Nossas Entrevistas
Cirurgia Bariátrica
Tema – Balão Intragástrico
Por Dr. Marcelo Falcão
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Viva Mais Viva Melhor – Desejo da maioria da população, emagrecer envolve mais do que uma questão estética, é uma questão de saúde. Algumas pessoas tentam perder peso das mais variadas formas, mas, ainda assim, não conseguem alcançar estes objetivos. Neste contexto, surge como recurso clínico para o tratamento da obesidade a colocação do balão intragástrico, procedimento que reduz a capacidade do estômago dando uma sensação de saciedade precoce e auxiliando no processo de reeducação alimentar. Porém, o balão é apenas um tratamento temporário e é preciso ficar alerta com as recomendações médicas. Quem conversa conosco hoje é o médico Marcelo Falcão, especialista em cirurgia do aparelho digestivo.
Doutor, vamos explicar primeiramente o que é o balão intragástrico e como ele pode ajudar no emagrecimento.
Dr. Marcelo Falcão – Olá Olga. O balão intragástrico é mais uma arma no arsenal contra a obesidade. Ele é um tratamento temporário, por endoscopia digestiva, com o aparelho endoscópico comum. Ele é uma prótese esférica que preenche o conteúdo gástrico, ou seja, o estômago. Ele dá ao paciente a sensação de estômago cheio. Esta prótese pode ser preenchida por ar, por líquido e ela tem a capacidade de emagrecer através da restrição alimentar. O paciente não consegue comer volume, ele tem sempre o estômago cheio, ele vai estar sempre empachado e esse é o mecanismo principal do tratamento do balão intragástrico. Ele hoje é um tratamento bem utilizado e que tem a fonte de emagrecimento ou a orientação de emagrecimento baseada na restrição alimentar, diminuir a capacidade deste estômago receber comida.
Viva Mais Viva Melhor – Quem pode colocar o balão intragástrico? Crianças, por exemplo, poderiam passar pelo procedimento?
Dr. Marcelo Falcão – Sim, Olga. O balão intragástrico hoje o Conselho Federal de Medicina já autorizou para ser colocado nos pacientes que têm sobrepeso, com índice de massa a partir de 27 você tem essa indicação. O balão tem essa funcionalidade de evitar chegar no estado de obesidade ou evitar que chegue na obesidade mórbida. As crianças podem desde que sejam referenciadas principalmente pelo endocrinologista, pelos pais, que obviamente têm que estar de acordo, e um gastro. Mas o endocrinologista tem que ter participação e indicação fundamental na indicação do balão para as crianças, mas principalmente as crianças acima de 12 anos. As crianças hoje cresceram muito, são crianças que a gente chama de crianças grandes e podem ser. Este balão tem um volume a ser preenchido, obviamente o volume na criança é menor, mas algumas crianças podem ser realmente beneficiadas pelo tratamento.
Viva Mais Viva Melhor – Quais as vantagens do balão intragástrico em relação aos outros tratamentos para a obesidade?
Dr. Marcelo Falcão – O balão tem como principal vantagem em relação principalmente à cirurgia o risco é menor, ele não tem alteração do intestino, nem do estômago, não tem nenhum procedimento que vá fazer uma alteração anatômica, qualquer que seja o modelo cirúrgico existe uma alteração anatômica porque temos que cortar e costurar novamente, refazer o trânsito alimentar. O balão não, ele usa o próprio desenho alimentar habitual e ele é preenchido, ele entra murcho e é insuflado, preenchido com ar ou com líquido dentro do próprio estômago e você modela isso, podendo ser de 400ml até 900ml e 1l de líquido a depender do tipo de balão, do tipo de prótese. Hoje o balão tem uma vantagem em que ele pode permanecer por 1 ano, antigamente ele ficava 6 meses apenas, hoje 1 ano. Você pode repetir a colocação do balão ao longo da vida, você pode retirar o balão e colocar outro balão, é uma outra grande vantagem de você perpetuar o tratamento, continuar o tratamento e principalmente sem alteração, novamente eu falo do desenho cirúrgico do aparelho digestivo. É um procedimento de baixo risco, você faz e 2 horas depois você está em casa.
Viva Mais Viva Melhor – É preciso alguma preparação, doutor, antes da colocação do balão?
Dr. Marcelo Falcão – Sim. O paciente que vai colocar o balão é um paciente na pior das hipóteses em sobrepeso, na maioria das vezes ele tem a doença da obesidade e a obesidade tem doenças associadas, é costume de quem trabalha com balão intragástrico fazer uma avaliação multidisciplinar, uma avaliação cardiológica e nutricional. Isso é fundamental para a gente ver o status deste paciente, como este paciente está antes do tratamento e fundamentar principalmente a parte nutricional para seguir com ele perdendo peso sem, contudo, estar desnutrido. Na parte cardiológica o risco cirúrgico, apesar de pequeno do balão, deve ser avaliado, mesmo porque alguns pacientes têm hipertensão, dislipidemia (aumento do colesterol), tem alguns pacientes que têm arritmia, então você tem que ter um cuidado porque este paciente vai ser submetido a uma anestesia, mesmo que seja uma anestesia para uma endoscopia um pouco mais demorada, que a gente chama de endoscopia terapêutica, é um paciente que vai ser submetido a uma anestesia geral venosa com a medicação chamada Propofol, que dá uma sedação boa e segura, mas precisa desta avaliação. E, principalmente, imediatamente antes da colocação, o jejum de 12 horas para o estômago estar limpo e não ter nenhum problema de resíduo alimentar e quando for anestesiado aspirar isso para o pulmão e ter uma pneumonia. Então o jejum alimentar, a avaliação com a nutricionista e com o cardiologista e com o próprio cirurgião que vai colocar o balão para poder definir tempo de tratamento e as diretrizes deste tratamento.
Viva Mais Viva Melhor – Como é feito a colocação e a retirada do balão intragástrico, doutor?
Dr. Marcelo Falcão – A colocação do balão é feita com sedação com a medicação chamada Propofol em uma sedação venosa. O paciente passa por um preparo de jejum de 12 horas. Ele fica em decúbito lateral esquerdo, uma posição habitual da endoscopia e ele é mantido em ventilação com o cateter de oxigênio. A colocação do balão é muito tranquila, é bem fundamentada e você tem o tempo de insuflação. Após isso o próprio balão você vai liberar ele dentro da cavidade gástrica, ele fica bem e a colocação é mais tranquila. A retirada do balão que fica um pouco mais elaborada, por assim dizer. Porque na retirada do balão ele não fica como ele entra na colocação. Ele entra na colocação como se fosse um charuto. Então a ergonomia dele e o desenho dele é igualzinho ao desenho do esôfago e ele não tem muita dificuldade em passar. Na retirada quando você esvazia este balão ele não vem desta maneira, ele vem murcho, mas vem disforme. Apesar do silicone ser moldado no trato digestivo ele pode competir com a traqueia e aí você tem uma dificuldade de respirar. Por este motivo a retirada do balão exige uma anestesia onde você tem que passar um tubo dentro da traqueia, uma anestesia geral com intubação da traqueia, que nós chamamos orotraqueal. Mesmo por pouco tempo, mas é segurança por conta desta passagem na retirada que o balão sai pela boca e quando ele vem pela boca ele pode competir com a traqueia e ter uma obstrução respiratória, o que seria um caos. Isso é evitado fazendo essa intubação orotraqueal.
Viva Mais Viva Melhor – Quais são as contraindicações do procedimento?
Dr. Marcelo Falcão – A primeira contraindicação é cirurgia no estômago e no esôfago. Obviamente você não pode colocar balão se você não tiver condições mínimas adequadas para o desenho do aparelho digestivo. Uma outra grande contraindicação são pacientes que não têm condição de manter o tratamento clínico, isso é avaliado principalmente pela psicologia e pela nutrição, pacientes que têm compulsão alimentar. Porque você tem que tratar isso primeiro para colocar, porque você pode ganhar peso com o balão. É muito importante isso, porque você não come volume, mas você come alimentos hipercalóricos, líquidos, pastosos e hipercalóricos e a gente deve evitar isso sabendo triar o paciente para o balão, não é todo o paciente que serve para o balão. Essa é uma das grandes contraindicações, além da anatômica é a compulsão alimentar não tratada. Outra grande contraindicação, que eu falei de cirurgia de esôfago, de estômago, é o paciente que tem uma hérnia de hiato que causa refluxo muito grande, acima de 5 cm. Isso com o balão pode ser piorado e ficar insustentável a qualidade de vida do paciente. O risco-benefício de você emagrecer e ter o refluxo que pode vir por conta do balão junto com sua hérnia não vale a pena. Então não colocamos balão em pacientes que têm hérnia de hiato e refluxo exacerbado. Além de outras tantas, como usuários de drogas, enfim. Mas essas são as principais contraindicações.
Viva Mais Viva Melhor – O paciente que coloca o balão intragástrico se adapta facilmente?
Dr. Marcelo Falcão – A primeira semana eu costumo dizer que ele vai querer me encontrar na rua e me atropelar. Porque é uma semana difícil onde ele fica empachado por todo o tempo, apesar do uso de medicações para evitar o vômito e náusea. Existe a dor. Porque dor? O balão é uma prótese que está dentro do estômago e o estômago faz contração para tirar esta prótese, quando você come, o estômago faz a contração para a comida descer. Naturalmente, o estômago vai fazer essa contração para o balão descer também e isso vai dar cólica abdominal, então entramos com medicação. A primeira semana é uma semana de adaptação, mas no final desta semana você tem uma sensação melhor e segue com a sensação sempre de empachamento que é o objetivo do balão, mas já não se tem essa intolerância tão grande como nos primeiros 5 dias.
Viva Mais Viva Melhor – O paciente operado pode comer de tudo após a colocação do balão? Quais são os cuidados que ele deve ter após a realização do procedimento?
Dr. Marcelo Falcão – No nosso serviço os pacientes com balões intragástricos passam primeiro pela avaliação nutricional e a nutricionista determina uma dieta que começa com líquidos e ao longo de 15 dias vai chegando a pastoso. Obviamente que o objetivo de perder peso como eu havia dito é pela reeducação alimentar. Ele vai comer sólido ao final do primeiro mês, mas sempre com a orientação do especialista em nutrição, da nossa nutricionista. Ele não deve comer tudo, poder ele pode, mas não deve. A intolerância dele é principalmente a volume, se ele comer ele pode apresentar vômitos, náusea e você ter um desconforto muito maior.
Viva Mais Viva Melhor – Podem existir complicações após a colocação do balão?
Dr. Marcelo Falcão – Sim! Pode sim. O balão pode vir com defeito, como todo equipamento, vazar ou romper. Obviamente as empresas garantem a troca do balão para o paciente. Pode acontecer deste paciente ser mal anestesiado, não estar no ambiente adequado, não estar numa equipe de anestesista, a colocação deste balão não ser num ambiente adequado onde seja capaz de ter um médico especialista em anestesia, o médico endoscopista e o cirurgião cuidado deste paciente. Na colocação, as principais complicações são decorrentes principalmente do ambiente em que foi escolhido para se colocar este balão. A falha do balão é muito rara, mas pode acontecer e quando acontece esse balão é trocado sem nenhum problema para o paciente.
Viva Mais Viva Melhor – Quanto tempo o paciente pode ficar com o balão no estômago?
Dr. Marcelo Falcão – De 6 meses a 1 ano. Hoje nós temos balões de 1 ano, normalmente 8 meses os pacientes ficam e existem balões hoje que você pode reajustar. Eu posso pôr em você hoje no começo 500ml, você vai se adaptando, depois de 1 mês ou 2 meses colocamos mais 200ml, 300ml ou 600ml e assim você vai norteando o tratamento em busca da perda de peso adequada. Como também você pode pôr 800ml ou 600ml num paciente que perdeu muito e aí você tirar um pouco mais, esvaziar. Hoje este balão fica 1 ano, pode ficar 8 meses, mas o mínimo é 6 meses de tempo com o balão e você pode ajustar isso.
Viva Mais Viva Melhor – Qual, mais ou menos, o percentual, ou seja, quantos quilos normalmente o paciente costuma perder após o procedimento e em quanto tempo esta perda se processa?
Dr. Marcelo Falcão – Olha Olga, o Brasil essa semana fez o seu primeiro consenso mundial de balão intragástrico e eu tive a oportunidade de participar e ficou definido como sucesso de perda de peso 10% do peso ou 20% do excesso de peso. Então é uma conta que em quilos pode variar muito, porque se você pega um paciente de 200kg, ele vai perder 10% do peso dele e são 20kg, mas se você pegar um paciente de 80kg e ele perder 10% ou 8kg a relação de perda para aquele corpo é adequada. No entanto, o paciente de 200kg ele perde 20kg em 1 semana. Nós trabalhamos muito com percentagem, o paciente de 200kg que tem 1,90m ele tem 100kg a mais ou 110kg a mais, então esta percentagem de excesso de peso tem que ser pelo menos entre torno de 30 a 40% do excesso de peso. Vulgarmente falando, o paciente de balão de até 90kg ele chega a uma perda de 15kg a 18kg, mas isso vai depender do porte do paciente, se ele é pequeno, se ele é alto, se ele tem mais gordura, se ele tem mais músculos, mas a gente pensa muito em 10% do excesso de peso.
Viva Mais Viva Melhor – Doutor, após a remoção do balão, caso o paciente ainda não tenha atingido o seu objetivo ou mesmo tenha havido reganho de peso, é possível colocar novamente o balão?
Dr. Marcelo Falcão – Sim. O tratamento com balão intragástrico por ser temporário ele pode repetido, não tem nenhum problema em você colocar outro balão, inclusive você pode botar balão sequencial, tirar um e colocar outro no mesmo momento, mas isso tem que obviamente obedecer a um critério de perda de peso e de tratamento para o emagrecimento, não por estética apenas.
Viva Mais Viva Melhor – Os planos de saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS) oferecem cobertura a este procedimento?
Dr. Marcelo Falcão – Os planos de saúde não. O Sistema Único de Saúde no nosso meio o Hospital Roberto Santos tem colocado alguns casos em pacientes superobesos. Mas a realidade do balão hoje é um procedimento particular onde o paciente tem que financiar este tratamento, obviamente depois pede ao seu plano uma recuperação disso.
Viva Mais Viva Melhor – Conversamos com o médico Marcelo Falcão, especialista em cirurgia do aparelho digestivo. Doutor, muito obrigada e até a próxima.