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Psiquiatria PUBLICADO EM 20/03/2018Dependência química é uma doença fatal, crônica e que pode ser tratada
Um problema de saúde pública que afeta milhões de indivíduos pelo mundo
Participação do Dr. Rogério Santos, médico especialista em Psiquiatria
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a dependência química é uma doença fatal, crônica e que pode ser tratada. Entende-se por um problema de saúde pública, que afeta milhões de indivíduos pelo mundo, e está caracterizado pelo uso de uma substância com o intuito de obter algum tipo de prazer ou satisfação, alívio de algum sentimento ou algum sintoma psicológico ou emocional. Por conta disso, o papel da família é fundamental, tanto no tratamento quanto na recuperação de um dependente químico.
“A dependência química é, sem dúvida alguma, uma doença porque ela se caracteriza por uma síndrome: diversos sintomas associados em um indivíduo que está buscando, na substância, a resposta para algum tipo de problema. O uso da substância em si, não caracteriza a doença, mas sim, a forma que aquela substância é usada e os impactos que o seu uso causará na vida do indivíduo”. (Dr. Rogério Santos, médico especialista em Psiquiatria)
Para caracterizar um indivíduo como dependente químico é preciso estar atento aos sintomas, os principais são: a tolerância, isto é, a necessidade de doses cada vez maiores da substância para se obter o mesmo efeito inicial que a droga oferecia; e a síndrome de abstinência, que são os sintomas advindos da interrupção do uso da substância, ou seja, toda vez que o indivíduo para de usar, começa a ter sintomas, sejam eles físicos ou psicológicos. Além disso, “o gasto excessivo de tempo em busca da substância, o uso da substância mesmo sabendo de todos os males que ela faz para a saúde, abrir mão de outras atividades outrora prazerosas, como o convívio com a família, convívio social, vínculos laborativos e alterações do comportamento, são comportamentos comuns em pacientes dependentes químicos. Todos esses sintomas, analisados conjuntamente, estão presentes desde o início do uso de uma substância, quando o indivíduo é apenas um experimentador, passando por um usuário ocasional habitual até tornar-se um dependente químico”, acrescenta Dr. Rogério Santos.
A dependência química não tem cura, mas tem tratamento, é bastante eficaz e ocorre em vários estágios:
- Inicialmente, uma abordagem ambulatorial, quando o psiquiatra detecta a doença, institui um tratamento medicamentoso para os sintomas da abstinência e faz o encaminhamento necessário para o uso da psicoterapia como estratégia coadjuvante do tratamento.
- Se essa estratégia não funcionar, estratégias semi-intensivas podem ser utilizadas: os centros de apoio psicossocial, ou o hospital dia, são ambientes onde o indivíduo passa o dia fazendo atividades terapêuticas e psicológicas, e retorna a noite para sua casa.
- Se, ainda assim, não se conseguir interromper o processo, o indivíduo é encaminhado para o internamento, que pode ocorrer em duas modalidades: a voluntária, quando ele tem consciência da gravidade da sua doença e, portanto, decide se internar para se afastar do ambiente da droga e poder aplicar-se em estratégias terapêuticas no uso de medicação e na diminuição dos sintomas de abstinência; ou a modalidade involuntária, quando o indivíduo que perdeu a capacidade de decidir sobre usar ou não usar a droga, está colocando sua vida em risco, e assim cabe a família internar esse indivíduo para salvar a vida, inicialmente, causar a desintoxicação desse indivíduo e, em terceiro lugar, sensibilizá-lo para a necessidade da vinculação e do tratamento.
Vale lembrar, que os familiares do dependente químico, que muitas vezes acabam sendo codependentes no processo da doença, sendo permissivos, tolerantes e, em nome do amor, acabam facilitando o processo da doença, também precisam ser tratados. Para isso, “existem os grupos de autoajuda, grupos terapêuticos em psicoterapia individual, que dão o suporte necessário para, após o paciente abandonar a substância, voltar ao seu seio familiar e entender que outros comportamentos precisam ser praticados a partir daquele momento. Não há tratamento do dependente químico se a família não estiver coesa, porque a família foi destroçada inicialmente e precisa se reerguer, juntamente com esse indivíduo”, finaliza Dr. Rogério Santos.