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Cirurgia Oncológica

Mitos e Verdades – Câncer de Estômago

Por Dr. Thiago Francischetto

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Olga Goulart – Na nossa série ‘Mitos e Verdades’ seguimos com o doutor Thiago Francischetto conversando sobre o câncer de estômago. 

Doutor Thiago, nessa condição de mitos e verdades, o uso crônico de antiácidos causa câncer de estomago, mito ou verdade?

Dr. Thiago Francischetto – O uso crônico de antiácidos, Olga, a gente tem que ficar preocupado principalmente pelo fato que pode mascarar algum sintoma que poderia ser algum sintoma importante que poderia levar até o diagnóstico de câncer. Atualmente estão tendo alguns estudos que estão mostrando que o uso crônico de alguns antiácidos pode realmente aumentar o risco do câncer de estômago. Então são medicações que são muito importantes para o tratamento de algumas patologias, mas que devem realmente ser usadas sob orientação médica, ou ser usada de maneira correta para evitar esses problemas. 

Então existem algumas associações do uso crônico de antiácido com aumento da incidência do câncer de estômago.

Olga Goulart – Quem fuma, doutor, e bebe tem mais chances de ter câncer de estômago, isso é mito ou é verdade?

Dr. Thiago Francischetto – Isso é verdade Olga. Tanto o tabagismo quanto o etilismo têm uma associação maior com o câncer de estômago. Ela não é tão importante como a gente vê em alguns outros tipos de câncer, mas sem dúvidas aumentam sim o risco do câncer de estômago. Então esses hábitos devem ser evitados, principalmente em pacientes que tem o histórico familiar de algum problema de estômago.

Olga Goulart – O consumo elevado de sal está relacionado ao câncer de estômago, isso é mito ou é verdade?

Dr. Thiago Francischetto – Isso também é verdade Olga. O consumo elevado de sal é um dos principais fatores associados ao câncer de estômago. A gente observa o aumento da incidência naqueles pacientes que ingerem uma quantidade alta de carne conservada com sal, de alimentos conservados com o sal, então esses alimentos a gente sabe que tem uma relação muito grande com o câncer de estômago e a gente sabe também que em 90% dos casos de câncer de estômago estão associados com os hábitos alimentares. Então essa é uma medida que deve ser feita e deve ser seguida por todas as pessoas que querem levar a vida mais saudável e diminui o risco dessa patologia.

Olga Goulart – Bom, a gastrite causa câncer de estômago?

Dr. Thiago Francischetto – Na grande maioria das vezes a gastrite não causa o câncer de estômago.

Olga Goulart – Então é um mito?

Dr. Thiago Francischetto – É um mito, mas tem ainda assim um fundo de verdade, porque tem um tipo específico de gastrite que é chamada de gastrite crônica atrófica que é causada pela infecção da bactéria H. Pylori e que pode evoluir com o desenvolvimento de câncer e esse tipo de gastrite sim, ele aumenta o risco de desenvolvimento do câncer de estômago. Mas isso é a minoria dos pacientes, na grande maioria dos pacientes que falam que tem gastrite esses pacientes não tem um risco aumentado de câncer.

Olga Goulart – Já que você citou o H. Pylori, todo mundo deve investigar a presença de H. Pylori, isso é um mito ou é verdade?

Dr. Thiago Francischetto – O H. Pylori é uma bactéria que a gente está vendo que tem uma prevalência muito alta na nossa sociedade. A infecção principalmente aqui na Bahia é alta, mas a grande maioria dos pacientes com infecção de H. Pylori não desenvolve nenhum outro problema, não desenvolvem câncer ou nenhum outro problema. Então ainda não é rotina investigar a bactéria em todos os pacientes, a gente deve mesmo investigar naqueles que apresentam os sintomas, que estão com alguma queixa abdominal, alguma queixa de desconforto, dificuldade de comer ou de se alimentar, apresentando perda de peso, dor abdominal, aí sim essas pessoas devem procurar um especialista para provavelmente fazer a endoscopia para pesquisar o H. Pylori e aí caso venha positivo aí sim realmente tem que tratar e tentar erradicar essa bactéria, porque a gente sabe que ela está associada, principalmente algumas cepas dela estão associadas a maior risco de desenvolver o câncer de estômago.

Olga Goulart – A endoscopia digestiva, doutor, deve ser realizada de rotina?

Dr. Thiago Francischetto – A endoscopia digestiva ainda não é um exame que a gente usa como método de... vamos dizer screening, de rastreamento, como é, por exemplo, a mamografia que é indicada para todas as mulheres acima de uma certa idade e tudo mais. A endoscopia ainda assim é reservada para os pacientes que apresentam algum sintoma, alguma indicação para fazer esse exame. Entendeu? Então os pacientes que tem algum sintoma de dor, desconforto abdominal, que evoluem com dificuldade de se alimentar, perda de peso, qualquer tipo de desconforto abdominal, esses sim devem passar por um especialista e ser investigado com a endoscopia, mas não deve ser feito de rotina naqueles pacientes que não tem nenhum sintoma.

Olga Goulart – Ok. Dizer que o câncer de estômago não tem cura, é mito ou é verdade?

Dr. Thiago Francischetto – Isso é um mito, o câncer de estômago tem cura sim, principalmente quando diagnosticado nas fases iniciais a gente pode alcançar a taxa de cura de acima de 90% naqueles tumores diagnosticados nos estágios mais iniciais. O tempo nesse caso é fundamental, quanto mais precoce o diagnóstico e precoce a lesão, maior a chance de cura. A gente tem muita opção de tratamento para o câncer de estômago, assim como a outros tipos de câncer também.

Olga Goulart – Então é absolutamente verdade quando dizemos que quanto mais cedo diagnóstico, maior as chances de cura?

Dr. Thiago Francischetto – Verdade, isso vale muito para o câncer de estômago e assim como também para todos os outros tipos de câncer. Quanto mais cedo a gente diagnostica muito mais simples de tratar e de alcançar a cura.

Olga Goulart – Doutor, o cirurgião oncológico recebe um treinamento específico para tratar o câncer?

Dr. Thiago Francischetto – O cirurgião oncológico recebe um treinamento específico para fazer o tratamento do câncer. Então é um cirurgião que está habilitado a dar o diagnóstico, a fazer o estadiamento que é conhecer o tamanho da lesão, saber o grau de desenvolvimento dessa lesão, para aí sim oferecer ao paciente o melhor tratamento, então ele não é apenas um simples especialista que está ali para fazer a cirurgia. Ele ajuda no diagnóstico, na conduta desse paciente para definir se esse paciente é melhor ir direto para a cirurgia ou se merece ser submetido a um tratamento antes como quimioterapia, radioterapia ou alguma outra coisa e sabe realmente qual a melhor abordagem cirúrgica para esses pacientes. Hoje a gente tem a medicina cada vez mais especializada, entendeu? A gente tem médicos que cuidam só da mama que é o mastologista, médicos que cuidam da próstata que é o urologista e a gente tem hoje um especialista que cuida desses pacientes com o câncer que é o cirurgião oncológico. Então é uma especialidade relativamente nova, mas que deve ser realmente cada vez mais procurada pelos pacientes, principalmente pelos pacientes com diagnóstico de câncer.

Olga Goulart – Verdade ou mito quando dizemos que o paciente pode viver normalmente com a retirada cirúrgica do estômago?

Dr. Thiago Francischetto – Isso é verdade, isso não é mito não, isso é verdade. O paciente que faz o tratamento cirúrgico e que as vezes até eventualmente tira todo o estômago, ele consegue depois dessa cirurgia levar uma vida praticamente normal, inclusive retornar suas atividades, retornar ao trabalho, se alimentar normalmente, ele consegue levar uma vida normal.

Olga Goulart – Ótimo, conversamos com o doutor Thiago Francischetto sobre câncer de estômago e esclarecendo sobre mitos e verdades. Obrigada doutor Thiago.