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Ortopedia e Traumatologia

Tema: Hérnia Discal

Por Dr. Carlos Henrique Araujo Silva

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Olga Goulart – Você sabia que de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de 80% da população mundial vai experimentar a dor nas costas em algum momento da vida? E um dos problemas que mais levam as pessoas ao médico é a formação de hérnias discais lombares. A principal causa é a genética, porém o envelhecimento, o sedentarismo e o tabagismo também são fatores preocupantes. As hérnias ocorrem com mais frequência na região lombar, provocando dores nas costas que podem irradiar para as coxas, pernas e para os pés. Para conversar conosco hoje sobre este assunto convidamos o médico ortopedista doutor Carlos Henrique, especialista em cirurgia de coluna.

Doutor, vamos explicar inicialmente o que é a hérnia de disco e em que parte do corpo ela pode se instalar.

Dr. Carlos Henrique – Bom, para explicar o que é hérnia de disco é preciso explicar o que é disco. Disco intervertebral é uma estrutura discóide que se interpõe entre duas vértebras e tem a função de absorver, distribuir carga e permitir o movimento na coluna vertebral. A hérnia discal é a ruptura deste disco, promovendo a migração do seu núcleo para o interior do canal vertebral. Isso promove os principais sintomas da hérnia que são a dor e as alterações neurológicas nos membros. Isso pode ocorrer em qualquer segmento da coluna, seja ela cervical, dorsal ou lombar e é mais comum na faixa etária entre 20 e 50 anos de idade.

Olga Goulart – Quais seriam, doutor, os fatores causadores das hérnias discais?

Dr. Carlos Henrique – Ainda não foram esclarecidos totalmente os fatores que podem provocar a rotura discal e consequente herniação. Alguns fatores conhecidos são a degeneração natural do disco intervertebral, um trauma agudo, obesidade, sobrecarga mecânica, tanto por atividades esportivas quanto laborais, e uma característica genética que também ainda não está bem esclarecida. Na maioria dos pacientes nós não conseguimos definir a etiologia exata, o que não impede um tratamento correto.

Olga Goulart – Quer dizer então que além dos fatores predeterminados, há a possibilidade do disco herniar após um trauma, um acidente ou mesmo um tombo, por exemplo, não é?

Dr. Carlos Henrique – Sim, com certeza. Isso é comum principalmente na coluna cervical, mas pode ocorrer também na lombar, mas essa lesão pode provocar sintomas neurológicos agudos graves, indicando até mesmo tratamento cirúrgico imediato, porém não é o principal causador da hérnia discal.

Olga Goulart – Com relação a atividade física, doutor, existe algum exercício que pode provocar uma hérnia de disco?

Dr. Carlos Henrique – Atividades que promovam o aumento da carga axial em flexão, como por exemplo levantar um peso com a coluna flexionada para a frente, pode aumentar muito a pressão sobre o disco e piorar ou mesmo provocar uma hérnia de disco, este movimento deve ser evitado por todos, mesmo aqueles que não apresentam sintomas na coluna.

Olga Goulart – Quais são os sintomas mais característicos de uma hérnia de disco?

Dr. Carlos Henrique – O principal sintoma é a dor, a dor na coluna, que pode ou não irradiar para os membros, no caso da lombar para os membros inferiores. Os outros sintomas provocados pela hérnia discal são alterações neurológicas nas extremidades que podem variar desde formigamento, dormência, fraqueza ou mesmo a paraplegia em casos mais graves.

Olga Goulart – Quem tem hérnia de disco vai sentir dores para o resto da vida?

Dr. Carlos Henrique – Não. Dentre as pessoas que apresentam hérnia discal sintomática, cerca de 90% delas melhorarão com mudança dos hábitos de vida, perda de peso, fortalecimento muscular e não apresentarão mais os sintomas.

Olga Goulart – Doutor, qual que é a diferença da artrose na coluna e hérnia de disco?

Dr. Carlos Henrique – Artrose é a degeneração articular, popularmente chamada de desgaste articular e na coluna a artrose forma o que chamamos de osteófitos, que são os “bicos de papagaio”, popularmente conhecidos. Esta doença é de evolução lenta, acomete principalmente idosos, diferente da hérnia discal e causam sintomas neurológicos apenas em uma fase mais avançada da doença, que é o que chamamos de estenose de canal.

Olga Goulart – Existem exames específicos que detectem a hérnia de disco?

Dr. Carlos Henrique – Sim, com certeza. Hoje o principal exame de imagem para o diagnóstico da hérnia de disco é a ressonância magnética, que normalmente é realizada sem contraste, o contraste só é utilizado em casos de suspeitas de outras doenças. Outro exame importante é a tomografia computadorizada, que pode diagnosticar a presença da hérnia, porém não esclarece totalmente as características da lesão e alguns outros exames que não são melhores que a ressonância magnética e são reservados para casos especiais, como a discografia e etc., que a gente não usa normalmente na rotina.

Olga Goulart – Quais as opções de tratamento no caso das hérnias discais lombares? Acupuntura, por exemplo, pode ajudar no tratamento?

Dr. Carlos Henrique – A hérnia de disco lombar tem uma evolução favorável em mais de 90% dos pacientes que são submetidos ao tratamento conservador, apenas uma pequena parte, menos de 10%, irá necessitar de algum tratamento cirúrgico. O tratamento conservador é feito com o uso de medicamentos como analgésico, anti-inflamatórios, anticonvulsivantes, antidepressivos e medidas fisioterápicas visando o fortalecimento da musculatura, o alongamento e a estabilização do tronco. A acupuntura faz parte do nosso arsenal de tratamento visando sempre a melhoria dos sintomas.

Olga Goulart – Quais os pacientes, doutor, que se beneficiam da cirurgia no tratamento da hérnia de disco? 

Dr. Carlos Henrique – A cirurgia para o tratamento de hérnia disco lombar é reservada para pacientes que apresentam déficit neurológico persistente ou progressivo e para os pacientes que não respondem para o tratamento conservador por um período mínimo de 4 a 6 semanas, estes são os pacientes que mais se beneficiam do tratamento cirúrgico.

Olga Goulart – E como é que é feita essa cirurgia? A recuperação é muito demorada?

Dr. Carlos Henrique – Hoje em dia realizamos a cirurgia de hérnia de disco apenas com a ressecção da hérnia por via endoscópica, podendo ser em alguns casos realizada até mesmo com anestesia local e com corte de apenas 1,0 cm. Não são utilizados implantes e se não houver complicações cirúrgicas a alta hospitalar é dada no mesmo dia ou no dia seguinte a cirurgia. O paciente inicia a reabilitação com fisioterapia já no dia seguinte da cirurgia e normalmente retorna às suas atividades laborais em aproximadamente 1 a 2 semanas. Porém, ainda existem casos em que há a necessidade de realização de uma artrodese, que é a fusão do segmento acometido, onde utilizamos implantes como parafusos, barras e etc.

Olga Goulart – Podem haver complicações, doutor, na cirurgia de hérnia de disco?

Dr. Carlos Henrique – Sim, como todo o procedimento cirúrgico existem complicações, porém com as novas técnicas cirúrgicas este risco é bem reduzido, sendo menor do que 1% dos procedimentos. As principais complicações são infecção, complicações anestésicas, fístula liquórica ou a recidiva da hérnia.

Olga Goulart – Os convênios de saúde, bem como o Sistema Único de Saúde (SUS) oferecem cobertura para o tratamento cirúrgico da hérnia de disco?

Dr. Carlos Henrique – Sim. É obrigação tanto do SUS quanto dos convênios a cobertura para o tratamento cirúrgico da hérnia.

Olga Goulart – Se não tratada, a hérnia de disco pode evoluir para um problema muito mais sério?

Dr. Carlos Henrique – Sim. Em casos graves a hérnia de disco pode comprimir as estruturas neurológicas promovendo o que chamamos de síndrome da cauda equina. Então é urgência cirúrgica, é uma paralisia dos membros inferiores. No entanto, isso é uma evolução rara e o medo dessa complicação não é e não pode ser suficiente para uma indicação de um tratamento cirúrgico.

Olga Goulart – A hérnia de disco tem cura?

Dr. Carlos Henrique – Ela pode involuir completamente e desaparecer. No entanto, a ruptura do disco e a degeneração discal ela não desaparece. Isso é o que justifica de forma permanente a mudança dos hábitos de vida para o tratamento da lesão com a realização de atividade física regular e evitar o ganho de peso.

Olga Goulart – Doutor, nós sabemos que a gravidez pode alterar o eixo da coluna. A condição pode deixar a mulher mais suscetível ao surgimento ou agravamento de hérnia de disco? 

Dr. Carlos Henrique – Sim, principalmente para o agravamento da hérnia discal. Mulheres que possuem hérnia de disco e desejam engravidar, necessitam fazer um trabalho de fortalecimento muscular prévio e evitar o ganho de peso excessivo durante a gestação.

Olga Goulart – E qual que é o profissional capacitado para tratar especificamente a hérnia discal?

Dr. Carlos Henrique – O tratamento da hérnia discal é multidisciplinar, sendo comandado pelo médico especialista em coluna vertebral que é uma subespecialidade tanto da ortopedia como da neurocirurgia e os outros profissionais têm um papel importante no tratamento da doença, como o fisioterapeuta, o nutricionista, o clínico da dor e o educador físico.

Olga Goulart – Bom, para finalizar nós gostamos muito de falar em prevenção. No caso da hérnia de disco tem como se prevenir?

Dr. Carlos Henrique – Sim. Hábitos de vida saudáveis, com prática regular de atividade física, uma boa alimentação e uma ergonomia correta são essenciais para evitar essa lesão. Porém com uma grande característica genética a gente não consegue prevenir completamente a lesão.

Olga Goulart – Ok. Conversamos com o médico ortopedista o doutor Carlos Henrique, especialista em cirurgia da coluna. Doutor, muito obrigada e até a próxima.