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Angiologia e Cirurgia Vascular

Tema: Mulheres sofrem mais risco de AVC do que homens

Por Dra. Jamile Oliveira Borges

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 Olga Goulart: As mulheres correm um risco maior de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como derrame, e são mais propensas a morrer por esta doença do que os homens. As razões para isso são variadas: distúrbios relacionados à pressão alta e outros problemas na gravidez, fatores hormonais, uso de pílulas anticoncepcionais, enxaquecas e problemas cardíacos são algumas das mais conhecidas. Para explicar melhor esta questão, conversamos com a Angiologista Drª. Jamile Borges.

 

Viva Mais Viva Melhor – Doutora, primeiramente, conta pra gente, quais são os fatores de risco do AVC que não fazem distinção de gênero, ou seja, existem igualmente para homens e mulheres?

Drª Jamile Borges – Os principais fatores de risco são, hipertensão arterial sistêmica, o diabetes mellitus, o tabagismo, a dislipidemia que é a doença do colesterol e triglicerídeos, a obesidade e sedentarismo

 

Viva Mais Viva Melhor – Entre as mulheres que tem uma incidência maior de AVC quais são as situações mais relevantes?

Drª Jamile Borges – Existem duas, os fatores hormonais relacionados a menopausa com a redução da produção do estrogênio aumentando o risco de doença lateral escleróticas e uso de anticoncepcionais orais combinados que geram alterações no sistema de coagulação favorecendo ao desenvolvimento de ventos tromboembólicos.

 

Viva Mais Viva Melhor – Como as mulheres podem prevenir ou pelo menos reduzir o risco de AVC?

Drª Jamile Borges – Realizar um acompanhamento regular com seu médico assistente que seria o mais indicado, ele vai avaliar os seus fatores de risco, a partir disso, podem modificar os seus hábitos de vida que levem uma melhor intervenção nesses fatores e no caso dos fatores não modificados de componente genético, avaliar o risco maior ou não associados a esses.

 

Viva Mais Viva Melhor – Como é feito o rastreamento de mulheres com maior risco de terem um AVC?

Drª Jamile Borges – Na avaliação médica o próprio médico pode solicitar realização do doppler de carótidas e vertebrais e indicar toda uma investigação cardiológica e realizar exames laboratoriais para acompanhamento principalmente do perfil glicêmico e lipídico

 

Viva Mais Viva Melhor – Os sinais e sintomas de um AVC são os mesmos em homens e mulheres? Quais são eles?

Drª Jamile Borges – Os sinais e sintomas dos quadros de AVC não se modificam em relação do sexo do paciente, está relacionado a depender da área do cérebro que é acometida na lesão. Os pacientes podem apresentar mais comumente alterações motoras, de equilíbrio, na fala, além de alterações visuais e auditivas, e também alteração no nível de consciência.

 

Viva Mais Viva Melhor – Se a pressão alta durante a gravidez é um sinal de alerta para o AVC, o que pode ser feito para evitá-la?

Drª Jamile Borges – A gestante deve manter seu acompanhamento pré-natal de rotina regularmente conforme orientação do seu obstetra e assim fazer uma avaliação periódica dos seus níveis pressóricos associados ao controle da alimentação, ajustar com uma nutricionista as suas necessidades, também é importante o controle laboratorial do perfil glicêmico e lipídico, assim também como o de metabolismo renal.

 

Viva Mais Viva Melhor – Doutora Jamile, recebemos a seguinte pergunta de uma jovem que segue nossa Fanpage: tenho pressão alta desde meus 19 anos. Hoje tenho 24 e estou pensando em começar a tomar anticoncepcional para evitar a gravidez, mas ouvi dizer que pelo meu quadro de hipertensão, mesmo que controlado com medicamentos, corro risco de ter um AVC se tomar pílula. Isso faz algum sentido?

Drª Jamile Borges – Mulheres que fazem uso de anticoncepcionais orais combinados podem apresentar alterações significativas no sistema de coagulação que vai acarretar um aumento de algumas substancias como trombina e os fatores de coagulação e redução dos inibidores naturais da coagulação, esses atuam na parede do vaso influenciando os fatores que estimulam a disfunção endotelial dentro do vaso, essas transformações são favoráveis ao desenvolvimento de eventos tromboembólicos, como AVC e tromboembolismo pulmonar.

 

Viva Mais Viva Melhor – Qual a relação das arritmias cardíacas com a ocorrência de AVC no público feminino?

Drª Jamile Borges – A arritmia cardíaca está mais relacionada ao AVC a fibrilação atrial, que provoca uma corrente sanguínea irregular que vai facilitar a formação de tropos sanguíneos, que são semelhantes aos coágulos dentro do coração, esses podem gerar pequenos fragmentos embólicos dentro do vaso que vão chegar até o cérebro diminuindo o fluxo sanguíneo cerebral ocasionando o AVC, nesse caso do tipo isquêmico, esse é o tipo de AVC que mais acometem as mulheres

 

Viva Mais Viva Melhor – Doutora, é verdade que nos homens, as doenças cardiovasculares se manifestam mais cedo e nas mulheres elas surgem a partir de idades mais avançadas? Se isso é verdade, qual a explicação? Existe alguma relação com a menopausa?

Drª Jamile Borges – É verdade, o comprometimento mais precoce no homem, grande parte também associado pela falta do hábito de acompanhamento médico regular desde cedo da maioria do sexo masculino, podendo realizar prevenções de algumas patologias e evitar eventos mais graves. Mas as mulheres a partir de 50 anos em média estão mais propensas em desenvolver o AVC, isso acontece porque ao entrar na menopausa o corpo da mulher reduz a produção de estrogênio que é o hormônio feminino que tem o papel protetor contra a formação e o acumulo de placas que obstruem o vaso sanguíneo que é conhecida como a doença aterosclerose, que causa o AVC.

 

Viva Mais Viva Melhor – Doutora Jamile, o que fazer diante de uma pessoa com sinais de AVC? Como ter certeza que são sintomas de um derrame?

Drª Jamile Borges – Diante a suspeita de AVC deve-se procurar um suporte médico imediatamente e se encaminhar para um serviço de emergência mais próximo, uma intervenção médica rápida nesses casos podem mudar as consequências para o paciente, não tem como uma pessoa leiga ter 100% de certeza do quadro até uma avaliação médica especializada, do neurologista associada a tomografia computadorizada de crânio que são os procedimentos indicados na realização da suspeita do AVC que vão fazem com que levem ao melhor tratamento para o paciente, deve também ser afastado patologias infecciosas e metabólicas que podem simular um quadro bem parecido.

 

Viva Mais Viva Melhor – Como é feito o diagnóstico do AVC? Além dos sinais clínicos, que exames são necessários para confirmar a doença?

Drª Jamile Borges – O diagnóstico é feito através de uma avaliação neurológica do paciente, vão ser feitas aplicações de escalas que já são padronizadas para avaliação da suspeita do AVC e a realização da tomografia de crânio afastando outras causas, as metabólicas e infecciosas que podem entrar como fatores para confundir o diagnóstico, assim como realizar também exames laboratoriais e cardiológicos pensando também em afastar causas cardíacas como as arritmias causadoras do AVC

 

Viva Mais Viva Melhor – De modo geral, quais são as opções de tratamento e reabilitação para a paciente que sofreu um AVC?

Drª Jamile Borges – Além de suporte na unidade hospitalar, tem as opções dependendo o tipo do AVC, tem o AVC hemorrágico quando ocorre o sangramento do vaso no cérebro e precisa ser avaliado por uma equipe de neurocirurgia para uma possível abordagem cirúrgica caso seja necessária, mas o AVC isquêmico que é o mais comum nas mulheres tem a possibilidade de tratamento com medicamentos trombolíticos que tem um efeito sistêmico no organismo ou através de abordagens locais próximos da lesão que é através do tratamento endovascular que são realizados por profissionais da neurocirurgia e radiologia intervencionista, ainda ocorrem casos que nenhum desses dois tratamentos podem ser realizados e infelizmente o paciente não tem esse benefício, já a reabilitação desses pacientes dependerá da gravidade da lesão e do seu comprometimento neurológico no total, no entanto um suporte com equipe multidisciplinar com médicos, profissionais da enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais fazem diferença numa boa recuperação do paciente.

 

Viva Mais Viva Melhor – Conversamos com a angiologista Drª. Jamile Borges sobre o AVC, com destaque na maior incidência desta doença nas mulheres em relação aos homens. Doutora, muito obrigada por seus relevantes esclarecimentos e até a próxima!