 40 anos, o exame principal é um ultrassom transvaginal vai documentar ou não o espessamento do endométrio que é a membrana por dentro do útero, então quando essa membrana está muito espessa, está muito grossa e a paciente tem o sangramento uterino, ela deve ser encaminhada para um ginecologista para realizar um exame chamado de histeroscopia. Histeroscopia é um aparelho que é introduzido pela vagina, ele atravessa o colo de útero e o ginecologista tem uma visão direta da camada endometrial, ou seja, do útero por dentro e com isso ele consegue identificar áreas suspeitas ou não para uma eventual biópsia dirigida dessa região e encaminha esse fragmento para uma avaliação anatomopatológica, então o papel do patologista é fechar esse diagnóstico dessa biópsia. 

No momento que a paciente retorna para o seu ginecologista com esse resultado da biópsia da anatomia patológica confirmando o câncer de endométrio, o ginecologista, se ele tiver já uma formação em oncologia ele pode conduzir muito bem essa paciente, mas se ele não tiver um treinamento específico em oncologia, é muito importante que ele encaminhe essa paciente ou para um ginecologista oncológico ou para um cirurgião oncológico, para tratar devidamente essa paciente de uma forma correta. Essa paciente quando chega no ambulatório deste especialista, desse oncologista, ela passa por um outro momento muito importante que é o estadiamento, então é necessário um raio X de tórax para avaliar se há nódulos pulmonares secundários ao câncer de endométrio, mas vale a pena ratificar que isso é uma raridade, dificilmente nós encontramos essa situação tão dramática. 

É necessária uma Ressonância Nuclear do abdome, quando se compara com a Tomografia com a Ressonância, a Ressonância tem uma precisão maior em relação à Tomografia, então a Ressonância é o exame de escolha. E quando essa paciente tem todos estes exames de estadiamento e se configura que a doença está confinada à cavidade abdominal e principalmente ao útero, faz-se necessária uma cirurgia oncológica com o propósito de controlar essa doença, então essa cirurgia seria a retirada do útero, a retirada dos ovários, a retirada também de alguns linfonodos da região pélvica e na região um pouco mais atrás da cavidade abdominal chamada de retroperitônio. Em algumas situações específicas essas pacientes estão sobre um risco de ter doença também fora do útero, já com metástase linfonodal. Para o nosso alento, na grande maioria das pacientes a doença está confinada ao útero, como eu já falei, então 80% das pacientes o câncer de endométrio está confinado ao útero. É uma doença indolente, uma doença de progressão lenta e ela tem essa vantagem, quando a gente dá o diagnóstico da paciente com câncer de endométrio, 80% tem ainda estágio clínico inicial, estágio clínico I. 

Algumas delas Olga, nem precisa de tratamento complementar com radioterapia, mas infelizmente outras precisam de todo arsenal terapêutico para controlar a doença. Além da cirurgia completa que eu te falei, é necessária radioterapia, quimioterapia, enfim, a chave do câncer de endométrio é se fazer o diagnóstico, na verdade a chave de todo tratamento independente de ser câncer ou uma doença benigna é fazer o diagnóstico e o tratamento na fase mais precoce possível. Quando se trata de câncer que é uma doença que infelizmente tem uma mortalidade muito alta, esse ponto, esse fator tempo é fundamental.

Olga Goulart – É crucial. Doutor, as mulheres que são diagnosticadas com endometriose levam sempre um susto assim relacionando a essa condição de endometriose ao câncer de endométrio, tem alguma relação?

Dr. Adson Neves – Nesse momento ainda não está muito bem estabelecida a relação do câncer de endométrio com a endometriose. Mas a resposta categórica que eu poderia dar para você é não, não existe. Alguns autores acham que existe em algum momento da evolução do câncer de endométrio a endometriose, mas não está muito estabelecido. Portanto, neste momento a endometriose não é fator de risco para câncer de endométrio.

Olga Goulart – Muito obrigada, até a próxima entrevista aqui no Viva Mais.