Nossas Entrevistas

Oftalmologia

Tema: Degeneração Macular Relacionada à Idade

Por Dr. Daniel Braga

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Olga Goulart – Doença degenerativa da retina que provoca uma perda progressiva da visão central, a degeneração macular relacionada à idade, ou seja, a DMRI, é uma doença do fundo do olho que costuma aparecer em pessoas a partir de cinquenta anos de idade, inclusive essa costuma ser a causa mais comum de cegueira nesta faixa etária. E para esclarecer um pouco mais sobre o assunto, quem conversa conosco hoje é o doutor Daniel Braga, médico oftalmologista, especialista em retina. Doutor, primeiramente eu gostaria que esclarecesse para os nossos ouvintes o que que é a degeneração macular relacionada a idade, ou seja, a DMRI?
Doutor Daniel Braga – Bom Olga, a degeneração macular relacionada à idade, como o próprio nome já explica bem é uma degeneração na retina, certo? A mácula é a região central da retina, aonde acontece a visão principal, a visão central, a visão mais nítida, a visão de cores, é a nossa visão fina, certo? Então por se tratar de uma degeneração, acontece o envelhecimento precoce desta região macular e está relacionada à idade, esta entidade especificamente. Existem outras degenerações da mácula ou da retina que não estão relacionadas a idade, certo? Mas esta entidade é uma doença a parte caracterizada por pacientes com mais de cinquenta, sessenta anos de idade, que sofrem dessa degeneração. Hoje em dia, com o envelhecimento da população geral, essa doença tem se tornado cada vez mais frequente. Pra você ter uma ideia, estima-se que 10% da população com mais de oitenta e cinco, noventa anos de idade tem a degeneração macular relacionada à idade. A mácula é sofrida, ela sofre alterações, as células começam a se degenerar precocemente e a pessoa então começa a ter alterações na nitidez da visão, na visão central, na agudez da visão e a degeneração macular é a maior causa de cegueira no mundo ocidental, a maior causa de cegueira irreversível que existe na atualidade.

Olga Goulart – Doutor, como o próprio nome diz, a degeneração macular, ela só vai atingir as pessoas mais velhas ou pode também acometer pessoas mais jovens?
Doutor Daniel Braga – Existem vários tipos de degeneração macular, mas a degeneração macular relacionada à idade é uma doença específica que acomete pacientes idosos, pacientes acima de cinquenta e cinco, sessenta anos de idade. Pacientes mais jovens do que isso pode até ter degeneração, mas não é essa doença especificamente, seria um outro tipo de doença macular. A degeneração macular relacionada à idade, pra se dar um diagnóstico dessa doença especificamente, tem que ser paciente idoso, geralmente acima de cinquenta e cinco, sessenta anos de idade, senão não se classifica nesta doença.

Olga Goulart – E quais as causas da DMRI? Porque que ela acontece?
Doutor Daniel Braga – A gente tem algumas causas para relacionar na DMRI. A principal delas é a idade propriamente dita, que dá o nome a doença, né? Com o avançar da idade, a doença se torna cada vez mais frequente e a população, envelhecendo cada vez mais, a incidência também do DMRI tem aumentado na nossa população em geral. Outra causa muito importante é a história familiar, é a genética. Pessoas que têm casos de doença macular relacionada à idade na família, existe uma associação onde o risco é aumentado para ter essa doença também. E existe também uma outra causa relacionada à DMRI que é o tabagismo, o hábito de fumar. Esse sim é muito importante, porque esta causa é onde a gente pode intervir, a gente não pode intervir na idade da pessoa, é natural, a pessoa vai vivendo e vai envelhecendo, a gente não pode intervir na genética, porque isso está no DNA da pessoa, já nasce com aquela predisposição, mas, no hábito de fumar, a pessoa pode intervir sim e pode diminuir o risco de uma DMRI, eliminando o tabagismo. Isso é muito importante porque o hábito de fumar, além de tornar a DMRI mais grave, quando ela acontece, ela faz com que aconteça de forma mais precoce nas pessoas, e ainda também vai interferir no tratamento. Tem pessoas que tem a forma seca da doença, que o tabagismo contraindica o uso de certas medicações para tratar a doença, como antioxidantes, por exemplo. Casos de pessoas que são tabagistas com DMRI e precisam de tratar com antioxidantes não podem usá-los porque aumenta, por exemplo, o risco de doenças como câncer de pulmão. Então, você imagina o risco de fumar num paciente de terceira idade ou idoso e ainda com história familiar de doença degeneração macular relacionada à idade. Então praticamente essas três causas da DMRI.

Olga Goulart – Bom, a DMRI pode aparecer em consequência de outra doença, por exemplo?
Doutor Daniel Braga – Não. A DMRI não. A DMRI geralmente é um fator genético, da disposição genética, relacionada a idade e muitas vezes relacionado a hábito de fumar, mas não é causada ou consequência de uma outra doença não, é uma degeneração, isso é, uma programação das células que tem no DNA que vão provocar o envelhecimento mais precoce dessas células da retina.

Olga Goulart – A DMRI pode ser uma doença hereditária, doutor?
Doutor Daniel Braga – Sim, claro. Como estou te dizendo, o fator genético é uma predisposição importantíssima para o desenvolvimento da DMRI.

Olga Goulart – E quais são os sintomas da DMRI? Tem como o paciente desconfiar que algo não está bem, que sugere que seja a doença?
Doutor Daniel Braga – Tem sim. O principal sintoma é a perda da visão central, é a perda de que a gente chama de acuidade visual. Pode acontecer também a alteração, formando distorção de imagens. A pessoa olha, por exemplo, para uma linha reta, uma porta, uma janela e essas linhas se tornam distorcidas, perda da capacidade de leitura, perda da capacidade de visão de cores, da visão fina, visão de detalhe, porque a mácula, a região central da retina que é acometida, é responsável por este tipo de visão, pela nossa visão central. Então, com isso, a pessoa perde a qualidade de vida, perde a condução de leitura, perde a condição de dirigir, por exemplo. Então os sintomas são esses, principalmente a perda da visão central, o que pode ser detectado, pode ser pelo próprio paciente, pela própria pessoa, fazendo um teste de monovisão por exemplo, seria uma espécie de um autoexame. Você tampa um dos olhos com uma mão e observa um ponto distante, avalia a imagem do outro olho que está aberto, depois você faz o contrário, tampa o olho contralateral e observa a imagem do outro olho. Então você compara a imagem de um olho com o outro e observa se tem alguma diferença importante de um olho para o outro. Isso aí é fundamental para se detectar qualquer doença ocular, porque geralmente a visão dos olhos são similares entre um olho e o outro, se você percebe alguma distorção ou alguma diferença muito grande é sinal de que essa pessoa deve procurar um oftalmologista e fazer uma avaliação dos olhos por completo e da retina.

Olga Goulart – Sendo duas as formas da degeneração macular relacionada à idade, como diferenciá-las?
Doutor Daniel Braga – Isso aí é uma classificação que o médico oftalmologista é capaz de fazer. No exame oftalmológico pode ser detectado duas formas da doença. Uma forma é a forma seca e a outra é a forma úmida. A forma seca, ela se caracteriza por ser mais lenta, um avanço progressivo, lento, que vai deteriorando a visão gradativamente. A forma úmida, ela pode ser mais abrupta e acomete a visão de uma forma mais grave e necessita ser tratada mais urgentemente. Existem exames para isso, o oftalmologista, especialmente especialista em retina, pode ser mais minucioso nestes exames, neste detalhamento e dar o diagnóstico para iniciar o tratamento. Cada forma tem um tratamento específico pra ela.

Olga Goulart – Os dois olhos podem ser acometidos, doutor?
Doutor Daniel Braga – Sim, podem ser acometidos os dois olhos, infelizmente. É uma doença muito grave por conta disso, pode levar a cegueira. Pode acontecer a forma úmida num olho, a forma seca no outro olho, pode acontecer a forma seca nos dois olhos ou pode acontecer também a forma úmida da doença nos dois olhos, que seria uma entidade mais grave ainda, né? E levar a cegueira e comprometimento da qualidade de vida da pessoa.

Olga Goulart – Como se faz para diagnosticar o problema e qual que é a importância de um diagnóstico precoce da DMRI?
Doutor Daniel Braga – A importância do diagnóstico precoce é iniciar o tratamento o quanto antes. Quanto antes você iniciar o tratamento, maior as chances de melhora, maior as chances de recuperação visual. O diagnóstico hoje em dia, ele é feito pelo médico oftalmologista, de preferência um retinólogo, né? Um especialista em retina e são feitas fotografias do fundo do olho, é feito o mapeamento da retina, a visualização da retina como um todo e com fotografias consegue-se visualizar a imagem da mácula, que tem algum ponto de drusas, de extravasamento vascular, alterações características da DMRI. Outros exames também mais sofisticados são as tomografias, a tomografia de coerência óptica já vai mostrar a retina de uma forma mais detalhada ainda, mostrando as camadas celulares da retina e mostrando especificamente o local onde está sendo o vazamento, por exemplo, para se fazer o tratamento específico daquele local. A retinografia também pode ser feita com contraste, injeta-se uma medicação na veia do paciente, esta medicação circula na corrente sanguínea, entra na vascularização do olho, então se detecta se está tendo extravasamento naquelas veias da retina, naqueles microvasos que estão doentes. Na forma úmida da doença acontece o extravasamento vascular, existe um crescimento de pequenas veias, pequenos vasos na retina, na região macular e esse crescimento, ele é anormal, ele é anômalo e provoca vazamento, então se detecta esse vazamento através desses exames específicos, pra isso então caracterizar a forma da doença que se apresenta e iniciar o tratamento específico para ela.

Olga Goulart – E qual a maneira de se tratar mais eficiente? Existem opções medicamentosas ou somente cirúrgicas?
Doutor Daniel Braga – O tratamento da DMRI é clínico, é medicamentoso. Na forma seca, faz uso de antioxidantes, vitaminas, e o que que acontece? Vamos entender o mecanismo da doença. É uma degeneração que acontece com a idade. Com a idade o organismo produz os radicais livres e a gente tem dificuldade em remover esses radicais. O organismo tem dificuldade em levar embora esses radicais livres e eles então no meio intercelular provocam esse envelhecimento das células. As vitaminas são nas frutas, nas verduras, nos vegetais coloridos, as vitaminas é que são responsáveis por carrear e levar embora esses radicais livres, então o tratamento da forma seca da doença é feito com o uso de antioxidantes, é feito com o uso de vitaminas, principalmente de vitaminas A, B, D, E, alguns minerais como o zinco, selênio, a zeaxantina, luteína, são usados para o tratamento da forma seca da doença. Já a forma úmida é feito uma medicação mesmo, uma medicação dentro do olho, intraocular, uma injeção que é feita e essa medicação vai agir naqueles vasos que eu te falei, que têm proliferação. Essa medicação é chamada de antiangiogênico. Vai inibir o crescimento desses vasos, fazer com que eles regridam e fechem o vazamento que está acontecendo por baixo da retina.

Olga Goulart – A injeção desse medicamento intraocular dói, doutor? Causa algum desconforto? Como é que é feita essa aplicação e por quanto tempo?
Doutor Daniel Braga – Essa medicação, ela é feita intraocular mesmo, no globo ocular. É uma agulha bem fininha, ela não causa nenhuma dor extrema, muito pelo contrário, após ser feita a injeção, o paciente até fica abismado, porque doeu muito menos do que ele imaginava que fosse doer. Como se brinca atualmente de injeção no olho e que fala que injeção no olho, a expressão que as pessoas falam ‘de graça até injeção no olho’, mas isso aí ninguém quer, né? Nem de graça. Mas a injeção dessa medicação é uma agulha bem fininha, feita no centro cirúrgico, em ambiente asséptico, com todo o critério de assepsia para evitar contaminação, no mais não provoca dor, é um leve desconforto, é feita essa aplicação e repetida quando necessário. Existem protocolos de tratamento que duram até dois anos. Em alguns casos o paciente precisa de fazer o uso da medicação até mensalmente. Em alguns casos é feito um intervalo um pouco maior, mas os protocolos são longos e tem que ser seguidos corretamente para evitar a recidiva da doença, que se for interrompido pode acontecer a recidiva da doença, a doença pode voltar e de uma forma ainda mais severa, mais grave e mais rebelde ao tratamento. Então o tratamento, o sucesso se encontra aí, na persistência, na consistência desse tratamento a um oftalmologista e o início precoce, quanto antes maior a chance de se estabilizar essa doença e curar essa doença.

Olga Goulart – Então não tem um tratamento cirúrgico para a DMRI?
Doutor Daniel Braga – Não. O tratamento é clínico.

Olga Goulart – Qual a importância da alimentação no tratamento da DMRI? Como que a alimentação interfere na saúde dos olhos doutor?
Doutor Daniel Braga – É justamente na absorção de vitaminas. As vitaminas estão nos alimentos, certo? Principalmente frutas, verduras, vegetais coloridos. A OMS, por exemplo, a Organização Mundial de Saúde, preconiza que a gente coma pelo menos oito porções por dia de frutas ou verduras e vegetais. É muito para o hábito do nosso dia a dia e nosso hábito contemporâneo, no hábito como brasileiro comer oito porções por dia, você pensa que é um pouquinho demais, mas são as vitaminas as responsáveis pelo carreamento dos radicais livres. Então no tratamento da doença forma seca, a gente tem que fazer uma suplementação vitamínica, porque você não vai conseguir atingir os níveis necessários de vitaminas, apenas na alimentação. É necessário então usar vitaminas, polivitamínicos específicos com a dosagem já específica, muitas vezes são manipulados, outras vezes já comprados prontos já, para o tratamento da DMRI.

Olga Goulart – Caso não seja tratada há tempo, ou seja, de maneira precoce, A DMRI pode ter complicações mais graves?
Doutor Daniel Braga – Sim. A complicação mais grave da DMRI, Olga, é a cegueira, que infelizmente pode acontecer em um olho apenas ou nos dois olhos, agora o pior são as consequências dessa cegueira causada pelo DMRI, que é uma limitação da vida da pessoa, da qualidade de vida. Alguns casos vem associado com depressão, a cegueira central, que é causada pela DMRI vai limitar a pessoa ao hábito de leitura, vai limitar a pessoa de dirigir, vai limitar muito a atividade manual, costura, por exemplo, de entretenimento no uso de computador. Então tudo isso impede com que a pessoa não aprecie a beleza da vida, não aprecie a paisagem, a natureza, o dia a dia e associa-se muitas vezes até a uma depressão, por causa dessa cegueira. Agora, lembrando sempre que o tratamento, quanto antes, melhor, quanto antes, mais eficaz, para se prevenir a cegueira causada pela DMRI.

Olga Goulart – Para finalizar doutor, quais são as medidas preventivas que você recomenda e com que frequência deve se ir ao oftalmologista?
Doutor Daniel Braga – Olha Olga, o que eu recomendo são hábitos de vida saudáveis para se combater uma degeneração, para se combater o envelhecimento. O que são esses hábitos saudáveis? Dormir bem, se alimentar bem, ter boas horas de sono, ter momentos de relaxamento, não se submeter a estresses, principalmente estresses químicos, estresses físicos, como por exemplo o uso do cigarro, o hábito de fumar, bebida alcoólica. Quanto mais saudável a gente levar a vida, mais a gente vai cuidar do nosso organismo, mais a gente vai cuidar do nosso corpo e mais ele vai retribuir pra gente de forma amigável. Então a alimentação saudável com bastante fruta, bastante vitamina, comer bastante frutas, verduras, com alimentação bastante colorida no dia a dia. Essa é a recomendação que a gente faz para se prevenir uma DMRI e para se ter uma vida saudável de maneira geral com a visão boa, de boa qualidade e que possa desfrutar disso por toda a vida.

Olga Goulart – Ok, conversamos com o doutor Daniel Braga, especialista em oftalmologia. Doutor, muito obrigada, até a próxima!