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Geriatria

Tema: Doença de Alzheimer

Por Dr. Jonas Gordilho

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Olga Goulart – Familiares e amigos tratam como coisas da idade, mas na verdade o Alzheimer é um tipo comum de demência que ocorre em pessoas a partir de 65 anos e o diagnóstico precoce é fundamental para retardar os sintomas desta patologia que não tem cura. É uma doença do cérebro caracterizada por perda de memória, de atenção, desorientação e dificuldade de planejamento. Para esclarecer as nossas dúvidas, as dúvidas mais frequentes sobre o assunto, quem conversa conosco hoje é o médico Jonas Gordilho, especialista em geriatria.

Doutor, explica pra gente o que é e como se caracteriza a doença de Alzheimer.

Dr. Jonas Gordilho – A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, onde leva o indivíduo a perder sua autonomia, ou seja, a capacidade de decisão para coisas básicas do dia-a-dia e a perda da independência tanto para as tarefas mais complexas como cuidar de medicações, ir ao banco, arrumar o cômodo da casa e tarefas mais básicas como tomar banho, higiene pessoal e escolher uma roupa.

Olga Goulart – Isso pode se confundir um pouco com a própria velhice em si, não é doutor? Como é que os familiares poderiam reconhecer a doença no idoso, as pessoas que convivem mais próximo deste paciente?

Dr. Jonas Gordilho – Os familiares podem reconhecer a doença de Alzheimer com situações básicas do dia-a-dia, como esquecimento para fatos recentes, dificuldade para reconhecer pessoas mais próximas que o paciente tem contato normalmente, dificuldade de realizar tarefas que o indivíduo sempre realizou normalmente, como ir à feira, fazer compras, ir ao banco. Muitas vezes, em quadros um pouco mais avançados, dificuldades com higiene pessoal, em alguns casos agitação, agressividade, e uma característica muito importante é que a maioria desses pacientes não têm percepção da deficiência, principalmente quando ele se encontra em uma fase mais avançada. Então não devemos esperar que o paciente com doença de Alzheimer tenha percepção do esquecimento, tenha percepção da sua agressividade e da agitação. As primeiras alterações de memória costumam ser esquecimento para fatos recentes do dia-a-dia e tarefas corriqueiras como deixar uma panela no fogo, esquecer uma torneira ligada e muitas vezes o indivíduo pode apresentar uma apatia caracterizada pela perda de iniciativa e não deve ser confundida com má vontade ou depressão.

Olga Goulart – Certo. E como é feito o diagnóstico da doença? É uma anamnese clínica mesmo? É um diálogo? De que elementos você precisa para fechar um bom diagnóstico?

Dr. Jonas Gordilho – Para o diagnóstico da doença de Alzheimer é preciso inicialmente uma anamnese adequada. Isso pode ser realizado por um médico geriatra, um médico neurologista, um médico psiquiatra ou qualquer outro profissional que esteja habilitado. Dentro desta anamnese nós identificamos deficiências de todas as funções cognitivas. Uma vez que essa deficiência seja identificada, o próximo passo para o diagnóstico é estabelecer se o indivíduo com esta deficiência é capaz de realizar as tarefas do dia-a-dia de forma independente ou não. Caso ele tenha a perda da independência e a dificuldade para realizar tarefas do dia-a-dia, ele tem o diagnóstico de uma síndrome demencial. Entre as síndromes demenciais a mais comum é a doença de Alzheimer.

Olga Goulart – Certo. Doutor, nós falamos quando iniciamos a nossa entrevista da importância do diagnóstico precoce. Por que que é tão importante esse diagnóstico precoce? Seria uma barreira para o avanço dos sintomas?

Dr. Jonas Gordilho – A importância do diagnóstico precoce da doença de Alzheimer está no fato de que esse indivíduo se expõe a situações de risco, eles podem se perder na rua, eles podem ter uma queda em casa, eles podem usar inadequadamente os remédios e terem os efeitos colaterais dos remédios. Outra questão muito importante é que os tratamentos não-farmacológico e farmacológico ajudam a retardar a progressão da doença, uma vez que ela esteja instalada.

Olga Goulart – Ok. A doença atinge somente a população idosa ou pode existir casos também, doutor, entre pessoas mais jovens?

Dr. Jonas Gordilho – A prevalência da doença é mais comum em indivíduos maiores de 65 anos de idade, sendo que essa prevalência aumenta com o passar dos anos, chegando a cerca de 30 a 40% entre os pacientes com 85 e 90 anos de idade. Os casos de pacientes mais jovens são bem raros, geralmente estão associados a doenças familiares e que outros familiares manifestaram a doença em idade mais jovem.

Olga Goulart – Nós citamos também no início da entrevista que a patologia não tem cura, não é? Como é que é feito o tratamento para a doença do Alzheimer e o controle?

Dr. Jonas Gordilho – Realmente infelizmente ainda não existe uma cura para a doença, mas o tratamento deve ser instituído mais precoce possível pois ele é muito importante. Existem duas formas de você tratar o indivíduo com doença de Alzheimer, o tratamento não farmacológico e o tratamento farmacológico. O tratamento não-farmacológico primeiramente consiste em prevenção de lesão cerebral, então estes indivíduos eles precisam assumir hábitos de vidas saudáveis como a dieta saudável, alimentação e atividade física saudável também. Outra forma muito importante de tratamento da doença, que nós podemos falar inclusive que está ligada a prevenção, é a reserva cognitiva. Aqueles pacientes que aprendem mais, que estudam mais durante a vida, eles têm uma maior reserva cognitiva e por isso eles perdem mais lentamente as funções.

Em relação ao tratamento farmacológico, nós temos diversas medicações que podem ser utilizadas tanto para prevenir o retardo da doença, como controlar os sintomas comportamentais associados a doença de Alzheimer, por exemplo a apatia que incomoda muito principalmente os familiares próximos, pode ser tratada com medicações específicas, assim como a agitação, agressividade, insônia que podem ser tratadas com medicações. Uma outra situação muito comum que não deve ser esquecida é o quadro de depressão associado a doença de Alzheimer que deve ser tratado com medicamentos específicos também.

Olga Goulart – Doutor, o cuidador ou o acompanhante tem um papel muito importante na vida deste paciente, não é? Quais são os cuidados que são primordiais com uma pessoa que está com a doença de Alzheimer?

Dr. Jonas Gordilho – Bem Olga, você tocou num fato muito importante. Uma grande dificuldade que nós temos são os pacientes com doença de Alzheimer em fase precoce, uma vez que muitas vezes esses indivíduos não reconhecem sua deficiência e não aceitam o cuidador. Nesta fase nós precisamos cercar esses indivíduos de cuidados. Uma vez que eles não devem ser deixados sozinhos, eles devem ser monitorizado em relação ao uso correto das medicações, como anteriormente citado. Com o passar dos anos e a evolução da doença, os indivíduos com doença de Alzheimer cada vez mais vão necessitando de cuidados mais complexos, por exemplo, indivíduos com doença de Alzheimer em fase avançada muitas vezes não conseguem tomar banho sozinhos, não conseguem escolher uma roupa, não conseguem se levantar e sentar na cadeira. Então nesses casos o cuidador assume um papel muito importante, uma vez que eles irão auxiliar os indivíduos com doença de Alzheimer a realizar tarefas básicas do dia-a-dia. Outra questão muito importante que nós não devemos esquecer é que o cuidador precisa ter saúde para cuidar. Então nós não podemos sobrecarregar os cuidadores, eles precisam ter tempos para eles mesmos para que assim possam cuidar adequadamente do indivíduo em seu momento de trabalho.

Olga Goulart – Bom, sabemos da importância de um acompanhante, de um cuidador, mas a família mesmo, as pessoas que convivem dentro de casa, como contribuir para que o paciente tenha uma melhor desenvoltura nas suas atividades, tenha mais qualidade de vida?

Dr. Jonas Gordilho – Quando os familiares, ou filhos ou cônjuges não percebem que aquela deficiência é causada por uma doença, muitas vezes eles insistem, confrontam, tentam testar a memória do indivíduo o que é maléfico. Vou te dar alguns exemplos agora, por exemplo, nunca fique tentando fazer com que o indivíduo com a doença de Alzheimer tente lembrar de pessoas em situações embaraçosas, como por exemplo numa festa de aniversário “você lembra quem é esse? ”. Imagine se o indivíduo não lembra quem é a pessoa que está ao lado dele? Ele fica angustiado, pode ficar ansioso e até deprimido. Então nesses casos a melhor forma de abordar é lembrar o familiar de quem é a pessoa e apresentá-lo novamente sem mostrar que existe uma deficiência do paciente com doença de Alzheimer, como por exemplo “lembra do seu sobrinho? Ele está aqui agora com você. ” E o paciente obviamente vai interagir.

Outra questão muito importante é não confrontar os indivíduos com doença de Alzheimer, principalmente em situações que ele está agitado, agressivo, nós não devemos confrontar jamais, nós devemos deixar o paciente se acalmar e depois tentar a comunicação após alguns minutos.

Olga Goulart – Quem tem parentes com Alzheimer teria maior predisposição a desenvolver a doença ou não tem relação?

Dr. Jonas Gordilho – Na verdade a prevalência da doença de Alzheimer ela aumenta de forma muito acelerada com o passar dos anos, como falei anteriormente, aos 90 anos a prevalência chega de 30 a 40%. Nesses indivíduos que tem parentes com doença de Alzheimer que evoluíram em fases mais tardias da vida, principalmente para aqueles que têm parentes de primeiro grau, eles tem riscos 2 ou 3 vezes maior de ter doença de Alzheimer. Como falei anteriormente, o risco já é maior principalmente com o passar dos anos. Nós devemos ficar atentos principalmente com aqueles indivíduos que têm parentes com doença de Alzheimer precoce, principalmente antes dos 55 anos de idade, já que nós podemos estar lidando aqui com casos de doença de Alzheimer de forma familiar, nesses casos podem existir um risco aumentado para o desenvolvimento da doença.

Olga Goulart – Ok. Doutor, por ser uma doença degenerativa, quantos anos em média levaria para um paciente com Alzheimer, para que a doença se instalasse completamente no paciente?

Dr. Jonas Gordilho – Essa resposta varia de indivíduo para indivíduo. Por exemplo, nós sabemos que um paciente com doença de Alzheimer ele pode evoluir de 2 até 20 anos, tendo uma média de cerca de 10 anos e outra questão muito importante é que existem várias formas da doença, existe a fase pré-clínica da doença de Alzheimer, em que o paciente ainda não desenvolveu a doença e eventualmente começa com esquecimento leve, mas ainda se mantém independente para as tarefas do dia-a-dia e eventualmente ele pode evoluir para a doença de Alzheimer leve, moderada e avançada, quando é completamente dependente de terceiros. Então esse período pode evoluir de 2 a 20 anos, como eu falei anteriormente.

Olga Goulart – Ok. Conversamos com o médico Jonas Gordilho, especialista em geriatria. Doutor, muito obrigada e até a próxima dica, até a próxima conversa aqui no Viva Mais Viva Melhor, um abraço!