Nossas Entrevistas

Olga Goulart – A hiperplasia prostática benigna, também conhecida como HPB, é uma doença inerente ao envelhecimento do homem, ocorre geralmente a partir dos 50 anos de idade por alterações hormonais e a sua incidência vai aumentando com o passar dos anos. A patologia é caracterizada pelo aumento benigno da próstata, que é a glândula que produz o espermatozoide. Para responder as dúvidas sobre este tema à nossa série Mitos e Verdades, quem conversa conosco é o médico Juarez Andrade, especialista em urologia.

Doutor, a HPB é uma doença que só acomete os idosos, isso é mito ou é verdade?

Dr. Juarez Andrade – Na imensa maioria das vezes isso é verdade, ela raramente atinge pessoas mais jovens, mais é possível encontrar pacientes de 35 a 40 anos com aumento significativo do volume da próstata. Entretanto Olga, isso só pode ser considerado doença, isso realmente se transforma em problema, quando a obstrução ocorre, quando ocorre uma dificuldade de passagem da urina. O fato é que a próstata abraça a uretra, ela envolve completamente a uretra, então quando ela cresce ela pode ou não comprimir sobre este canal que passa a urina, provocando a dificuldade para urinar. O simples fato da próstata crescer não necessariamente se traduz num problema.

Olga Goulart – É correto afirmar que todo homem terá a próstata aumentada em um momento da vida, doutor?

Dr. Juarez Andrade – A prevalência aumenta expressivamente à medida que os anos passam. Cerca de 80% dos homens com 90 anos têm a sua próstata aumentada, portanto realmente é muito frequente.

Olga Goulart – É mito ou é verdade que a HPB pode atrapalhar a vida sexual do homem?

Dr. Juarez Andrade – É uma verdade sim. Tem um trabalho muito famoso, feito aqui no Brasil, que mostra que a dificuldade para urinar, dificuldade do esvaziamento e a preocupação com esta dificuldade, tira o foco do homem na atividade sexual e, com isso, o desempenho dele diminui expressivamente. Não por uma relação direta de causa e efeito, mas por uma relação indireta, não por um problema orgânico, mas por um problema de origem psicológica.

Olga Goulart – O paciente com hiperplasia prostática benigna perde a capacidade da ejaculação e não pode mais ter filho, esta afirmativa é mito ou é verdade?

Dr. Juarez Andrade – As cirurgias para o tratamento deste problema costumam deixar o paciente com incapacidade de ejacular, esta cirurgia não provoca alteração na ereção, portanto nenhum prejuízo com a capacidade sexual, mas interfere na capacidade reprodutiva, na medida que o esperma não mais é lançado para fora da uretra e cai para dentro da bexiga, mistura com a urina e o paciente acaba eliminando quando urina mais tarde, ele passa a ter uma ejaculação retrógrada, como se ejaculasse para dentro caindo dentro da própria bexiga.

Olga Goulart – Os primeiros sinais da hiperplasia prostática benigna são a perda de força do jato urinário e a necessidade de urinar frequentemente, isso é verdade ou é mito doutor?

Dr. Juarez Andrade – É verdade sim, Olga. Os pacientes as vezes não percebem porque esta mudança é muito lenta e gradual, mas ele aos poucos vai tendo uma dificuldade de esvaziamento. Por existir esta dificuldade ele precisa urinar mais vezes, ele acorda muitas vezes à noite para urinar e isso provoca um prejuízo expressivo na qualidade de vida. Ele pode ter ainda uma sensação de resíduo miccional, quando ele termina de urinar ele sente que a bexiga ainda tem urina e, portanto, ele passa a urinar em dois tempos. Muitas vezes ele tem um excessivo gotejamento depois que termina de urinar, aqueles pinguinhos que apresentam de uma maneira mais frequente. Ele precisa urinar mais vezes. O jato vai perto, fala que molha o sapato, não consegue mais emitir a urina numa distância muito longa. O calibre deste jato também diminui. Então estes sinais e sintomas ocorrem de maneira lenta e gradual e um dia se transformam em um conjunto de problemas excessivos que causam prejuízo expressivo na qualidade de vida e podem evoluir para infecção urinária, formação de cálculos ou a absoluta incapacidade de esvaziar a bexiga que se traduz em retenção urinária.

Olga Goulart – Por ser uma doença inerente ao envelhecimento, é verdade que não existe tratamento para a próstata aumentada? É verdade ou é mito?

Dr. Juarez Andrade – Também é um mito, porque o nosso interesse não é exatamente diminuir o tamanho da próstata, mais sim diminuir este processo obstrutivo que ela provoca. Portanto, existe uma série de medicações chamados alfabloqueadores que relaxam a musculatura prostática e aquele abraço que eu diria que ela dá na uretra se faz de maneira menos veemente e menos intensa e o esvaziamento pode ocorrer. Portanto, existe sim um tratamento que pode melhorar estes sintomas. Existe ainda um outro grupo de drogas que está a longo prazo e em doses pequenas podem diminuir também um pouquinho o tamanho da próstata. Infelizmente nem todos os pacientes se prestam ao tratamento clínico, nem todos respondem este tratamento e alguns deles necessitam num momento propício da realização de tratamento cirúrgico.

Olga Goulart – O não tratamento da HPB pode causar insuficiência renal, isso é mito ou é verdade doutor?

Dr. Juarez Andrade – Isso é verdade, quando esta obstrução progride e se torna cada vez mais intensa, sem capacidade de esvaziar a bexiga muito acentuada, aquele resíduo fica muito elevado, a pressão na bexiga muito alta por dificuldade de esvaziamento, essa pressão pode se transmitir para o andar superior do aparelho urinário que são os rins e esta pressão sobre os rins com dificuldade também do seu esvaziamento provoca aos poucos a insuficiência renal. Portanto, pode sim o paciente evoluir para um prejuízo expressivo da função renal por falta de tratamento da hipertrofia prostática benigna.

Olga Goulart – E tem como prevenir a HPB?

Dr. Juarez Andrade – Não, infelizmente não existe nenhuma medicação que possa prevenir. O que a gente precisa é diagnosticar e entender o momento em que ela necessita de tratamento e instituir o tratamento que é absolutamente conhecido, eficiente, e os urologistas sabem muito bem como resolver esta questão.

Olga Goulart – É verdade que a HPB não é e nem aumenta o risco de se desenvolver um câncer, doutor?

Dr. Juarez Andrade – Não existe nenhuma relação entre a doença benigna e o câncer de próstata. Também não existe nenhuma prevenção, o paciente as vezes opera por um tumor benigno da próstata e imagina que ele com isso previne o câncer da próstata. Não existe, essa cirurgia para o tratamento do tumor benigno não previne o câncer da próstata. São doenças distintas, o tumor benigno faz o crescimento da parte mais central da glândula e o câncer de próstata ocorre na parte periférica da glândula, portanto não adianta tratar um para prevenir o outro.

Olga Goulart – Conversamos com o médico Juarez Andrade, especialista em urologia. Doutor, muito obrigadao e até a próxima.