Nossas Entrevistas

Oncologia Clínica

Tema: Câncer

Por Dr. Eduardo Moraes

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Olga Goulart - Sabemos que o câncer se caracteriza por um crescimento desordenado das células, e ele não tem uma causa única não, ele tem várias. Embora seja uma doença como outra qualquer ele carrega com um estigma muito grande porque nos confronta com o medo mesmo da nossa finitude. Mas olha, a falta de informação e o medo são os maiores inimigos nesta batalha. Hoje nós conversamos com o Dr. Eduardo Moraes que é oncologista, para a gente se manter bem informado e no que depender da gente em termos de prevenção que a gente saiba fazê-lo.

Doutor Eduardo, por que que nós estamos vendo casos de câncer surgirem em pessoas ainda muito jovens?

Dr. Eduardo Moraes - Olha Olga, como você falou muito bem na sua introdução o câncer é um conjunto de doenças, não é uma doença única, e que tem vários fatores, você tem fatores externos que são os fatores associados ao que você come, a sua dieta, a sua exposição a substâncias químicas seja elas ingeridas nos alimentos como por exemplo agrotóxicos, seja ela na sua área de trabalho ou exposição a substâncias químicas, radiação, você também tem hábitos de vida que são muito associados com o câncer como o cigarro, a bebida em excesso, exposição ao vírus como o vírus da hepatite, o vírus do colo do útero que é o HPV e você tem fatores internos também, que são aqueles que você herda da sua família.

Olga Goulart - O número de casos de câncer, de tipos de câncer, em função da questão da hereditariedade é muito grande?

Dr. Eduardo Moraes - Olha, no âmbito geral não. Ele corresponde no máximo a 10% dos cânceres. Pelo menos daqueles cânceres mais estudados que são os cânceres de intestino e câncer de mama. Então a gente vê que existe uma série de outros fatores não-hereditários que contribuem ou que junto com estas tendências familiares ajudam a elevar o câncer.

Olga Goulart - Ok. O senhor falou doutor na sua explicação sobre os nossos hábitos de vida e dentre os erros que a gente comete, um deles é ficar longas datas sem fazer os nossos exames preventivos. No caso das mulheres por exemplo, me ocorre aqui mamografia ou mesmo o exame preventivo do colo do útero. Para os homens o PSA e o toque retal que ainda há também um mito muito grande em torno deste assunto e isso é de extrema relevância, sobretudo a partir de certa idade, a execução destes exames, bem como outros mais. Vamos falar um pouquinho da necessidade deles e quais são as fases mais importantes.

Dr. Eduardo Moraes - Veja bem, você lembrou bem, neste ponto as mulheres levam a grande vantagem. Eu acho que já é culturalmente que as mulheres já são educadas a se cuidarem, desde a questão da beleza, do cabelo e da pele, então as mulheres tem essa tendência de ir ao médico, conhecer melhor o corpo e procurar o encontro a alguma alteração. Então as mulheres começam com uma dieta, então aí a mulher também já sai na frente do homem, porque a mulher tende a cuidar da dieta melhor, cuidar do corpo, exercício físico que também é uma prevenção. Depois você vem a visita ao médico, então a visita ao médico por si já é uma grande oportunidade de se conversar e também de se examinar. 

O exame físico médico é muito importante na prevenção do câncer. Daí partimos especificamente para o câncer de mama como você mencionou, a mamografia que deve ser feita anualmente a partir dos 50 anos ou quando tem história familiar 10 anos a pessoa mais jovem da família. Temos o exame preventivo que é o do colo do útero, aquele exame que deve ser feito a partir do momento que a mulher começa a entrar na atividade sexual, então ela deve procurar um ginecologista antes até para se preparar e depois deve estar fazendo exames anualmente durante a sua vida sexualmente ativa.

Temos também o exame da pele que pode ser feito pelo clínico ou pelo dermatologista, principalmente para aquelas pessoas que tem a pele mais clara. Temos também o exame do intestino que é o exame da pesquisa de sangue nas fezes e a colonoscopia que também é muito importante para prevenção de câncer do intestino.

Já falando um pouquinho sobre os homens especificamente, porque aqueles cânceres são comuns aos homens como o de intestino e de pele a recomendação é a mesma. Já o homem, o câncer mais comum no homem é o câncer da próstata, por isso o homem também a partir dos 50 anos deve frequentar o urologista para fazer uma avaliação laboratorial que é o exame do PSA, que é o exame de sangue que deve ser colhido e analisado junto com o urologista e o toque retal que é o exame direto da próstata feito pelo urologista no consultório médico. É o exame que você colocou que tem um pouco de desconforto e os “machões” se sentem um pouco desconfortável porque é feito através do ânus, mas que é um exame indolor, é inócuo, é desconfortável é verdade, mas não deve ser doloroso e apesar do desconforto previne o câncer que é o câncer que é mais comum nos homens.

Olga Goulart - Nós vivemos numa cidade muito quente dentre as suas advertências e aí você citou esse exame ao dermatologista, um exame da pele, e a gente esquece que os efeitos nocivos do excesso de sol eles vem ao longo dos anos, então é bom fazer esta avaliação em função em função da nossa exposição que aqui na Bahia é muito maior.

Dr. Eduardo Moraes - Com certeza, é quase impossível se viver na Bahia e não ser exposto ao sol. E você lembrou bem que esta exposição, inclusive é mais importante na infância, tanto é que aquelas mães que eu me lembro quando era criança a gente ia para a praia naquele horário de 11hrs, meio dia ia a família toda para a praia, hoje em dia a recomendação é você levar as crianças até no máximo as 10hrs, usar protetor solar, usar roupa com proteção UV, usar o guardachuva, o bonezinho, porque esta exposição solar que você tem na primeira infância é a mais importante que determina o câncer de pele no futuro.

Olga Goulart – Doutor, este crescimento desordenado das células que caracteriza o câncer, uma pessoa que passa pelo tratamento, que têm o seu problema solucionado, como é que deve ser este acompanhamento depois para evitar a recidiva?

Dr. Eduardo Moraes - Aí depende muito do tipo de câncer que você teve, porque como a gente conversou, o câncer não é uma doença só, são mais de 100 doenças e cada câncer está associado a fatores específicos, então o acompanhamento é recomendado pelo menos por cinco anos, sendo que os 2 primeiros anos são os anos mais importantes, porque a chance de recidiva, mais de 70% das recidivas ocorrem nos primeiros 2 anos, então nestes primeiros 2 anos pós-câncer, você deve fazer uma visita ao médico pelo menos a cada 3 ou 4 meses regularmente e fazendo exame específico a depender do tipo de câncer que você teve.

Olga Goulart - Em termos de tratamento nós sabemos que há um progresso muito importante em termos de tecnologia, não só em detecção precoce do câncer, como também nas possibilidades de tratamento, o que nós podemos atualizar as pessoas em termos de avanços em tecnologia?

Dr. Eduardo Moraes - Nos últimos anos nós temos visto realmente um grande avanço nas diversas áreas. No tratamento de câncer você tem basicamente 3 armas principais: a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. Falando um pouquinho primeiro sobre a cirurgia, as cirurgias tem se tornado cada vez menos invasivas, menos agressivas, então nós temos hoje cirurgias menores, feitas muitas vezes via laparoscópica, que é aquele modelo que você vai com a câmera e você faz cortes pequenos justamente para minimizar o trauma cirúrgico, a anestesia também avançou muito e os cuidados pós-operatórios. Então hoje você consegue fazer cirurgia para câncer via laparoscópica e que o paciente fica no hospital por 2 ou 3 dias, muitas vezes recebe alta até no dia seguinte e faz uma cirurgia para câncer, algo que era impensável no passado. 

Em relação a radioterapia, nós também temos máquinas mais potentes e mais específicas, então ela consegue atacar e irradiar os tumores menores em áreas muito sensíveis, mas com uma toxidade muito menor, com uma concentração de radiação muito mais focada do que nós tínhamos no passado, tudo guiado por computador, por tomografias, então você tem uma chance de acerto e de sucesso em toxidade muito menor.

Em relação a quimioterapia nós também temos visto nos últimos anos um grande avanço no desenvolvimento de novas drogas, a partir do conhecimento da biologia do tumor. No passado todas os tratamentos que nós fazíamos era à base da quimioterapia tradicional que age nas células em multiplicação, porque essa é a característica principal de todos os cânceres. Entretanto, ao identificar o câncer, especificamente qual é a via de crescimento daquele câncer, foi possível desenvolver drogas específicas que hajam especificamente naquelas células poupando as células normais do organismo, com isso ganhamos uma grande efetividade, com uma menor toxidade.

Houve também o desenvolvimento de drogas orais, enquanto no passado a maioria das drogas eram venosas, hoje podemos fazer tratamentos à base de comprimidos em casa, sem necessidade de fazer aquelas infusões venosas. Também a toxidade, muitos tratamentos hoje não caem cabelos, que é uma grande preocupação de todos, mais principalmente das mulheres. Então isso tem trazido uma comodidade, uma efetividade maior e uma cura maior também para os nossos pacientes.

Olga Goulart - Doutor é verdade que mágoa, ressentimento, uma tristeza, uma dificuldade de sair de uma situação de depressão ou de estresse poderia agravar ou mesmo desencadear um processo de câncer?

Dr. Eduardo Moraes - Isso ainda é debatido, Olga. Existe uma grande discussão em relação a isso, se você conversar com os pacientes, normalmente eles associam a doença deles com uma perda, uma perda familiar, uma separação, mas os estudos não comprovam exatamente esta relação. Isso é importante esclarecer, porque no passado alguns pacientes carregavam uma culpa muito grande do câncer, eles achavam que eles criavam câncer porque eram pessoas mais introvertidas, depressivas, não são expansivas, guardam os ressentimentos, e a gente sabe que isso não é verdade, então isso serve até para esclarecer e aliviar a culpa que alguns pacientes chegam, porque eles tem aquela sensação de que o câncer foi criado por eles e isso não é verdade, o câncer pode acontecer em qualquer pessoa, pessoas alegres, extrovertidas e pessoas tristes também desenvolvem câncer.

Olga Goulart - Como nós falamos no início, como os nossos hábitos de vida falam muito da nossa condição de saúde, não custa nada comer bem, se movimentar, colocar um pouco mais de alegria na vida e visitar seu médico regularmente, não é Dr.?

Dr. Eduardo Moraes - Com certeza. Isso aí talvez seja uma grande diferença, as pessoas depressivas tendem a fumar mais, beber mais, não ir ao médico, não se cuidar, não se alimentar bem, não fazer atividades físicas, isso talvez esteja associado, mas não é a questão da pessoa ser introvertida, é a questão dos hábitos de vida talvez associados aquele perfil psicológico da pessoa.

Olga Goulart - Ok. Dr. Eduardo Moraes muito obrigada! E para vocês que estão nos acompanhando, observem bem tudo que foi dito aqui e tem muito mais sobre o Dr. Eduardo Moraes, oncologista, no nosso portal Viva Mais Viva Melhor. Até a próxima doutor, um abraço.

Dr. Eduardo Moraes - Um abraço, Olga.