Nossas Entrevistas
Ginecologia e Obstetrícia
Mitos e Verdades sobre Infertilidade
Por Dra. Ana Paula Leal
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Viva Mais Viva Melhor – Realizar o sonho de ter um filho nem sempre é tão simples quanto parece. Muitas vezes no momento em que decide gerar um bebê o casal pode encontrar dificuldades. A falta de fertilidade seja em homens ou mulheres pode acontecer por diversos fatores, talvez por isso existem muitos mitos relacionados a infertilidade. Para falar um pouco sobre o tema na nossa série Mitos e Verdades, hoje quem conversa conosco é a médica Ana Paula Leal, especialista em ginecologia e obstetrícia, pós-graduada em reprodução assistida.
Doutora, é correto afirmar que a infertilidade é um problema apenas feminino?
Dra. Ana Paula Leal – Não. Quando se investiga a infertilidade devemos investigar o casal, pois 30% das causas são de origem feminina, 30% vai ser de origem masculina, 30% é mista, ou seja, existe dificuldade em ambos e os outros 10% são de infertilidade sem causa aparente, em que não é possível estabelecer o diagnóstico. Então a gente não pode imputar somente a mulher o fato da infertilidade.
Viva Mais Viva Melhor – Quem teve caxumba pode ter ficado estéril, isso é mito ou é verdade?
Dra. Ana Paula Leal – É verdade. Quando a caxumba acontece depois da puberdade o vírus da caxumba pode causar uma inflamação nos testículos que mata as células que dão origem aos espermatozoides, essa inflamação pode afetar um ou os dois testículos e, a depender do grau de acometimento, pode levar a uma infertilidade masculina. A melhor forma de prevenção é a vacinação contra a caxumba ainda na infância.
Viva Mais Viva Melhor – É verdade que o uso do notebook no colo afeta a fertilidade ou isso é mito?
Dra. Ana Paula Leal – Os testículos estão localizados fora do corpo, pois para funcionarem melhor eles precisam estar com a temperatura mais baixa do que a interna do nosso corpo. Então, portanto, acredita-se que a alta temperatura na região próxima dos testículos poderia prejudicar a produção de espermatozoides.
Viva Mais Viva Melhor – E é verdade que andar de bicicleta pode ser prejudicial ao homem ou isso é mito?
Dra. Ana Paula Leal – É verdade. O ciclismo quando é praticado mais de 3 horas por semana ele pode prejudicar a saída do espermatozoide de duas maneiras, através da lesão e do calor, que é o impacto dos testículos contra o selim da bicicleta pode levar a traumas na região genital, o aumento da temperatura nos testículos pela fricção dos testículos contra a coxa e o selim e o uso de roupas esportivas que trazem o testículo para muito perto do corpo aumenta a temperatura e aí pode ter o comprometimento da fertilidade, realmente.
Viva Mais Viva Melhor – Verdade dizer que mulheres que se exercitam demais podem ter dificuldade para engravidar, isso é mito ou é verdade?
Dra. Ana Paula Leal – É verdade. O excesso de exercício físico diminui a quantidade de gordura no organismo muito abaixo do necessário para produção hormonal normal e aí dessa forma pode acontecer alteração na ovulação e no ciclo menstrual, podendo a mulher até ficar sem menstruar.
Viva Mais Viva Melhor – O uso da pílula contraceptiva por muitos anos pode causar infertilidade?
Dra. Ana Paula Leal – É mito. A pílula não causa infertilidade. Inclusive, estudos demonstram que mulheres que usam pílula anticoncepcional têm um menor risco de desenvolver endometriose, cisto de ovário e câncer de ovário. O que pode acontecer é que durante o uso da pílula pode-se ter uma falsa impressão que o ciclo menstrual está normal e aí mascarar um problema existente que só vai se perceber depois que a gente suspende a pílula e aí fica-se achando que a pílula que causou a infertilidade.
Viva Mais Viva Melhor – É verdade que a obesidade diminui a fertilidade da mulher?
Dra. Ana Paula Leal – É verdade. A obesidade nas mulheres causa uma alteração hormonal que interfere no ciclo menstrual e na ovulação e aí pode dificultar realmente a engravidar.
Viva Mais Viva Melhor – Doutora, alimentos afrodisíacos como o ovo de codorna, o amendoim, podem aumentar a fertilidade, isso é verdade ou é mito?
Dra. Ana Paula Leal – É mito. Estes alimentos podem até aumentar o desejo sexual, mas não há evidências científicas que ele aumente a fertilidade.
Viva Mais Viva Melhor – Fumar afeta a fertilidade, isso é mito ou é verdade?
Dra. Ana Paula Leal – É verdade. O tabagismo afeta tanto a fertilidade masculina quanto a feminina. No homem ele vai produzir espermatozoides com dificuldade de locomoção e de forma anormal e na mulher a gente observa a diminuição do número de óvulos nos ovários antecipando a chegada da menopausa.
Viva Mais Viva Melhor – A mulher que tem o útero retrovertido não pode engravidar, isso é mito ou é verdade?
Dra. Ana Paula Leal – É mito. O útero retrovertido não é uma anormalidade e sim uma variação da posição normal do útero. O que acontece é que em algumas patologias como endometriose e miomas volumosos pode haver a mudança da posição normal do útero devido a doença e essa sim seria a causa da infertilidade.
Viva Mais Viva Melhor – A idade interfere na fertilidade da mulher, isso é mito ou é verdade?
Dra. Ana Paula Leal – É verdade. Infelizmente o avançar da idade tem um impacto negativo na fertilidade feminina, pois as mulheres já nascem com a quantidade de óvulos que poderão usar durante toda a vida e aí a fertilidade feminina começa a diminuir a partir dos 35 anos essa queda se acentua a partir dos 40. Então além de uma perda da quantidade de óvulos temos também a diminuição da qualidade desses óvulos, estes óvulos vão envelhecendo.
Viva Mais Viva Melhor – Mulheres que realizam o procedimento da fertilização in vitro (bebê de proveta) terão sempre mais de um bebê por gestação, isso é mito ou é verdade?
Dra. Ana Paula Leal – É mito. O risco de gestação gemelar fica aumentado nos casos em que transferimos para o útero muitos embriões para tentar a gestação. Hoje a quantidade máxima de embriões transferidos por vez é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina baseada na idade da mulher, visando tanto a diminuição do número de gravidez múltiplas e dessa forma a gente vai ter uma gravidez mais segura para a mãe e menor risco de prematuridade dos bebês. Então não é regra que sempre vai ser gravidez de gêmeos, trigêmeos…
Viva Mais Viva Melhor – Doutora, é mito ou é verdade afirmar que a infertilidade só é um problema depois dos 35 anos.
Dra. Ana Paula Leal – É mito. Existem várias causas de infertilidade e que pode acometer as mulheres em qualquer faixa etária, como endometriose, miomas, obstrução nas trompas, doenças infecciosas e autoimunes que comprometem a fertilidade feminina, então não é só a idade que é um fator negativo para a mulher engravidar.
Viva Mais Viva Melhor – Pessoas que já engravidaram uma vez não terão problema para engravidar novamente, isso é verdade ou é mito?
Dra. Ana Paula Leal – É mito. O fato de já ter um filho é um fator positivo quando avaliamos a fertilidade de uma pessoa, porém a nossa saúde vai mudando ao longo do tempo e podem surgir alterações no nosso organismo, seja na parte anatômica e na parte hormonal que depois pode causar dificuldade para a gente engravidar.
Viva Mais Viva Melhor – Um aborto natural diminui a chance de uma segunda gravidez, isso é verdade, doutora, ou é mito?
Dra. Ana Paula Leal – Mito. O aborto natural ocorre em cerca de 15% das gestações detectadas e não é um sinônimo que a mulher terá problema para concretizar uma próxima gestação, porém é preciso se investigar a causa do aborto para afastar doenças que podem levar a abortamentos de repetição.
Viva Mais Viva Melhor – Para finalizar, doutora, abortos provocados podem interferir na fertilidade, isso é mito ou é verdade?
Dra. Ana Paula Leal – É verdade. O aborto provocado pode levar a infertilidade em virtude de frequentemente eles serem realizados de forma inadequada e sem boas condições de esterilização. Então desta forma pode causar sequelas no aparelho reprodutivo feminino devido a infecções no útero, obstrução das trompas e insuficiência do colo uterino e aí numa gravidez futura trazer problemas.
Viva Mais Viva Melhor – Conversamos com a doutora Ana Paula Leal, especialista em ginecologia e obstetrícia. Doutora, muito obrigada e até a próxima.