Nossas Entrevistas

Oncologia Clínica

Tema: Câncer de Cabeça e Pescoço

Por Dr. André Bacellar

(071) 40... Ver mais >

Olga Goulart – O câncer de cabeça e pescoço compreende um grupo heterogêneo de tumores em sítios diretamente envolvidos com as funções, por exemplo, da fala, da deglutição, respiração, paladar, olfato. Casos recentes de famosos como o cantor do Iron Maiden, bem como o presidente Lula e o ator Michael Douglas, chamaram muito a atenção para esse tema. E para conversar um pouco mais desse grupo de doenças hoje o nosso convidado é o doutor André Bacellar, médico oncologista do Núcleo de Oncologia da Bahia, o NOB. 

Vamos lá falar dessa situação, não é doutor? Quais os órgãos que estão envolvidos na origem dos cânceres de cabeça e pescoço?

Dr. André Bacellar – Bom, os cânceres de cabeça e pescoço são agrupados assim porque eles se originam nas células escamosas que revestem as mucosas úmidas desta região, seja na cavidade oral, na faringe, na laringe, nos seios paranasais e na cavidade nasal. Então é importante lembrar que os cânceres de cabeça e pescoço não incluem os cânceres de cérebro, da tireoide, do olho, do esôfago, mas sim esses tumores que tem origem nas mesmas células escamosas que revestem estas mucosas.

Olga Goulart – E porque que se agrupa, doutor, numa única categoria estas patologias todas?

Dr. André Bacellar – O fator de ter a mesma célula de origem e o fator de terem muitas semelhanças em relação a sua origem e aos fatores de risco que originam esses cânceres.

Olga Goulart – E quais são esses fatores de risco?

Dr. André Bacellar – Os fatores de risco principais são tabagismo e o etilismo. Tabagismo quando a gente junta os dois a gente tem uma chance até de mais de 40 vezes em relação a pessoa que não fuma e não bebe. Então esse é o principal fator que a gente deve evitar quando a gente quer prevenir esse tipo de câncer. Uma outra causa mais recente que foi confirmada essa relação é a do vírus HPV, o vírus HPV é aquele mesmo que causa o câncer de colo de útero, ele também está associado a alguns cânceres de boca e é importante a gente diferenciar os indivíduos que tem esse câncer relacionado ao HPV porque o tratamento tende a ser até um pouco mais tranquilo, esses cânceres tendem a responder melhor ao tratamento e tem um prognóstico muito melhor.

Olga Goulart – Certo. Tem algum tipo de sinal, doutor, de sintoma desses cânceres de cabeça e pescoço?

Dr. André Bacellar – Sim. Os sinais principais que a gente deve se atentar são feridas no lábio ou na cavidade oral que não cicatriza. É normal a gente ter aquelas aftas que logo cicatrizam e se curam espontaneamente. Até um medicamento que a gente usa ou algum tipo de alimento fazem surgir essas lesões que são lesões benignas, mas quando essas lesões persistem por mais de 15 dias sem cicatrização é quando a gente deve chamar atenção e procurar um especialista. Seja um cirurgião de cabeça e pescoço, seja um otorrinolaringologista, para avaliar melhor essas lesões.

Olga Goulart – Verdade, tem que descartar a possibilidade de ser uma coisa mais séria, não é?

Dr. André Bacellar – Outros sintomas além dessas lesões, só para completar, são caroços no pescoço, uma rouquidão persistente, dificuldades na deglutição e na fala também são comumente relacionados a estes tipos de cânceres.

Olga Goulart – Verdade. É por isso que você chama tanto a atenção quanto ao tabagismo, um câncer de laringe e outras coisas mais são bem características de uma pessoa que faz uso do tabaco por um longo período na vida.

Dr. André Bacellar – Exatamente, exatamente. Como não tem um método de rastreamento ainda adequado, a única coisa que a gente pode fazer para prevenir esse tipo de câncer é estimular a parada do tabagismo e do alcoolismo, principalmente.

Olga Goulart – Bom, já que é difícil o diagnóstico, naturalmente os nossos hábitos de vida nos previnem e nos protegem de muitas doenças, mas aqueles exames preventivos, doutor, que normalmente a gente pelo menos uma vez por ano, eles poderiam sugerir qualquer tipo de início de problema ou não?

Dr. André Bacellar – Olha, ainda não tem nenhuma indicação que nenhum exame feito de maneira para rastrear seja custo-efetivo. A gente também não estimula muito o autoexame, porque as vezes pode retardar o diagnóstico do tumor. Uma coisa que é interessante são as visitas frequentes para o dentista, que eles geralmente detectam as vezes a lesão numa fase pré-maligna, essas lesões que a gente chama de eritroplasia ou leucoplasia que são lesões que ainda são benignas, muito mais fáceis da gente fazer um tratamento curativo.

Olga Goulart – É habitual que você receba muitos pacientes oriundos exatamente de uma consulta ao dentista? 

Dr. André Bacellar – Sim, sim. Muito comumente o dentista já encaminha diretamente para o otorrino ou o cirurgião de cabeça e pescoço para que seja feita a biópsia que é a maneira de fazer o diagnóstico.

Olga Goulart – Verdade. Até recentemente um otorrinolaringologista comentou exatamente isso, num exame simples mesmo de verificação da laringe foi detectado uma lesão, uma lesão que obviamente ele suspeitou e fez o devido encaminhamento e era de fato um câncer que foi detectado em estágio inicial e muito mais fácil, naturalmente, de ser curado.

Dr. André Bacellar – Não tenha dúvida.

Olga Goulart – E em termos de tratamento, queria saber o que que tem de novidade, como é que o paciente passa por um tratamento, se ele tem que ser cirúrgico?

Dr. André Bacellar – A gente pode classificar o tratamento como 3 grandes pilares desse tratamento. Tem a cirurgia que geralmente é o tratamento principal, a radioterapia e a quimioterapia. Muitas vezes até para melhores resultados os 3 são necessários e as vezes a gente pode excluir um deles, inclusive a cirurgia. Muitos tumores iniciais também podem ser tratados com radioterapia e quimioterapia. A radioterapia e quimioterapia também tem um papel naquele tumor localmente avançado, que as vezes a cirurgia é muito mutilante e a gente tentando poupar as funções do indivíduo de deglutir, de falar, de comer e respirar, a gente tenta fazer cada vez mais tratamentos menos agressivos.

Em relação ao tratamento houve um avanço considerável. As técnicas cirúrgicas são menos mutilantes. A radioterapia hoje está mais precisa, poupando tecidos normais próximos a área irradiada e quimioterapia também ganhou aliados como a terapia alvo, que são drogas ainda mais específicas pelo tratamento da célula tumoral. E quando a gente pega esse tumor antes dele se espalhar para órgãos mais distantes estima-se que hoje a possibilidade de cura a gente tem em até 80% dos casos.

Olga Goulart – Falamos aí no decorrer da nossa conversa, do nosso batepapo, doutor, sobre a importância de evitar situações que podem agravar, por exemplo, um quadro de câncer de cabeça e pescoço que é o tabagismo e outras situações mais. E eu gostaria de finalizar, portanto, as suas orientações falando exatamente das mudanças do nosso estilo de vida que podem sim garantir uma prevenção, não só para câncer dessa natureza de cabeça e pescoço como para todos os outros.

Dr. André Bacellar – A gente verifica que os pacientes com tumores de cabeça e pescoço tem as vezes uma péssima higiene oral e isso pode ser mudado. A higiene oral é muito importante, as visitas regulares ao dentista, além disso a alimentação também foi verificado nesses pacientes e é uma alimentação pobre em proteínas, minerais, vitaminas e rica em gorduras. Então a mudança alimentar também tem um papel importante na prevenção, não só do câncer de cabeça e pescoço, como de todos os tumores.

Olga Goulart – Ok. Doutor André Bacellar, muito obrigada e até a próxima dica aqui no Viva Mais Viva Melhor.