Nossas Entrevistas
Ginecologia e Obstetrícia
Tema: Infertilidade Masculina
Por Dra. Ana Paula Leal
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Viva Mais Viva Melhor – A desinformação ainda leva muitas pessoas a atribuírem às mulheres a culpa por não fazer a família crescer. Porém os motivos que costumam dificultar uma gravidez normalmente se referem a homens e mulheres em partes iguais, isto é: 40% associados a eles e 40% a elas e 20% ao casal. E a infertilidade no homem pode ser investigada de maneira simples e quase sempre concentrada em um único exame, o espermograma. Para saber um pouco mais sobre essas causas da infertilidade masculina, quem conversa conosco hoje é a doutora Ana Paula Leal, especialista e pós-graduada em reprodução assistida.
Doutora, primeiramente explica para os nossos ouvintes, é correto afirmar que um simples espermograma é capaz de investigar as causas da infertilidade masculina? Como é que é feito este exame?
Dra. Ana Paula Leal – O espermograma é o exame inicial na investigação da infertilidade masculina. Nele serão avaliados o volume, o PH, a consistência do sêmen, além da quantidade, da motilidade (movimentação) e a morfologia (forma) do espermatozoide. É um exame simples, a coleta é feita no laboratório, pelo método de masturbação, para eliminar o sêmen, ele é coletado e neste período ele tem que ter uma abstinência de 3 a 5 dias de relação sexual.
Viva Mais Viva Melhor – Doutora Ana Paula, a produção de espermatozoides pode ser influenciada negativamente por hábitos de vida pouco saudáveis, como o tabagismo, alcoolismo, má alimentação ou mesmo o uso de anabolizantes?
Dra. Ana Paula Leal – Sim. Diversos estudos mostram uma queda na quantidade e qualidade no sêmen devido ao estresse, obesidade, poucas horas de sono, tabagismo, poluição do ar, dentre outros fatores ligados a vida moderna. Então desta forma o espermograma funciona como sinalizador de como anda a saúde daquele indivíduo. Em geral, essa redução é transitória e pode melhorar com as mudanças buscando hábitos de vida mais saudáveis e o espermograma responde com uma alteração positiva.
Viva Mais Viva Melhor – A idade paterna também influencia na qualidade produção de espermatozoides?
Dra. Ana Paula Leal – Novas pesquisas mostram que, conforme os homens envelhecem, a contagem e a mobilidade dos espermatozoides diminui, além de ocorrer um aumento da fragmentação do DNA do espermatozoide. Nos homens, essa mudança na fertilidade e no potencial de gerar filhos viáveis e saudáveis é mais gradual do que comparado com as mulheres em que essa mudança é bem abrupta. Então, por isso, causa uma falsa impressão de que a idade do homem não afeta a fertilidade masculina.
Viva Mais Viva Melhor – Ter apenas um testículo significa que o homem seja estéril, doutora?
Dra. Ana Paula Leal – Não. Os testículos são responsáveis pela produção de espermatozoide e na ausência de um dos testículos o outro pode devidamente continuar a produzir espermatozoide na quantidade suficiente capaz de garantir a fertilidade do homem.
Viva Mais Viva Melhor – E é possível avaliar a qualidade do esperma a olho nu?
Dra. Ana Paula Leal – Não. O espermograma é um exame que é feito no laboratório e ele vai ser analisado através do microscópio.
Viva Mais Viva Melhor – Essa condição de denominar sêmen ralo é sinal de infertilidade, doutora?
Dra. Ana Paula Leal – A consistência do sêmen, se ele é ralo ou mais espesso, varia de homem para homem e depende também do tempo em que o indivíduo ficou sem ter uma ejaculação. Então, por isso, não se pode afirmar que o sêmen ralo seja sinal de infertilidade. A única forma de saber se um homem é estéril ou se está com a fertilidade diminuída é pelo exame do espermograma, que irá demonstrar a quantidade e a qualidade dos espermatozoides presentes naquele sêmen.
Viva Mais Viva Melhor – Ejacular pouco esperma pode ser um fator preocupante caso o homem queira ter filhos?
Dra. Ana Paula Leal – Da mesma forma que a consistência do sêmen, a quantidade de sêmen ejaculada também pode variar a depender do intervalo entre as ejaculações. Então a quantidade é também avaliada no exame do espermograma e, junto com os outros dados, eles vão dar informações sobre a qualidade daquele sêmen. Só a quantidade diminuída isoladamente não significa que aquele homem vai ter dificuldade para ter filhos.
Viva Mais Viva Melhor – Homens com baixa contagem de espermatozoide, doutora, podem ter filhos, e de que maneira?
Dra. Ana Paula Leal – Sim. Eles podem ter filhos através de tratamentos de reprodução assistida. Primeiro vai realizar o espermograma, fazendo o diagnóstico que a contagem de espermatozoide está abaixo da normalidade, o médico vai indicar um tratamento de reprodução assistida que pode ser a inseminação intrauterina ou a fertilização in vitro.
Viva Mais Viva Melhor – Levar uma pancada nos testículos, por exemplo, uma bolada, um golpe durante uma luta ou pancadas causadas por acidentes, isso pode deixar um homem infértil?
Dra. Ana Paula Leal – Para uma pancada nos testículos causar infertilidade esse trauma tem que ser muito forte ao ponto de provocar uma ruptura ou lesão grave no testículo. Levar uma pancada leve provavelmente não vai levar a infertilidade, mas sempre que o indivíduo sofrer um trauma mais violento nos testículos ele deve procurar um urologista para que seja feita uma avaliação para ver se teve alguma complicação.
Viva Mais Viva Melhor – Quais são as opções de tratamento numa questão de infertilidade masculina, doutora?
Dra. Ana Paula Leal – Primeiramente deve-se investigar e fazer o diagnóstico da causa da infertilidade. Os tratamentos vão depender da causa. Então podem ser tratamento cirúrgico com terapia hormonal, uso de antibióticos, aconselhamento genético, então vai depender inicialmente da causa que está levando àquela infertilidade masculina e uma vez identificada a causa será escolhido o tratamento mais indicado.
Viva Mais Viva Melhor – No caso dos homens que se arrependem de ter feito a vasectomia, pode-se reverter a cirurgia e tentar ter filhos através da relação sexual?
Dra. Ana Paula Leal – Sim, em algumas situações. A reversão da vasectomia consiste em religar o ducto que foi cortado anteriormente para impedir a passagem do sêmen, em algumas situações pode ser possível fazer a reversão da vasectomia, porque as chances quando a vasectomia tem entre 3 e 4 anos a chance pode chegar até 70% de sucesso, mas quando já tem acima de 10 anos vai chegar a 30 a 40% a taxa de sucesso.
Viva Mais Viva Melhor – Doutora, a correção da varicocele melhora o espermograma e corrige a infertilidade em 50% dos casos. Porém, é correto afirmar que a infertilidade pode ser multifatorial, o que faz com que a correção da varicocele em alguns pacientes apenas atenue o problema sem resolvê-los por completo?
Dra. Ana Paula Leal – A infertilidade em geral é de natureza multifatorial, então ela tem várias causas, por isso deve-se investigar o paciente por completo. Nem sempre a varicocele é a causa isolada da infertilidade. Você pode ter alterações hormonais, alterações genéticas, hábitos de vida negativos que estejam contribuindo para essa infertilidade, doenças crônicas e tentar corrigi-las.
Viva Mais Viva Melhor – Para finalizar, doutora Ana Paula, o tratamento para a infertilidade masculina tem cobertura pelos planos de saúde.
Dra. Ana Paula Leal – Os planos de saúde dispõem de médicos urologistas capacitados no tratamento da infertilidade masculina, nesta avaliação inicial do diagnóstico, na parte de tratamento cirúrgico, reposição hormonal e aí o médico vai conseguir direcionar o paciente para, se tiver necessidade, uma clínica de reprodução assistida.
Viva Mais Viva Melhor – Ok. Conversamos com a doutora Ana Paula Leal, especialista em reprodução assistida. Doutora, muito obrigada e até a próxima oportunidade.