Nossas Entrevistas

Neurologia

Tema AVC

Por Dr. Antônio Andrade

(071) 32... Ver mais >

Viva Mais Viva Melhor – Conhecido popularmente como derrame, o acidente vascular cerebral conhecido como AVC é uma doença que afeta o cérebro que pode ocorrer por uma falta de circulação ou um sangramento no sistema nervoso central do paciente, ou seja, quando há um entupimento ou o rompimento de vasos que levam o sangue ao cérebro denominados de isquemia ou hemorrágico. Para esclarecer as dúvidas mais frequentes sobre o assunto quem conversa conosco hoje é o doutor Antônio Andrade, especialista em neurologia.

Doutor, explica para os nossos ouvintes o quê que é o AVC, o acidente vascular cerebral?
Dr. Antônio Andrade – O acidente vascular cerebral é uma das doenças neurológicas de grande incidência e prevalência no mundo inteiro e que acomete geralmente os indivíduos com fatores de risco, principalmente os fatores de risco como a hipertensão arterial, o diabetes, a dislipidemia, obesidade e a falta de exercício, uma série de situações que podem levar a uma maior predisposição ao acidente vascular cerebral. O acidente vascular cerebral está dividido em duas condições básicas: a primeira condição mais frequente é em torno de 75 a 85% que é o acidente vascular isquêmico, é como se você tivesse um tubo e este tubo ao longo do seu percurso você vai diminuindo o calibre chegando a um ponto onde você perde a irrigação. Se essa irrigação for na área que representa a fala, o indivíduo vai perder a fala, se for numa área onde há a movimentação do hemicorpo você vai perder a movimentação do corpo, se for numa área ligada ao equilíbrio a mesma coisa, você vai perder algum equilíbrio, da visão e assim por diante. Ou seja, todas as funções neurológicas que regem o homem em si, o indivíduo vai ter um acometimento nesta área. Por isso que quando o indivíduo popularmente conhecido como derrame, ou seja, você sempre encontra nas macas e laboratórios principalmente da rede pública indivíduo com a boca desviada ou com o lado paralisado, ou seja, sem movimentação. Na maioria das vezes, quando o acidente vascular é isquêmico, o indivíduo tem uma preservação do nível de consciência, você pode estar acordado vendo esta situação. Ou quando você tem a outra forma, que é uma forma onde rompe o vaso, ao longo do cano, vamos utilizar isso, você tem áreas de fragilidade e há um rompimento. Se esse rompimento cair no tecido cerebral você vai ter uma situação que é denominada acidente vascular hemorrágico e geralmente representando menos de 15 a 20% dos acidentes vasculares cerebrais, tem uma sintomatologia mais conhecida e clássica dos neurologistas que é a cefaleia intensa, o indivíduo tem perda de consciência, uma rigidez de nuca e geralmente estes casos são mais drásticos, necessitando de um atendimento imediato e estes pacientes na grande maioria de sua totalidade serão internados em unidades fechadas, UTI ou Semi-UTI após a realização de exames complementares para você aferir a extensão maior ou menor desta hemorragia, se aquilo vai diretamente no tecido cerebral, se vai nas cavidades do ventrículo ou se fica no espaço entre o osso e o cérebro, naquelas películas que envolvem o tecido que é chamado de espaço subaracnoideano, ou seja, fazendo a grande e conhecida hemorragia subaracnoideana.

Viva Mais Viva Melhor – Tem um que seja mais frequente do que o outro, o isquêmico ou o hemorrágico.
Dr. Antônio Andrade – Sim. Como nós falamos anteriormente, é uma proporção em termos de 15 a 20% dos hemorrágicos, contra 80 a 85% dos isquêmicos.

Viva Mais Viva Melhor – E o quê que causa? Você aí já falou do sedentarismo, algumas situações como o tabagismo, por exemplo. Agora, o quê que faz um vaso cerebral entupir ou se romper?
Dr. Antônio Andrade – Na verdade, esse mecanismo da situação vascular que gera o acidente vascular cerebral, você pode observar o seguinte, o indivíduo com hipertensão arterial, este é grande o vilão do acidente vascular cerebral, se o indivíduo tem uma situação importante, a medida que os níveis da pressão aumentam o vaso responde com uma constrição, ou seja, ele diminui o calibre e aí deixa de irrigar aquela área. Esse é um dos mecanismos. Se você tiver ao longo de alguma parte da situação cerebral alguma placa, se você for um indivíduo que tenha também uma diabetes e tenha uma dislipidemia, ou seja, as gorduras vão aderindo as paredes e vasos, dificultando que este sangue passe na circulação normal.

Viva Mais Viva Melhor – Quer dizer que o acidente vascular cerebral pode sim estar associado a outras doenças, conforme você já citou aí algumas.
Dr. Antônio Andrade – Isso. Principalmente a hipertensão, o diabetes, a obesidade, a dislipidemia, as doenças cardíacas, as insuficiências cardíacas, a endocardite bacteriana, são diversas as causas e até o uso das drogas principalmente que criam um processo de irritação e inflamação na endopele dos vasos levando a um acidente vascular cerebral, a flebite e as tromboses nos processos mais graves no envolvimento do sistema vascular. Ou você pode ter também ligada aos hormônios as desidratações com o aumento do hematócrito, ou seja, da corrente sanguínea, você dificulta a circulação. Tudo isso leva a um processo de alteração na circulação do sangue, como consequência obstruindo aquela região e a depender da região acometida ele vai perder a função de localização cerebral.

Viva Mais Viva Melhor – Doutor, a doença pode atingir qualquer pessoa? Existem casos, por exemplo, de pessoas mais jovens ou mesmo crianças?
Dr. Antônio Andrade – Sim. Nos países como o nosso, em desenvolvimento, tem indivíduos portadores, indivíduos jovens em grande número de pacientes que tem anemia falciforme, as doenças cardíacas, os processos infecciosos de modo geral da criança, nas endocardites, esses são os grandes vilões em nossa região. Agora, para o idoso, você tem o processo da calcificação dos vasos, levando a um processo isquêmico, tanto isquêmico quando de uma situação hemorrágica, vai depender muito de outros fatores de risco que vão levar a esta condição.

Viva Mais Viva Melhor – Doutor, como que faz para reconhecer que uma pessoa está tendo um derrame.
Dr. Antônio Andrade – No exame neurológico ele tem alguma disfunção, alguma alteração na consciência, na memória, alteração motora, fraqueza de um lado do corpo, aquilo que normalmente se chama desvio da rima palpebral, ou seja, ter baixa nas pálpebras. Você tem várias manifestações neurológicas, alteração da força, do equilíbrio, de sensibilidade, ou seja, todo um cortejo no exame neurológico.

Viva Mais Viva Melhor – Doutor, há a possibilidade de uma pessoa ter pequenos derrames ao longo da vida sem que perceba?
Dr. Antônio Andrade – Sim. É muito comum isso na grande população que tem a hipertensão e geralmente o uso irregular da medicação no controle não diabéticos faz com que você tenha pequenas lacunas chamadas acidentes vasculares isquêmicos e os ataques isquêmicos transitórios, muitas vezes você tem uma leve tontura, uma dor de cabeça, uma coisa mais simples e isso faz com que passe desapercebido.

Viva Mais Viva Melhor – Como que se diagnostica o acidente vascular cerebral, tem algum exame específico?
Dr. Antônio Andrade – Sim. Nós após o exame neurológico temos as tomografias, os exames de imagem como tomografia, ressonância, angiografia para os casos de hemorragia, para afastar a possibilidade de um aneurisma cerebral, uma malformação. Do ponto de vista da técnica evoluímos muito, hoje você tem exame para você fazer o diagnóstico de certeza. Agora nós sabemos que após a história e a avaliação neurológica, que você sabe que o exame neurológico te dá 98% de chance de acerto independente de qualquer exame, a clínica neurológica é uma condição muito apurada nesse aspecto para o diagnóstico.

Viva Mais Viva Melhor – Quando o senhor fala do histórico do paciente, é importante, por exemplo, pessoas que tem um parente próximo que já tiveram um acidente vascular cerebral elas estão mais predispostas a desenvolver o problema?
Dr. Antônio Andrade – Sim. Você tem os aspectos vasculares familiares, principalmente nós temos uma síndrome vascular, que é uma condição genética bem estudada e bem estabelecida. Outras condições que são os mesmos indivíduos, aquelas grandes famílias de hipertensos, de obesos, isso aí você tem o descuido, um bom prato, uma boa mesa, aquela comida desregrada, tudo isso leva a essa alteração.

Viva Mais Viva Melhor – Doutor, quais são as opções de tratamento para o acidente vascular cerebral?
Dr. Antônio Andrade – Na verdade, o acidente vascular cerebral tem um tratamento multidisciplinar. Desde o controle da hipertensão, do diabetes, da obesidade, combatendo o tabagismo, a bebida, principalmente o alcoolismo que é um dos fatores também importantes que nós não abordamos antes e isso é um dado importante para que você tenha esse controle. Então na verdade, o tratamento tem todo o contexto de avaliação. Após o exame neurológico, investigação de imagem, realização da bioquímica e com isso você tem o apoio da fisioterapia, da nutrição, do apoio psicológico não só do próprio paciente, mas da família, tudo isso é um conjunto multidisciplinar que vai fazer com que todos nós podemos controlar essa doença desses pacientes. O que a gente tem que observar é que o acidente vascular cerebral em torno de 3 a 5 dias se você tirar 100 pessoas 30% vai ao óbito e só em torno de 30% voltam a atividades normais, o resto ficará com algum tipo de sequela. Então quando você tiver um acidente vascular cerebral tem que encarar isso com rapidez, agilidade e trazer o diagnóstico de imediato para você evitar justamente esta sequela e ter o doente na mão. É necessário ir num serviço de urgência que se tenha sempre um neurologista, um clínico bem treinado e um neurologista de sobreaviso ou neurocirurgião com uma equipe. Porque aquilo que pode ser simples pode ser um quadro de isquemia e se tornar uma situação complexa e necessário fazer o uso de uma conduta cirúrgica.

Viva Mais Viva Melhor – E o quê que nós leigos, doutor, devemos fazer quando uma pessoa do nosso lado apresentar sintomas que podem sugerir um acidente vascular cerebral, qual é à medida que nós devemos tomar?
Dr. Antônio Andrade – Acho que o indivíduo que tenha dentro da sua residência, este é um fato muito importante, que você tem que apelar para o indivíduo, mostrar que uma vez que você tenha alteração na fala, alteração motora, alteração do equilíbrio é sempre procurar um atendimento médico mais próximo possível.

Viva Mais Viva Melhor – Eu vou aproveitar a oportunidade para te fazer uma pergunta de um internauta que nos enviou a seguinte questão. Doutor, existe alguma relação entre alimentação e cognição?
Dr. Antônio Andrade – Sim. Você sabe que a cognição que ele está perguntando em relação a memória, atenção e a inteligência. O cérebro aí muda o foco da nossa conversa para mostrar o seguinte, que a atividade cerebral, as células cerebrais vivem em eterna atividade e depende de um metabolismo por liberação de alguns neurotransmissores e uma série de vitaminas, sais minerais e tudo isso. Então você tem que ter desde a colina, das vitaminas, dos ácidos graxos de modo geral tudo isso envolvido na nutrição das células cerebrais para que você tenha uma boa circulação, para que você tenha essa cognição como atenção, memória e inteligência ávidas, vamos colocar assim, exercitar sempre o cérebro, porque com isso você vai fazer uma coisa importante, dar vida a quem quer viver, são grupos de células que formam o grande órgão que é o cérebro entrar em funcionabilidade e dificultar o seu envelhecimento.

Viva Mais Viva Melhor – Ok. Conversamos com o doutor Antônio Andrade, médico neurologista. Doutor, muito obrigada e até a próxima.