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Oftalmologia

Tema: Retinopatia Diabética

Por Dra. Verônica Castro Lima

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Viva Mais Viva Melhor – A retinopatia diabética é uma complicação que ocorre quando o excesso de glicose no sangue danifica os vasos sanguíneos dentro da retina. Ela não está associada a idade e pode ocorrer em diabéticos tipo 1 e tipo 2. A patologia pode evoluir de forma silenciosa, porém com o passar do tempo a visão tende a piorar levando a cegueira caso não tratada. Para conversar conosco sobre o assunto, convidamos a doutora Verônica Castro Lima, especialista em oftalmologia.

Doutora, vamos explicar primeiramente como o diabetes pode prejudicar os olhos e a retina. Como é que se desenvolve a retinopatia diabética?
Dra. Verônica Castro Lima – Bem Olga, a retinopatia diabética se manifesta por alterações nos vasos sanguíneos da retina, como você colocou. Estas alterações vão levando a isquemia do tecido retiniano e ao aparecimento dos sinais da retinopatia, que são principalmente as hemorragias retinianas. Nos estágios mais avançados da doença, outras complicações podem vir a surgir, como por exemplo uma hemorragia vítrea e um descolamento de retina, que são casos bastante graves e avançados que realmente podem evoluir com cegueira. 

O diabetes mellitus pode afetar a visão do paciente diabético também de outras formas, não só através da retinopatia diabética, como por exemplo o aparecimento de catarata de início mais precoce e as oclusões vasculares da retina, que são, na linguagem popular, ditos como “derrame na retina”. 

A principal causa de perda visual entre os portadores de diabetes é a retinopatia diabética. Então essa retinopatia pode ser dividida em dois estágios, o estágio inicial que é chamado de não proliferativa e o estágio mais avançado que é chamado de proliferativa. A forma não proliferativa é caracterizada pelo aparecimento destas hemorragias retinianas que são mais sutis, hemorragia puntiforme e alterações dos vasos da retina. A forma proliferativa é uma forma mais grave, caracterizada pelo aparecimento de vasos anômalos que têm paredes frágeis e podem sangrar. Quando estes vasos sangram eles causam hemorragias internas que são chamadas de hemorragia vítrea e descolamento de retina fracional.

Viva Mais Viva Melhor – A retinopatia é uma doença que afeta apenas pessoas com diabetes, doutora?
Dra. Verônica Castro Lima – Sim, apenas pacientes diabéticos, tanto o tipo 1 quanto o tipo 2, é que apresentam este tipo de retinopatia.

Viva Mais Viva Melhor – Doutora, quais são os sinais e os sintomas da retinopatia diabética?
Dra. Verônica Castro Lima – Bem, são diversos. Os efeitos da retinopatia diabética na visão eles variam a depender do estágio da doença. Principalmente nas fases iniciais esta doença pode ser assintomática, ou seja, não causar nenhum sintoma para o paciente. Daí que vem a importância do exame preventivo e o paciente diabético procurar o médico oftalmologista assim que sabe do diagnóstico, porque muitas vezes eles não têm sintomas, principalmente nos estágios iniciais. Agora, os pacientes que apresentam já edema macular ou alterações mais graves na retina eles podem mencionar embaçamento visual, é a visão turva, que também pode aparecer por causa de níveis elevados de açúcar no sangue. Então o paciente diabético que tem um pico de hiperglicemia ele pode apresentar embaçamento visual relacionado a esta alteração transitória da glicemia. Mas, em relação a retinopatia, os sintomas mais importantes são turvação visual, o aparecimento de moscas volantes, que são pontos escuros flutuantes na visão, o aparecimento de flashes de luz e perda súbita de visão.

Viva Mais Viva Melhor – E qual especialista que o paciente deve procurar para tratar a retinopatia diabética?
Dra. Verônica Castro Lima – Bem, o médico oftalmologista geral normalmente sabe diagnosticar a retinopatia diabética, porém o tratamento desta condição normalmente é reservado para os médicos especialistas em retinas, os retinólogos. Então o médico oftalmologista especialista em doenças da retina.

Viva Mais Viva Melhor – E como se diagnostica a retinopatia diabética? Existem exames para se detectar a doença?
Dra. Verônica Castro Lima – Sim, existem. A retinopatia pode ser diagnosticada por um simples exame oftalmológico chamado exame de fundo de olho ou mapeamento de retina. Este exame é feito pelo médico oftalmologista no consultório com as pupilas dilatadas. Então o paciente tem que pingar aquele colírio para dilatar a pupila e fazer o exame de mapeamento de retina. Porém, existem outros exames mais específicos que são solicitados e realizados a depender de cada caso. Estes exames são exames contrastados, como a retinografia fluorescente e a tomografia de mácula, que é um exame bem específico para avaliar a presença de edema macular.

Viva Mais Viva Melhor – E a importância de este exame, doutora, o exame de fundo de olho deve ser realizado anualmente? Como é que é feito o exame?
Dra. Verônica Castro Lima – Com certeza. O paciente diabético assim que sabe o diagnóstico ele tem que procurar um médico oftalmologista e o ideal é que sejam feitas avaliações uma vez por ano, ou seja, pelo menos um mapeamento de retina anual deve ser realizado. Se o paciente apresenta já algum grau de retinopatia diabética esse exame pode ser feito mais precocemente, por exemplo uma vez a cada 6 meses ou uma vez a cada 4 meses a depender do critério que o médico utilizar. Mas normalmente a orientação é que se faça a avaliação uma vez por ano.

Viva Mais Viva Melhor – A gravidez pode agravar problemas na retina de pacientes diabéticos, doutora? Qual que é a orientação para estas mulheres?
Dra. Verônica Castro Lima – Sim, a gestação pode piorar o grau de retinopatia diabética, principalmente nas mulheres portadoras do diabetes mellitus tipo 1. Então nestes casos a orientação é que se faça o exame de mapeamento (exame de fundo de olho) em todo o trimestre da gestação, no primeiro, no segundo e no terceiro trimestre. Normalmente a gente sabe também que após o parto esta retinopatia tende a regredir. Então a piora da retinopatia se deve a alterações hormonais que acontecem durante a gestação.

Viva Mais Viva Melhor – Bom, se não tratada a retinopatia diabética pode gerar complicações graves ou levar a cegueira?
Dra. Verônica Castro Lima – Com certeza! Isso é o que a gente mais vê na prática diária e no consultório. Os pacientes que não sentiam nada e não sabiam que tinham nenhuma alteração na retina e já chegam com quadros bastante avançados e muitas vezes não existe mais um tratamento para estes pacientes porque já passou do estágio de fazer o tratamento. Então complicações graves podem acontecer como hemorragia vítrea, como eu disse, e descolamento de retina fracional, que seria a situação mais grave e levar a cegueira principalmente nestes casos que não têm como fazer nenhum tipo de tratamento e não têm indicação cirúrgica por ser um caso muito grave ou o olho doloroso que a gente fala que é o glaucoma neovascular secundário ao diabetes. Além do paciente perder a visão ainda fica com uma situação de olho doloroso que também não enxerga. Então realmente pode gerar complicações graves.

Viva Mais Viva Melhor – Então existe um tratamento para a retinopatia diabética. É um tratamento muito caro? É possível realiza-lo dentro dos planos de saúde ou mesmo do Sistema Único de Saúde (SUS)?
Dra. Verônica Castro Lima – Sim, sim. Cada caso é um caso e deve ser avaliado inicialmente por um médico oftalmologista, mas o tratamento da retinopatia diabética em geral é feito com laser chamado de fotocoagulação de retina. Este procedimento evita que o paciente diabético perca a visão e que a retinopatia evolua para os estágios mais graves. O tratamento do edema macular diabético ele é feito não só com o laser, mas também com a aplicação de medicações intraoculares. Este tratamento é mais restrito, o SUS nem sempre abrange este tratamento, principalmente aqui em Salvador. Mas o tratamento com fotocoagulação é feito sim pelo SUS. Nos estágios mais avançados da doença, como descolamento de retina, nestes casos o tratamento é cirúrgico. O tratamento é feito por uma cirurgia de retina chamada vitrectomia, que também é feita pelo SUS em alguns serviços.

Viva Mais Viva Melhor – Doutora, a retinopatia diabética tem cura?
Dra. Verônica Castro Lima – Nos estágios muito iniciais os controles glicêmico e metabólico do paciente podem fazer regredir os sinais de retinopatia diabética e, se este paciente se mantiver controlado, ele pode não apresentar progressão da retinopatia diabética. Curado ele nunca vai estar, porque o paciente que tem retinopatia diabética ele é diabético em primeiro lugar e o diabetes não tem cura, tem controle. Então a mesma coisa acontece com a retinopatia. Nos estágios mais avançados da retinopatia que podem ser prevenidos o que se faz é evitar o avanço da doença, mas não existe cura para a retinopatia diabética. 

Viva Mais Viva Melhor – Para finalizar doutora, tem como se prevenir contra a retinopatia diabética?
Dra. Verônica Castro Lima – Com certeza. Além do exame preventivo anual que deve ser feito com o médico oftalmologista o paciente diabético sempre tem que tentar manter sob controle os fatores de risco chamado modificáveis, que são a glicemia, a pressão arterial, o controle do colesterol e dos triglicérides, nos casos das gestantes sempre estar em contato com médico e fazer os exames com o médico oftalmologista para detectar possíveis alterações e manter sempre hábitos de vida saudáveis, exercícios físicos, porque tudo isso ajuda o paciente diabético a controlar a glicemia, consequentemente melhorando a retinopatia diabética.

Viva Mais Viva Melhor – Conversamos com a doutora Verônica Castro Lima, médica oftalmologista. Doutora, muito obrigada e até a próxima oportunidade.
Dra. Verônica Castro Lima – Obrigada!