Nossas Entrevistas
Cardiologia
Tema: Dislipidemia
Olga Goulart – Você sabe o que é dislipidemia? Apesar do nome pouco conhecido, a doença nada mais é do que o aumento anormal de gordura no sangue, ou seja, o aumento dos níveis de colesterol ruim (LDL) e triglicerídeos. Este aumento de gordura no sangue pode desencadear uma série de problemas cardiovasculares e, ao contrário do que muita gente imagina, a dislipidemia não acomete somente os adultos, ela está cada vez mais frequente em crianças e adolescentes. Para saber um pouco mais e dar dicas de como prevenir contra esta doença quem conversa conosco hoje é a médica especialista em cardiologia, a doutora Maristela Magnavita, que vai esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto.
Doutora, primeiramente vamos explicar para os nossos internautas o que é a dislipidemia?
Dra. Maristela Magnavita – Muito bem. A dislipidemia como já dito, são as alterações que se referem aos níveis de gordura no sangue, colesterol total, LDL colesterol que é o colesterol ruim, a baixa do HDL colesterol que é o HDL bom que é favorável que esteja em níveis maiores e triglicérides. A dislipidemia está relacionada ao aumento do risco cardiovascular, portanto deve ser bem avaliada para se tomar medidas necessárias que minimizem este aumento do risco cardiovascular.
Olga Goulart – Doutora Maristela, qual é a função dos triglicerídeos e do colesterol no nosso organismo?
Dra. Maristela Magnavita – Essas gorduras têm suas funções principalmente na ligação com hormônios e transporte de substâncias do nosso organismo.
Olga Goulart – Certo, e quais são as causas e os fatores de risco da dislipidemia, que pacientes estão mais sujeitos a desenvolver o problema?
Dra. Maristela Magnavita – Os pacientes mais sujeitos a ter alterações nas taxas de gordura no sangue são aqueles que apresentam alterações metabólicas, principalmente relacionados a hábitos de vida, tanto hábitos alimentares quanto de atividade física, ou seja, o sedentarismo está ligado a dislipidemia, a obesidade com hábitos alimentares inadequados e ingestas excessivas de ácidos graxos, principalmente os ácidos graxos saturados estão relacionados ao aumento destas taxas. Além disso, não só as questões dos hábitos, mas também a genética individual pode conferir um risco aumentado destas taxas aumentadas e consequentemente o risco cardiovascular.
Estes riscos são especificamente os de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), os riscos relacionados as alterações causados pela aterosclerose, que não é mais do que o depósito dessas substâncias dentro das artérias que podem levar a oclusão da luz do vaso causando assim a obstrução deste vaso e um evento agudo por esta oclusão, especificamente e mais frequentemente infarto e acidente vascular cerebral.
Olga Goulart – A dislipidemia, doutora, causa sintomas?
Dra. Maristela Magnavita – Não, geralmente é assintomática. Em um ou outro paciente pode se observar ao exame físico algum depósito periocular ou ao nível de dobras de cotovelo, mas não é regra, geralmente é assintomática. Por isso que somente durante uma avaliação com realização de exames bioquímicos no laboratório que detectamos estas alterações nas taxas lipídicas do sangue.
Olga Goulart – E como que se faz o diagnóstico, doutora?
Dra. Maristela Magnavita – O diagnóstico é laboratorial, é através da solicitação de exames de colesterol total, HDL, LDL e triglicérides. Normalmente esta avaliação é mais ampla porque também glicemia e outros fatores relacionados ao metabolismo, a tireoide também deve ser avaliada e há outros fatores que podem estar influenciando neste metabolismo lipídico alterado e deve ser avaliado. Ou seja, é o exame laboratorial que detecta as taxas alteradas de lípidas no sangue, de colesterol no sangue.
Olga Goulart – Como é que se trata a dislipidemia, doutora? Existem opções medicamentosas para tratar a patologia?
Dra. Maristela Magnavita – Sim. Além das medidas não-farmacológicas já ditas como a atividade física e hábitos alimentares saudáveis, existem alternativas farmacológicas importantíssimas que são as estatinas para tratar o colesterol e os fibratos para tratar os triglicérides. Eles já têm seu papel bastante comprovado na literatura, com evidências científicas bastante válidas no que diz respeito a esta atividade da redução destas taxas de colesterol e consequentemente a redução do risco cardiovascular linearmente comprovado, ou seja, quanto mais baixo os níveis de colesterol menos eventos cardiovasculares relacionados a esta dislipidemia.
Olga Goulart – Bom, pelo que você falou a alimentação tem um papel muito importante. É possível reduzir os níveis de gordura no sangue através da alimentação?
Dra. Maristela Magnavita – Sim, o impacto é importante. Com certeza a redução especialmente dos ácidos graxos saturados que são encontrados especialmente nas carnes gordas, nas carnes animais e nas gorduras hidrogenadas. Estes ácidos graxos quando abolidos ou reduzidos de forma acentuada na alimentação é observado um percentual significativo e uma melhora nas taxas lipídicas, isso é especialmente visto nos triglicérides de uma maneira mais acentuada e em uma maior magnitude, mas no colesterol também isso é bem identificado, a queda do LDL colesterol que é o colesterol ruim com a redução das taxas de gordura. Então a opção por uma dieta pobre em gordura, leite desnatado, evitar manteiga e margarina, ingesta de carne vermelha gorda, utilizar mais verduras e frutas é uma opção mais saudável para esta alimentação.
Olga Goulart – Hábitos de vida saudáveis então como você falou há pouco, podem ser uma boa opção para prevenir a dislipidemia, não é doutora?
Dra. Maristela Magnavita – Com certeza. Não esquecer que deve se associar sempre a atividade física, esta atividade física tem que ser regular, não é uma atividade de fim de semana e não precisa de um exercício físico intenso para isso, um exercício leve a moderado com regularidade. O que é isto? Com constância, no mínimo 3 vezes na semana, com duração mínima de 40 minutos. Lógico que antes uma avaliação da aptidão cardiovascular e cardiorrespiratória para não correr o risco de um exercício mal realizado que aí sim poderia trazer um risco ao paciente.
Olga Goulart – Bom, com estes cuidados todos, mudanças de hábitos de vida, boa alimentação e atividade física, nós podemos afirmar que é possível evitar a dislipidemia?
Dra. Maristela Magnavita – Sim, é possível evitar a dislipidemia, isso deve começar o mais precoce possível. Eu digo que desde a infância e adolescência tem sido uma preocupação com os pediatras, cardiologistas pediatras e endocrinologista que nossa população está se tornando uma população obesa, com alterações precoces de aterosclerose muito causado por hábitos inadequados. Então se estas medidas preventivas são instaladas o mais precocemente possível com hábitos de atividade física regular e uma dieta saudável, sim podemos evitar no que tange a mudança de estilo de vida. Outros fatores não dependem individualmente de cada paciente que se refere a hostória familiar e genéticas, são casos mais graves de dislipidemia e felizmente são exceção, a maioria se refere a hábitos inadequados e sim é perfeitamente evitável e quando já identificadol perfeitamente tratável.
Olga Goulart – Certo. Doutora, caso não seja tratada, a dislipidemia pode ter complicações mais graves?
Dra. Maristela Magnavita – Sim. São as complicações causadas pela aterosclerose que é o depósito da gordura dentro das artérias. Estas alterações arteriais que é o depósito do colesterol junto com outras substâncias e que potencialmente levam a um quadro inflamatório dentro das artérias e isso é um precursor dos eventos isquêmicos agudos, infarto, AVC, são as complicações mais temidas e todo o investimento é muito voltado para evitar estes eventos que podem ser catastróficos, alguns culminam com um primeiro evento com uma morte súbita e estas avaliações preventivas e estes cuidados necessários são para diminuir o risco destes eventos isquêmicos. A dislipidemia se relaciona ao risco potencial cardiovascular alto.
Olga Goulart – É verdade, doutora, que a dislipidemia pode acometer também crianças e adolescentes? Qual é a importância da dosagem das frações lipídicas nesta faixa etária?
Dra. Maristela Magnavita – Sim. Crianças e adolescentes têm sido uma preocupação porque se refere muito a inatividade das crianças, hoje em dia eles estão muito voltados a atividades dentro de casa com computadores, videogames, horas exageradas em frente à televisão, hábitos de fast food, salgadinhos, gordura hidrogenada precocemente iniciada na dieta e tem sido observado com isso um aumento de peso nas crianças e por causa disso taxas alteradas de colesterol precocemente. Os pontos de corte para crianças e adultos são diferenciados, então uma avaliação com um cardiologista pediátrico ou o próprio pediatra para identificar se já está ultrapassando valores e instituir medidas mais precoces que certamente inicialmente vai ser voltada a mudanças de estilo de vida. Procuram orientar geralmente a família para crianças, irmãos, os pais, para que todos se voltem a uma mudança familiar dentro da casa, que aqueles hábitos sejam modificados, que as atividades sejam ao ar livre, tirar a criança do computador, que precocemente se começa a se instalar, claro que de forma progressiva bem lenta e gradual, a aterosclerose desde a infância e adolescência, não com obstrução, mas com estrias, com inflamação discreta, estrias gordurosas dentro das artérias, não que isso seja examinado no infante vivo, mas eventualmente em exames de autópsia isso já foi identificado em jovens com estrias gordurosas dentro das artérias. Estes exames demonstraram que o perfil destas crianças e adolescentes já eram alterados desde tenra idade.
Olga Goulart – Então doutora, para finalizar eu gostaria de saber qual é o especialista que pode melhor tratar a dislipidemia?
Dra. Maristela Magnavita – Na verdade dislipidemia é a preocupação de todo o médico clínico geral, endocrinologista, ginecologista, todos eles procuram avaliar as taxas lipídicas dos seus pacientes, não apenas o cardiologista, embora seja este o cardiologista o especialista que toma mais frequentemente a responsabilidade do tratamento da dislipidemia por causa do impacto da dislipidemia sobre o sistema arterial e suas consequências, como já ditas, para minimizar o risco cardiovascular e seus eventos isquêmicos agudos.
Olga Goulart – Ok, conversamos com a médica Maristela Magnavita, cardiologista do Instituto Procardíaco. Doutora, muito obrigada e até a próxima oportunidade aqui no Viva Mais Viva Melhor.