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Hepatologia

Mitos e Verdades – Hepatite C

Por Dr. André Lyra

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Olga Goulart – Estima-se que existam no mundo cerca de 170 milhões de portadores crônicos do vírus da hepatite C e no Brasil entre 3 e 4 milhões de pessoas infectadas. A doença representa um importante problema de saúde pública, pois uma parte destes indivíduos pode progredir para cirrose, uma complicação de grande relevância clínica. A transmissão pela hepatite C ocorre principalmente através do sangue e dos seus derivados. Para falar um pouco melhor sobre o tema na nossa série Mitos e Verdades, conversamos com o doutor André Lyra, especialista em gastroenterologia e hepatologia.

Doutor, é verdade que a hepatite C pode ser curada?

Dr. André Lyra – É verdade, Olga. O tratamento atual é bem mais eficaz que o anterior e já o anterior proporcionava cura de alguns pacientes. Uma vez que o vírus é eliminado e preencher os critérios de cura o paciente não mais vai tê-lo

Olga Goulart – A hepatite C é uma doença silenciosa e só apresenta sintomas em estágio muito avançado, isso é mito ou é verdade?

Dr. André Lyra – É verdade também. A maioria dos pacientes que tem contágio com a hepatite C evolui com a doença de forma silenciosa e muitas vezes quando o diagnóstico não é feito precocemente, durante o exame de rotina, esses pacientes vão só ter o diagnóstico adiante, numa fase mais avançada após apresentarem sintomas.

Olga Goulart – A hepatite C é transmitida somente através do sangue, isso é verdadeiro ou é falso?

Dr. André Lyra – A transmissão sanguínea foi a principal forma de transmissão do vírus C e hoje em dia também ainda é uma forma de transmissão importante, mas existem outras formas de transmissão, por exemplo compartilhar seringas ou compartilhamento de materiais perfurocortantes podem provocar a transmissão, o que na verdade o sangue tem influência neste sentido. A transmissão sexual pode ocorrer, mas ela é menos frequente. Transmissão por materiais hospitalares não esterilizados adequadamente raramente hoje em dia, evidentemente os materiais são esterilizados adequadamente, mas raramente pode também levar a transmissão.

Olga Goulart – A hepatite C pode ser transmitida por beijo, abraço, espirro, compartilhamento de talheres, pratos ou copos, preparo de comida ou qualquer tipo de contato casual, isso é verdadeiro ou é falso, é mito ou é verdade?

Dr. André Lyra – Isso é falso. Nenhuma destas formas de transmissão que foram mencionadas podem levar a aquisição do vírus.

Olga Goulart – Além dos utensílios cortantes, doutor, o esmalte, bem como as tintas de tatuagem que não são esterilizáveis, podem conter ou transmitir o vírus da hepatite C, isso é mito ou é verdade?

Dr. André Lyra – Sem dúvida, como eu mencionei anteriormente, os utensílios cortantes se forem passados de uma pessoa para outra podem transmitir o vírus. De forma que cada pessoa deve ter seu próprio material para realizar este tipo de tarefa, de manicure ou coisas neste sentido. O vírus nas tintas isso não é muito bem estudado, mas é de bom senso também que cada um tenha o seu próprio material.

Olga Goulart – Seja individualizado, não é?

Dr. André Lyra – Exatamente.

Olga Goulart – A hepatite C pode ser transmitida de uma mãe infectada para o seu filho durante a gravidez ou parto, isso é mito ou é verdade?

Dr. André Lyra – É verdade, não é uma forma tão frequente de transmissão, mas eventualmente mães com carga viral muito elevada podem transmitir o vírus durante a gestação ou durante o parto.

Olga Goulart – Mulheres com hepatite C não podem amamentar os filhos, isso é mito ou é verdade, doutor?

Dr. André Lyra – A Organização Mundial de Saúde (OMS) não contraindica amamentação de mulheres com hepatite C para os seus filhos, entretanto é necessário levar em consideração que não pode ter nenhum tipo de ferida na região periareolar, se houver deve ser evitada.

Olga Goulart – Os exames para detecção da hepatite C devem ser feitos de rotina, isso é verdadeiro ou é falso? 

Dr. André Lyra – É verdadeiro. Há uma recomendação das Sociedades Brasileiras de hepatologia, as Sociedades Internacionais Americana e Europeia, recomendam que indivíduos que nasceram particularmente até 1969 sejam submetidos para exame de detecção rotina para hepatite C que é o ANTI-HCV.

Olga Goulart – Doutor, é mito ou é verdade afirmar que os efeitos colaterais do tratamento da hepatite C podem ser tão fortes quanto aos da quimioterapia?

Dr. André Lyra – Realmente até pouco tempo atrás, até cerca de 2 a 3 anos atrás, nós utilizávamos uma combinação terapêutica que envolvia o interferon peguilhado, que é uma droga que estimula o sistema imunológico e provoca muitos efeitos colaterais semelhantes de uma quimioterapia em uma parcela significativa dos pacientes. Mas atualmente, nos últimos 2 ou 3 anos, surgiram drogas novas e são drogas somente orais cujo os efeitos colaterais são mínimos. Então hoje em dia não há mais esta preocupação quanto aos efeitos colaterais da forma que existia anteriormente.

Olga Goulart – Novos medicamentos com menos efeitos e melhores resultados foram recentemente aprovados para o uso no Brasil, isso procede? É mito ou é verdade?

Dr. André Lyra – Procede. O governo de fato comprou cerca de 30 mil terapias com estas drogas novas que estão sendo utilizadas desde o ano passado. Então é verdadeiro sim e os resultados são excelentes, as chances de cura de um modo geral de 80 a 100% de acordo com as características de cada paciente e os efeitos colaterais são poucos.

Olga Goulart – A hepatite C não tratada pode se transformar num câncer de fígado, isso é mito ou é verdade doutor?

Dr. André Lyra – Uma vez que o indivíduo adquiriu a hepatite C e ele tem a infecção crônica, cerca de 10 a 20% dos indivíduos cronicamente infectados vão evoluir com cirrose hepática depois de 20 a 30 anos de infecção. Estes pacientes com cirrose hepática, de fato têm uma chance maior de ter o câncer de fígado, que é chamado de hepatocarcinoma ou carcinoma hepatocelular. De forma que a hepatite C, ao levar à cirrose hepática, aumenta de forma significativa as chances de câncer de fígado, sem a cirrose hepática as chances de ocorrer este tumor que eu mencionei é rara.

Olga Goulart – É verdade que quem tem hepatite C não deve ingerir bebida alcoólica?

Dr. André Lyra – É verdade. Mesmo pequenas quantidades de bebidas alcoólicas podem acelerar a progressão da doença, acelerar a progressão da fibrose ao longo dos anos. Então quem tem hepatite C idealmente não deve ingerir bebidas alcoólicas.

Olga Goulart – E é verdade, doutor, que a hepatite C mata mais do que a AIDS?

Dr. André Lyra – Como existem mais pacientes infectados com hepatite C no Brasil, então nós observamos mais complicações relacionadas a hepatite C, complicações relacionadas a cirrose hepática. Quando nós avaliamos dessa forma, de fato há mais pacientes que morrem em decorrência desta doença do que do HIV.

Olga Goulart – Para finalizar, é correto afirmar que já existe a vacina contra a hepatite C, ou isso é mito?

Dr. André Lyra – Isso é mito. O vírus da hepatite C é um vírus que tem no seu código genético uma alta taxa de mutação, de forma que até hoje não foi possível desenvolver a vacina contra o vírus. Então não existe vacina contra a hepatite C. Embora aproveito para lembrar que existe a vacina para a hepatite B e contra a hepatite A. Estas são também vacinas eficientes, com baixos índices de efeitos colaterais e devem ser tomadas.

Olga Goulart – Conversamos com o médico doutor André Lyra, especialista em gastroenterologia e hepatologia. Doutor, muito obrigada e até a próxima.