Nossas Entrevistas
Ginecologia e Obstetrícia
Tema: Reposição Hormonal
Por Dr. Alan Coutinho
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Viva Mais Viva Melhor – Fase natural da vida para todas as mulheres, a menopausa vem acompanhada de alguns sintomas desagradáveis como ondas de calor, irritação, secura vaginal, redução na libido, dificuldade de concentração, entre outras coisas. Por isso, a terapia de reposição hormonal é necessária para repor a carência hormonal produzida pela falência ovariana. A finalidade do tratamento é aliviar estes sintomas e melhorar a qualidade de vida das mulheres. Porém, muitas dúvidas ainda surgem sobre o tema. Para esclarecê-las, quem conversa conosco hoje é o doutor Alan Coutinho, especialista em ginecologia e obstetrícia.
Doutor, primeiramente, explica para os nossos ouvintes o quê que é a menopausa e quais são os sintomas?
Dr. Alan Coutinho – Bem, a menopausa não é uma doença. A menopausa é uma fase de um processo natural que se caracteriza pelo fim da capacidade de procriar e acontece quando os ovários deixam de produzir os hormônios sexuais de forma total ou parcial. Sendo que na menopausa acontece a perda dos atributos femininos que fazem da mulher o principal alvo da atenção, do afeto, da admiração e do desejo masculino. Sendo os principais sintomas a irregularidade da menstruação e, por fim, a suspensão da sangria menstrual, surgimento do fogacho, que são ondas de calor súbitos e intensos que iniciam na face e se espalham por todo o corpo, sendo capazes até de fazer a mulher desmaiar, aparecimento de secura na pele, secura e desconforto vaginal, queda de cabelo, enfraquecimento dos dentes, das unhas, dos ossos, perda de memória, depressão, comportamento pessimista. Além de um desinteresse sexual pelo marido ou pelo parceiro.
Viva Mais Viva Melhor – O que é a reposição hormonal, doutor, e qual que é a sua finalidade?
Dr. Alan Coutinho – A reposição hormonal é um tratamento médico para pacientes que deixaram de produzir hormônios. Deve ser administrada nas menores doses possíveis para atender as necessidades básicas hormonais do corpo. Existem mais de 80 tipos de hormônios produzidos pelo nosso corpo, sendo que, atualmente, as principais reposições hormonais são: reposição de insulina, para diabético do tipo I, reposição de tiroxina ou triiodotironina, em pacientes com deficiência dos hormônios da tireoide, reposição de hormônios de crescimento, em crianças com deficiência no crescimento, e a reposição de hormônios sexuais, para as mulheres na menopausa e para os homens na andropausa.
No caso da menopausa a reposição hormonal é o cuidado médico que devolve à mulher os hormônios sexuais que deixou de produzir em virtude da falência total ou parcial dos ovários. Os hormônios sexuais além de dar desejos, são responsáveis pela saúde física dos ossos, dos músculos, pele, cartilagem, articulações, coração e do cérebro.
Portanto, a finalidade da reposição hormonal é aliviar os sintomas físicos como fogacho, secura vaginal, dores articulares, ressecamento da pele, perda de dentes, fratura dos ossos, queda de cabelo e dos sintomas psíquicos como depressão, irritabilidade, baixa de interesse sexual e, desta forma, assegurando uma melhor qualidade de vida para a mulher.
Viva Mais Viva Melhor – A terapia de reposição hormonal, então, poderia cessar o processo natural, este desconforto provocado pela menopausa?
Dr. Alan Coutinho – O desconforto sim, mas o processo não. A reposição hormonal não interrompe a evolução da menopausa, mas alivia os sintomas causados por ela. Pois a menopausa é um processo natural que se caracteriza pelo fim da capacidade de procriar e acontece quando os ovários deixam de produzir os hormônios sexuais de forma total ou parcial. A reposição dos hormônios não consegue devolver aos ovários a capacidade de produzir novamente os hormônios sexuais. Talvez, no futuro, a ciência consiga descobrir uma forma de manter a produção natural de hormônios sexuais pelos ovários. Contudo, até o momento, a ciência não descobriu como fazer isso e a melhor maneira de aliviar os sintomas causados pela menopausa é fazer a reposição hormonal.
Viva Mais Viva Melhor – E quando deve começar a fazer a terapia de reposição hormonal, doutor?
Dr. Alan Coutinho – Para iniciar a reposição hormonal são analisados, em conjunto, os sintomas, a idade, os níveis sanguíneos hormonais e o padrão menstrual. Em relação aos sintomas, a reposição hormonal deve ser iniciada quando os sintomas da menopausa estiverem levando a uma perda da qualidade de vida da paciente. Em relação à idade, a reposição hormonal é iniciada, geralmente, entre os 48 e 52 anos de idade, sendo de preferência antes dos 60 e com menos de 10 anos da menopausa. Em relação à menstruação, a reposição hormonal geralmente é iniciada 1 ano após a última menstruação, data esta que caracteriza a menopausa. E, em relação aos níveis hormonais, a reposição é iniciada quando os níveis de estradiol estão menores do que 30 e os níveis de FSH maiores que 30 por um período maior que 1 ano. Sendo que todos estes dados são analisados conjuntamente para indicar o início da reposição hormonal com o objetivo de aliviar os sintomas de fogachos, diminuir o risco de fratura dos ossos, de diabetes, de doenças cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida da mulher.
Viva Mais Viva Melhor – Todas as mulheres podem se submeter a terapia de reposição hormonal quando a menopausa chegar?
Dr. Alan Coutinho – Não, nem todas as mulheres podem fazer a reposição hormonal. Porém, são poucas as que possuem contraindicações absolutas para o risco. A reposição não deve ser recomendada para mulheres que tiveram câncer de mama. Contudo, esta contraindicação se dá atualmente mais pela falta de evidência científica de segurança do uso do estrogênio em mulheres que já tiveram câncer de mama do que pela clara evidência do risco na sua utilização. Já mulheres com histórico de um tipo de câncer de ovário, o tipo endometrioide não podem fazer reposição hormonal. Os outros tipos de cânceres de ovário não estão contraindicados o seu uso. Mulheres com histórico de câncer de endométrio também não deve ser recomendada a reposição hormonal. Mulheres com doenças cardiovasculares graves ou histórico de infarto não devem também fazer o uso de reposição hormonal. Portanto, se a mulher não tem nenhum problema grave com as mamas, com o útero, com o ovário ou com o coração, a reposição hormonal pode ser feita de forma tranquila, principalmente se iniciada antes dos 60 e com menos de 10 anos da menopausa.
Viva Mais Viva Melhor – Quais são as opções de terapia de reposição hormonal disponíveis, doutor?
Dr. Alan Coutinho – Bem, podemos dividir a reposição hormonal em dois grupos. Primeiro, na forma como a medicação é dada. Segundo, pelo tipo de hormônio utilizado. Em relação à via de administração, ela pode ser feita por via oral por meio de comprimidos, pela pele por meio de um gel transdérmico, pela mucosa vaginal por meio de um gel intravaginal ou por via subcutânea através da colocação de implantes inseridos embaixo da pele.
Em relação ao tipo de hormônio, a reposição pode ser dividida em dois tipos, em hormônios naturais e hormônios não naturais. Os hormônios naturais podem ser divididos já em dois tipos, em bioidênticos e os não bioidênticos. Os hormônios naturais bioidênticos são aqueles que têm a estrutura molecular e química idêntica aos produzidos pelo corpo humano, os exemplos são: estradiol, testosterona, progesterona, insulina e hormônio do crescimento. Os naturais não bioidênticos são aqueles que não são produzidos pelo corpo humano, mas que são hormônios produzidos pela natureza, os exemplos são os hormônios extraídos dos vegetais, como a da isoflavona da soja e da amora.
Já os hormônios não naturais são hormônios sintetizados pelo homem e não são encontrados na natureza, os exemplos são Tibolona, etnilestradiol, proprionato de testosterona e a medroxiprogesterona. Acreditamos que o ideal é utilizar uma reposição hormonal em mulheres sem contraindicações iniciada antes dos 60 anos e com menos de 10 anos de menopausa, hormônios naturais bioidênticos, com as menores doses capazes de aliviar os sintomas e por uma via subcutânea ou transdérmica.
Viva Mais Viva Melhor – O tratamento via oral causa menos problema do que aqueles feitos com adesivos e injeções?
Dr. Alan Coutinho – Pelo contrário. Na verdade, o tratamento por via oral pode causar mais problemas do que o feito com adesivos, gel ou implantes. O tratamento feito com adesivos, gel ou implantes subcutâneos têm uma menor quantidade de efeitos colaterais, menos contraindicações e menores complicações quando comparados com o tratamento por via oral. Um exemplo é que a terapia por via oral tem o maior risco de trombose, quando comparados com os adesivos, o gel ou o implante. Isso porque os comprimidos são feitos com hormônios não bioidênticos, tendo uma dose maior de hormônios pois precisam passar pelo ácido do estômago, precisam atravessar o fígado antes de chegar na corrente sanguínea. Estes fatores levam ao aumento do sistema de coagulação do sangue, podendo, desta forma, aumentar o risco de trombose. Já a maioria dos adesivos, gel ou implantes utilizam hormônios bioidênticos, com menores doses e que não alteram o sistema de coagulação por não realizarem a primeira passagem pelo fígado, já que eles vão direto da pele para a corrente sanguínea onde é distribuído para todas as células do corpo.
Viva Mais Viva Melhor – Doutor, o que são os hormônios bioidênticos?
Dr. Alan Coutinho – Bem, a palavra bioidêntica significa igual a vida e refere-se a uma substância cuja a estrutura molecular e química é exatamente idêntica aos hormônios produzidos pelo corpo humano independentemente da fonte da qual se originam, assim podem ser de origem natural ou sintetizados em laboratório. Os hormônios bioidênticos são uma evolução na terapia de reposição hormonal. A insulina usada em pacientes com diabetes tipo I é um bom exemplo da superioridade da reposição hormonal bioidêntica que antes não era bioidêntica e causava uma grande quantidade de efeitos adversos a ponto de ter sido rapidamente trocado pela insulina humana bioidêntica produzida por meio de tecnologia que utiliza o DNA. Pessoalmente, eu acredito que a evolução dos usos dos hormônios bioidênticos com as menores doses capazes de aliviar os sintomas em mulheres sem contraindicações iniciadas antes dos 60 e com menos de 10 anos da menopausa, é a melhor forma de terapia de reposição hormonal.
Viva Mais Viva Melhor – Até quando é necessário fazer a terapia de reposição hormonal, doutor?
Dr. Alan Coutinho – A duração do tratamento da reposição hormonal ainda é um dos assuntos mais controversos na literatura médica. Não existe uma regra que funcione para todas as mulheres, cada caso deve ser avaliado, individualmente, e o acompanhamento deve ser feito com regularidade. Não existe uma idade máxima na qual a reposição hormonal deve ser suspensa. A reposição deve ser suspensa a partir do momento em que a relação dos benefícios X risco não for mais vantajosa. No geral, os benefícios superam os riscos quando a reposição é iniciada antes dos 60 e com menos de 10 anos da menopausa. A dose de tempo do uso de reposição hormonal para o tratamento dos sintomas da menopausa deve ser individualizada e cada mulher ser considerada de forma particular. Portanto, na prática, a reposição hormonal deve ser mantida até a próxima consulta, onde cada nova consulta de revisão será avaliada de forma conjunta com a paciente a necessidade de continuar ou de interromper o tratamento.
Viva Mais Viva Melhor – Mulheres que já retiraram o útero precisam fazer a reposição hormonal?
Dr. Alan Coutinho – A mulher que tira o útero não precisa fazer a reposição hormonal por causa da retirada apenas do útero, isto porque o útero não produz os hormônios sexuais, quem produz estes hormônios na mulher são os ovários. Já as mulheres que tiraram o útero e os ovários devem fazer a reposição hormonal, caso não tenham contraindicações. Nas mulheres que tiraram apenas o útero sem a retirada dos ovários, estas devem fazer a reposição hormonal apenas quando os sintomas da menopausa surgirem. Entretanto, se a mulher realizou a cirurgia por causa de um câncer de endométrio, ou por causa de um câncer de ovário do tipo endometriótico, esta reposição hormonal está contraindicada mesmo se ela tiver sintomas.
Viva Mais Viva Melhor – Quem faz o uso de hormônios engorda, doutor?
Dr. Alan Coutinho – Bem, na natureza a vida tende ao equilíbrio. Portanto o que engorda é a falta ou o excesso dos hormônios. A palavra hormônio tem origem grega e significa “pôr em movimento”, sendo que durante a menopausa a falta de hormônio sexual leva a uma das principais causas da obesidade, que é o sedentarismo, pois sem o hormônio de se pôr em movimento a pessoa perde o estímulo de estar se movimentando.
Outra consequência da baixa hormonal são as perdas físicas que alteram a aparência da mulher contribuindo para o retraimento que a leva ao isolamento e consequentemente a inatividade, agravando as perdas dos ossos, dos músculos e promovendo o ganho de peso. Por fim, costumo brincar dizendo que a principal causa da obesidade é a boca nervosa e a perna preguiçosa, ou seja, ao ser sedentário e se alimentar inadequadamente acontece um balanço negativo onde a ingesta de muitas calorias associada a queima de pouca energia causa o acúmulo de gordura. No caso específico da reposição hormonal feita com estrogênio em doses adequadas não ocorre o acúmulo de gordura. Pelo contrário, as mulheres que fazem reposição hormonal adequada costumam ser mais ativas e ter menos gordura acumulada, além de ter um menor risco de desenvolver a diabetes do tipo II.
Viva Mais Viva Melhor – Depois que a terapia é interrompida a mulher envelhece mais rápido?
Dr. Alan Coutinho – Envelhecimento é um processo de desgaste do corpo que se inicia quando nos tornamos adultos e que ainda não sabemos o que pode ser feito para que o envelhecimento não aconteça. As causas do envelhecimento ainda não são totalmente entendidas pela ciência. Parece que somos programados geneticamente para ficarmos velhos e morrer, infelizmente. Mas uma das causas de envelhecimento são os danos do DNA, causados por agentes a exemplo do cigarro, vírus, álcool, exposição excessiva ao sol, obesidade e sedentarismo.
No caso da reposição hormonal com estrogênio em doses fisiológicas na janela de oportunidade, isso leva a uma proteção do DNA, diminuindo os danos e falhas no organismo. Por exemplo, mulheres que fazem reposição hormonal têm ossos mais fortes e correm menor risco de fratura em relação às que não fizeram reposição hormonal. Contudo, com a suspensão da reposição hormonal, o efeito protetor sobre a densidade óssea declina rapidamente, embora ainda possa manter algum grau de proteção contra fraturas.
Atualmente, o que é aceito pela ciência como medidas para aumentar a longevidade de forma saudável são atitudes congênitas como adotar uma dieta com restrição de calorias e ricos em alimentos funcionais, ter uma boa qualidade de sono, promover iniciativas para a prevenção do estresse crônico, além de ser fisicamente e socialmente ativa. Portanto, a reposição hormonal é apenas uma parte pequena de um grande quebra-cabeça que não irá conseguir interferir de forma positiva na longevidade saudável caso a pessoa tenha um estilo de vida estressante, durma mal, seja sedentária, se alimente de forma inadequada ou seja intoxicada pela solidão.
Viva Mais Viva Melhor – Para finalizar, doutor, o fato de fazer a reposição hormonal de tudo o que você explicou é muito controverso afirmar que pode causar câncer.
Dr. Alan Coutinho – Realmente, este é um assunto muito delicado e controverso, só o tempo mostrará a verdade. Mas eu direi minha opinião pessoal sobre o assunto. Eu acredito que a reposição hormonal com hormônios naturais bioidênticos em uma dose fisiológica não leve a um dano no DNA e consequentemente não é uma causa de câncer. Existem evidências científicas que a reposição hormonal não aumenta o risco de câncer de pulmão, de colo, de útero, de ovário, de fígado, estômago, tireoide, bexiga, rins e nem da pele. Além disso, mulheres com antecedentes destes tipos de cânceres não têm contraindicação para continuar utilizando a reposição após o câncer. Eu gosto de explicar a relação dos hormônios com o câncer por meio de uma analogia que compara o câncer com uma semente. Veja bem, se eu tenho uma terra e coloco uma semente na terra, ela cresce bem lentamente. Se eu coloco adubo na terra, a semente vai crescer muito rapidamente. Mas se eu coloco adubo em uma terra sem semente, nada irá acontecer. Por isso, então, se a pessoa não tem a semente do câncer, a reposição não irá causar o câncer, mas se a semente existir ela poderá fazer crescer mais rápido.
Viva Mais Viva Melhor – Ok. Conversamos com o médico doutor Alan Coutinho, especialista em ginecologia e obstetrícia. Doutor, muito obrigada e até a próxima!