Nossas Entrevistas
Angiologia e Cirurgia Vascular
Tema: Vasinhos e varizes
Por Dr. Ronald Fidelis
Olga Goulart – Vasinhos e varizes atrapalham os planos de qualquer mulher na hora de ir para a praia, colocar um vestidinho mais curto ou mesmo ao se olhar no espelho. Vários fatores podem influenciar no aparecimento dessas indesejáveis veias expostas que geralmente aparecem nas pernas ou no rosto. Mesmo com uma rotina regular de atividade física eles insistem em aparecer, mas existe tratamento. E quem conversa conosco hoje é o médico especialista em angiologia e cirurgia vascular, doutor Ronald Fidelis, que vai esclarecer sobre o assunto.
Doutor, explica aí para os nossos internautas, nossos ouvintes, qual é a diferença entre os vasinhos e as varizes.
Dr. Ronald Fidelis – Muito bem, Olga. Para entender o que são vasinhos e varizes, nós temos que nos lembrar das veias. As veias são aquelas estruturas tubulares que tem o papel de conduzir o sangue através do nosso corpo. Quando se chamam de veias são normais, elas existem para esta função. A partir do momento que as veias começam a aumentar de tamanho, ficarem mais dilatadas, elas podem se tornar varizes ou vasinhos, que são veias maiores do que o que seria o normal. Vasinhos são aquelas de menor tamanho, ainda que aumentadas e as varizes são aquelas que se vê mesmo em alto relevo, que se palpa, então a diferença dos vasinhos para varizes é o calibre, mas ambos são veias com tamanho acima do que o que seria normal.
Olga Goulart – Doutor Ronald, como é que isso surge, qualquer pessoa pode desenvolver vasinhos ou varizes, tanto homens quanto mulheres?
Dr. Ronald Fidelis – Sem dúvida que sim. Na verdade, a medicina não identificou até hoje uma causa específica para esta condição de varizes e vasinhos. Existem, Olga, alguns fatores que são bem conhecidos, o sedentarismo que é um fator importante para o surgimento dessas indesejáveis condições. A mulher ela tende a ter mais do que o homem, porque o hormônio feminino predispõe mais ao aumento das veias, mas homem também tem, viu? Não pode achar que é coisa só de mulher, não. Excesso de peso, os quilos a mais dificultam o retorno de sangue das pernas. O cigarro, mais uma vez o tabagismo entra no hall dos fatores de risco. Ficar muito tempo em pé no trabalho. A gestação é outro fator feminino que é associado a aparecer mais vasinhos e varizes. Enfim, um conjunto de fatores que, isoladamente ou associados, eles geram esta situação.
Olga Goulart – Tem a questão hereditária aí como uma causa importante de ser investigada, ou não?
Dr. Ronald Fidelis – Existe esta tendência, de famílias com pessoas que tenham varizes, tenham uma prevalência de varizes, mas isso é muito variável, porque nós vemos as vezes assim, pular-se gerações, a mãe não tinha, mas a vó tinha, uma tia eventualmente tinha. Então é um componente, mas não parece ser o principal, parece ser mais a questão comportamental mesmo e uma tendência pessoal de algumas pessoas.
Olga Goulart – Ok. Perguntinhas clássicas: Anticoncepcional, depilação com cera, salto alto, calça justa, isso pode causar vasinhos e varizes?
Dr. Ronald Fidelis – Vamos lá, isso é muito importante porque existe muito mito em torno deste assunto, não é Olga? Primeiro, o anticoncepcional sim, como nós falamos o hormônio feminino consta na lista de fatores para aparecer vasinhos e varizes, então toda vez que se administra uma dose extra de hormônio feminino, a tendência é que aumente a quantidade de vasinhos e varizes.
A depilação a cera, apesar de muitas pacientes e muita gente dizer ou associar esse método com a gênese, com novos vasinhos, não está comprovado, mas se for a cera quente que gera aquele trauma local, aquela inflamação, pode sim ter como consequência mais vasinhos na região.
Salto alto, essa é a pergunta mais feita no consultório. Perceba, o andar normal, o andar fisiológico, quando a gente anda descalço, existe uma movimentação do tornozelo que é natural e ajuda o sangue a ser bombeado de volta ao coração. Estou aqui falando e você pode imaginar, Olga, você andando descalça. Ao se colocar um salto e quanto mais alto ele for, mais você fixa o tornozelo, você anda sem movimentar o pé e isso faz com que a sua panturrilha, sua perna, sua batata da perna não se movimente, não se contraia e isso pode sim ao longo dos anos ser um fator de aumentar vasinhos e varizes.
Calças justa não. Teríamos que ter uma calça excessivamente justa para que chegasse ao ponto de obstruir a circulação.
Olga Goulart – Olha que nós temos hein doutor.
Dr. Ronald Fidelis – Possível é, mas, enfim, não é tão comum. O salto sim ele deve ser usado com moderação, naturalmente.
Olga Goulart – Ok. Bom, além dessa preocupação estética, existe outros inconvenientes que varizes e vasinhos podem causar a uma pessoa que sofre do problema? Quando é que o paciente tem que se preocupar?
Dr. Ronald Fidelis – Na verdade, o começo do problema é o estético, a aparência, o que não é nenhum demérito. Se preocupar nesta fase em que é “apenas estético” é importante porque é a melhor hora de se tratar, mas com o tempo, passando-se esta fase da aparência, se a pessoa não ligar para isso, começa a ter aquele peso, aquela sensação de cansaço no fim do dia, passando uma fase de inchaço das pernas, até o momento em que começa a se alterar a coloração da pele. É como se fosse um engarrafamento, Olga, o sangue ele não retorna bem e começa a gerar uma alteração na pele por conta da estagnação sanguínea nas pernas, que vai ficando pior ao longo do dia, mês após mês, ano após ano.
Olga Goulart – Às vezes também pode ocorrer, inclusive, deste problema mais sério acontecer sem que esteticamente apareça algum vasinho para servir de alerta, não é doutor?
Dr. Ronald Fidelis – Isso. Estes sintomas, estes sinais que a gente falou da dor, do inchaço, do cansaço eles podem preceder a questão da aparência. Nesse aspecto, nesse sentido, uma avaliação médica com um cirurgião vascular de confiança, um angiologista, é importante porque pode ter um processo interno antes de ter um processo aparente, um processo externo.
Olga Goulart – Bom, varizes e vasinhos podem ser tratados com a mesma técnica? Quais são as melhores opções de tratamento?
Dr. Ronald Fidelis – Existem várias delas. Na verdade, as varizes, como nós dissemos, são as de maior tamanho, podem ser operadas, pode se tratar cirurgicamente retirando elas e é importante saber que a cirurgia ela faz um bem sim, porque ao se retirar uma veia que está doente, você vai favorecer a circulação. Então a cirurgia é uma opção, existem métodos a laser hoje para se fazer que substitui algum tipo de cirurgia, mas cada caso deve ser avaliado de forma individual, assim como os vasinhos. Para os vasinhos o tratamento tradicional são as aplicações, a injeção de medicamentos que fazem eles desaparecerem. Cada caso é individual e a opção melhor é sempre decidida junto com o médico.
Olga Goulart – Ok. Existe contraindicação para a realização deste tratamento, seja ele qual for, doutor, considerando por exemplo determinada época do ano, ou não?
Dr. Ronald Fidelis – Isso é muito importante, Olga, porque assim, se a gente considerar que não se podem tratar vasos e varizes no verão, em Salvador é verão o ano inteiro, não é? O quê que tem de verdade nisso aí? Toda vez que está se tratando essa estrutura, esses vasos e varizes, nós provocamos em maior ou menor grau uma certa inflamação da pele, porque os vasos e varizes são muito próximos a pele. Então nesse momento, nessa fase de tratamento em que pode ficar um pouquinho roxo, pode ficar um pouquinho inflamada a pele, deve-se ter cuidado com a exposição direta ao sol, mas nada que um protetor solar bem aplicado fator 30 ou mais, sendo reposto a cada 2 horas no caso quando você está na praia ou na piscina, nada que isso não proteja. Então não é contraindicação tratar vasinhos e varizes, nem no verão, basta se ter alguns cuidados que em última análise Olga, são quase todos os cuidados que temos que ter normalmente, evitar sol entre as 10 da manhã e 15 horas, não colocar o protetor, então o que você não deve fazer nunca, também não deve fazer enquanto está tratando. No mais, é tratar assim, porquê quanto antes começar, mais cedo você vai se ver livre deste problema.
Olga Goulart – Como você falou, os tratamentos avançaram muito para vasinhos e varizes, eles já não são mais tão doloridos quanto antigamente, não é?
Dr. Ronald Fidelis – Sem dúvida. Hoje uma evolução muito grande, hoje nós usamos métodos de resfriamento da pele, jato de ar frio para ser bem claro, entre outros métodos que diminuem o desconforto, mas saber que não existe tratamento sem dor, isso é uma falácia. Ao se tratar um vaso, isso se falando de vasinhos em ambiente de consultório, algum desconforto sempre vai existir, mas esse grau ele hoje é bastante diminuído pelas novas tecnologias e novas técnicas que foram sendo desenvolvidas.
Olga Goulart – Ótimo. São caros doutor? Existe cobertura por planos de saúde?
Dr. Ronald Fidelis – Nos casos estéticos, Olga, não. Tudo o que é estético o plano de saúde interpreta como sendo uma coisa fora da sua obrigação, o detalhe é que boa parte destes casos tem a questão estética também, conta a questão de saúde, então nesse caso sim, boa parte dos planos de saúde cobrem este tratamento, as vezes não oferecendo todas as opções. O laser, por exemplo, é muito questionado nas seguradoras, porém é um método absolutamente estabelecido hoje, com eficácia comprovada, segurança muito grande e faz com que o paciente volte o mais rápido possível para as suas atividades normais.
Olga Goulart – O profissional apto a realizar esse tratamento seja de varizes ou vasinhos é o angiologista, não é doutor?
Dr. Ronald Fidelis – Isso, angiologista e cirurgião vascular, que é a mesma coisa, o mesmo profissional, mas é o especialista médico que está habilitado a diagnosticar, programar e realizar a melhor opção de tratamento de cada paciente.
Olga Goulart – Bom, existe uma queixa também muito comum, que após a realização do tratamento, esses vasinhos e varizes podem voltar a aparecer, talvez não seja nem voltar, mas é porque aparecem novos, é isso?
Dr. Ronald Fidelis – Absolutamente perfeito, Olga, essa também é uma pergunta muito frequente: “doutor eu vou tratar, mas não volta? ”. Primeiro, a pessoa que teve o vaso uma vez, naturalmente ela tem a chance de tê-lo de novo, não aquele vaso que você bem falou, mas um outro vaso naquela região, um vaso que hoje é normal e que no futuro poderá estar dilatado. O que tem que ser feito é escolher um tratamento eficiente para que a velocidade de desaparecimento seja maior do que a de reaparecimento e mesmo num momento em que ficou satisfeito e atingiu o seu objetivo, tem que se fazer uma manutenção daquele resultado que vai variar conforme a tendência de cada pessoa, a maior parte dos pacientes uma sessão anual após ficar bem é suficiente para manter aquele resultado, outras que usam anticoncepcional, que não conseguem fazer atividade física regular, podem até ter que fazer uma manutenção mais frequente, tipo semestral, mas o fato é que o que se tratou não volta, podem voltar outros vasos novos na mesma região.
Olga Goulart – Então nós temos o que fazer para evitar o aparecimento dos vasinhos e das varizes, não é? Até me remetendo aqui ao início da nossa entrevista onde você citou a questão do sobrepeso, das pessoas que não praticam nenhum tipo de atividade, o que mais nós poderíamos relacionar aqui como uma forma preventiva, doutor?
Dr. Ronald Fidelis – É isso Olga, parece lugar comum esse discurso médico da alimentação saudável, do exercício regular, mas mais uma vez é a mais pura verdade. Diminuir a ingestão de sódio, de sal e lembrar que sal não é só aquele pozinho branco que a gente põe na comida, o sal está em todos os alimentos industrializados e em todas as massas. Então reduzir esta ingesta de sal consequentemente você retém menos líquido, o líquido vai se acumular menos na sua perna ao ficar em pé, esse líquido que não está lá não vai forçar a veia normal virar um vaso ou varizes. Então a alimentação é o começo de tudo. Exercitar-se regularmente, mais uma vez, deixa sua perna mais tonificada, a sua musculatura especialmente da batata da perna mais eficiente, ajudando o sangue a ser bombeado de volta para o coração, então é outro fator. Consequentemente o peso ficar na faixa ideal também previne ou diminui a tendência de novos casos. Não fumar, dispensa-se dizer, mas o cigarro também inflama o vaso fazendo ele ficar mais flácido, mais fraco podendo gerar varizes e a questão familiar está não tem recurso, mas a questão comportamental essa sim pode e, vou te dizer, faz toda a diferença a médio e longo prazo.
Olga Goulart – Podemos até estender aí essa sua resposta para pessoas que vão fazer viagens mais longas, viagens de avião, que pudessem parar eventualmente e fazer um exerciciozinho para a panturrilha, não é?
Dr. Ronald Fidelis – Essa questão da viagem, Olga, ela diz respeito também a vasinhos e varizes, mas ela traz uma questão um pouquinho mais séria que é a trombose, que você ficar muito tempo parado numa posição com a perna pendente em uma viagem de avião, por exemplo, em que não se tem muito espaço para se movimentar, pode acontecer essa condição. Existe uma relação sim Olga, de vasinhos e varizes com a trombose, mas essa relação não é tão forte. As pessoas têm que se cuidar, mas saber que trombose é uma doença e os vasinhos e varizes são outro tipo de doença, há uma conexão, mas não tão forte quanto as vezes se acha, se acredita.
Olga Goulart – Conversamos com o médico Ronald Fidelis, especialista em angiologia e cirurgia vascular. Muito obrigado doutor e até a próxima.