Nossas Entrevistas
Cirurgia Oncológica
Tema: Tratamento Cirúrgico do Câncer
Por Dr. Thiago Francischetto
(071) 99... Ver mais >
Viva Mais Viva Melhor – Uma das opções mais antigas no tratamento contra o câncer, a cirurgia oncológica é usada no diagnóstico, no estadiamento e no tratamento de quase todos os tumores sólidos. Nos dias atuais a abordagem multidisciplinar, ou seja, a associação de diversas modalidades terapêuticas, gera melhores resultados no que diz respeito a cura, a sobrevida e principalmente na qualidade de vida do paciente. Porém, é preciso muito cuidado para não deixar que a doença se espalhe durante o procedimento. E para esclarecer as dúvidas a respeito deste assunto quem conversa conosco é o médico, doutor Thiago Francischetto, especialista em cirurgia oncológica.
Doutor, primeiramente vamos contar para os ouvintes o quê que é levado em consideração na hora de se escolher a cirurgia como pilar principal no tratamento do câncer?
Dr. Thiago Francischetto – Então Olga, hoje é ainda, apesar de todos os avanços que estão fazendo na quimioterapia, no tratamento oncológico com radioterapia, a cirurgia é ainda assim o tratamento principal de muitos tumores. Para a gente considerar realmente a cirurgia como tratamento principal vários fatores devem ser levados em consideração. Depende do tipo de tumor, da localização do tumor, do estágio em que ele está e várias características do tipo histológico, várias características do tumor são levadas em consideração para a gente saber realmente qual vai ser a melhor estratégia, se é melhor começar com a cirurgia ou se é melhor fazer algum tratamento antes. Então isso tudo depende do tipo de tumor, do estágio em que a doença está, como o paciente também está para ver se ele está bem ou não para suportar uma cirurgia de grande porte e tudo isso é levado em consideração.
Viva Mais Viva Melhor – É correto afirmar que a cirurgia oncológica exige cuidados adicionais que outras modalidades cirúrgicas não exigem?
Dr. Thiago Francischetto – Isso é muito importante também, Olga. A gente sabe que hoje tem um especialista que cuida de problema circulatório, tem um especialista que cuida do coração e até então não existia um especialista que era referência do tratamento de câncer, do tratamento cirúrgico do câncer e a gente sabe que a cirurgia é fundamental. Então a gente tem que respeitar certos princípios que são importantes para o sucesso do tratamento do paciente. Uma cirurgia de um tumor não é igual a uma cirurgia por um problema benigno, a gente tem que respeitar margens de segurança, fazer uma linfadenectomia adequada. Vários critérios têm que ser respeitados durante a cirurgia para que a gente consiga fazer uma boa cirurgia e que o paciente se beneficie dela a longo prazo.
Viva Mais Viva Melhor – A cirurgia oncológica é igual para todos os tipos de cânceres, doutor?
Dr. Thiago Francischetto – Não, não é igual. Cada câncer tem um tipo específico de cirurgia que deve ser feita. O que é igual é que a gente deve sempre respeitar o que a gente chama de princípios oncológicos, que a gente deve sempre que tirar um tumor maligno tirar com margem de segurança, a drenagem linfática deste tumor também deve ser retirada junto com a lesão e isso tudo depende do tipo de tumor que a gente está, depende do diagnóstico histológico e do estadiamento para a gente saber realmente até onde a gente vai com a cirurgia. Hoje a gente fala de cirurgia oncológica até mesmo para tratar doença metastática, as vezes com o intuito de fazer uma cirurgia que pode beneficiar este paciente por muito tempo.
Viva Mais Viva Melhor – Qual a cirurgia mais simples e a mais complicada no tratamento do câncer, doutor Thiago?
Dr. Thiago Francischetto – Olga, esta é uma pergunta mais complicada. Eu diria que todas as cirurgias são bem complexas para o tratamento do paciente com o câncer. Existem cirurgias mais longas, mais delicadas, cirurgias mais complexas e com risco maior, mas a gente não pode também, às vezes diante de uma cirurgia de menor porte tratando de câncer, apesar disso ainda assim a gente tem que tomar todos os cuidados e tratar como se tivesse realmente diante de uma cirurgia de maior porte. Eu diria que a cirurgia de pâncreas e cirurgia de fígado são as mais complexas do trato digestivo, mas existe também cirurgia de pulmão, neurológicas e outras cirurgias bastante complexas também.
Viva Mais Viva Melhor – O paciente oncológico que é tratado com cirurgia ele pode obter cura?
Dr. Thiago Francischetto – Sem dúvida, sem dúvida! Por exemplo, para tumores sólidos do aparelho digestivo, ou seja, tumores de estômago, de pâncreas, de fígado, o único tratamento que pode conferir a cura é a cirurgia. Em algum momento este paciente tem que operar, tem que fazer a cirurgia para poder tratar. Então o paciente pode obter cura, principalmente aqueles que chegam com uma doença localizada, que não tem metástase, que não tenha espalhado para outros lugares, com certeza podem sim obter cura.
Viva Mais Viva Melhor – Qual o tipo de paciente oncológico que costuma obter os melhores resultados?
Dr. Thiago Francischetto – Eu diria que são aqueles que chegam com a doença mais localizada, que a gente chama de estadiamento mais inicial. São aqueles com poucos sintomas, que estão com o estado geral muito bom, que permitem realmente a gente poder oferecer todo o tratamento que é possível, porque muitas vezes o paciente chega já bastante debilitado, existe a possibilidade de tratar, mas ele está tão debilitado que a gente não consegue nem fazer uma cirurgia de maior porte ou uma quimioterapia. Então eu diria que são estes pacientes com tumores iniciais, bom estado nutricional, boas condições clínicas, com condições saudáveis para a gente realmente poder oferecer um bom tratamento para ele.
Viva Mais Viva Melhor – É correto afirmar que a indicação do tratamento vai depender do estado do tumor e também do estado de saúde geral do indivíduo?
Dr. Thiago Francischetto – Exatamente, perfeito! São duas coisas fundamentais, não adianta a gente focar só no tumor, avaliar ele e achar que dá para tirar, mas se o paciente também não tem condições clínicas de ser submetido ao tratamento que a gente quer. Então são dois fatores importantíssimos, o estágio da doença e as condições clínicas do paciente. Isso são coisas que realmente definem qual vai ser o tratamento que a gente vai oferecer a estes pacientes. Estas são coisas que a gente, só no dia-a-dia, vai vendo bastante o paciente e vai vendo a reação que ele vai tendo ao tratamento que a gente vai conseguir dizer realmente quem é que consegue se submeter a tal tratamento ou não. São coisas importantes que devem ser levadas em consideração no tratamento.
Viva Mais Viva Melhor – Doutor Thiago, qual o tipo de câncer que é tratado com maior frequência?
Dr. Thiago Francischetto – Eu trato bastante, Olga, tumores do aparelho digestivo e tumores de pele com o melanoma também. Trabalho no Aristides Maltez e lá a gente fica nesta equipe de tumores do aparelho digestivo e então a gente vê pacientes com frequência com tumores de estômago, pâncreas, intestino, fígado, estas lesões geralmente no abdome e também bastante tumores de pele, alguns pacientes com melanoma que é um tumor de pele com comportamento bem agressivo e que a gente tem que estar atento realmente. Estes tumores são os tumores que a gente mais trata no dia-a-dia.
Viva Mais Viva Melhor – Como que é feito o tratamento cirúrgico, doutor? Quais são os tipos de cirurgia disponíveis para tratar, por exemplo, o câncer de pâncreas?
Dr. Thiago Francischetto – Hoje a gente tem avançado bastante no tratamento cirúrgico. Antigamente sempre que a gente tratava o câncer a gente falava de cirurgia com cortes grandes, com grandes incisões. Hoje a gente está cada vez fazendo uma cirurgia que a gente chama mais personalizada para cada paciente. Então a gente consegue fazer cirurgias minimamente invasivas como por videolaparoscopia e isso tem uma implicação depois na recuperação do paciente que é muito importante. Especificamente para o pâncreas existem várias opções de tratamento, desde a ressecção local da lesão, até a ressecção mais alargadas com a retirada de parte do pâncreas e, às vezes, até todo o pâncreas a depender da extensão do problema.
Viva Mais Viva Melhor – Após a cirurgia o paciente pode se alimentar normalmente? Quais são os possíveis efeitos colaterais de uma cirurgia deste porte, do câncer de pâncreas?
Dr. Thiago Francischetto – Ele pode se alimentar normalmente sim. O pâncreas é um órgão importante tanto na produção de substâncias, de hormônios que vão ajudar no controle da glicemia e também é importante na absorção de certos alimentos. Apesar de a gente operar e, às vezes, tirar 40 a 50% do pâncreas, ainda assim a parte que fica, a parte remanescente na grande maioria das vezes o paciente consegue ainda assim levar uma vida normal, se alimentando bem e sem diabetes. O que acontece é que ele vai ter uma maior predisposição, ele vai ter que ter maior cuidado realmente com a alimentação, evitar ganhar peso para evitar que outros fatores também junto com o fato dele já ter tirado o pâncreas não se somem e favoreçam ele a ter outros problemas. Mas na grande maioria das vezes o paciente volta a se alimentar e a levar uma vida normal, sem nenhuma maior complicação.
Viva Mais Viva Melhor – Quais são os fatores de risco para o câncer de pâncreas? Como nós podemos nos prevenir contra a doença?
Dr. Thiago Francischetto – O câncer de pâncreas é um tumor bastante agressivo, a gente não tem nenhum método de screening como a gente tem, por exemplo, para o câncer de mama e próstata. Os principais fatores de risco deles são principalmente o tabagismo e o alcoolismo, estes são dois fatores que juntos aumentam muito o risco do câncer de pâncreas. Estes pacientes que ingerem bastante álcool podem ter também o problema de pancreatite crônica, que é um outro fator de risco também para o câncer de pâncreas. Então eu diria mais uma vez que ter uma vida saudável, se alimentar bem, evitar fumar e beber é fundamental para prevenir não só o câncer de pâncreas, mas para todas as outras neoplasias.
Viva Mais Viva Melhor – Conversamos com o doutor Thiago Francischetto, especialista em cirurgia oncológica. Doutor, muito obrigada e até a próxima.